Os Desafios da Restauração

6 dez, 2015 | Notícias, Plantando o Futuro

Restauração é um dos assuntos mais discutidos nos eventos paralelos da conferência do clima (COP21) em Paris. É uma das questões-chave para enfrentar os desafios das mudanças climáticas, porque contribui diretamente para a solução dos principais problemas da humanidade: perda da biodiversidade, proteção dos mananciais hídricos e captura de carbono amenizando o aumento da temperatura. Contribui ainda com a geração de emprego e renda e para a melhoria da paisagem e consequentemente a qualidade de vida humana. É também o link mais fácil de ser feito com a sociedade, porque plantar árvores é uma ação da qual todos podem participar.

Existem diversos conceitos sobre o que é restauração e estes tem evoluído à medida que novos conhecimentos são gerados. Numa visão ampla se fala em restauração de paisagens, o que é algo mais complexo e mais desafiador do que restauração de florestas, porque implica realmente em acordos intersectoriais, para que resultados concretos sejam alcançados. Na restauração de paisagens é muito importante considerar os ecossistemas originais e tentar, a partir da realidade atual, restaurar o máximo de atributos desses ecossistemas, suas espécies de fauna e flora e a interação dessas espécies.

Na restauração de paisagens um elemento que precisamos preservar para todos e que dinheiro nenhum vai conseguir comprar se acabarmos com ele, porque é insubstituível, é a água. E a água precisa passar pelo coração, dela devemos cuidar com amor e respeito.

Aqui em Paris, importantes acordos estão sendo firmados para tentar garantir os recursos financeiros para tudo que precisa ser feito. Essa é uma boa notícia. Entretanto, a “vertente econômica” não vai dar conta do desafio mundial de restauração, se antes não houver o compromisso. Engajamento baseado apenas em dinheiro é vulnerável e momentâneo. Para que o engajamento dure para sempre, é necessário um compromisso global. O lema do Fórum Mundial de Paisagens (Glocal Landscape Fórum) é mostrar que tudo está conectado. Sim, tudo está conectado, mas existe um lugar fundamental por onde todas as conexões precisam passar e esse lugar é o coração!

A maioria dos proprietários de terra, agricultores e pecuaristas gostam do seu sítio, chácara ou fazenda, mas ainda não tem a mesma paixão pelas florestas, os animais silvestres e os recursos hídricos, que são fundamentais para o sucesso de suas atividades. A restauração dos ecossistemas nos imóveis e na paisagem precisa virar uma paixão nacional e global.

Para isso, é necessário que as políticas públicas, a exemplo dos financiamentos agrícolas, contemplem estímulos e incentivos, como juros menores, prazos mais longos e até descontos no valor das prestações para aqueles que conservarem e restaurarem os ecossistemas no imóvel. É nescessário também destinar um percentual do crédito rural para a restauração e conservação dos recursos naturais no imóvel.

Restaurar os ecossistemas é uma necessidade global e por isso precisamos de apoio externo, com grandes fundos para apoiar principalmente os mais pobres, mas é necessário que cada país e cada região e município faça seus arranjos locais para prover apoio técnico e também financeiro às comunidades e detentores de imóveis.

A Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) vem trabalhando com restauração e planejamento de propriedades e paisagens há mais de 28 anos, sempre buscando parcerias com os agropecuaristas, instituições de ensino e pesquisa e com as instituições públicas em todos os níveis. Os resultados alcançados, que envolvem milhões de mudas plantadas e áreas restauradas em milhares de propriedades rurais e urbanas, mostram claramente duas coisas importantes: 1) a natureza é generosa e responde positivamente a toda ação de proteção ou restauração; 2) as pessoas que plantam a primeira árvore passam a ter verdadeiro amor e paixão pelo trabalho que fizeram e não param mais de plantar e cuidar da floresta.

Enfim, para alcançar resultados na conservação e restauração é importante o engajamento e a participação direta do proprietário ou detentor do imóvel. Um programa nacional ou global de restauração deve ser feito com as pessoas e não para as pessoas, caso contrário não terá efetividade no longo prazo, pois não haverá o necessário engajamento e sem isso, não haverá amor e respeito pelas áreas restauradas.

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