Observatório do Clima estreia nova identidade visual

Observatório do Clima estreia nova identidade visual

Observatório do Clima estreia nova identidade visual

Para comemorar seus 15 anos, o Observatório do Clima estreia hoje (6) sua nova logomarca.

O projeto do designer brasiliense André Gonzales é um redesenho da marca anterior da rede. A proposta foi manter a referência à imagem do tufão, o conceito mais presente no desenho antigo, e acrescentar a ele elementos de convergência – deixando mais clara a ideia de rede –, mantendo a paleta de cores da logomarca e atualizando-a.

O verde predomina, numa dupla referência à origem do OC como um movimento para inserir a questão florestal no debate climático e à importância das florestas para a mitigação da mudança do clima no Brasil.

O site também ganhou uma repaginação, com maior presença dos membros na homepage e acesso mais fácil às campanhas em que a rede se engaja.

Os produtos da família SEEG também ganham mais destaque: regularmente será apresentado um dado do SEEG, dos Monitores ou do MapBiomas na seção “Me mostre os dados!”, de forma a estimular o leitor a fazer suas próprias pesquisas nas plataformas.

O OC também está divulgando hoje um vídeo sobre os 15 anos de atuação, produzido durante a assembléia que ocorreu em Atalanta (SC), em abril.

Confiram!

 

 

Autor: Cláudio Angelo

Observatório do Clima realizou reunião anual em Atalanta (SC)

Observatório do Clima realizou reunião anual em Atalanta (SC)

Observatório do Clima realizou reunião anual em Atalanta (SC)

Integrantes e parceiros celebraram os 15 anos da rede e debateram a estratégia para o aumento da ambição das propostas brasileiras no Acordo de Paris.

O Observatório do Clima (OC), a maior rede de entidades da sociedade civil dedicada ao debate do clima no Brasil, reuniu suas entidades integrantes e parceiros para a sua assembleia anual, na cidade de Atalanta (SC), de 10 a 12 de abril de 2017, nas dependências do Centro Ambiental Jardim das Florestas da Apremavi. Reuniu 43 participantes, representando 21 membros e organizações observadoras.

O encontro marcou os 15 anos do OC e também os 30 anos da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), havendo oportunidade para uma celebração conjunta. A celebração incluiu um jantar com membros do Conselho da Apremavi e autoridades locais e um plantio de mudas, ampliando uma faixa de mata ciliar no local.

Edegold Schäffer, Presidente da Apremavi, mostrando o Viveiro de Mudas Jardim das Florestas. Foto: Arquivo Apremavi

O OC nasceu em 2002 para posicionar a questão florestal no debate do Protocolo de Kyoto. Em 2009, participou ativamente da Política Nacional de Mudanças Climáticas. Mais recentemente passou a gerar dados com a criação do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, o SEEG, em 2012.

Durante os três dias de reunião houve discussões em plenária e trabalhos em grupos, tratando dos seguintes temas:

  • Adaptação e resiliência climática
  • Comunicação
  • Florestas e REDD
  • Governança
  • Monitoramento de Políticas Públicas
  • NDC de 1,5ºC
  • Ataque sistemático (governo e congresso) à governança socioambiental do Brasil

Momento do plantio de árvores durante o encontro. Foto: Arquivo Apremavi

Como resultado das discussões foi lançada a Carta de Atalanta, um documento em protesto contra o ataque coordenado do Congresso Nacional e do governo de Michel Temer à proteção ambiental e aos direitos dos povos tradicionais.

A carta lista a série de retrocessos promovidos pelo governo e por seus aliados parlamentares nos últimos meses, no que talvez seja a maior ofensiva antiambiental desde a Constituição de 1988. E alerta que o movimento põe em risco as metas climáticas do país, além da segurança de toda a sociedade.

Entre as vítimas estão as unidades de conservação – comissões especiais do Congresso reduziram a proteção de 1,1 milhão de hectares em apenas dois dias, votando propostas enviadas pelo próprio Palácio do Planalto na forma de Medidas Provisórias; as terras indígenas, com a nomeação de Osmar Serraglio (PMDB-PR), um radical da bancada ruralista, para o cargo de ministro da Justiça; as terras públicas, com a proposta da MP 759; e o licenciamento ambiental.

“Após avanços significativos na redução da taxa de desmatamento e na demarcação de terras indígenas e criação de unidades de conservação na década passada – mantendo ao mesmo tempo forte crescimento econômico, safras recorde e geração de empregos –, o Brasil parece retroceder à década de 1980, quando era um pária internacional devido à destruição acelerada de seu patrimônio natural e à violência no campo”, diz a carta.

“O país que gosta de se vender ao mundo como parte da solução da crise do clima voltou a ser um problema. A mesma agropecuária propagandeada como a mais sustentável do mundo é a responsável pela grilagem de terras públicas, pela retirada de direitos de povos e comunidades tradicionais e pequenos agricultores e por rasgar os compromissos domésticos e internacionais de redução de emissões.”

Participantes do OC em momento de reunião. Foto: Arquivo Apremavi

Acompanhe abaixo a matéria realizada pela RBA TV sobre o encontro.

http://www.rbatv.com.br/noticia-rban/acoes-serao-este-ano-22220

 

A carta de Atalanta pode ser encontrada aqui. Leia abaixo sua íntegra:

Nenhum hectare a menos!

Carta do Observatório do Clima contra os retrocessos na agenda socioambiental

Em meio à instabilidade política atual, segmentos do governo e do Congresso avançam rapidamente para desfigurar leis e políticas socioambientais consolidadas a partir da Constituição de 1988. Evidencia-se um esforço concentrado e organizado para a aprovação de um conjunto de medidas que colocam em risco o bem-estar e a segurança da sociedade e nossos compromissos contra as mudanças climáticas.

Na última terça-feira (11/4), uma comissão do Congresso Nacional retalhou um conjunto de unidades de conservação na Amazônia e na Mata Atlântica, liberando para grilagem 660 mil hectares de terras públicas que haviam sido ilegalmente ocupadas e vêm sendo desmatadas. A redução, sem precedentes, foi inicialmente pedida pelo próprio Presidente da República, Michel Temer, por meio da Medida Provisória 756. Na quarta-feira (12/4), em sete minutos, outra comissão especial do Congresso aprovou a Medida Provisória 758, que reduz outros 442 mil hectares de unidades de conservação na Amazônia – em dois dias, 1,1 milhão de hectares.

A redução de áreas protegidas por MP, proposta inicialmente pela ex-presidente Dilma Rousseff e posta em prática por Temer, é uma sinalização do governo de que o crime compensa. A prática vem animando segmentos empresariais e parlamentares a formular propostas visando extinguir, reduzir ou alterar o status de proteção de parques nacionais, reservas extrativistas e outras áreas protegidas. No exemplo mais recente, políticos do Amazonas articulam com a Casa Civil a redução de cerca de 1 milhão de hectares de unidades de conservação no sul do Estado. Tramitam no Congresso Nacional e em várias assembleias legislativas estaduais outros projetos com esses objetivos.

O presidente também editou a MP 759/2016, que, a pretexto de promover a regularização fundiária, incentiva a grilagem de áreas públicas, perenizando o caos urbano e rural, o aumento do desmatamento e a concentração de terras e de renda.

Esses movimentos ocorrem em meio à forte elevação do desmatamento da Amazônia. A devastação cresceu 60% nos últimos dois anos, pondo em risco a meta brasileira de chegar a 2020 com uma redução de 80% na taxa, lançando dúvidas sobre a seriedade do compromisso do governo brasileiro com o Acordo de Paris.

Outras áreas protegidas também estão sob ameaça. Temer nomeou um ruralista radical, Osmar Serraglio (PMDB-PR), para o Ministério da Justiça, ao qual a Funai está subordinada. Serraglio foi o relator, na Câmara, da PEC 215, que viola direitos constitucionais dos índios ao transferir do Executivo para o Congresso a prerrogativa de demarcar terras indígenas. Premiando um militante da injustiça como ministro, Temer toma partido nos conflitos que o governo deveria mediar.

Encontram-se paralisados todos os procedimentos administrativos de demarcação de terras indígenas, titulação de quilombos e criação de assentamentos da reforma agrária e unidades de conservação. O teto de gastos introduzido na Constituição projeta um longo período de arrocho orçamentário para os órgãos e políticas socioambientais – um exemplo é o corte de 43% no orçamento do Ministério do Meio Ambiente em pleno período de alta no desmatamento.

Além das ameaças diretas a áreas protegidas e territórios tradicionais, também pode ser votado na Câmara nos próximos dias o desmonte do licenciamento ambiental. A bancada ruralista, juntamente com a Confederação Nacional da Indústria, vem buscando afrouxar o licenciamento, deixando na mão de Estados e municípios a definição das atividades que precisam de licença – e isentando toda a agropecuária. A vitória dessa proposição, que atropela o diálogo entre governo, congresso e sociedade civil para o aprimoramento deste instrumento, aumentará ainda mais o potencial de tragédias como a ocorrida em Mariana em 2015, além de abrir o caminho para grandes obras, como as investigadas pela Operação Lava Jato, sem qualquer avaliação de impacto.

Nesse cenário, cresce a violência contra jovens, mulheres, trabalhadores rurais, extrativistas, quilombolas e índios. Somente em 2015 foram registrados 50 assassinatos relacionados à luta pela terra e por direitos comunitários. O Brasil é o país onde mais se mata ativistas socioambientais.

Após avanços significativos na redução da taxa de desmatamento e na demarcação de terras indígenas e criação de unidades de conservação na década passada – mantendo ao mesmo tempo forte crescimento econômico, safras recorde e geração de empregos –, o Brasil parece retroceder à década de 1980, quando era um pária internacional devido à destruição acelerada de seu patrimônio natural e à violência no campo.

O país que gosta de se vender ao mundo como parte da solução da crise do clima voltou a ser um problema. A mesma agropecuária propagandeada como a mais sustentável do mundo é a responsável pela grilagem de terras públicas, pela retirada de direitos de povos e comunidades tradicionais e pequenos agricultores e por rasgar os compromissos domésticos e internacionais de redução de emissões.

Em vista desse quadro, o Observatório do Clima: repudia os ataques ao patrimônio nacional e aos direitos da sociedade realizados pelo poder público sob influência de interesses privados; demanda ao Congresso Nacional que não aprove qualquer medida que leve à redução do status de proteção ou eliminação de áreas protegidas, como as Medidas Provisórias 756 e 758, nem qualquer outra medida que fragilize a proteção social e ambiental do país; demanda ao Presidente da República que não recorra mais a MPs para alterar áreas protegidas e vete na íntegra as alterações recentemente propostas pelo Congresso, caso aprovadas; e apoia organizações ambientais e movimentos sociais que juntam forças para fazer frente aos retrocessos, na certeza de que somente o aumento da resistência será capaz de deter e de reverter a atual conjuntura.

Atalanta (SC), 12 de abril de 2017

Assembleia Anual do Observatório do Clima

Autores: Miriam Prochnow e Cláudio Angelo

Observatório do Clima completa 14 anos

Observatório do Clima completa 14 anos

Observatório do Clima completa hoje 14 anos! Mas a ideia surgiu um pouco antes: o primeiro esboço da rede foi feito em dois guardanapos de papel, em uma conversa informal na praia. Conheça a história da qual a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) tem orgulho em participar.Temos um desafio enorme pela frente.

A ideia de formar uma coalizão de organizações da sociedade civil brasileira para discutir mudanças climáticas surgiu em 2001 em Salinópolis, no litoral do Pará, durante um jantar. Era um intervalo de uma reunião anual da Usaid (agência de cooperação do governo americano) e quatro ambientalistas que participavam do encontro aproveitaram a noite livre para dar uma escapada até um bar na beira da praia e – acredite – falar de trabalho.

Miguel Calmon (The Nature Conservacy), Mario Monzoni (Amigos da Terra Amazônia Brasileira), Paulo Moutinho (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e Fernando Veiga (ProNatura) se encontraram para continuar uma conversa que começara naquela manhã no aeroporto de Belém, sobre o rumo que o debate em torno de florestas e clima estava tomando no Brasil. Havia uma insatisfação grande entre várias organizações quanto à forma como a questão do desmatamento era tratada pelo governo no contexto do Protocolo de Kyoto, o primeiro acordo do clima, assinado em 1997.

Hoje é óbvio para todo mundo que o desmatamento tem um peso enorme nas emissões mundiais e que ele precisa ser contido, com algum tipo de compensação para os países tropicais que reduzirem suas taxas de perda de florestas. O mecanismo REDD+ foi criado para isso, e foi o primeiro componente do novo acordo do clima a ter sua negociação concluída.

No começo do século não era bem assim: o único lugar onde florestas poderiam entrar no Protocolo de Kyoto era o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, pelo qual emissões evitadas em países em desenvolvimento poderiam gerar créditos de carbono para países desenvolvidos. Algumas pessoas defendiam que o desmatamento evitado e a recuperação de florestas nativas nos países tropicais entrassem no MDL e pudessem gerar créditos, como meio de dar valor à floresta em pé. O governo brasileiro não queria nem ouvir falar nisso, alegando questões de soberania nacional – 70% das nossas emissões vinham do desmatamento da Amazônia. E várias ONGs, representadas no Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, o FBOMS, também eram contra, porque não queriam que a conservação aqui servisse de desculpa para os países ricos não cortarem emissões lá.

“Era um debate muito hostil”, recorda-se Monzoni, hoje diretor do GVCES (Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas), em São Paulo.

No ano anterior, na Conferência do Clima de Haia, na Holanda, algumas organizações tentaram fazer um acordo entre ONGs para pressionar os governos pela inclusão das florestas no MDL, mas não deu certo. “Havia ONG roubando material de ONG sobre o assunto e jogando no lixo”, conta Calmon.

Era preciso tentar construir um consenso sobre o assunto de baixo para cima. E o melhor lugar a começar era o país com o maior ativo de florestas tropicais do planeta, o Brasil. Sem espaço para isso dentro do governo e no FBOMS, seria preciso criar um novo fórum. Naquela noite, em Salinópolis, surgiram as primeiras ideias sobre como esse fórum deveria ser constituído e quem deveria ser chamado para constituí-lo. “O primeiro esboço do Observatório do Clima foi desenhado ali, em dois guardanapos de papel”, relembra Calmon.

Várias trocas de e-mail depois, uma reunião inicial foi convocada e realizada num hotel na Rua Teixeira da Silva, em São Paulo. Compareceram representantes de 33 organizações, uma presença significativa, que dava uma ideia da demanda pelo debate sobre clima e florestas no país.

Em 22 e 23 de março de 2002, uma reunião numa sala de aula da Fundação Getúlio Vargas com 26 organizações*, o OC foi oficialmente fundado, com o lançamento de sua carta de princípios no dia 23, que marca o lançamento da rede. Quatro grupos de trabalho foram criados: mudanças climáticas, mudanças do uso do solo (que inclui florestas e biodiversidade), desenvolvimento sustentável e informação e comunicação.

“Entre as tarefas principais estava capacitar as pessoas das ONGs sobre clima. Queríamos contaminar as grandes redes com essas informações”, conta André Ferretti, da Fundação Grupo Boticário, que participou do encontro de fundação.

Entre 2002 e 2005, período anterior à implementação e entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, o OC viveu sua estruturação, com muita euforia em torno do debate sobre projetos florestais. O conceito de “desmatamento evitado” passou a dar lugar ao de “incentivos positivos”, ou seja, em vez de gerar crédito por deixar a floresta em pé, o país seria compensado pela taxa de desmatamento que ele comprovadamente reduzisse em relação ao passado. Um serviço voluntário de cobertura alternativa das COPs foi iniciado pelos membros.

Foi também nesse período que o sistema de funcionamento da rede foi estabelecido: a coordenação seria colegiada, com seis organizações representando biomas e áreas de conhecimento diferentes. Uma assembleia geral ocorreria uma vez por ano. E a rede não teria personalidade jurídica. “Definiu-se que o OC não teria institucionalidade, para não perder a característica de movimento, nem entrar na disputa por recursos com as organizações”, diz Rachel Biderman, do WRI Brasil, primeira secretária-executiva do Observatório.

Após 2005, com a entrada em vigor de Kyoto (sem florestas no MDL), o OC entra num período de funcionamento regular, com reuniões anuais e os quatro grupos de trabalho conduzindo as atividades. “Incluía-se aí discussões sobre a política nacional de clima o MDL, os mecanismos de verificação, inventários de emissões, comunicação e educação”, diz Rachel Biderman. O OC ficou hospedado no GVCES, com a secretária-executiva mapeando novos possíveis membros e o jornalista Ricardo Barretto cuidando da comunicação, inclusive a cobertura das COPs, que tornou-se mais sistemática

A partir de 2007, um grupo dentro do OC começou a discutir aquilo que seria uma das principais contribuições da rede: um conjunto de diretrizes para a formulação de políticas públicas de clima no Brasil. O país começava a sinalizar uma mudança de posição no debate sobre clima e florestas, calcado na redução da taxa de desmatamento na Amazônia. Um Plano Nacional sobre Mudança do Clima começava a ser discutido, e foi finalmente apresentado em 2008. Projetos de lei de uma política de clima começavam a pipocar no Congresso. Em 2009, o OC produziu um documento com um conjunto de propostas. Algumas delas foram incorporadas à Lei 12.187/2009, que define a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Foi uma das maiores vitórias do OC”, lembra Rachel Biderman.

O processo de confecção do documento durou quase um ano, com consultas públicas no Rio, em São Paulo, em Brasília e em Curitiba, com participação de diversos especialistas. A Frente Parlamentar Ambientalista viabilizou um encontro com deputados que, ao tomarem conhecimento do “PL alternativo das ONGs”, quiseram incorporar grande parte dele à lei federal então em discussão. No mesmo ano, na COP15, em Copenhague, o Observatório levou suas propostas aos três principais candidatos à Presidência da República (Dilma Rousseff, Marina Silva e José Serra). De 2009 a 2012, a atuação do Observatório do Clima esteve focada em políticas públicas, com brigas compradas com o governo especialmente no Código Florestal e o acompanhamento da implementação da política nacional de clima e das metas de Copenhague.

Em 2013 o OC entrou numa nova fase: a de geração de dados. Em março, uma estimativa anual de emissões feita pela primeira vez por Tasso Azevedo no ano anterior foi incorporada ao Observatório: estava criado o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), a primeira iniciativa não-governamental no mundo de cálculo anual de emissões em todos os setores da economia. O SEEG tornou-se um instrumento fundamental de transparência do cumprimento da lei da política nacional de clima e uma forma mais dinâmica de monitorar as mudanças no perfil da economia do país – os inventários nacionais saem apenas de cinco em cinco anos, e têm atraso de dez anos em suas contas.

Em setembro de 2013, o OC criou a figura do secretário-executivo com dedicação exclusiva. Carlos Rittl, um ecólogo com doutorado no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), foi escolhido para a função. Em 2014 a rede participou da COP20, em Lima, cobrando mais ambição do governo brasileiro e levando a metodologia do SEEG.

O secretariado fixo e o SEEG ajudaram a trazer recursos regulares para a rede, por meio de fundações como a Oak, a Avina, a Larci (hoje Instituto Clima e Sociedade) e a Clua (Climate and Land Use Alliance). A Fundação Grupo Boticário, a SOS Mata Atlântica, o Ipam, a TNC, o Ipsus, a Conservação Internacional, o ISA, o WWF e o GVCES estão entre as organizações que também têm aportado recursos à rede ao longo de sua história.

Em 2015, o OC criou um departamento de comunicação também com dedicação exclusiva. O SEEG foi expandido para o Peru e ganhou dois subprodutos: o Monitor Elétrico, que permite acompanhar diariamente as emissões do setor, e o MapBiomas, uma plataforma digital de monitoramento de mudanças de uso da terra que permitirá, pela primeira vez, acompanhar todos os anos o desmatamento em todos os biomas do país. A atuação política da rede foi marcada pela elaboração de uma proposta de INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida), que estabeleceu uma barra mínima para a ambição da proposta oficial do país e foi determinante para que o governo apresentasse uma INDC com metas absolutas para toda a economia.

“Montar uma rede dessas é fácil, difícil é mantê-las funcionando”, diz Paulo Moutinho, do Ipam. “O OC é um dos poucos grupos na sociedade civil brasileira que têm representatividade, pluralidade e longevidade na discussão de mudanças climáticas.”

* Veja a lista de organizações originalmente integrantes do OC e seus representantes:

Aliança para a Conservação da Mata Atlântica    Maria Cecília Wey de Brito
Amigos da Terra – Amazônia Brasileira    Mario Monzoni e Gladis Ribeiro
APREMAVI    Wigold Bertoldo Schäffer
Associação de Proteção a Ecossistemas Costeiros (APREC)    Sérgio de Mattos Fonseca
Comissão Pastoral da Terra, Amazonas – CPT-AM    Adenilza Mesquita
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB    Genival de Oliveira dos Santos
Grupo de Trabalho Amazônico – GTA    José Adilson Vieira de Jesus
Associação Civil Greenpeace – GREENPEACE    Marijane Lisboa
Instituto Centro de Vida – ICV    Carlos Teodoro José Irigaray
Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia – IESB    Carlos Alberto Mesquita
Instituto Ecológica    Divaldo Rezende
Instituto Internacional de Educação do Brasil – IIEB    Maria José Gontijo
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia- IMAZON    Paulo Amaral
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM    Paulo Moutinho, Márcio Santilli e Luciano Mattos
Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ    Eduardo H. Ditt
Instituto Ecoar para Cidadania – ECOAR    Miriam Dualibi
Instituto Pró-Natura – IPN    Fernando Veiga
Instituto Pró-Sustentabilidade – IPSUS    Rachel Biderman Furriela e Laura Valente de Macedo
Instituto Socioambiental – ISA    Adriana Ramos
Núcleo Amigos da Terra – Brasil    Kathia Vasconcellos Monteiro
Sociedade Brasileira de Direito Internacional do Meio Ambiente – SBDIMA    Lucila Fernandes Lima
Sociedade Nordestina de Ecologia – SNE    Tânia M. B. Ramos dos Santos
SOS AMAZÔNIA    Miguel Scarcello
Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – SPVS    Alexandra Andrade e  André Ferretti
TNC do Brasil    Miguel Calmon e Joe Keenan
WWF – Brasil    Analuce Freitas

Agora é oficial: 2015 foi o ano mais quente da história

Agora é oficial: 2015 foi o ano mais quente da história

Três agências governamentais dos EUA e do Reino Unido confirmaram de forma independente nesta quarta-feira a notícia que já era aguardada desde os últimos meses do ano passado: 2015 desbancou 2014 e foi o ano mais quente desde que os registros globais de temperatura começaram, em 1880.

Segundo a Nasa (agência espacial dos EUA) e a Noaa (Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, também dos EUA), o ano passado teve uma média de temperatura 0,13oC mais alta do que 2014. O Met Office, serviço de meteorologia do Reino Unido, afirmou que a temperatura do ano ficou 0,75oC mais alta do que a média de 1961 a 1990. Todas as três agências apontaram – numa coincidência rara entre entidades que usam modelos e bases de dados diferentes – que o ano passado teve temperatura 1 grau Celsius mais alta do que a média pré-industrial.

O ano que passou ficou marcado por eventos climáticos extremos em todo o mundo – seca e incêndios nos EUA, recordes de temperatura no verão de países europeus, onda de calor que deixou milhares de mortos na Índia, calor acima da média na Rússia, na China e na América do Sul, com algumas capitais brasileiras batendo recordes históricos de temperatura, ciclones extratropicais como o Patricia, inundações na Ásia, entre outros.

A combinação das mudanças climáticas globais, causadas pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, e de um forte El Niño está provavelmente por trás do tamanho do recorde – a última vez que um recorde de alta de temperatura global foi batido com tanta folga foi justamente em 1998, outro ano de El Niño forte. O El Niño é um ciclo natural de aquecimento no Oceano Pacífico, que tem um impacto sobre o clima global, elevando os termômetros.

Gavin Schmidt, diretor do Centro Goddard de Pesquisas Espaciais, diz, no entanto, que o recorde teria sido batido mesmo na ausência de um El Niño em 2015. “O ano de 2015 não começou com um El Niño”, afirmou o pesquisador. Segundo ele, o impacto do fenômeno na temperatura da superfície só é sentido seis meses mais tarde. Isso ajudaria a explicar as altíssimas temperaturas de outubro, novembro e dezembro, e permite também prever que 2016 será um ano ainda mais quente que 2015. Mas não explica o restante do ano passado.

“O recorde que tivemos é apenas um sintoma da tendência de longo prazo”, afirmou. “E não temos nenhuma evidência de que a tendência de longo prazo esteja mudando nas últimas décadas.” Este século teve 15 dos 16 anos mais quentes.

José Marengo, climatologista chefe de pesquisas do Cemaden (Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), diz que muitos dos eventos climáticos vivenciados no Brasil no último ano, como inundações nas regiões Sul e Norte, calor no Centro-Oeste e seca no Sudeste e Nordeste, refletem os dados confirmados pelas agências internacionais. Segundo ele, o El Niño ainda deve atingir seu pico nos próximos meses, e os brasileiros continuarão a sentir seus efeitos. “Porém, não foi só o El Niño”, reforça o pesquisador. “O que estamos vivendo hoje é consequência de décadas de emissões de gases de efeito estufa. Os anos anteriores, que não tiveram El Niño, também foram mais quentes, não é mais atípico.”

Acordo do Clima 

Na COP21, a conferência do clima das Nações Unidas que ocorreu em Paris no fim de 2015, os países de todo o mundo concordaram em agir para limitar o aquecimento do planeta abaixo dos 2 graus em relação à era pré-industrial, com o esforço de buscar um limite em 1,5ºC. O “teto” em 2 graus Celsius tem como base recomendações do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que alerta para a possibilidade de graves consequências das mudanças climáticas caso o mundo aqueça mais do que isso.

Para cumprir a missão, o mundo inteiro deve adotar medidas de redução de emissões de gases de efeito estufa, a um ritmo acelerado. Análises sobre as metas voluntárias de redução de emissões apresentadas pelos governos às Nações Unidas mostram que caminhamos para um planeta de 2,7ºC a 3,5ºC mais quente do que era antes da industrialização.

Os cientistas da Nasa e da Noaa foram claros em dizer que os dados apresentados hoje não possibilitam a projeção para o futuro, apesar da já observada tendência de aquecimento nos últimos anos. Gavin Schmidt disse que “nada de especial aconteceu” com o que foi decidido na COP21 a partir dos números divulgados hoje. “Os dados servem para que os formuladores de políticas decidam o que fazer”, disse o pesquisador. “O importante para reverter a tendência de aquecimento é quão rápido vamos reduzir as emissões.”

José Marengo ressalta que, mesmo que haja redução significativa de emissões, as regiões mais vulneráveis precisam estar preparadas. “Com as medidas de Paris estamos pensando no clima futuro. Para os impactos que já estamos vivendo no presente, temos que pensar em medidas de adaptação.”

Matéria do site do Observatório do Clima.

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