Indicações para nutrir e afagar a mente

9 jan, 2022 | Notícias

“A gente nem percebe, mas a cidade é a tela sobre a qual pintamos nossa trajetória. Uma tela imensa – que jamais foi branca – e que vamos lentamente colorindo, pintando de maneira própria o cinza e as outras tonalidades que lá já estavam. Deixamos marcos únicos através das lembranças do cotidiano, do que vivemos na insignificante existência. Enquanto estamos expostos ao imprevisível que nos proporciona o exterior, abrimos brechas para que a cidade se embrenhe na nossa história”  Marina Harkot

A recém iniciada rotação em torno do Sol traz consigo oportunidades de mudança e reconciliação. A vacinação contra à Covid-19, essencial para a superação da pandemia, é realidade em todos os municípios do país, trazendo a esperança de encontros e sorrisos presenciais com segurança. Neste ano os brasileiros também irão às urnas, com o desafio primário de defender a democracia brasileira e a própria sociedade, ferida e sangrando através dos sucessivos retrocessos ambientais pelo pior governo instalado no regime democrático.

Memórias recentes da angústia, medo e dor que acometeram a população nos últimos meses colaboram – e seria estranho o contrário – para que a esperança seja ainda mais volátil, efêmera. Para que seja possível acreditar e defender o futuro de progresso, sustentabilidade e diversidade, é preciso defender antes a si mesmo: priorizar o autocuidado, identificar suas potencialidades e conhecer suas limitações; buscar conhecimento e inspiração, mas também ser gentil e reabilitar corpo e mente.

Para ajudar a nutrir a esperança e a força necessária para participar da (re)construção que a conjuntura demanda, a Apremavi selecionou uma série de conteúdos. Há indicações para os íntimos da leitura, fãs de podcasts e para aqueles que gostam de “maratonar” na Netflix.  Seguimos esperançando e defendendo o futuro na linha de frente em 2022.

 

# Ler e buscar inspiração

Justiça Climática
O respeitado livro de Mary Robinson, primeira presidente da Irlanda e enviada especial da ONU para mudança climática, chegou ao Brasil através de uma edição viabilizada pelo Instituto Alana e LACLIMA. Muitas vozes apresentam relatos comoventes e reais dos efeitos da mudança climática na vida. Regimes de chuvas imprevisíveis, enchentes, tsunamis, furacões, colheitas perdidas e florestas incendiadas: o fenômeno da alteração do clima no planeta Terra é verdadeiro e avassalador. Mas esse é um livro sobre esperança e resiliência. Demonstra o grande poder da troca, do diálogo e do encontro, e mostra como empatia, ações individuais e locais podem se tornar exemplos de quais caminhos seguir para ter um mundo mais justo e sustentável. Neste ano Mary foi entrevistada no programa Roda Viva, e apresentou sua análise sobre a atual conjuntura. Confira aqui.

Tuíra #03
A terceira edição da revista publicada pela Escola de Ativismo é um afago à pluralidade de nosso país e aos diálogos que as juventudes estão liderando. A abertura, assinada por Ailton Krenak dá sequência a textos sobre as consequências da pecuária industrial, saúde mental e espiritualidade. Além de ideias, é possível conhecer alguns dos ativistas que estão construindo movimentos e lutas em prol do progresso e justiça socioambiental. As páginas desta edição também guardam uma justa homenagem à socióloga, mestre em Arquitetura e Urbanismo e cicloativista Marina Kohler Harkot, que faleceu em 2020, após ser atropelada enquanto pedalava em São Paulo. Marina colaborou com a Escola de Ativismo e pesquisava mobilidade ativa, sendo este o tema de sua tese de Mestrado.
O ebook da Tuíra #03 está disponível aqui.

 

A Cidade Inteligente
Evgeny Morozov e Francesca Bria unem suas produções acadêmicas para propor um diagnóstico sobre a atuação das Big Techs nas cidades, publicizando ganhos em segurança, sustentabilidade e na economia. As ‘smart cities’ programadas e munidas das mais avançadas máquinas para coleta de dados e controle dos indivíduos colocam em ameaça agendas emancipatórias e a autonomia da participação dos cidadãos nas decisões sobre a cidade. Publicado pela Editora Ubu em 2019.

Saberes da Restauração
Em 2021 o Pacto Pela Restauração da Mata Atlântica promoveu uma formação para membros das organizações que integram a coalizão, ministrando aulas e palestras sobre os diversos elementos necessários para que a restauração de paisagens seja feita com eficiência, sustentabilidade e ganhe escala.  Agora, a população também pode acessar e aprender e conhecer as discussões sobre a cadeia da restauração na Mata Atlântica. Os ebooks com a síntese da formação Saberes da Restauração estão disponíveis aqui.

 

# Assistir, se identificar e questionar

Não Olhe Para Cima
(Don’t Look Up)

Com estreia no último dez de dezembro, o sucesso quase imediato do filme pode ser atribuído ao elenco de peso e, principalmente as sátiras apresentadas ao longo do roteiro, que apresenta dois astrônomos de baixo escalão tentando alertar a humanidade sobre um asteroide que destruirá a Terra, enquanto encontra desserviço das mídias, manipulação do Estado por grandes indústrias e a inação ante aos desastres em favor do status quo. Embora o filme possa trazer lembranças de discursos negacionistas sobre a pandemia, não foi esta a principal inspiração para o roteiro. A negação de diagnósticos científicos e inação dos governos ante a emergência climática faz justiça à consternação de ativistas climáticos de todo o mundo que buscam a substituição de discursos moderados por medidas efetivas há décadas. Disponível na Netflix.

Fungos Fantásticos
(Fantastic Fungi)

Esse documentário convida para uma nova visão do reino dos fungos, a partir de uma visão biológica generalista, capacidades dos organismos e dos potenciais que estes seres vivos apresentam para novas soluções baseadas na natureza. Tem efeitos e imagens espetaculares de crescimento e decadência e depoimentos de caçadores de fungos, que exploram florestas em busca de novas espécies ou simplesmente de cogumelos para uma refeição. Disponível na Netflix.

Solo Fértil
(Kiss The Groud)

A agricultura regenerativa é uma das soluções que devem ser exploradas de forma sistêmica para promover o equilíbrio do planeta. Neste documentário, ativistas, especialistas e produtores exploram através de suas próprias experiências os caminhos para que as práticas naturais e orgânicas sejam projetadas para reverter os danos causados pela monocultura. Disponível na Netflix.

O Dilema das Redes
(The Social Dilemma)

Qual controle você de fato tem sobre suas ações no ambiente digital? Com quem e como seus dados pessoais, valiosos a grandes corporações, são compartilhados?  Esse documentário apresenta algumas das estratégias utilizadas pelas empresas de tecnologia para manter os usuários cada vez menos conectados e subservientes à predação de dados pessoais. Essas informações podem ser exploradas em campanhas de marketing, no mais inofensivo dos cenários, ou no ataque à democracia, manipulando campanhas eleitorais e colaborado na disseminação de fake news.  Disponível na Netflix.

 

# Ouvir o Brasil e desacelerar

Emicida – Amarelo
O mais recente álbum do rapper brasileiro Emicida apresenta ao mundo a diversidade e as contradições de um Brasil que se apresenta como diverso, mas pouco faz para valorizar a diversidade de seu povo. Entre preces e denúncias, as faixas apresentam colaborações de artistas como Fernanda Montenegro, Zeca Pagodinho, Majur e Pabllo Vittar, e representações dos versos de Belchior e do poema Ismália, do simbolista Alphonsus Guimarães. Está disponível no Spotify e demais agregadores de música. Além disso, um especial da Netflix apresenta o processo de gravação e a apresentação icônica realizada no Theatro Municipal de São Paulo.

Roda Viva – Txai e Almir Suruí
O respeitado programa de entrevistas da TV Cultura recebeu em 29 de novembro de 2021 Almir Suruí, reconhecido internacionalmente por denunciar o desmatamento na Amazônia e buscar alternativas sustentáveis para a floresta. Almir dividiu o centro do estúdio com sua filha, Txai Suruí, responsável por representar os povos indígenas através de um potente discurso na cerimônia de abertura da COP26 e alvo de ataques da extrema-direita brasileira por conta do seu trabalho em defesa dos direitos dos indígenas. A gravação do episódio está disponível em vídeo, no YouTube, e como podcast, no Spotify e outros agregadores.

Gilberto Gil – uma obra de resistência
A obra de Gilberto Gil oferece um caminho sempre atual e revigorante para quem peregrina em busca da fraternidade e justiça. Suas canções são reflexos de uma atuação combativa em prol da cultura popular e da própria população brasileira, exprimindo em sua arte as mazelas e cicatrizes do país. No último ano lançou ‘Refloresta’, canção concebida para a divulgação da necessidade da restauração e conservação florestal, em parceria com o Instituto Terra, de Lélia e Sebastião Salgado. Escute aqui.

Duda Beat – Te Amo lá Fora
O mais recente álbum da cantora pernambucana mantém as letras com a “sofrência” por amores não correspondidos que promovem identificação e reflexões entre as linhas das composições. As melodias com ritmos tradicionais e populares brasileiros são incorporadas em mixagens modernas, criativas e representativas da cultura nacional.
Disponível no Spotify e demais plataformas.

 

# Visitar  – Unidades de Conservação

Parque Natural Municipal da  Mata Atlântica | Atalanta – SC
A Unidade de Conservação foi criada em 2000, e destaca-se pela beleza cênica das paisagens, proximidade das cidades e fácil acesso às trilhas, que apresentam baixa dificuldade. Os principais atrativos do parque são a cachoeira Perau do Gropp, com 41 metros de queda, e a cascata Córrego do Rio Caçador, com 18 metros de altura. O acesso até a cachoeira e a cascata é feito pela Trilha da Lontra que tem aproximadamente 1.000 metros de extensão. Durante a caminhada os visitantes podem observar os paredões rochosos cobertos por samambaias, avencas e musgos, além de terem a oportunidade de conhecer algumas espécies nobres da Mata Atlântica como o cedro (Cedrella fissilis), a canela sassafrás (Ocotea odorifera) e o xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana). Saiba mais aqui.

 

Parque Municipal Lagoa do Peri | Florianópolis – SC
O Parque Municipal da Lagoa do Peri é um dos principais destinos para quem está em Florianópolis e busca contato com a Mata Atlântica. É berçário de animais típicos, como a Lontra e o Macaco-prego. E até aves ameaçadas são encontradas, como é o caso da Gralha-azul. É a maior lagoa de água doce da costa catarinense. São 5,2km² de extensão; 11m de profundidade, suas águas não são afetadas pelas oscilações da maré, pois está a cerca de 3m acima do nível do mar. A área em volta da lagoa tem mata e trilhas belíssimas que levam a cachoeiras e antigos engenhos coloniais.  Saiba mais aqui.

Reserva Natural Guaricica | Antonina – PR
É fruto do trabalho de restauração da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) em áreas de paisagens na cidade de Antonina. As visitas, que ocorrem sob agendamento, possibilitam sentir o ar puro e os perfumes da mata, ao ouvir as aves e ver os vestígios da fauna que retornaram com a segurança de uma área protegida e ao ouvir as histórias de vida dos colaboradores que atuam na reserva. A floresta protege animais da Mata Atlântica, sedia projetos de pesquisa e atividades de educação ambiental. Saiba mais aqui.

Autor: Vitor Lauro Zanelatto.
Revisão: Miriam Prochnow.

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