Jovem usa a goiaba-serrana para desenvolver pomada fitoterápica

16 jan, 2024 | Notícias

Em uma escola pública de Água Doce (SC), estudantes e professores encontraram na goiaba-serrana, espécie da Mata Atlântica, inspiração para produzir um projeto de pesquisa e desenvolver uma pomada anti-inflamatória. 

A iniciativa surgiu com a integração de alguns componentes curriculares da escola, como metodologia científica, química, matemática, sociologia e projeto de conservação ambiental. Dessa forma, a professora Janete Rodrigues e seus colegas buscam exercitar os princípios para a produção de ciência, ainda na escola pública.

O projeto “Uso sustentável de propriedades medicinais da goiaba-serrana (Acca sellowiana) na produção de uma tintura fitoterápica e pomada cicatrizante” iniciou com uma pesquisa bibliográfica da literatura sobre a espécie; seguida de pesquisa de campo nas áreas onde a espécie se desenvolve. Os estudantes puderam descobrir as várias propriedades medicinais importantes que a espécie apresenta, segundo dados da literatura, como propriedades anti-inflamatórias. Depois disso, experimentos foram desenvolvidos na escola para produzir os insumos e desenvolver a formulação ideal. 

A falta de estrutura para a pesquisa e desenvolvimento de experimentos foi o principal desafio para desenvolver o projeto, conforme explica Janete Rodrigues, professora orientadora do projeto: “Nós temos um laboratório na escola, mas faltam insumos e equipamentos. Utilizamos aparelhos de universidades da região, que também auxiliaram na realização dos testes com o protótipo da pomada. Produzir ciência na escola pública é uma prática de resistência”.  

Os principais conhecimentos que buscamos apresentar no projeto são as propriedades da goiabeira-serrana, que podem ter uso sustentável e serem utilizadas na área medicinal, de forma fitoterápica e em aplicações cicatrizantes, destaca Eloise Antunes de Lima, estudante autora da pesquisa.

 

Registro das apresentações de Eloise nas feiras em que participou

Registros das apresentações de Eloise nas feiras em que participou. Fotos: Divulgação/Janete Rodrigues. 

O resultado do projeto é uma pomada cicatrizante sustentável e natural, que tem como compostos principais a tintura obtida das folhas da goiabeira-serrana, óleo de coco, óleo de amêndoas, cera de abelha e goma xantana. As descobertas foram apresentadas na feira Infomatrix, em Blumenau (SC), onde conquistou uma vaga para participar da Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (MOSTRATEC), realizada em outubro de 2023 em Novo Hamburgo (RS). 

Nesse segundo evento, o projeto de Eloise foi um dos 12 selecionados entre mais de mil projetos de pesquisa para representar o Brasil na maior feira pré-universitária de ciência e engenharia do mundo, a  Regeneron ISEF (Regeneron International Science and Engineering Fair) que será realizada de 11 a 17 de maio de 2024, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

A professora Janete compartilhou o que planejam para a participação no evento internacional:  “A expectativa em relação à Feira na Califórnia é mostrar a biodiversidade do nosso estado e os potenciais do uso sustentável, que respeita o meio ambiente e promove a ciência. É a primeira vez que uma estudante de Santa Catarina participa desse evento; e será uma grande honra representar o Brasil e a nossa região na maior feira pré-universitária de ciência e engenharia do mundo”. 

Conhecer a biodiversidade local é uma etapa fundamental para a proteção da natureza e para o uso sustentável dos recursos, por isso o tema é trabalhado com constância na escola Escola Estadual Ruth Lebarbechon. Em algumas dessas ocasiões, a pedido da escola, a Apremavi realizou a doação de mudas nativas da Mata Atlântica, como a goiaba-serrana, que são utilizadas em plantios na comunidade escolar e em atividades de educação ambiental.

Valorização da biodiversidade

A pesquisa também está conectada com a realidade do território da escola, e busca divulgar as possibilidades para promover o desenvolvimento sustentável, voltada à realidade dos pequenos proprietários rurais da região. Além das folhas e frutos de goiaba-serrana, outros insumos naturais são utilizados na composição da pomada, como a cera de abelha residual da apicultura, que também pode ser comercializada. 

Novos produtos para a áreas da saúde já estão no horizonte da equipe que desenvolveu o projeto premiado. Um deles é uma membrana curativa, que também tem como princípio ativo a goiaba-serrana; a ideia é utilizar a farinha do mesocarpo do fruto, resíduo produzido na extração do óleo essencial, para a composição de um curativo anti-inflamatório para aplicação em queimaduras. Essa nova ideia também já está em fase de testes de eficácia da composição, em parceria com universidades, como o Instituto Federal Catarinense e a Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP). 

A professora Janete destaca a importância de valorizar e de promover suporte a iniciativas como essa, para que as comunidades escolares tenham condições de avançar na educação científica: “Outro desafio é a cobertura de custos para o desenvolvimento da pesquisa e apresentação dos resultados, em feiras e mostras. Por isso, a estruturação de escolas públicas e a valorização de estudantes e professores empenhados em produzir ciência é essencial”

Para ajudar Eloise a participar da feira que acontecerá em maio na Califórnia e apresentar sua pesquisa, a escola está organizando uma vakinha online, com o objetivo de cobrir os custos da participação, como a emissão do visto de viagem e passagens aéreas. 

> Apoie o projeto


* Os dados sobre usos medicinais das espécies nativas são apenas para informação geral. O uso de medicamentos fitoterápicos deve ser seguido de orientações de profissionais habilitados.

Autor: Vitor Lauro Zanelatto
Revisão: Thamara Santos de Almeida e Carolina Schäffer
Foto de capa: Vitor Lauro Zanelatto

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