RPPN Irmãs Grimm é criada pela Apremavi

23 jul, 2025

A mais nova Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de Santa Catarina acaba de ser oficializada. A Portaria nº 2.728, publicada em 17 de julho de 2025 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), reconhece a criação da RPPN Irmãs Grimm, localizada no município de Papanduva (SC). 

A reserva possui uma área de 187,73 hectares e passa a integrar o grupo de Unidades de Conservação de interesse público e caráter perpétuo, contribuindo diretamente para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica.

A origem da RPPN Irmãs Grimm remonta à década de 1990, quando Irmgard Grimm, uma senhora alemã sem herdeiros, decidiu doar à Apremavi a propriedade com cerca de 187 hectares no interior catarinense. O único pedido feito por ela foi claro: que a área fosse transformada em uma reserva permanente. A Apremavi assumiu esse compromisso.

O vínculo com as doadoras nasceu de uma história de amizade e acolhimento. Quando ainda adolescente, Miriam Prochnow, cofundadora da Apremavi, morou em Rio do Sul na casa de Emmi Anny Grimm Kirchgatter, irmã de Irmgard, enquanto cursava o ensino médio. Foi nesse período que Miriam teve seu primeiro contato com a antroposofia, filosofia que influenciou sua trajetória. Décadas mais tarde, a amizade se converteu em parceria pela conservação. No mesmo ano de criação da Apremavi (1987), Emmi tornou-se associada. 

Legenda: Imagem aérea da área antes do início do projeto de restauração, implementado no âmbito do Conservador das Araucárias. Foto: Maíra Ratuschinski.

Da exploração a restauração

Historicamente, a área foi adquirida pela família Grimm para a exploração da canela-sassafrás (Ocotea odorifera), uma árvore nativa cuja madeira e óleo essencial, o safrol, tinham grande valor comercial. No entanto, o ciclo do sassafrás chegou ao fim após intensa exploração, levando a espécie à beira da extinção.

Com a doação formalizada e posse definitiva da Apremavi, teve início o processo de criação da RPPN. Entretanto, divergências nas medições da área original atrasaram a homologação da Unidade de Conservação. Em 2022, após acordo com vizinhos e atualização do registro de imóveis, a área de 187,73 hectares foi reconhecida legalmente, permitindo a conclusão do processo junto ao ICMBio.

Nesta mesma época a Apremavi iniciou as ações de restauração na área, com plantios de mudas nativas nas áreas abertas e com plantio de mudas e sementes nas áreas de florestas secundárias, para enriquecimento dos remanescentes florestais. O processo de restauração se dá no âmbito do Conservador das Araucárias, um projeto da parceria entre a Apremavi e a Tetra Pak, que tem em sua estratégia de conservação o incentivo a criação de reservas particulares nas áreas atendidas, garantindo a permanência dessas áreas no projeto ao longo dos anos.

 

Transição ecológica e riqueza de biodiversidade

A área da RPPN está situada em uma zona de transição entre a Floresta Ombrófila Mista e a Floresta Ombrófila Densa, o que confere à reserva uma notável diversidade florística. Espécies ameaçadas como a própria canela-sassafrás (Ocotea odorifera) e o xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana) são encontradas nos remanescentes florestais da área, ao lado de outras como cedro (Cedrela fissilis), peroba (Aspidosperma parvifolium), camboatá-vermelho (Cupania vernalis), araçá-vermelho (Psidium cattleianum) e guamirim (Eugenia spp.).

O avistamento de um exemplar do gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), espécie considerada como “Criticamente em Perigo” na lista estadual de espécies ameaçadas, e de vestígios de outros mamíferos de médio porte, torna a área ainda mais importante para a conservação da biodiversidade.

Além do valor ecológico, a criação da RPPN Irmãs Grimm simboliza a memória de duas mulheres que, mesmo à distância, contribuíram com a Mata Atlântica. As escolhas de Irmgard e Emmi  demonstraram um profundo respeito pela natureza. Ambas foram entusiastas da Apremavi e, agora, dão nome à reserva que incentivaram a criar.

 

Registros da RPPN Irmãs Grimm e espécies observadas. Fotos: Carolina Schäffer e ICMBio.

Legado para o futuro

A RPPN Irmãs Grimm passa a integrar as Unidades de Conservação nacionais e contribuir para a restauração e conservação da Mata Atlântica. Sua criação também reforça o papel das RPPNs como instrumento de conservação voluntária, onde proprietários assumem compromissos legais de proteger seus territórios em caráter perpétuo.

“É uma vitória da persistência, da amizade e da confiança em um projeto coletivo de cuidado com a vida. As Irmãs Grimm deixaram um legado que agora está protegido para sempre”, destaca Miriam Prochnow, emocionada com a homologação.

A RPPN será utilizada para fins de pesquisa, restauração ecológica, educação ambiental e conservação, ampliando a rede de áreas protegidas privadas mantidas pela Apremavi.

Portaria ICMBio nº 2.728, de 17 de julho de 2025

Reconhece oficialmente a criação da RPPN Irmãs Grimm, de interesse público e caráter de perpetuidade, no município de Papanduva (SC), sob matrícula nº 12.671 do registro de imóveis da comarca de Papanduva. Área total reconhecida: 187,73 hectares.

Autora: Thamara Santos de Almeida
Revisão: Carolina Schaffer e Miriam Prochnow
Foto de capa: Wigold Schäffer

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