Incêndios no Parque do Tabuleiro dizimam 230 hectares em 2023

12 jan, 2024 | Notícias

Em 2023 a maior Unidade de Conservação de Santa Catarina registrou pelo menos três grandes incêndios. Em tese protegida e criada para proteger a biodiversidade, repetidamente a área sofre ataques que buscam a ocupação ilegal das terras. 

O Parque da Serra do Tabuleiro protege 84.130 hectares de Mata Atlântica, abrangendo 8 municípios de Santa Catarina. As fitofisionomias de Manguezal, Restinga, Floresta Ombrófila Mista e Floresta Ombrófila Densa, as formações geográficas de cordões arenosos e vegetação com influência salina e a rica biodiversidade da região descrita pelos botânicos e ecologistas Pe. Raulino Reitz e Roberto Miguel Klein ainda na década de 1970 motivaram o estado a criar a Unidade de Conservação. No século XXI, essas paisagens naturais continuam sendo atacadas em detrimento do avanço da especulação imobiliária, principalmente nas áreas próximas às praias. 

A realidade do Parque Estadual do Tabuleiro (PAEST) sintetiza os problemas de grande parte das áreas protegidas do país: a destruição promovida pelos incêndios criminosos é vista da Floresta Amazônica até a restinga do sul da Mata Atlântica. Os principais motivadores para esses crimes ambientais buscam a mudança na área para a invasão e implementação de atividades econômicas, ou ainda em retaliação à criação da Unidade de Conservação e à legislação socioambiental, a linha é tênue. 

No Parque do Tabuleiro os incêndios geralmente ocorrem nas áreas de restinga, sobretudo na região da Baixada do Macambu. Há formações de restinga arbórea, herbácea e arbustiva, essas duas últimas onde os incêndios são mais frequentes. Outro problema da área é a presença de Pinus sp., árvore exótica invasora que produz biomassa altamente comburente através da queda das folhas secas, o que faz o fogo se alastrar com rapidez, sobretudo com os ventos constantes na área litorânea. Nessas condições, o êxito da ação criminosa é praticamente garantido.

A ação contra o fogo neste episódio foi coordenada pelo Corpo de Bombeiros, com apoio dos brigadistas do parque e da Polícia Militar. Luiz Henrique Fragoa Pimenta, que atua no PAEST, comenta que esse cenário de destruição tem se repetido: “Em 2023 houve pelo menos três incêndios na área do parque, um em abril e dois em dezembro”.  Apenas no último mês  cerca de 230 hectares atingidos, dizimando populações de espécies da fauna, flora e funga da restinga catarinense, muitas endêmicas e ameaçadas de extinção.

parque do tabuleiro

No último incêndio, que ocorreu no Natal de 2023, atingiu estradas, bloqueou acesso às praias e precisou mobilizar diversas instituições para ser controlado. Fotos: @restingas.do.sul/João de Deus Medeiros.

O Parque conta com um plano de contingência para incêndios ambientais, elaborado em conjunto com a defesa civil e órgãos de segurança, buscando não apenas extinguir os incêndios, mas também promover investigações sobre a origem e responsabilidade desses episódios, ação essencial para que de fato os autores sejam identificados e aplique-se à legislação ambiental ao caso. Outra atividade que está sendo realizada pela administração do PAEST é a sinalização das áreas críticas e cercamento de espaços nas áreas de borda da Unidade de Conservação. 

O colaborador na administração do PAEST relata que é muito difícil coletar provas e responsabilizar os autores dos crimes, mesmo com as investigações da Polícia Civil e trabalho da Polícia Científica. Isso porque há uma estratégia em promover os focos de incêndio à noite, horário de menor movimento nas estradas e quando os colaboradores do Parque não estão atuando. 

Pimenta destaca o esforço para buscar sensibilizar a população e promover na comunidade um movimento pela proteção do Parque do Tabuleiro: “Outra estratégia para mitigar episódios como os de dezembro é a educação ambiental, com oficinas de combate à incêndio, atividades de educação ambiental nas escolas e atividades de monitoramento“. Também há uma rede colaborativa com a comunidade da região limítrofe ao Parque, buscando comunicar  focos de incêndio rapidamente, através do WhatsApp. 

Com pouca comoção política e cobertura da mídia local sobre o assunto, é preciso manter a vigilância não apenas no Parque do Tabuleiro, mas em todas as Unidades de Conservação, patrimônios públicos para nós e chance de sobrevivência para muitas espécies. Valorizar as áreas protegidas, apoiar propostas legislativas sobre a temática e manter a vigilância, denunciando qualquer indício de ação criminosa é essencial para evitar a perda de áreas naturais. As áreas protegidas precisam da nossa proteção.

 

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Área litorânea do PAEST. Foto: IMA SC.

Autor: Vitor Lauro Zanelatto
Colaboração: Luiz Henrique Fragoa Pimenta
Revisão: Thamara Santos de Almeida
Foto de capa: registro do incêndio no PAEST em 25/12/2023. Foto: @restingas.do.sul/João de Deus Medeiros

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