Saúde única: a conservação, a restauração e o monitoramento podem prevenir doenças

30 jun, 2023 | Notícias

As zoonoses (doenças infecciosas transmitidas entre animais silvestres e/ou domésticos e humanos) estão intimamente relacionadas com os impactos ambientais, como o desmatamento, urbanização, caça de animais silvestres, mudanças climáticas, dentre outros. Isso ocorre porque quando os ambientes naturais sofrem perturbações antrópicas a biodiversidade diminui, restando apenas espécies generalistas e oportunistas.

A redução da biodiversidade, mudanças nas relações ecológicas e “encontros” entre espécies que não possuem contato promovem condições para a transmissão e aumento da presença de agentes infecciosos (microorganismos responsáveis por causar doenças infecciosas), como vírus, bactérias, protozoários e fungos. Dessa forma, quando protegermos a diversidade biológica e restauramos os ecossistemas também estamos prevenindo o surgimento de novas doenças e também daquelas já conhecidas, como a febre amarela. 

Precisamos enfrentar as zoonoses por meio da Saúde Única (do inglês One Health). Essa abordagem visa integrar e reconhecer a interconexão entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde dos ecossistemas. Destacando assim que a saúde humana, animal e ambiental estão intrinsecamente ligadas e que a promoção e proteção da saúde em todas essas esferas: somos uma só saúde.

A saúde única postula que os problemas complexos dessa interação humana-animal-ambiental são resolvidos da melhor forma quando diversos setores da sociedade se organizam, se comunicam e cooperam de forma multidisciplinar, tanto a nível local quanto global.

Eixos que integram a saúde única Crédito: Aliança pela Restauração na Amazônia.

Eixos que integram a saúde única: Crédito: Aliança pela Restauração na Amazônia.

Precisamos agir antes que uma nova emergência aconteça

O monitoramento da biodiversidade é fundamental, não só para a conservação das espécies, mas também para a prevenção e controle das zoonoses. O monitoramento pode ser feito pela participação de todas as pessoas, não só por instituições de pesquisa, mas também por Organizações da Sociedade Civil, produtores rurais, professores, estudantes, dentre outros. 

Pensando nisso, a Plataforma de Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), desenvolveu o Sistema de Informação em Saúde Silvestre, que conta com um aplicativo para celular e a plataforma web. Qualquer pessoa pode participar do monitoramento de animais silvestres e contribuir assim para o alerta de doenças nos animais, antes que acometam as pessoas. O SISS-Geo permite a inclusão de registros de animais vivos, mortos ou doentes, georreferenciados e com fotografias, condições da saúde do animal, identificação da espécie, impactos ambientais, dentre outras informações. 

A utilização do app por toda a sociedade permite um monitoramento dos animais em tempo real, e principalmente, em áreas remotas onde eles dificilmente seriam monitorados de outra forma. Por meio desses dados, alertas são gerados instantaneamente para os órgãos competentes, tanto a nível municipal, quanto estadual e federal. Além disso, os pesquisadores conseguem identificar mudanças em doenças conhecidas e até mesmo prever áreas onde tem mais possibilidade delas ocorrerem.

> Conheça e registre animais silvestres no SISS-Geo 

 

Gripe Aviária, recomendações e a importância do monitoramento

Em maio, a Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) foi registrada pela primeira vez no Brasil. O que fez com que o MAPA declarasse um estado de emergência zoosanitária. O vírus é suscetível a maioria das aves domésticas e silvestres, especialmente as aquáticas. Atualmente, o Brasil registra 53 casos positivos para o vírus, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).

Os vírus de influenza tipo A apresentam alta capacidade de adaptação a novos hospedeiros, a possibilidade de transmissão desses vírus entre os seres humanos pode representar um alto risco para a população mundial. Até o momento, não temos transmissão entre humanos, mas isso pode mudar cada vez que o vírus encontra novas oportunidades.

O primeiro caso da doença foi confirmado no litoral catarinense em 27/06, no município de São Francisco do Sul em uma ave silvestre da espécie Trinta-Réis-Real (Thalesseus maximus), e foi detectado pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc).

 

Confira algumas recomendações:

∙ Não se aproxime nem toque em aves ou outros animais silvestres;

∙ Não manuseie ou entre em contato com animais aparentemente doentes ou mortos;

∙ Comunique os órgãos competentes: em caso de aves de qualquer espécie apresentando sinais clínicos de Influenza Aviária (sinais respiratórios, neurológicos, tais como dificuldade respiratória, andar cambaleante, torcicolo ou girando em seu próprio eixo, ou mortalidade alta e súbita) entre em contato com o CIDASC em SC através de qualquer Unidade Veterinária Local ou pelo 0800 643 9300 e notifique no MAPA

∙ Registre aves vivas, mortas ou doentes no SISS-Geo: apesar de muitos casos já terem sidos confirmados ao longo do Brasil, a maioria dos casos de morte de aves não tiveram uma suspeita confirmada para a Influenza, as aves estão morrendo de alguma outra doença ou causa que ainda não foi investigada e/ou identificada. Portanto, esse monitoramento de animais silvestres contínuo é fundamental.

 

Referências e indicações de leitura:

Cartilha “Saúde Única: O papel da restauração florestal para garantir saúde humana, animal e ambiental na Amazônia” da Aliança pela Restauração na Amazônia da Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE)

Glossário de Biossegurança da Fundação Oswaldo Cruz

Guia “Biodiversidade faz bem à Saúde” da Fundação Oswaldo Cruz

Artigo “Socioecological vulnerability and the risk of zoonotic disease emergence in Brazil” publicado na revista SCIENCE ADVANCES 

∙ Policy Brief “Saúde Silvestre: reduzindo o reduzindo o risco zoonótico e promovendo a saúde única” do Projeto Redes Socioecológicas do SinBiose do CNPq

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.

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