Carta aberta: Pedido de veto às Medidas Provisórias 756 e 758 que reduzem a proteção florestal no Brasil

Carta aberta: Pedido de veto às Medidas Provisórias 756 e 758 que reduzem a proteção florestal no Brasil

Carta aberta: Pedido de veto às Medidas Provisórias 756 e 758 que reduzem a proteção florestal no Brasil

São Paulo, 25 de maio de 2017

Ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Michel Temer,

A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura – movimento composto por representantes da sociedade civil, setor empresarial e academia – solicita ao senhor Presidente da República que vete integralmente as Medidas Provisórias (MPs) 756/2016 e 758/2016. Tais medidas, aprovadas pelo plenário do Senado no dia 23 de maio, por meio dos Projetos de Lei de Conversão (PLVs) 4/2017 e 17/2017 reduziram a Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no município de Novo Progresso (PA); o Parque Nacional (Parna) do Jamanxim, nos municípios de Itaituba e Trairão (PA); e o Parna de São Joaquim (SC).

Área do Parna de São Joaquim reduzida pela MP256. Foto Raphael Sombrio

A aprovação dessas MPs vai na direção contrária à proteção do meio ambiente e ao combate ao desmatamento crescente nos biomas brasileiros e compromete a credibilidade das necessárias iniciativas de desenvolvimento econômico no País. Essas medidas, que trazem danos irreparáveis à biodiversidade e ao clima, resultarão no beneficiamento de alguns poucos indivíduos em detrimento do interesse nacional.

A sanção desses PLVs promoverá a retirada da proteção de 588,5 mil hectares de florestas na Amazônia e a redução em 20% do Parna de São Joaquim, um dos principais refúgios da biodiversidade da Mata Atlântica, bioma mais ameaçado do País. Resultará, ainda, no estímulo por parte da mais alta autoridade da República ao aumento da exploração e depredação ilegais, criando um precedente indesejado para novas ocupações de áreas preservadas em Unidades de Conservação (UC).

A Flona do Jamanxim, criada em fevereiro de 2006, têm um importante papel na região ao se somar a outras UCs formando uma barreira verde com mais de 6,4 milhões de hectares. Esse bloqueio conseguiu conter o avanço avassalador do desmatamento ao longo da BR-163, rodovia que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA), que aumentou em mais de 650% entre os anos de 2001 e 2004, em decorrência da aceleração da especulação imobiliária de terras públicas.

Setores que defendem a aprovação da redução dessas inestimáveis áreas protegidas argumentam que as dificuldades enfrentadas pelo poder público para implantá-las impediu o efetivo controle da exploração ilegal e predatória por meio do desmatamento e do garimpo. No entanto, reduzi-las é o pior caminho para solucionar esses problemas que, ao contrário, se agravarão sem a proteção legal. Prova do altíssimo risco a que serão submetidas essas áreas com a desafetação pode ser comprovada com a análise das imagens obtidas pela plataforma MapBiomas. Esses mapas, que apresentamos abaixo, revelam que de 2004 a 2016, a Flona do Jamanxim perdeu mais de 117 mil hectares de florestas, o que gerou a liberação de 70 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, segundo cálculos do IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. Até 2030, a desafetação da área pode resultar em 280 mil hectares de florestas a menos e 140 milhões de toneladas de CO2 emitidas. Esse é um processo que precisa ser evitado.

É importante destacar que o ICMBio, órgão federal responsável pela gestão das UCs, reconheceu em relatório próprio que a ocupação na Flona do Jamanxim é recente, ao afirmar que 67,7% dos que lá estão entraram pouco antes ou logo após sua criação, em 2006. Esse dado comprova que as ocupações tiveram caráter especulativo.

Outras propostas em tramitação no legislativo e executivo ameaçam o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), que apoia a gestão de UCs na região. A aplicação dos recursos ao ARPA, cerca US$ 215 milhões proveniente de doadores internacionais, está atrelada a diversos compromissos, como a inexistência de perda de áreas protegidas.

Área do Parna de São Joaquim reduzida pela MP256. Foto Raphael Sombrio

Assim, os projetos que visam as desafetações, recategorizações e alterações de limites de unidades de conservação em curso no Governo descumprem claramente um compromisso brasileiro, podendo afetar as ações de desembolso de um dos maiores programas mundiais de conservação de florestas da história.

As medidas aprovadas pelo Senado afetarão a segurança jurídica e prejudicarão os investimentos no país, afastando investidores e consumidores exigentes de sistemas produtivos sustentáveis. Num mundo em que critérios socioambientais cada vez estão mais no centro da tomada de decisão dos grandes investidores, o Brasil se afasta ainda mais da oportunidade de se tornar uma economia competitiva e respeitada.

Em um cenário de recrudescimento do desmatamento na Amazônia verificado nos últimos dois anos, MPs como essas estimulam a ocupação predatória e o desrespeito às áreas de proteção ambiental, pondo em risco os ganhos obtidos nas tentativas de controlar o desmatamento na região e comprometem a imagem do país e do agronegócio.

A regularização fundiária de áreas que apresentaram desmatamento ilegal não pode ser autorizada pelo Governo. Caso contrário, não será factível zerar o desmatamento ilegal, conforme prevê o Código Florestal Brasileiro e cumprir os acordos internacionais de clima e biodiversidade assumidos pelo País, como a implementação da NDC, fundamentais para a construção de uma economia de baixo carbono.

O Brasil precisa de uma política de Estado para enfrentar os desafios da ocupação e do desmatamento ilegal e garantir a sustentabilidade nos projetos de logística na Amazônia, como no caso da Ferrogrão. A condução destas medidas no Congresso não foi bem sucedida e associa a ferrovia a um dano desnecessário à floresta, à biodiversidade e ao clima. Isso afasta investidores e pode resultar em questionamentos judiciais. Será preciso reiniciar esse debate, com bases técnicas e ampla participação dos interessados.

O primeiro passo nessa direção, Senhor Presidente, é, ao nosso ver, o veto integral dos Projetos de Lei de Conversão 04/2017 e 17/2017.

Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura

Sobre a Coalizão Brasil
A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura é um movimento multissetorial que se formou como o objetivo de propor ações e influenciar políticas públicas que levem ao desenvolvimento de uma economia de baixo carbono, com a criação de empregos de qualidade, o estímulo à inovação, à competitividade global do Brasil e a geração e distribuição de riqueza a toda a sociedade. Mais de 150 empresas, associações empresariais, centros de pesquisa e organizações da sociedade civil já aderiram à Coalizão Brasil – coalizaobr.com.br

Íntegra da Carta

Fonte: Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.

Organizações pedem paralisação do licenciamento de complexo eólico no Campo dos Padres

Organizações pedem paralisação do licenciamento de complexo eólico no Campo dos Padres

Organizações pedem paralisação do licenciamento de complexo eólico no Campo dos Padres

A Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (APREMAVI), a Associação de Proprietários de RPPNs de Santa Catarina (RPPN Catarinense), a Associação Catarinense de Preservação da Natureza (ACAPRENA), a Associação de Proprietários de RPPNs do Rio Grande do Sul (CHARRUA) e a Associação dos Amigos do Meio Ambiente (AMA) encaminharam requerimento à Procuradoria Geral da República solicitando a imediata paralisação do processo de licenciamento do Complexo Eólico Serra Azul e a instauração de investigação civil e criminal para apuração das irregularidades do respectivo projeto. Ao mesmo tempo em que afirmam convicção da incoerência, inconsistência e ilegalidade da implantação do complexo eólico, as organizações solicitam a imediata criação do Parque Nacional do Campo dos Padres.

O complexo eólico, projetado para a região do Campo dos Padres, prevê, dentre outras ações:

  1. a instalação de 240 aerogeradores em áreas de campos de altitude;
  2. construção de um acesso principal (através de Bom Retiro) e outro secundário (através de Urubici);
  3. aproveitamento de estradas existentes e abertura de novos acessos, totalizando cerca de 60 km de extensão; e
  4. construção de rede de transmissão com cerca de 110 km de extensão, causando impactos ambientais irreversíveis na região.

A importância da conservação do Campo dos Padres está fartamente documentada no processo para criação do Parque Nacional, que tem seu processo pronto para criação desde 2008. Bem antes de qualquer pedido para implantação do complexo eólico.

Além do requerimento à Procuradoria Geral da República, a RPPN Catarinense encaminhou manifestação à Fundação Estadual do Meio Ambiente (FATMA), solicitando o indeferimento da licença ambiental prévia do referido complexo eólico.

Os argumentos que motivam os pedidos estão no Requerimento e na Manifestação, cujos arquivos que podem ser acessados abaixo, nos anexos.

As organizações também lançaram uma campanha de assinaturas solicitando a criação do Parque Nacional do Campo dos Padres, através de uma petição Avaaz, que pode ser acessada neste link. A comunidade pode colaborar assinando e divulgando a petição. Juntos podemos salvra esse patrimônio catarinense.

Criação do Parque Nacional do Campo dos Padres JÁ

Criação do Parque Nacional do Campo dos Padres JÁ

Criação do Parque Nacional do Campo dos Padres JÁ

Campanha lançada hoje, 08 de agosto de 2016, pede a criação de Parque Nacional na região do Campo dos Padres. A proposta de criação do parque tem processo pronto desde 2008. A não criação da Unidade de Conservação (UC), por parte do Governo Federal, está deixando a região à mercê de ameaças de destruição, entre elas um complexo eólico.

A campanha é uma iniciativa da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), Associação dos Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Santa Catarina (RPPN Catarinense) e Grupo Pau Campeche.

Os ONGs editaram o vídeo “Campo dos Padres – campanha pela criação do Parque Nacional” que mostra a importância do Campo dos Padres, solicita a criação do Parque Nacional dos Campo dos Padres e denuncia a grave ameaça representada pela proposta do complexo eólico Serra Azul, que quer instalar 240 aerogeradores na área.

Foi criada também uma petição no Avaaz, a ser enviada ao Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, e ao Presidente do ICMBio, Rômulo Mello. Assine você também a petição: CRIAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DO CAMPO DOS PADRES JÁ!

Por que o Campo dos Padres é tão especial e precisa virar Parque Nacional?

Imagine um lugar de beleza extraordinária, imponentes escarpas, chapadas, vales profundos, cânions impressionantes, rios de águas cristalinas, lindas cachoeiras, animais de diferentes espécies, plantas de diferentes tipos e tamanhos, flores de todas as cores. Assim é a região do Campo dos Padres, em Santa Catarina.Um lugar onde a natureza se encontra e celebra a vida.

De um lado, nos vales e escarpas da Serra Geral, temos a Floresta Densa. Nas chapadas, formadas a partir da ruptura do terreno, e nos pontos mais altos, encontramos os campos naturais. Nos locais de grande altitude e nebulosidade, temos as Matas Nebulares. Nas depressões do terreno, locais de antigos lagos, surgem as turfeiras, habitat particular de diversas espécies. Já nos vales mais protegidos dos ventos e do frio, a vegetação florestal se desenvolve melhor, formando as típicas Florestas com Araucárias.

É no Campo dos Padres que ficam os pontos culminantes do estado de Santa Catarina, sendo o Morro da Boa Vista, com seus 1827 metros, o ponto mais alto. Ele abriga inúmeras espécies ameaçadas de extinção como o xaxim-bugio, a imbuia, o pinheiro-brasileiro e animais como o puma e o papagaio-do-peito-roxo.

No Campo dos Padres existem inúmeras nascentes, contribuindo para a formação dos rios Canoas, Itajaí e Tubarão. Rios de água cristalina, formando belas cachoeiras, descem por cânions e vales profundos, criando paisagens de grande beleza. Suas águas abastecem a população das cidades próximas e contribuem com três das principais bacias hidrográficas do estado.

O Campo dos Padres é Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, um dos mais ameaçados em todo o mundo. A região já foi estudada visando a criação de um Parque Nacional. O processo para a criação do Parque Nacional do Campo do Padres está pronto desde 2008. A não criação desta Unidade de Conservação pelo Governo Federal, está deixando a região vulnerável à destruição.

Confira o vídeo elaborado pelo Ministério do Meio ambiente para susbsidiar as consultas públicas realizadas em dezembro de 2006.

Complexo eólico ameaça Campo dos Padres

Complexo eólico ameaça Campo dos Padres

Complexo eólico ameaça Campo dos Padres

Apremavi entregou documento contrário à implantação de complexo eólico no Campo dos Padres e pede criação imediata de Parque Nacional na região. O documento foi entregue à Fundação Estadual de Meio Ambiente (FATMA), durante audiência pública, realizada no dia 30 de junho de 2016, na cidade de Bom Retiro (SC).

O documento será encaminhado também para o Ministério Público Estadual e Federal, solicitando providências para a proteção da área.

Sobre o Rima do Complexo Eólico Serra Azul – Campo dos Padres

A Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida – Apremavi, manifesta-se contrária à aprovação do Relatório de Impacto Ambiental – Rima do Complexo Eólico Serra Azul, pelas razões a seguir expostas:

1 – A região do Campo dos Padres e o conjunto de serras que o circunda, que abrange áreas dos municípios de BomRetiro, Urubici, Alfredo Wagner e outros municípios da região, é um dos últimos blocos homogêneos de florestas com araucárias e campos de altitude com elevado grau de preservação que ainda restam em Santa Catarina.

2 – Essa área foi exaustivamente estudada no ano de 2006, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), envolvendo técnicos do próprio MMA, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA), da Empresa de Pesquisa Agrícola e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), da Companhia de Polícia Ambiental de Santa Catarina, das Prefeituras dos Municípios Envolvidos e de Instituições da Sociedade Civil Organizada atuantes na região(Processo no ICMBio/MMA nº- 02000.000861/2006-17).

3 – Os estudos técnicos e socioeconômicos realizados evidenciaram os atributos e a importância ambiental da área para a biodiversidade de fauna e flora, para a proteção dos recursos hídricos, para a preservação das excepcionais belezas cênicas e para a preservação de um verdadeiro ecótono com uma diversidade de ambientes naturais únicos e ameaçados como as turfeiras, as matas nebulares, os campos de altitude e seus contados com as Florestas Ombrófila Densa e Mista.

4 – Dentre as conclusões do estudo destaca-se: “Esta região apresenta um mosaico de ecossistemas ameaçados, cuja ocorrência no Estado de Santa Catarina, revela aspectos de notória representatividade nacional. Cumprindo uma finalidade estratégica em relação a fauna, flora, recursos hídricos e belezas de excepcional valor paisagístico, perfazendo amostras ecossistêmicas de grande significância ecológica, como atestam e confirmam o grande número de estudos científicos já realizados na região”.

5 – Esses estudos coordenados pelo MMA embasaram a proposta de criação do Parque Nacional do Campo dos Padres e foram levados a quatro audiências públicas (uma delas conduzida pelo Juiz Federal Zenildo Bodnar).Ou seja, os atributos e importância ambiental da área já são conhecidos e reconhecidos pela academia, pelas ONGs ambientalistas e por órgãos do executivo e judiciário desde 2006.

6 – Ressalta-se que durante os estudos e audiências públicas ninguém apresentou qualquer projeto de parque eólico para aquela importante área ambiental. Essa de aerogeradores surgiu muito depois e atende interesses meramente privados.

7 –A proposta do complexo eólico Serra Azul que prevê a instalação de 240 aerogeradores de 2,7 MW cada, no Campo dos Padres, apresenta um RIMA que não menciona sequer uma única espécie vegetal campestre.A título de exemplo, segundo PROBIO (2003) a flora dos campos do sul do Brasil é extremamente rica em espécies – somente nos campos do planalto das araucárias foram contabilizadas 1.087 espécies. As famílias mais representativas em relação ao número de espécies são Asteraceae, Poaceae, Fabaceae, Cyperaceae, Solanaceae, Apiaceae, Rubiaceae, Lamiaceae e Euphorbiaceae. As espécies de gramíneas (Poaceae) são as de maior dominância, refletindo na caracterização fisionômica dos campos.

A implantação de mais de 240 torres eólicas destruirá o Campo dos Padres. Imagem do relatório de impacto ambiental.

8 – Nenhuma opção energética que causa destruição de ambientes naturais únicos, cheios de biodiversidade, aspectos cênicos impressionantes e espécies raras e endêmicas, é uma opção aceitável. Boa opção é a energia solar e eólica implantada sem destruição de ambientes naturais, o que efetivamente não é o caso.

9 – Diante da iminente destruição desse conjunto de ecossistemas únicos pelo complexo eólico Serra Azul, vimos requerer que a Fundação do Meio Ambiente – Fatma, rejeite a proposta do complexo eólico Serra Azul e reconheça a precedência da proposta da preservação da região através da criação do Parque Nacional do Campo dos Padres nos moldes propostos e aprovados pelo MMA/ICMBio (Processo no ICMBio/MMA nº- 02000.000861/2006-17).

10 –Para garantir a precedência da proposta da preservação através da criação do Parque Nacional do Campo dos Padres nos moldes propostos e aprovados pelo MMA/ICMBio (Processo no ICMBio/MMA nº- 02000.000861/2006-17) e a não aprovaçãoe licenciamento do complexo eólico Serra Azul, visto que esse complexo irá destruir de forma irremediável o ambiente insubstituível do Campo dos Padres, requeremos que os Ministérios Públicos Federal e Estadual tomem as providências cabíveis, inclusive no âmbito judicial.

11 – No anexo 1 informações sobre a importância ambiental e cênica da proposta do Parque Nacional do Campo dos Padres.

Anexo 1
Parque Nacional do Campo dos Padres

O Campo dos Padres e o conjunto de serras que o circunda se constitui num dos últimos blocos homogêneos de florestas com araucárias e campos de altitude com elevado grau de preservação que ainda restam em Santa Catarina.

A proposta do Parque Nacional do Campo dos Padres contempla 50.774 hectares, distribuídos pelos municípios de Urubici (SC), Bom Retiro (SC), Alfredo Wagner (SC), Anitápolis (SC), Santa Rosa de Lima (SC), Rio Fortuna (SC), Grão Pará (SC) e Rio Rufino (SC). A proposta foi submetida a 4 consultas públicas, realizadas nos dias 8 e 9/12/2006, respectivamente nos municípios de Bom Retiro (SC), Anitápolis (SC) e Urubici (SC). Além disso foi realizada uma audiência pública judicial na cidade de Urubici (SC) em 23.06.2007, conduzida pelo Juiz Federal Zenildo Bodnar.

O Campo dos Padres é um ecótono, de grande importância biológica, onde formações geológicas magníficas moldam um relevo suave, quase plano nas porções mais elevadas, os chamados “aparados”. Nessas áreas predominam os campos naturais, onde vicejam inúmeras espécies de plantas herbáceas e arbustivas, muitas delas raras e endêmicas.

Os campos terminam em penhascos íngremes, tortuosos, irregulares, criando “paredões” de dimensões gigantescas, formando as bordas da Serra Geral. O cenário criado é de grande beleza cênica, onde se destacam cânions, cachoeiras, montanhas, escarpas e chapadas de grande potencial ecoturístico. A área abriga o Morro da Boa Vista que com seus 1.827 metros corresponde ao ponto mais alto do estado de Santa Catarina.

Nos cumes e paredões rochosos e nas bordas das escarpas ocorrem a vegetação rupestre e as matinhas nebulares. A associações de plantas características são amostras incontestes dos complexos processos evolutivos e adaptativos particulares desses verdadeiros refúgios de biodiversidade. Na base da serra, onde relevo amenizado, solos mais profundos e temperaturas mais amenas, favoreceram o desenvolvimento maior das plantas, encontramos amostras da típica floresta ombrófila densa. Em direção ao interior do planalto os campos cedem lugar às matas de araucárias, a floresta ombrófila mista.

A flora possui espécies raras, endêmicas e ameaçadas tais como a araucária (Araucaria angustifolia), a imbuia (Ocotea porosa), o xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana), a cactácea tuna, além de inúmeras plantas epífitas, rupestres e de campos secos e brejosos. Destaca-se que a imbuia, espécie constante na Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção, ainda pode ser encontrada nas matas da região. Por outro lado, o xaxim-bugio, outra das espécies da referida lista, apresenta populações com número significativo de indivíduos nos fragmentos florestais da região.

Além da imbuia, a araucária é acompanhada no estrato arbóreo pela canela-lajeana (Ocotea pulchella), a canela-amarela (Nectandra lanceolata), o camboatá-branco (Matayba elaeagnoides), o camboatá-vermelho (Cupania vernalis), a bracatinga (Mimosa scabrella), o rabo-de-macaco (Lonchocarpus leucanthus), a sapopema (Sloanea lasiocoma) e o cedro (Cedrela fissilis).

Dentre as florestas montanas se destaca uma vegetação florestal de porte reduzido, periodicamente encoberta pela neblina densa, conferindo-lhe caráter higrofílico, conhecida como “mata nebular”. A umidade quase permanente dessas matas, associada com a altitude favorece o desenvolvimento de inúmeras espécies de epífitos, notadamente liquens, musgos e pteridófitas.

O clima frio e úmido que predomina na região são condições que favorecem a formação de turfeiras. As turfeiras são associações específicas de plantas que se desenvolvem em corpos d’água, lacustres ou lagunares, a partir da colonização por musgos do gênero Sphagnum.

A fauna é especialmente rica e diversificada, incluindo espécies em risco de extinção tais como o puma ou leão-baio (Puma concolor), a gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), o caneleirinho-de-chapéu-preto (Piprites pileatus), papagaio-charão (amazona pretrei) e o papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea). O puma é um felino de grande porte e exige grandes áreas conservadas para assegurar a sua sobrevivência.

A criação do Parque Nacional do Campo dos Padres, juntamente com o Parque Nacional de São Joaquim, poderá compor uma área protegida de tamanho suficiente para garantir a manutenção de populações viáveis de puma, indicada como uma espécie-bandeira para essa região. Levantamentos da avifauna realizados na área registraram a ocorrência de mais de 180 espécies de aves residentes ou migratórias, confirmando a elevada biodiversidade local e a necessidade e importância de sua preservação.

Esse complexo ecossistêmico torna essa área extremamente relevante para a conservação da biodiversidade, preservando habitats diversificados e nichos ecológicos insubstituíveis. A preservação dos recursos hídricos regionais também depende da manutenção da integridade dessa área. Importantes rios são alimentados pelas nascentes que afloram no Campo dos Padres.

O rio Canoas é o mais emblemático, contudo outros tantos rios das bacias do Tubarão, Itajaí e Pelotas são nutridos pelas águas límpidas e geladas que nascem no Campo dos Padres. A geologia da área revela ainda a sua grande e estratégica importância como ponto de recarga do aqüífero guarani.

O turismo ecológico é a atividade econômica que mais cresce na região. Somente no município de Urubici já são mais de 70 pousadas e hotéis. Isso mostra que as populações do entorno e dos municípios circunvizinhos serão beneficiadas com a criação do Parque Nacional do Campo dos Padres, gerando novas oportunidades de emprego e renda através do ecoturismo.

A área do Campo dos Padres é classificada como de importância biológica extremamente alta para a conservação da biodiversidade, conforme Mapa de Áreas Prioritárias publicado através da Portaria 09/2007, do Ministério do Meio Ambiente. O Campo dos Padres e o conjunto de serras que o circunda se constitui num dos últimos blocos homogêneos de florestas com araucárias e campos de altitude com elevado grau de preservação que ainda restam em Santa Catarina.

RPPN Catarinense realiza seu III encontro estadual

RPPN Catarinense realiza seu III encontro estadual

RPPN Catarinense realiza seu III encontro estadual

A RPPN Catarinense, associação que congrega 23 proprietários de RPPNs, realizou, de 09 a 11 de junho de 2016, o III Encontro de RPPNs de Santa Catarina. O evento aconteceu na RPPN Morro das Aranhas, no Costão do Santinho, em Florianópolis (SC) e contou com a presence de 63 pessoas. O Evento foi destinado a proprietários e gestores de RPPNs, entidades públicas e privadas e interessados no tema da conservação ambiental em áreas privadas para  discutir questões importantes como Planos de Manejo, panorama das RPPNs no Estado, educação ambiental e pesquisa nas RPPNs, entre  outros.

Na oportunidade foi lançado o guia de educação ambiental: Guardiãs da Natureza – como as RPPN preservam os rios e a biodiversidade. Uma publicação da RPPN Catarinense que tem o apoio do Fundo Socioambiental Casa e Fundo Socioambiental Caixa. O Guia é destinados às escolas situadas no entorno das RPPNs, para a realização de atividades de educação ambiental. A versao em pdf pode ser acessada aqui.

Miriam Prochnow participou do evento representando  a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), fazendo uma apresentação dos trabalhos da organização e também da RPPN Serra Pitoco e da RPPN Serra do Lucindo. Segundo Lauro Bacca, Conselheiro da Apremavi e Rppnista, as RPPNs são fundamentais para a conservação da natureza:  “As RPPNs constituem um alentador caso de sucesso brasileiro nessa area tão necessária, que é a proteção da nossa riquíssima biodiversidade. Hoje, elas são essas guardiãs da natureza que deram certo! Tão certo que já são cerca de 2.000 RPPNs em todo o Brasil”. Em Santa Catarina existem quase 70 RPPNs (estaduais e federais), que, juntas protegem ambientes naturais numa area superior a 34 mil hectares.

Os participantes do encontro também aprovaram por unanimidade uma moção, dirigida ao Ministro do Meio Ambiente, solicitando a criação imediata e oportuna das seguintes unidades de conservação em Santa Catarina: Parque Nacional do Campo dos Padres, Refúgio de Vida Silvestre do Rio da Prata e Refúgio de Vida Silvestre do Corredor do Pelotas. Ressaltaram que a criação dessas UCs é de extrema importância para a Mata Atlântica catarinense, com contribuição fundamental para a conservação da biodiversidade, dos recursos hídricos, dos sítios arqueológicos milenares e da qualidade de vida da população. Enfatizaram ainda que os processos de criação dessas UCs já cumpriram todos os trâmites legais, faltando apenas o ato final de criação.

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