Novos relatórios sobre lacunas climáticas são lançados pela ONU

7 dez, 2023 | Mudanças Climáticas, Notícias

Em sintonia com as negociações da COP28, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), lançou três relatórios sobre as lacunas climáticas a fim de gerar conhecimentos que orientem o enfrentamento da emergência climática.

Uma das etapas primordiais do combate à crise climática é o acesso a relatórios atualizados sobre o assunto. Os documentos lançados no mês passado fornecem uma visão abrangente, cientificamente embasada e internacionalmente consensual da crise climática, ajudando a orientar esforços globais sobre o tema.

Por essa razão, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) elabora regularmente duas avaliações cruciais no contexto climático: Lacuna de Adaptação e Lacuna de Emissões. Além disso, o PNUMA colabora com outros grupos na produção do terceiro relatório, conhecido como Lacuna de Produção.

Essas avaliações examinam o panorama climático, oferecendo aos responsáveis pela formulação de políticas um guia de ação. Eles costumam ser referenciados por líderes de nações e negociadores durante a Conferência das Partes da ONU. Este ano, ganham destaque na COP28, que ocorre em Dubai.

 

Lacuna de Adaptação

Lançado no dia 2/11, o relatório “Lacuna de Adaptação 2023: Subfinanciado. Mal preparado – Investimento e planejamento inadequados em adaptação climática deixam o mundo exposto” avalia o andamento da preparação mundial para os impactos das mudanças climáticas. A edição de 2023 constata que o progresso na adaptação climática é insuficiente e está diminuindo quando deveria estar aumentando para acompanhar os crescentes impactos das mudanças climáticas. 

A adaptação diz respeito às diversas modificações necessárias para o enfrentamento das mudanças climáticas e seus efeitos, como mudanças na infraestrutura, estilo de vida, mecanismos sociais e sistemas naturais. Assim, somente cortar emissões de gases de efeito estufa não basta, é preciso adaptar. A medida é de extrema importância, especialmente para os países e comunidades vulneráveis que já sofrem os efeitos de um clima em mudança. Consequentemente, os países necessitam de recursos financeiros para preparar suas sociedades para lidar com as consequências advindas do aumento das temperaturas e eventos climáticos mais extremos.

Para isso, o relatório comenta que as necessidades financeiras de adaptação dos países em desenvolvimento são de 10 a 18 vezes maiores do que os fluxos financeiros públicos internacionais. Como resultado da lentidão da mitigação e da adaptação, as perdas e os danos relacionados ao clima estão aumentando. Estima-se que nesta década os custos atualizados da adaptação para os países em desenvolvimento estejam em uma faixa de US$ 215 bilhões a US$ 387 bilhões por ano.

O investimento na adaptação climática leva a diminuição dos custos relacionados às consequências das mudanças climáticas. Estudos indicam que 1 bilhão investido em adaptação contra inundações costeiras leva a uma redução de US$ 14 bilhões em danos econômicos. “Estamos em uma emergência de adaptação. Devemos agir como tal. E tomar medidas para fechar essa lacuna, agora”, parte da Declaração do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, sobre o relatório.

 

Relatório Lacuna de Adaptação PNUMA 2023
Lacuna de Produção

O relatório sobre a Lacuna de Produção intitulado “Redução ou aumento gradual? Os principais produtores de combustíveis fósseis planejam ainda mais extração, apesar das promessas climáticas” avalia a disparidade entre a projeção de produção de combustíveis fósseis estabelecida pelos governos e os níveis de produção global que seriam condizentes com a restrição do aquecimento a 1,5°C ou 2°C relacionados ao Acordo de Paris.

A principal conclusão é que os 20 maiores produtores de combustíveis fósseis, como o Brasil, Alemanha, China, Índia, Estados Unidos, Emirados Árabes e Federação Russa planejam produzir cerca de 110% mais combustíveis fósseis em 2030 do que seria compatível com a limitação do aquecimento a 1,5°C, e 69% mais do que seria compatível com 2°C.

O relatório também chama a atenção para a necessidade de transparência desses governos e de eliminação ainda mais rápida de todos os combustíveis fósseis, onde cada país tem capacidade e responsabilidade diferenciada. Assim, governos com maior capacidade de transição devem ter reduções mais ambiciosas e ajudar a financiar os processos de transição justa em países de menor capacidade.

Como bem traz o glossário no início do relatório, transição justa se refere a uma mudança para uma economia de baixo carbono que garanta que as perturbações sejam minimizadas — e os benefícios maximizados — para os trabalhadores, comunidades, consumidores e outras partes interessadas que possam ser desproporcionalmente afetadas.

“Até a metade do século, precisamos ter relegado o carvão aos livros de história e reduzido a produção de petróleo e gás em pelo menos três quartos – bem no caminho para uma eliminação total dos fósseis. No entanto, apesar de suas promessas climáticas, os governos planejam investir ainda mais dinheiro em um setor sujo e moribundo, enquanto as oportunidades são abundantes em um setor de energia limpa em expansão.”, comenta Neil Grant, Analista de Clima e Energia do Climate Analytics, uma das organizações que elaborou o relatório.

 

Relatório Lacuna de Produção PNUMA 2023
Lacuna de Emissões

O último relatório da série, intitulado “Recorde Quebrado – Temperatura atinge novos máximos, mas o mundo não consegue reduzir as emissões (novamente)” avalia a lacuna entre o rumo que as emissões globais estão tomando com os compromissos atuais dos países e onde elas deveriam estar para limitar o aquecimento a 1,5°C.

O relatório conclui que as promessas do Acordo de Paris não foram suficientemente ambiciosas, já que o rumo atual das emissões está caminhando para um aumento de temperatura de 2,5 a 2,9°C. As emissões precisam ser reduzidas em 42% até 2030 para atingir a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.

É trazida à emergência mundial de aceleração de ações de baixo carbono. Assim como evidenciando o relatório da Lacuna de Produção, os países com maior capacidade e responsabilidade pelas emissões precisarão tomar medidas mais ambiciosas e apoiar as nações em desenvolvimento na busca pelo crescimento com baixas emissões.

(…) devemos deixar ambição e ação insuficientes, e começar a estabelecer outros recordes: no corte de emissões, em transições verdes e justas e no financiamento climático”, comenta Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA, na reportagem de lançamento do relatório.

Relatório Lacuna de Emissões PNUMA 2023
Sobre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) da ONU

É uma autoridade global que promove a agenda internacional do Meio Ambiente, buscando a implementação coerente da dimensão ambiental do desenvolvimento sustentável no Sistema das Nações Unidas e serve como defensor do meio ambiente no mundo. Foi criado em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, que ocorreu em Estocolmo, Suécia. 

Durante mais de 50 anos, tem trabalhado com governos, a sociedade civil, o setor privado e entidades da ONU para enfrentar os desafios ambientais da humanidade. Sua missão é prover liderança e encorajar parcerias na proteção do meio ambiente inspirando, informando e permitindo que países e pessoas melhorem sua qualidade de vida sem comprometer as futuras gerações.

> Saiba mais sobre o trabalho da organização

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Miriam Prochnow.

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