Dia da Terra e a urgência por ações concretas

Dia da Terra e a urgência por ações concretas

Dia da Terra e a urgência por ações concretas

A data ganhou peso internacional na década de 1990, e desde então é utilizada para destacar os desafios socioambientais que o Planeta enfrenta e as demandas por ações concretas em todos os dias do ano.

Há muito, datas como este 22 de abril devem ser encaradas como momentos para além da conscientização sobre ações para a preservação do meio ambiente. São tempos de ativismo, de reivindicar posicionamento e, principalmente, mudanças concretas para a mitigação das crises que se aprofundam em nosso tempo.

Neste ano, o debate deve considerar as novas conclusões do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em março deste ano. O documento apresenta as contribuições do Grupo de Trabalho 3 do painel do clima, que trata da mitigação da crise climática. Mais de 8.000 publicações científicas foram revisadas nesta etapa.

Entre as conclusões, fica clara a insuficiência das medidas adaptativas promovidas até o presente. As políticas públicas de clima adotadas no mundo até 2020 levarão a Terra a um aquecimento de 3,2ºC, mais do que o dobro do limite do Acordo de Paris. Outro destaque é o potencial de mudança do uso da terra (restauração ecológica) para neutralizar os impactos dos gases de efeito estufa: até 14 bilhões de toneladas por ano até 2050 a custos de US$ 100 ou menos por tonelada.

Em rede, e com ajuda dos inúmeros parceiros, estamos promovendo ações para observar e cuidar da Terra e das formas de vida que deveriam coexistir em harmonia. Confira:

Projeto da Apremavi é destaque em publicação sobre restauração

Lançado na última semana, o mais novo volume dos Cadernos do Diálogo, publicação do Diálogo Florestal, trouxe à luz o tema da restauração no contexto da Década das Nações Unidas para Restauração de Ecossistemas 2021–2030. A publicação “Desafios para Ganhar Escala na Restauração e o Papel da Sociedade Civil”, que analisa a importância do viés social da restauração, é considerada uma ferramenta de trabalho alinhada aos compromissos assumidos pelos Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2019, quando criada a Década da Restauração.

De acordo com a secretária executiva do Diálogo Florestal, Fernanda Rodrigues, o objetivo com o lançamento do caderno é mobilizar esforços de cooperação e ampliar as ações para recuperar serviços ecossistêmicos nos diversos biomas do país. O caderno apresenta a importância da construção de um novo pacto social para além de plantar árvores, considerando gênero, respeito à diversidade e proteção dos recursos naturais no contexto da emergência climática e das perdas de ecossistemas. Somado a isso, a necessidade de olhar para a soluções baseadas na natureza, a escuta ativa, a dignidade humana e os direitos dos povos tradicionais e indígenas.

O Restaura Alto Vale foi selecionado para a publicação na categoria ‘Pequenas Áreas, Grandes Impactos’. Desenvolvido em duas regiões do Estado de Santa Catarina, o projeto teve como objetivo principal a restauração de 320 ha de APPs degradadas, atuando maioritariamente em pequenas propriedades rurais. Confira algumas conquistas do Projeto:

・733 propriedades da agricultura familiar beneficiadas;
・Aproximadamente 1040 proprietárias(os) envolvidas(os) nas atividades;
・320,87 hectares restaurados através do projeto;
・Mais de 450.000 mudas produzidas e entregues para a restauração;
・Reconhecimento através dos Prêmios Expressão de Ecologia e Fritz Müller (2020).

Edilaine Dick, que atuou como coordenadora do Restaura Alto Vale, destaca a importância de atuar junto aos territórios da agricultura familiar: “É uma honra para a Apremavi ser reconhecida como um Caso de Sucesso e dividir essa premiação com outras iniciativas inovadoras Brasil afora. O projeto é um exemplo de que pequenas áreas e iniciativas podem se somar e dar escala para a restauração, bem como unir pessoas e parceiros em busca de um objetivo comum”. 

O Restaura Alto Vale foi concluído em março deste ano. Edilaine salienta que isso não significa o fim das parcerias ou interrupção dos trabalhos na agenda da restauração: “As atividades não vão parar e a Apremavi continuará promovendo, cada vez mais intensamente, a restauração através de outros projetos”.

Registro de atividades realizadas no âmbito do projeto Restaura Alto Vale. Fotos: Arquivo Apremavi.

Conservador das Araucárias lança vídeo institucional

A ambiciosa parceria entre a Tetra Pak, líder mundial de produção de embalagens longa vida, e a Apremavi, apresentou nesta semana um filmete com alguns dos resultados previstos para os próximos dez anos e detalhes sobre as metodologias e atividades previstas para restaurar sete mil hectares nos estados de Santa Catarina e no Paraná.

Em entrevista recente para o jornal Valor Econômico Marco Dorna, presidente da Tetra Pak no Brasil, comenta que o projeto promoverá benefícios para todos os envolvidos, e vai muito além de uma estratégia para a neutralização de emissões da companhia: “A intenção é desenvolver um modelo que junte a restauração ambiental ao pagamento de serviços ambientais por créditos de carbono e biodiversidade a proprietários rurais”. 

Já Miriam Prochnow, co-fundadora da Apremavi, destaca a valorização da biodiversidade da área onde o trabalho irá acontecer: “O território que estamos chamando de ‘Conservador das Araucárias’ é o espaço onde faremos o estudo completo de uso do solo, remanescentes de florestas, populações que vivem ali”.

Matas Legais e Sociais SC amplia área de atuação

O projeto da Apremavi em parceria com a Klabin para o planejamento ambiental e recuperação de áreas degradadas em Santa Catarina vai incluir em seu território de atuação dois municípios do Planalto Catarinense. A partir de agora, propriedades rurais de Palmeira e de Ponte Alta poderão contar com a Apremavi para, entre outras atividades, realizar:

・A diversificação das atividades produtivas a partir de orientações da equipe;
・O desenvolvimento de estratégias para a conservação da biodiversidade;
・A proteção de nascentes que existem na propriedade através de plantios;
・O intercâmbio de conhecimentos sobre a produção orgânica de alimentos;
・A adequação da propriedade à legislação ambiental.

Registros de atividades desenvolvidas pelo projeto Matas Legais. Fotos: Arquivo Apremavi.

+ Confira mais detalhes sobre o Matas Legais

Autor: Vitor L. Zanelatto
Revisão: Carolina Schäffer

1,5°C o recorde que não devemos quebrar

1,5°C o recorde que não devemos quebrar

1,5°C o recorde que não devemos quebrar

Às vésperas do início das Olimpíadas, maior evento esportivo do planeta, quando se espera a quebra de muitos recordes, uma campanha é lançada para alertar sobre o recorde que não deve ser ultrapassado: 1,5o C. Esse é o limite para que aumento da temperatura média do planeta não se torne perigoso.

A Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), que integra o Observatório do Clima e também participou do Revezamento da Tocha Olímpica através da Conselheira Miriam Prochnow, conclama a todos para participarem ativamente dessa campanha.

Veja o vídeo “Apremavi na campanha 1,5°C o recorde que não devemos quebrar”.

A campanha pelo clima teve início no dia 29 de julho de 2016, com o objetivo de alertar a sociedade para as consequências das mudanças climáticas e conclamar todo mundo a implementar ações que tornem possível que o limite de um e meio grau Celsius não seja ultrapassado.

Viveiro Jardim das Florestas. Foto: Gabriela Schäffer

Como diz a campanha: “Isso é urgente porque sabemos agora o tamanho da ameaça à prosperidade e até mesmo à existência das nações que um aumento acima desse limite representa. As mudanças de temperatura podem soar mínimas, mas o aquecimento de 1o C que já tivemos resultou na duplicação dos dias e noites extremamente quentes em muitos países, bem como em tempestades sem precedentes, inundações, secas, crises alimentares, derretimento das capas glaciais e dos solos congelados, além da elevação do nível dos mares e submersão de grandes áreas de terra” alguns países já perderam ilhas e tiveram que resgatar seus habitantes. No Acordo de Paris, o primeiro tratado universal contra as mudanças climáticas, adotado em 2015, o mundo se comprometeu a fazer esforços para evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5o C. Não cumprir essa meta trará riscos significativos à sobrevivência de nações-ilhas como Kiribati, Maldivas e Tuvalu, a regiões costeiras como o Delta do Mekong, Flórida e sul de Bangladesh e cidades costeiras como o Rio de Janeiro, Santos e Recife.

Os 15 anos mais quentes já registrados ocorreram neste século. O ano passado foi o mais quente desde o início das medições e tudo indica que em 2016 teremos um novo recorde. Se continuarmos neste ritmo, enfrentaremos problemas cada vez mais graves de abastecimento de água e produção de alimentos, além da maior disseminação de epidemias transmitidas por mosquitos”.

A campanha é uma iniciativa do Observatório do Clima (OC), do Fórum dos Países Vulneráveis ao Clima (CVF), do Gestão de Interesse Público (GIP) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Preservar e restaurar os ecossistemas naturais é uma das melhores formas de combater as mudanças climáticas.

Acesse o site e faça sua parte. Conheça também o Programa Clima Legal da Apremavi e ajude a plantar árvores nativas.

 

Observatório do Clima completa 14 anos

Observatório do Clima completa 14 anos

Observatório do Clima completa hoje 14 anos! Mas a ideia surgiu um pouco antes: o primeiro esboço da rede foi feito em dois guardanapos de papel, em uma conversa informal na praia. Conheça a história da qual a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) tem orgulho em participar.Temos um desafio enorme pela frente.

A ideia de formar uma coalizão de organizações da sociedade civil brasileira para discutir mudanças climáticas surgiu em 2001 em Salinópolis, no litoral do Pará, durante um jantar. Era um intervalo de uma reunião anual da Usaid (agência de cooperação do governo americano) e quatro ambientalistas que participavam do encontro aproveitaram a noite livre para dar uma escapada até um bar na beira da praia e – acredite – falar de trabalho.

Miguel Calmon (The Nature Conservacy), Mario Monzoni (Amigos da Terra Amazônia Brasileira), Paulo Moutinho (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e Fernando Veiga (ProNatura) se encontraram para continuar uma conversa que começara naquela manhã no aeroporto de Belém, sobre o rumo que o debate em torno de florestas e clima estava tomando no Brasil. Havia uma insatisfação grande entre várias organizações quanto à forma como a questão do desmatamento era tratada pelo governo no contexto do Protocolo de Kyoto, o primeiro acordo do clima, assinado em 1997.

Hoje é óbvio para todo mundo que o desmatamento tem um peso enorme nas emissões mundiais e que ele precisa ser contido, com algum tipo de compensação para os países tropicais que reduzirem suas taxas de perda de florestas. O mecanismo REDD+ foi criado para isso, e foi o primeiro componente do novo acordo do clima a ter sua negociação concluída.

No começo do século não era bem assim: o único lugar onde florestas poderiam entrar no Protocolo de Kyoto era o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, pelo qual emissões evitadas em países em desenvolvimento poderiam gerar créditos de carbono para países desenvolvidos. Algumas pessoas defendiam que o desmatamento evitado e a recuperação de florestas nativas nos países tropicais entrassem no MDL e pudessem gerar créditos, como meio de dar valor à floresta em pé. O governo brasileiro não queria nem ouvir falar nisso, alegando questões de soberania nacional – 70% das nossas emissões vinham do desmatamento da Amazônia. E várias ONGs, representadas no Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, o FBOMS, também eram contra, porque não queriam que a conservação aqui servisse de desculpa para os países ricos não cortarem emissões lá.

“Era um debate muito hostil”, recorda-se Monzoni, hoje diretor do GVCES (Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas), em São Paulo.

No ano anterior, na Conferência do Clima de Haia, na Holanda, algumas organizações tentaram fazer um acordo entre ONGs para pressionar os governos pela inclusão das florestas no MDL, mas não deu certo. “Havia ONG roubando material de ONG sobre o assunto e jogando no lixo”, conta Calmon.

Era preciso tentar construir um consenso sobre o assunto de baixo para cima. E o melhor lugar a começar era o país com o maior ativo de florestas tropicais do planeta, o Brasil. Sem espaço para isso dentro do governo e no FBOMS, seria preciso criar um novo fórum. Naquela noite, em Salinópolis, surgiram as primeiras ideias sobre como esse fórum deveria ser constituído e quem deveria ser chamado para constituí-lo. “O primeiro esboço do Observatório do Clima foi desenhado ali, em dois guardanapos de papel”, relembra Calmon.

Várias trocas de e-mail depois, uma reunião inicial foi convocada e realizada num hotel na Rua Teixeira da Silva, em São Paulo. Compareceram representantes de 33 organizações, uma presença significativa, que dava uma ideia da demanda pelo debate sobre clima e florestas no país.

Em 22 e 23 de março de 2002, uma reunião numa sala de aula da Fundação Getúlio Vargas com 26 organizações*, o OC foi oficialmente fundado, com o lançamento de sua carta de princípios no dia 23, que marca o lançamento da rede. Quatro grupos de trabalho foram criados: mudanças climáticas, mudanças do uso do solo (que inclui florestas e biodiversidade), desenvolvimento sustentável e informação e comunicação.

“Entre as tarefas principais estava capacitar as pessoas das ONGs sobre clima. Queríamos contaminar as grandes redes com essas informações”, conta André Ferretti, da Fundação Grupo Boticário, que participou do encontro de fundação.

Entre 2002 e 2005, período anterior à implementação e entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, o OC viveu sua estruturação, com muita euforia em torno do debate sobre projetos florestais. O conceito de “desmatamento evitado” passou a dar lugar ao de “incentivos positivos”, ou seja, em vez de gerar crédito por deixar a floresta em pé, o país seria compensado pela taxa de desmatamento que ele comprovadamente reduzisse em relação ao passado. Um serviço voluntário de cobertura alternativa das COPs foi iniciado pelos membros.

Foi também nesse período que o sistema de funcionamento da rede foi estabelecido: a coordenação seria colegiada, com seis organizações representando biomas e áreas de conhecimento diferentes. Uma assembleia geral ocorreria uma vez por ano. E a rede não teria personalidade jurídica. “Definiu-se que o OC não teria institucionalidade, para não perder a característica de movimento, nem entrar na disputa por recursos com as organizações”, diz Rachel Biderman, do WRI Brasil, primeira secretária-executiva do Observatório.

Após 2005, com a entrada em vigor de Kyoto (sem florestas no MDL), o OC entra num período de funcionamento regular, com reuniões anuais e os quatro grupos de trabalho conduzindo as atividades. “Incluía-se aí discussões sobre a política nacional de clima o MDL, os mecanismos de verificação, inventários de emissões, comunicação e educação”, diz Rachel Biderman. O OC ficou hospedado no GVCES, com a secretária-executiva mapeando novos possíveis membros e o jornalista Ricardo Barretto cuidando da comunicação, inclusive a cobertura das COPs, que tornou-se mais sistemática

A partir de 2007, um grupo dentro do OC começou a discutir aquilo que seria uma das principais contribuições da rede: um conjunto de diretrizes para a formulação de políticas públicas de clima no Brasil. O país começava a sinalizar uma mudança de posição no debate sobre clima e florestas, calcado na redução da taxa de desmatamento na Amazônia. Um Plano Nacional sobre Mudança do Clima começava a ser discutido, e foi finalmente apresentado em 2008. Projetos de lei de uma política de clima começavam a pipocar no Congresso. Em 2009, o OC produziu um documento com um conjunto de propostas. Algumas delas foram incorporadas à Lei 12.187/2009, que define a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Foi uma das maiores vitórias do OC”, lembra Rachel Biderman.

O processo de confecção do documento durou quase um ano, com consultas públicas no Rio, em São Paulo, em Brasília e em Curitiba, com participação de diversos especialistas. A Frente Parlamentar Ambientalista viabilizou um encontro com deputados que, ao tomarem conhecimento do “PL alternativo das ONGs”, quiseram incorporar grande parte dele à lei federal então em discussão. No mesmo ano, na COP15, em Copenhague, o Observatório levou suas propostas aos três principais candidatos à Presidência da República (Dilma Rousseff, Marina Silva e José Serra). De 2009 a 2012, a atuação do Observatório do Clima esteve focada em políticas públicas, com brigas compradas com o governo especialmente no Código Florestal e o acompanhamento da implementação da política nacional de clima e das metas de Copenhague.

Em 2013 o OC entrou numa nova fase: a de geração de dados. Em março, uma estimativa anual de emissões feita pela primeira vez por Tasso Azevedo no ano anterior foi incorporada ao Observatório: estava criado o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), a primeira iniciativa não-governamental no mundo de cálculo anual de emissões em todos os setores da economia. O SEEG tornou-se um instrumento fundamental de transparência do cumprimento da lei da política nacional de clima e uma forma mais dinâmica de monitorar as mudanças no perfil da economia do país – os inventários nacionais saem apenas de cinco em cinco anos, e têm atraso de dez anos em suas contas.

Em setembro de 2013, o OC criou a figura do secretário-executivo com dedicação exclusiva. Carlos Rittl, um ecólogo com doutorado no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), foi escolhido para a função. Em 2014 a rede participou da COP20, em Lima, cobrando mais ambição do governo brasileiro e levando a metodologia do SEEG.

O secretariado fixo e o SEEG ajudaram a trazer recursos regulares para a rede, por meio de fundações como a Oak, a Avina, a Larci (hoje Instituto Clima e Sociedade) e a Clua (Climate and Land Use Alliance). A Fundação Grupo Boticário, a SOS Mata Atlântica, o Ipam, a TNC, o Ipsus, a Conservação Internacional, o ISA, o WWF e o GVCES estão entre as organizações que também têm aportado recursos à rede ao longo de sua história.

Em 2015, o OC criou um departamento de comunicação também com dedicação exclusiva. O SEEG foi expandido para o Peru e ganhou dois subprodutos: o Monitor Elétrico, que permite acompanhar diariamente as emissões do setor, e o MapBiomas, uma plataforma digital de monitoramento de mudanças de uso da terra que permitirá, pela primeira vez, acompanhar todos os anos o desmatamento em todos os biomas do país. A atuação política da rede foi marcada pela elaboração de uma proposta de INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida), que estabeleceu uma barra mínima para a ambição da proposta oficial do país e foi determinante para que o governo apresentasse uma INDC com metas absolutas para toda a economia.

“Montar uma rede dessas é fácil, difícil é mantê-las funcionando”, diz Paulo Moutinho, do Ipam. “O OC é um dos poucos grupos na sociedade civil brasileira que têm representatividade, pluralidade e longevidade na discussão de mudanças climáticas.”

* Veja a lista de organizações originalmente integrantes do OC e seus representantes:

Aliança para a Conservação da Mata Atlântica    Maria Cecília Wey de Brito
Amigos da Terra – Amazônia Brasileira    Mario Monzoni e Gladis Ribeiro
APREMAVI    Wigold Bertoldo Schäffer
Associação de Proteção a Ecossistemas Costeiros (APREC)    Sérgio de Mattos Fonseca
Comissão Pastoral da Terra, Amazonas – CPT-AM    Adenilza Mesquita
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB    Genival de Oliveira dos Santos
Grupo de Trabalho Amazônico – GTA    José Adilson Vieira de Jesus
Associação Civil Greenpeace – GREENPEACE    Marijane Lisboa
Instituto Centro de Vida – ICV    Carlos Teodoro José Irigaray
Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia – IESB    Carlos Alberto Mesquita
Instituto Ecológica    Divaldo Rezende
Instituto Internacional de Educação do Brasil – IIEB    Maria José Gontijo
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia- IMAZON    Paulo Amaral
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM    Paulo Moutinho, Márcio Santilli e Luciano Mattos
Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ    Eduardo H. Ditt
Instituto Ecoar para Cidadania – ECOAR    Miriam Dualibi
Instituto Pró-Natura – IPN    Fernando Veiga
Instituto Pró-Sustentabilidade – IPSUS    Rachel Biderman Furriela e Laura Valente de Macedo
Instituto Socioambiental – ISA    Adriana Ramos
Núcleo Amigos da Terra – Brasil    Kathia Vasconcellos Monteiro
Sociedade Brasileira de Direito Internacional do Meio Ambiente – SBDIMA    Lucila Fernandes Lima
Sociedade Nordestina de Ecologia – SNE    Tânia M. B. Ramos dos Santos
SOS AMAZÔNIA    Miguel Scarcello
Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – SPVS    Alexandra Andrade e  André Ferretti
TNC do Brasil    Miguel Calmon e Joe Keenan
WWF – Brasil    Analuce Freitas

Fauna amazônica presta serviço de 5 trilhões de dólares

Fauna amazônica presta serviço de 5 trilhões de dólares

Enquanto Dilma Rousseff e Nelson Barbosa se estapeiam com o Congresso por alguns bilhões de reais de CPMF, um serviço cujo valor é estimado em pelo menos US$ 5 trilhões, quase três vezes o PIB do Brasil, vai sendo literalmente abatido a tiros no norte do país: trata-se do valor do carbono mantido na Amazônia por grandes animais, como o macaco-aranha e a anta, mortos por caçadores.

A estimativa acaba de ser publicada por um grupo de cientistas do Brasil, dos EUA e do Reino Unido, liderados por um amazônida: o paraense Carlos Peres, professor da Universidade de East Anglia, na Inglaterra.

Esses animais de grande porte, afirma o grupo, guardam a chave para a fixação de parte expressiva do carbono da floresta amazônica – que, por sua vez, estoca sozinha metade do carbono das florestas tropicais do planeta. Eles são os responsáveis por dispersar as sementes das árvores de madeira de lei, que têm o maior teor de carbono.

A caça de antas, macacos-aranha e macacos-barrigudos, cuja carne é apreciada nas zonas rurais da Amazônia, pode levar a perdas de 2,5% a 5,8% da biomassa da floresta, em média, chegando a quase 38% em alguns locais onde esses bichos foram extintos pelos caçadores. Extrapolando esse valor para toda a área da Amazônia, e considerando um valor da tonelada de carbono de modestos US$ 5 no mercado internacional de emissões, Peres e colegas estimaram que esses bichões prestam um serviço de US$ 5 trilhões a US$ 13 trilhões inteiramente de graça, apenas comendo frutos dessas árvores e defecando suas sementes.

Ao fazer isso, ajudam novas árvores de madeira densa a se espalhar pela floresta, retirando carbono do ar por fotossíntese e estocando-o em caule e galhos à medida que crescem.

A conta foi publicada nesta segunda-feira no periódico PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Antes que o Ministério da Fazenda resolva bolar um esquema para se apropriar desse valor para tampar o buraco fiscal brasileiro, os autores se apressam em dizer que trata-se de uma estimativa apenas para referência – já que nem todo o carbono da Amazônia é “monetizável”, ou passível de ser transacionado em mercados como crédito. Mesmo assim, afirma Peres, há um valor bem concreto em manter os animais vivos.

“O serviço de dispersão prestado por estes vertebrados florestais vale dinheiro”, disse o brasileiro radicado no Reino Unido ao OC. “Poderíamos até pensar num programa de pagamentos por serviços ambientais para subsidiar comunidades locais a manejar melhor seus estoques de caça num regime de manejo comunitário”, afirmou.

O que é urgente, porque, ao irem para a grelha, para zoológicos particulares ou mesmo ao serem mortos por esporte, os grandes vertebrados da Amazônia causam perdas de valor e ainda ajudam a aquecer ainda mais o planeta. Como os caçadores são, em geral, populações pobres ou índios em busca da proteína de cada dia – mas usando armas cada vez mais modernas e vivendo em aldeias cada vez mais sedentárias, o que agrava seu impacto sobre as zonas de caça –, vale a pena pagar para que eles racionalizem essa caça.

REDD+ 

No estudo, Peres e colegas do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e da Universidade do Estado do Oregon, nos EUA, usaram computadores e dados de campo de 166 áreas de floresta com e sem pressão de caça para modelar o impacto que a caça na Amazônia brasileira poderia ter. Depois, modelaram o impacto que a caça praticada por 1 milhão de residências rurais na Amazônia poderia ter, usando como base de dados 2.300 áreas de floresta previamente inventariadas (ou seja, cuja população de árvores era conhecida).

A conclusão dos pesquisadores foi que os grandes primatas comedores de frutas têm suas populações afetadas pela caça em 32% das áreas remanescentes de floresta na Amazônia, e podem sumir completamente de 7,5% da região.

Peres e seus colegas usaram no estudo uma abordagem relativamente nova: a discussão do mutualismo – a interdependência entre plantas e animais – na agenda climática. O reconhecimento do papel da fauna na manutenção do carbono florestal foi totalmente ignorado na construção do chamado Redd+, o mecanismo de redução de emissões por desmatamento proposto no âmbito da Convenção do Clima e reconhecido no Acordo de Paris. O Redd+, por assim dizer, enxerga as árvores, mas não a floresta.

Estudos sobre a importância da fauna para a fixação de carbono (e sobre o impacto da caça nas emissões) vêm sendo feitos na África e na Ásia, mas até agora nenhum havia sido realizado para a Amazônia, que é justamente o lugar onde o Redd+ está mais adiantado devido ao monitoramento regular que o Brasil faz do desmatamento.

Na Mata Atlântica, a primeira avaliação da chamada “defaunação” sobre o carbono foi publicada no ano passado, num estudo liderado por Mauro Galetti e Carolina Bello, da Unesp de Rio Claro, que tem Carlos Peres como coautor. A conclusão é que extinções locais de grandes vertebrados causam perdas de até 3 toneladas de carbono por hectare, ao deixar a floresta mais “rala”.

“O nosso modelo é bem mais conservador – tendendo a uma subestimativa de perda de biomassa florestal e carbono”, disse Peres. “Ele leva em consideração somente um grupo morfológico muito mais restrito de plantas que dependem quase exclusivamente de dispersão de sementes por algumas espécies de frugívoros de grande porte que são altamente sensíveis a pressão de caça.”

Publicado no site do Observatório do Clima em 25 de janeiro de 2016.

Agora é oficial: 2015 foi o ano mais quente da história

Agora é oficial: 2015 foi o ano mais quente da história

Três agências governamentais dos EUA e do Reino Unido confirmaram de forma independente nesta quarta-feira a notícia que já era aguardada desde os últimos meses do ano passado: 2015 desbancou 2014 e foi o ano mais quente desde que os registros globais de temperatura começaram, em 1880.

Segundo a Nasa (agência espacial dos EUA) e a Noaa (Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, também dos EUA), o ano passado teve uma média de temperatura 0,13oC mais alta do que 2014. O Met Office, serviço de meteorologia do Reino Unido, afirmou que a temperatura do ano ficou 0,75oC mais alta do que a média de 1961 a 1990. Todas as três agências apontaram – numa coincidência rara entre entidades que usam modelos e bases de dados diferentes – que o ano passado teve temperatura 1 grau Celsius mais alta do que a média pré-industrial.

O ano que passou ficou marcado por eventos climáticos extremos em todo o mundo – seca e incêndios nos EUA, recordes de temperatura no verão de países europeus, onda de calor que deixou milhares de mortos na Índia, calor acima da média na Rússia, na China e na América do Sul, com algumas capitais brasileiras batendo recordes históricos de temperatura, ciclones extratropicais como o Patricia, inundações na Ásia, entre outros.

A combinação das mudanças climáticas globais, causadas pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, e de um forte El Niño está provavelmente por trás do tamanho do recorde – a última vez que um recorde de alta de temperatura global foi batido com tanta folga foi justamente em 1998, outro ano de El Niño forte. O El Niño é um ciclo natural de aquecimento no Oceano Pacífico, que tem um impacto sobre o clima global, elevando os termômetros.

Gavin Schmidt, diretor do Centro Goddard de Pesquisas Espaciais, diz, no entanto, que o recorde teria sido batido mesmo na ausência de um El Niño em 2015. “O ano de 2015 não começou com um El Niño”, afirmou o pesquisador. Segundo ele, o impacto do fenômeno na temperatura da superfície só é sentido seis meses mais tarde. Isso ajudaria a explicar as altíssimas temperaturas de outubro, novembro e dezembro, e permite também prever que 2016 será um ano ainda mais quente que 2015. Mas não explica o restante do ano passado.

“O recorde que tivemos é apenas um sintoma da tendência de longo prazo”, afirmou. “E não temos nenhuma evidência de que a tendência de longo prazo esteja mudando nas últimas décadas.” Este século teve 15 dos 16 anos mais quentes.

José Marengo, climatologista chefe de pesquisas do Cemaden (Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), diz que muitos dos eventos climáticos vivenciados no Brasil no último ano, como inundações nas regiões Sul e Norte, calor no Centro-Oeste e seca no Sudeste e Nordeste, refletem os dados confirmados pelas agências internacionais. Segundo ele, o El Niño ainda deve atingir seu pico nos próximos meses, e os brasileiros continuarão a sentir seus efeitos. “Porém, não foi só o El Niño”, reforça o pesquisador. “O que estamos vivendo hoje é consequência de décadas de emissões de gases de efeito estufa. Os anos anteriores, que não tiveram El Niño, também foram mais quentes, não é mais atípico.”

Acordo do Clima 

Na COP21, a conferência do clima das Nações Unidas que ocorreu em Paris no fim de 2015, os países de todo o mundo concordaram em agir para limitar o aquecimento do planeta abaixo dos 2 graus em relação à era pré-industrial, com o esforço de buscar um limite em 1,5ºC. O “teto” em 2 graus Celsius tem como base recomendações do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que alerta para a possibilidade de graves consequências das mudanças climáticas caso o mundo aqueça mais do que isso.

Para cumprir a missão, o mundo inteiro deve adotar medidas de redução de emissões de gases de efeito estufa, a um ritmo acelerado. Análises sobre as metas voluntárias de redução de emissões apresentadas pelos governos às Nações Unidas mostram que caminhamos para um planeta de 2,7ºC a 3,5ºC mais quente do que era antes da industrialização.

Os cientistas da Nasa e da Noaa foram claros em dizer que os dados apresentados hoje não possibilitam a projeção para o futuro, apesar da já observada tendência de aquecimento nos últimos anos. Gavin Schmidt disse que “nada de especial aconteceu” com o que foi decidido na COP21 a partir dos números divulgados hoje. “Os dados servem para que os formuladores de políticas decidam o que fazer”, disse o pesquisador. “O importante para reverter a tendência de aquecimento é quão rápido vamos reduzir as emissões.”

José Marengo ressalta que, mesmo que haja redução significativa de emissões, as regiões mais vulneráveis precisam estar preparadas. “Com as medidas de Paris estamos pensando no clima futuro. Para os impactos que já estamos vivendo no presente, temos que pensar em medidas de adaptação.”

Matéria do site do Observatório do Clima.

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