Rede de Sementes Mais Floresta se reúne para planejamento com o Redário

Rede de Sementes Mais Floresta se reúne para planejamento com o Redário

Rede de Sementes Mais Floresta se reúne para planejamento com o Redário

Após uma temporada intensa de coleta de sementes na primavera e verão, a Rede de Sementes Mais Floresta se reuniu no último dia 15 de abril no Sítio Oliveira (PA Juruá) – em Abelardo Luz, para mais uma atividade de planejamento. O evento contou com 17 pessoas, entre coletores, equipe da Apremavi e convidados.

A reunião teve como principal objetivo a aplicação do “Muvucômetro”, uma ferramenta de diagnóstico que avalia a maturidade das redes de sementes, identificando seus pontos fortes e necessidade  de aprimoramento. A ação foi coordenada por Giovanna Bernardes, madrinha da Rede de Sementes Mais Floresta pelo Redário, movimento que reúne as Redes de Sementes do Brasil. A atividade permitiu que coletores e técnicos pudessem descrever a trajetória da rede e vislumbrar ações futuras para o grupo. 

Outro ponto de diálogo do encontro foram os dados de coleta de 2024: no último ano foram coletados 207,16 kg de sementes, sendo as sementes mais coletadas: pinhão, butiá, jerivá e imbuia. Na ocasião, houve uma premiação simbólica para a família que coletou a maior diversidade de espécies no ano passado. A família Oliveira conquistou o reconhecimento por ter coletado 13 espécies diferentes.

José de Oliveira, agricultor e coletor de sementes, comenta a participação na Rede Mais Floresta: “Eu gosto de participar da rede, porque a gente nasceu e se criou no interior. Eu gosto de andar no mato, então quando a gente vai catar semente é uma coisa muito boa”.

 

A Rede de Sementes Mais Floresta 

Formada em abril de 2023, a Rede de Sementes Mais Floresta surgiu das demandas da cadeia da restauração e atuais dificuldades na coleta de sementes. Os coletores engajados na Rede são moradores de seis projetos de assentamentos (PAs) de Abelardo Luz (PA 13 de Novembro, PA José Maria, PA Juruá, PA Papuã 1, PA Roseli Nunes e PA Volta Grande), localizada no oeste de Santa Catarina. As primeiras sementes coletadas foram da árvore símbolo da fitofisionomia regional: a araucária, e atualmente são coletadas sementes de mais de 20 espécies nativas da Floresta Ombrófila Mista, com potencial de expandir para 91 espécies, de acordo com estudos de ocorrências na região e demanda para projetos existentes.

 

Apoio

A Rede de Sementes Mais Floresta é apoiada pela Apremavi, através do Projeto +Floresta (coordenação) e Projeto Conservador das Araucárias (apoio).

O projeto + Floresta é financiado pelo Ibama através do Acordo de Cooperação Técnica nº 34/2021 e supervisionado pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF/SC), pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Justiça Federal de Santa Catarina, na forma da ação n° 5001458-53.2017.4.04.7200/SC.

 

Autoria: Marluci Pozzan.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Arquivo Apremavi.

A emoção de ver a Terra com os olhos de David Attenborough

A emoção de ver a Terra com os olhos de David Attenborough

A emoção de ver a Terra com os olhos de David Attenborough

Sir David Attenborough acaba de completar 99 anos, quase um século dedicado à celebração da vida na Terra. Naturalista, documentarista, escritor e dono da voz mais reconhecível do planeta, ele relaciona a natureza com arte e emoção, despertando em cada um de nós a curiosidade infantil que conduz ao cuidado com o mundo natural.

Ao longo de mais de sete décadas, Attenborough tem nos levado através das telas a florestas tropicais, desertos, oceanos profundos e até às geleiras do Ártico. Mas mais do que nos mostrar imagens incríveis, ele nos convida a sentir, e a proteger, a extraordinária diversidade da vida. Seus documentários são obras de contemplação e urgência. Ele sabe, como poucos, conjugar beleza e alerta, maravilhamento e responsabilidade.

 

O começo de tudo

Nascido em Londres, em 8 de maio de 1926, David cresceu em Leicester, no interior da Inglaterra, onde desenvolveu cedo uma paixão pelo mundo natural, caçando fósseis em pedreiras abandonadas. Foi em 1936, aos 10 anos, ao assistir a uma palestra do controverso conservacionista Grey Owl com seu irmão Richard, que algo mudou para sempre. Pela primeira vez, Attenborough ouviu que os humanos estavam colocando a natureza em perigo. Essa ideia o acompanharia por toda a vida.

Formado em ciências naturais pela Universidade de Cambridge, ele entrou na BBC em 1952 e logo revolucionou a maneira como o público via o mundo natural. Seu primeiro grande sucesso foi Zoo Quest (1954), onde os animais eram filmados em seu habitat, algo inédito na época. Foi com a série Life on Earth (1979) que ele conquistou o planeta. Com 13 episódios e uma escala técnica monumental, a série foi assistida por cerca de 500 milhões de pessoas. Um dos momentos mais emblemáticos da série, e também da televisão mundial, foi o encontro de Attenborough com gorilas da montanha em Ruanda, capturado com uma sensibilidade que transcende a tela.

 

A arte de inspirar

David é um contador de histórias que nos envolve com a poesia das imagens e a intensidade das palavras. Sua narração na voz de Deus“, como cunhou o New York Times, é uma sinfonia de reverência à vida. Cada cena que ele descreve carrega uma emoção sutil, como se falasse com o coração de cada espectador.

Ao longo dos anos, seu trabalho ficou cada vez mais marcado pelo ativismo. Mesmo que tenha demorado a aderir à causa climática, admitindo publicamente em 2005, após uma palestra transformadora do cientista Ralph Cicerone, que “não tinha dúvidas” sobre as mudanças climáticas, desde então tem usado sua influência para alertar sobre o colapso ecológico em curso. Documentários como The Blue Planet, Our Planet e A Life on Our Planet transformaram-se em verdadeiros manifestos ambientais. E não é por acaso que, em 2021, Attenborough recebeu o título de “Campeão da Terra” das Nações Unidas, a maior honraria ambiental do planeta.

 

Lançamento marca seu aniversário

Ao se aproximar de seu 99º aniversário, Sir David apresenta Ocean, seu novo documentário no contexto de sua notável vida e carreira, estudando e refletindo sobre os oceanos como a última parte do mundo a ser totalmente compreendida e também, talvez, a última a ser explorada e saqueada.

Como ele mesmo afirma, até relativamente pouco tempo atrás, o oceano era considerado uma espécie de Saara misterioso e indiferenciado, uma região selvagem, de interesse principalmente por fornecer um suprimento aparentemente infinito de alimentos. Ocean nos mostra uma vista incrível de diversidade e vida, uma paisagem ondulante extraordinária, um segundo planeta gigante cuja existência a humanidade há muito desconhece, mas que agora parece estar em perigo de danificar ou mesmo destruir. Mais uma vez, Attenborough nos lembra que a contemplação da beleza deve vir acompanhada de responsabilidade e urgência.

 

Uma vida em nomes, memórias e legados

Cerca de 50 espécies foram nomeadas em sua homenagem: sapos, plantas carnívoras, moluscos e até fósseis de répteis marinhos. Contudo, o maior legado de Attenborough talvez seja como ele nos fez sentir. Seus documentários nos lembram de algo essencial: só protegemos aquilo que amamos, conhecemos e que nos conectamos. E para amar, é preciso ver, com olhos de encantamento, com o espírito de descoberta, com a ternura de quem entende que fazemos parte deste mesmo planeta.

Como ele mesmo disse ao presidente Barack Obama, em 2015: “Nunca conheci uma criança que não estivesse interessada na história natural. A pergunta não é por que algumas se interessam, mas como outras perdem esse fascínio.”

Aos 99 anos, David Attenborough continua nos provocando e inspirando a seguir na luta em defesa da vida. Ao transformar ciência em arte e educação em encantamento, ele inspira gerações a cuidar da Terra como se cuida de um lar. Suas histórias nos lembram que a natureza não está separada de nós, nós somos natureza e fazemos parte dela.

Feliz aniversário Sir David Attenborough e muito obrigada por esse maravilhoso legado. Que sua inspiração alcance ainda mais pessoas ao redor do planeta.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Miriam Prochnow.
Foto de capa: William Murphy/Informatique, CC BY-SA 2.0 via Flickr.

Avanços recentes na proteção dos Campos de Altitude

Avanços recentes na proteção dos Campos de Altitude

Avanços recentes na proteção dos Campos de Altitude

Os Campos de Altitude, formações vegetacionais únicas e de extrema importância ecológica, estão no centro de propostas legislativas que ameaçam a sua conservação. A tramitação do Projeto de Lei 364/2019 propõe a exclusão desses ecossistemas, e de todas as fitofisionomias não florestais, da proteção conferida pela legislação nacional. A medida, se aprovada, colocará em risco diversas áreas naturais em todos os biomas brasileiros.

Ainda que o projeto de lei federal esteja em debate, os impactos da agenda de flexibilização já são sentidos em nível estadual. Um exemplo é o de Santa Catarina, onde, em 2022, o Código Estadual do Meio Ambiente foi alterado restringindo a proteção dos Campos de Altitude apenas às áreas localizadas acima de 1500 metros de altitude. Além disso, o Código Estadual, contrariando a legislação federal, redefiniu os critérios para definir vegetação campestre primária e classificar os estágios sucessionais da vegetação secundária. Apenas considerando a definição de Campos de Altitude trazida pelo Código catarinense, sua aplicação implica na redução da área protegida para apenas 3,8% da cobertura original de vegetação campestre no Estado, segundo projeção com base na área mapeada pelo IBGE. 

Apesar das ameaças, o último mês trouxe importantes iniciativas favoráveis aos Campos de Altitude. A primeira veio da Advocacia-Geral da União (AGU), que assegurou a validade das sanções aplicadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a um produtor rural do município de Vacaria, na serra gaúcha. O produtor foi multado em cerca de R$ 2 milhões e teve uma área de mais de 300 hectares embargada por desmatamento ilegal de vegetação nativa pertencente ao bioma da Mata Atlântica.

A Procuradoria Regional Federal da 4ª Região, que atuou no caso em nome do Ibama, defendeu que os Campos de Altitude, assim como o bioma Pampa, são vitais para a regulação do clima, dos recursos hídricos, da qualidade do solo e do ar. Além disso, ressaltou a biodiversidade singular desses ambientes, que abrigam espécies endêmicas, ou seja, exclusivas da região.

A mobilização pela conservação dos Campos de Altitude também ganhou força institucional com o posicionamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Na 145ª Reunião Ordinária, realizada em 23 de abril, o conselho aprovou, por ampla maioria, uma moção de repúdio às alterações do Código Ambiental de Santa Catarina que retiram a proteção aos Campos de Altitude. A manifestação, defendida por entidades como o Conselho Regional de Biologia da 9ª Região (CRBio-09), destacou os riscos que as mudanças representam para a conservação e o uso sustentável da vegetação campestre da Mata Atlântica. A votação teve 34 votos favoráveis, 11 contrários e 5 abstenções, configurando importante vitória frente as tentativas de obstrução por parte de representantes do governo catarinense e do setor florestal.

A pressão agora avança para o Supremo Tribunal Federal (STF). O Ministério Público Federal (MPF), por meio do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet Branco, ingressou com uma ação pedindo a declaração de inconstitucionalidade de trechos do Código do Meio Ambiente de Santa Catarina. Segundo o MPF, as normas estaduais violam a Constituição Federal e leis nacionais de proteção à Mata Atlântica, além de extrapolarem a competência legislativa estadual, ao invadir matéria de regulamentação federal.

“A luta em defesa da Mata Atlântica, incluindo os ecossistemas associados como os Campos de Altitude, é anterior à Constituição de 1988, tanto é que os constituintes reconheceram a Mata Atlântica como patrimônio nacional. Isso permitiu a regulamentação da conservação, proteção, regeneração e  utilização da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, por lei federal em todos os 17 estados de sua ocorrência, ou seja, os estados devem seguir a legislação federal, podendo apenas impor restrições adicionais e não flexibilizar como fez Santa Catarina”, comenta Wigold B. Schaffer, coordenador do Núcleo Mata Atlântica do Ministério do Meio Ambiente na época da aprovação e regulamentação da Lei 11.428, de 2006.

O embate em torno dos Campos de Altitude reflete, na essência, um conflito mais amplo entre um modelo de desenvolvimento baseado na exploração intensiva dos recursos naturais e a urgência de transições para alternativas sustentáveis. Conservar esses ecossistemas vai além da proteção da biodiversidade: é garantir a continuidade de serviços ambientais vitais, como a regulação do clima e a segurança hídrica. Os recentes avanços, com as iniciativas no campo jurídico e institucional, demonstram que ainda há caminhos para conter os retrocessos e fortalecer a agenda ambiental.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Wigold Schäffer e João de Deus Medeiros.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

O pequeno gigante da Floresta com Araucárias: a jornada do papagaio-charão

O pequeno gigante da Floresta com Araucárias: a jornada do papagaio-charão

O pequeno gigante da Floresta com Araucárias: a jornada do papagaio-charão

Imagine acordar em um no interior do sul do Brasil e avisar um colorido vibrante no céu, além de um sol alto, potente, impossível de ignorar, como se a floresta ganhasse voz própria. São centenas, às vezes milhares, de aves verdes com uma máscara vermelha vibrante sobre os olhos. Essa é a revoada do papagaio-charão (Amazona pretrei), um espetáculo da natureza que encanta cientistas, moradores locais e turistas todos os anos.

Apesar de ser o menor papagaio brasileiro, o charão se destaca por voar as maiores distâncias diariamente. Sua vida é marcada por jornadas extensas e uma impressionante vida em grupo, formando as maiores concentrações populacionais conhecidas entre os papagaios do Brasil. 

A história do charão é profundamente conectada com as Florestas com Araucárias, especialmente no sudeste de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul. Entre março e julho, ele encontra seu banquete preferido: as sementes do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia), conhecidas como pinhão. Durante o restante do ano, em seu período reprodutivo, migra de volta ao Rio Grande do Sul, onde habita paisagens de campos abertos e pequenos capões de mato, hoje bastante modificados pela ação humana.

Com sua plumagem verde-claro e uma mancha vermelha que cobre a testa até a parte de trás dos olhos, o papagaio-charão é uma figura marcante. Vive em grandes grupos – exceto durante a reprodução, quando forma casais. A fêmea choca os ovos enquanto o macho lhe traz alimento. E quando os filhotes estão prontos para voar, são rapidamente integrados ao bando maior. A espécie é migratória, e todos os anos mais de 20 mil aves cruzam o céu Santa Catarina em busca do alimento que garante sua sobrevivência.

O charão não vive apenas entre as araucárias, ele as protege, devido a sua dependência pela espécie. Com a destruição de seu habitat sua sobrevivência está ameaçada e hoje a espécie está ameaçada de extinção. O que antes era um espetáculo comum em locais como a Estação Ecológica de Aracuri, no RS, agora se tornou raro.

Desde a década de 90 pesquisadores perceberam que os bandos migratórios haviam abandonado o Rio Grande do Sul e migrado em massa para Santa Catarina, onde ainda existem grandes áreas conservadas com araucárias. A mudança de rota foi reveladora: mesmo com Unidades de Conservação, se o entorno das áreas protegidas não for conservado, as espécies desaparecem.

 

O Projeto Charão e a luta pela conservação

Foi com essa preocupação que nasceu o Projeto Charão, criado por Jaime Martinez e Nêmora Prestes, biólogos e apaixonados pela espécie. Desde 1991, o projeto estuda, monitora e luta pela proteção do papagaio-charão, numa parceria entre a Universidade de Passo Fundo e a AMA (Associação dos Amigos do Meio Ambiente). Com o uso de técnicas como radiotelemetria, identificaram as rotas migratórias da espécie e criaram estratégias para sua conservação.

Em 2018 fundaram a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Papagaios de Altitude, em Urupema (SC), para proteger os principais pontos de alimentação da ave. Essa RPPN também abriga o papagaio-de-peito-roxo, outro devorador de pinhão e morador das araucárias.

Papagaio-charão

Papagaio-charão e sua revoada. Foto: Arlei antunes, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons e Wigold Schäffer.

Um convite para observar e proteger

A cada inverno, as montanhas da serra catarinense são palco de uma revoada única. Turistas e observadores de aves do mundo inteiro vão a Urupema ver de perto essa dança aérea dos charões. Mais do que uma atração, o espetáculo é um lembrete de que a conservação depende de ação concreta, pesquisa, educação e respeito ao ritmo da natureza.

Se você ainda não viu uma revoada de papagaio-charão, quem sabe o próximo inverno seja a oportunidade perfeita para se encantar com esse pequeno gigante das araucárias no Festival dos Papagaios.

+ Conheça o projeto
+ Acompanhe

 

Papagaio-charão

Nome científico: Amazonia petrei.
Família: Psittacidae.
Habitat: Floresta com Araucárias (SC) e formações florestais conhecidas por capões de mato, em meio a áreas abertas (RS).
Alimentação: Preferencialmente a semente de araucária, além de frutos, sementes, folhas e flores de dezenas de espécies de plantas nativas e algumas exóticas, destacando-se os frutos de guabiroba (Campomanesia xanthocarpa), cereja (Eugenia involucrata), sementes de camboatá-vermelho (Cupania vernalis), canela (Ocotea puberula).
Peso: 280 g.
Comprimento: 32 cm.
Hábito de vida: monogâmico.
Distribuição: Mata Atlântica (Rio Grande do Sul e Santa Catarina).
Ameaças: perda de habitat devido à destruição das florestas e pelo tráfico ilegal.
Status de conservação: Vulnerável (VU) pelo MMA, IUCN e Lista da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul; Em Perigo (EN) segundo a Lista das Espécies da Fauna Ameaçada de Extinção de Santa Catarina.

 

Referências consultadas:

AMA, ÁVILA, A. B., MARTINEZ, J., PRESTES, N. P., PRESTES, M. X. As aventuras do papagaio-charão em quadrinhos. Santa Maria: Associação Amigos do Meio Ambiente, 2002, v.1. p. 64. 

BIRDLIFE INTERNACIONAL 2022. Amazona pretrei. The IUCN Red List of Threatened Species 2022: e.T22686251A210018258

MARTINEZ, Jaime. Pequeno, muito social, migrante, exuberante e adora voar: esse é o papagaio-charão. Parque das Aves, 21 jun. 2023.

PARQUE DAS AVES. Migrando com o misterioso papagaio-charão. Parque das Aves, 11 maio 2022.

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO. Projeto Charão. 

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Apremavi apoia o 12º Festival dos Papagaios em Urupema (SC)

Apremavi apoia o 12º Festival dos Papagaios em Urupema (SC)

Apremavi apoia o 12º Festival dos Papagaios em Urupema (SC)

Em meio à exuberante paisagem de Urupema (SC), o 12º Festival dos Papagaios aconteceu entre os dias 25 e 27 de abril, reunindo mais de 270 participantes de 8 estados brasileiros e também dos Estados Unidos, da França e da Bélgica.

Organizado pelo Instituto de Pesquisas de Aplicação Ambiental e Cultural (IPAC) em parceria com a comunidade local, o festival contou com a colaboração e apoio de parceiros como a Prefeitura Municipal de Urupema, o Sicoob, a Sicredi, o Colégio Santa Rosa de Lages e a Apremavi.

Nossa participação no Festival é uma aproximação com a comunidade da região da Serra Catarinense, local onde estamos cada vez mais presentes no desenvolvimento de projetos de conservação e restauração da Mata Atlântica”, destaca Carolina Schaffer, vice-presidente da Apremavi.

Estande da Apremavi no Festival dos Papagaios, em Urupema (SC)

Estande da Apremavi no Festival dos Papagaios, em Urupema (SC). Foto: Carolina Schaffer.

Celebrando a chegada de milhares de papagaios-charão (Amazona pretrei) e papagaios-de-peito-roxo (Amazona vinacea), que visitam a região na estação de inverno para se alimentar do pinhão, o Festival proporcionou uma programação com 22 atividades interativas e educativas, como saídas de campo para observação de aves, incluindo as impressionantes revoadas dos papagaios e trilhas para vistoria de comedouros, além de palestras e oficinas educativas para diferentes faixas etárias.

A programação gratuita e diversificada do evento também incluiu exposições de desenhos e fotografias, concurso e premiação de desenhos e uma feira de produtos regionais com gastronomia típica. Na feira a Apremavi montou um estande onde foram vendidas e doadas árvores nativas e produtos da Ecoloja, distribuídos materiais de educação ambiental e divulgado o projeto Conservador das Araucárias

Em 12 anos de festival, esta edição trouxe a primeira mesa-redonda com especialistas, ambientalistas, guias de turismo e membros da comunidade local para discutir estratégias inovadoras para o “Desenvolvimento do Birdwatching em Urupema”, com ideias e soluções para conservar a natureza e promover o turismo sustentável na região. A Apremavi esteve na mesa redonda onde apresentou o Projeto Conservador das Araucárias e destacou a importância da conservação da Mata Atlântica para a manutenção das atividades de observação de aves. “Eventos como o Festival dos Papagaios são fundamentais para aproximar as pessoas da natureza e inspirar atitudes em defesa das espécies nativas e de seus habitats”, destacou Carolina.

 

Revoada papagaio-charão no Festival dos Papagaios, em Urupema

Atividades do 12° Festival dos Papagaios, em Urupema (SC). Fotos: Arquivo Apremavi.

O evento, que ao longo dos anos tem ganhado notoriedade não apenas pela presença dos entusiastas da observação de aves, é uma ótima oportunidade para reafirmar o compromisso da comunidade com a conservação da natureza e da biodiversidade e a busca por um futuro mais sustentável.

A participação da Apremavi no Festival dos Papagaios fez muita diferença, afinal não podemos falar de observação de aves sem pensar no meio ambiente, comenta Julia Monteiro, co-organizadora do evento. “Saber sobre os projetos que acontecem na região é de suma importância para a gestão pública e para as empresas da cidade, que podem olhar para a preservação e recuperação de áreas com mais carinho e respeito. Esperamos que este Festival seja o início de novos projetos e grandes parcerias”, destaca Julia.

 

O Festival dos Papagaios

O Festival surgiu há 12 anos não apenas para destacar a beleza da Floresta com Araucárias e das aves símbolo da região, mas também para promover a conscientização sobre a importância da conservação da biodiversidade local.

Segundo pesquisadores, o papagaio-charão e o papagaio-de-peito-roxo iniciaram em 1995 o seu processo de migração para a Serra Catarinense, mais precisamente as cidades de Urupema, Painel e Lages, em virtude da vasta área de Araucárias (Araucaria angustifolia). A população de papagaios que migra para a região todos os anos é em torno de 20 mil, todos vindos do Rio Grande do Sul em busca de alimento: o pinhão.

Saiba mais na página do Festival.

Autora: Carolina Schäffer.
Revisão: Thamara Almeida.
Foto de capa: Revoada de papagaios-charão, de Wigold Schaffer.

Observatório do Clima realiza encontro de comunicadores da rede

Observatório do Clima realiza encontro de comunicadores da rede

Observatório do Clima realiza encontro de comunicadores da rede

A Apremavi esteve presente no primeiro encontro presencial dos comunicadores das organizações que integram o Observatório do Clima (OC), realizado no último dia 23 em São Paulo. O evento reuniu profissionais da comunicação de diversas regiões do Brasil para fortalecer a atuação em rede na comunicação sobre a crise climática.

O encontro foi iniciado com uma rodada de apresentações, em que cada participante compartilhou ações em andamento em suas organizações. Em seguida, Marcio Astrini, secretário executivo do OC, reforçou a importância do encontro e o papel estratégico da comunicação para o fortalecimento das campanhas coletivas da rede. Segundo ele, o objetivo é consolidar uma atuação colaborativa, com entregas em grupo e construção de narrativas comuns.

Um dos temas debatidos foi a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), que acontecerá em Belém em 2025. O site “Central da COP” foi apresentado por Joana Amaral e Roberto Kaz, do OC, como foco prioritário da comunicação no próximo ano. A iniciativa reúne informações sobre clima e COP, mas escrito com uma linguagem de futebol. Eles convidaram as organizações a contribuírem com conteúdos e propuseram a realização de eventos descentralizados.

Bruno Torturra trouxe reflexões relevantes sobre os desafios da comunicação no cenário atual. Ele destacou a transformação do ecossistema midiático a partir de 2011, com a popularização dos smartphones, e como as redes sociais se tornaram uma extensão do espaço público. Também chamou a atenção para a necessidade de estimular mais encontros presenciais e conexões reais no pós-pandemia.

“Precisamos transformar o ansioso climático em um revoltado climático, alguém que canaliza sua inconformidade em ação concreta”, provocou Bruno. Ele também criticou o uso superficial das ferramentas digitais, como grupos de WhatsApp, sem estratégias efetivas para disputar a atenção do público em meio ao excesso de informações.

Em seguida, as organizações presentes foram convidadas a discutir em grupo temas como imprensa, redes sociais, campanhas e advocacy. Os participantes compartilharam boas práticas, limitações enfrentadas e sugestões para aprimorar a comunicação das organizações e do OC como um todo.

As organizações ressaltaram a importância de comunicar a  mudança no clima e temas associados de forma mais simples e acessível, sem perder a profundidade. Foi mencionada a necessidade de superar o cansaço com as pautas socioambientais e evitar a complexidade excessiva e a linguagem demagógica.

“O encontro foi uma oportunidade valiosa para perceber que os desafios, angústias, e também as oportunidades, no campo da comunicação são comuns entre as organizações. As soluções para a crise climática se tornam mais potentes quando colocadas em prática de forma colaborativa, em rede. É dessa conexão que surgem transformações reais a partir de boas ideias”, relata Thamara Santos de Almeida, colaboradora da Apremavi, que esteve presente no evento.

Márcio Astrini e Joana Amaral, do Observatório do Clima, durante suas falas no encontro de comunicadores. Foto: Thamara Almeida.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Felipe Werneck/Observatório do Clima.

Informe Brasil 2045: avanços nas políticas ambientais em 2024

Informe Brasil 2045: avanços nas políticas ambientais em 2024

Informe Brasil 2045: avanços nas políticas ambientais em 2024

O Observatório do Clima lançou, no mês passado, o “Informe Brasil 2045 – Anual 2024”, elaborado com contribuições de diversas organizações da rede da instituição, cada uma atuando em sua especialidade. O documento apresenta um panorama do avanço em várias áreas relacionadas às políticas públicas ambientais, destacando pontos de atenção e propondo medidas para seu aperfeiçoamento e efetividade.

A estratégia Brasil 2045 projeta uma visão ambiciosa: fazer com que o Brasil vá além da neutralidade de carbono até 2050, aproveitando suas vantagens comparativas para se tornar a primeira grande economia do mundo a sequestrar mais gases de efeito estufa do que emite – alcançando a condição de país carbono negativo até 2045.

“Não é possível (tampouco plausível) que o Poder Público e a sociedade tenham uma postura inerte frente à crise climática, pois, conforme já é reconhecido, o custo de remediar danos é bem mais alto do que o de se preparar”, comenta Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima (OC), na introdução do documento.

A política climática e os acordos internacionais avançaram em 2024 com a aprovação da Lei 14.904/2024, que define diretrizes para planos de adaptação às mudanças climáticas, embora tenha excluído critérios de raça, gênero e deficiência. A apresentação final dos Planos Clima foi adiada para a COP30, em Belém, e o governo realizou apenas uma consulta limitada sobre a Estratégia Nacional de Adaptação. Foram instituídos o Programa Cidades Verdes Resilientes e o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), pela Lei 15.042/2024. O documento também destacou o anúncio do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, previsto para lançamento na COP30, e o fortalecimento da diplomacia climática com a inclusão de soluções oceânicas nas metas brasileiras e a parceria com a França na declaração “De Nice a Belém: Brasil e França unidos em defesa dos oceanos e do clima”.

Em 2024, o Brasil intensificou as ações de prevenção e controle do desmatamento com a consolidação dos Planos de Ação (PPCDs), incluindo o relançamento do PPCDAm e o programa União com Municípios. O governo firmou parcerias com o Judiciário e cartórios para enfrentar a grilagem de terras e, por decisão do STF, deverá zerar o desmatamento na Amazônia até 2030. 

Planos específicos para a Caatinga e o Pantanal também foram finalizados, com metas de fiscalização e criação de fundos regionais. No Legislativo, a Lei 14.932/2024 permitiu o uso do CAR para fins fiscais sem necessidade de validação; gerando críticas, enquanto a Medida Provisória 1276/2024 fortaleceu o Fundo Nacional de Meio Ambiente e facilitou o repasse de recursos para combate a incêndios e recuperação ambiental, medidas que ainda exigem regulamentação e monitoramento rigoroso.

Em relação às iniciativas voltadas à bioeconomia e às atividades agrossilvopastoris, foi instituído o Programa Nacional de Florestas Produtivas, com foco na recuperação de áreas degradadas por agricultores e empreendedores rurais familiares. Também foi criado o Programa Coopera Mais Brasil, com o objetivo de fortalecer o cooperativismo, o associativismo e os empreendimentos solidários da agricultura familiar. 

Além disso, foi estabelecida a Comissão Nacional de Bioeconomia (CNBio) para elaborar e implementar o Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia, com diretrizes como descarbonização e estímulo ao uso sustentável da biomassa. Por fim, foi instituído o Planapo 2024-2027, destinado à promoção da agroecologia, da sociobiodiversidade e da produção orgânica.

No campo da justiça climática, houve a homologação de terras indígenas e avanços na titulação de territórios quilombolas, enquanto o Supremo Tribunal Federal gerou preocupações ao propor uma “conciliação” sobre a tese de Marco Temporal, mesmo após sua inconstitucionalidade ter sido reconhecida. O Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) recomendou a suspensão da Lei 14.701/2023 e a inclusão da demarcação de terras indígenas no Plano Clima. Também está em andamento a regulamentação do reconhecimento de territórios de outros povos e comunidades tradicionais.

Em resposta ao desastre climático no Rio Grande do Sul, o governo federal adotou medidas emergenciais como o Auxílio Reconstrução, repasse de recursos para os municípios e criação do Grupo de Trabalho Cheias RS. A Medida Provisória 1.278/2024 autorizou a destinação de até R$ 6,5 bilhões para ações de reconstrução e adaptação climática, embora ainda faltem informações sobre os resultados concretos do GT.

“Os eventos climáticos extremos ocorridos no Rio Grande do Sul, em maio de 2024, foram um grande choque da nova realidade climática que está se impondo e para a qual definitivamente não estamos preparados. Esse aspecto, por si só, deveria ser suficiente para que as ações previstas visando a reconstrução e também a preparação para possíveis novos eventos não sejam mais do mesmo, porque elas não vão dar conta do que é preciso fazer. Se não tivermos a capacidade de pensar e implementar políticas muito mais audaciosas, arrojadas e efetivas, vamos acabar normalizando a tragédia”, comenta Miriam Prochnow, cofundadora e diretora da Apremavi, no documento.

A agenda de energia teve como foco a exploração de minerais estratégicos para a transição energética, com a assinatura de acordos internacionais e o lançamento de um fundo de investimentos específico. A Política de Apoio ao Licenciamento Ambiental de Projetos de Minerais Estratégicos permanece sem representação ambiental no comitê gestor, e não há previsão para a publicação de uma nova política de mineração. Também foi instituído o Programa Potencializa E&P para estimular a exploração de petróleo e gás, mesmo com contradições frente à meta de descarbonização. O marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono foi aprovado, com criação de incentivos fiscais e programas de desenvolvimento, embora o plano de trabalho para sua implementação ainda não tenha sido divulgado. No campo das renováveis, foi aprovada a lei das eólicas offshore e instituída a Política Nacional de Transição Energética (PNTE), com o Plano Nacional (Plante) e o Fórum Nacional (Fonte) como instrumentos de execução. Por fim, a Lei do “Combustível do Futuro” estabeleceu programas para combustíveis sustentáveis na aviação, diesel verde e incentivo ao biometano, com metas reguladas pelo CNPE.

No âmbito de biodiversidade e áreas costeiras foram criadas duas novas Reservas Extrativistas costeiras no Pará (Filhos do Mangue e Viriandeua) e ampliação da Resex Chocoaré-Mato Grosso, totalizando mais de 79 mil hectares. Também foi instituído o Plano de Ação do ProManguezal, com metas como recuperar 17 mil hectares de manguezais até 2030 e criar seis Unidades de Conservação federais com manguezais até 2028. Entre as ações previstas estão a atualização do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, a inclusão da temática climática nos planos de manejo e a integração com o Planaveg. 

O tema de indústria e gestão urbana contou com a Nova Indústria Brasil, com plano de ação até 2026 e metas até 2033, prevendo R$300 bilhões em financiamentos. Foram estabelecidas metas específicas para redução de emissões e aumento do uso sustentável da biodiversidade. Também foi aprovado o Programa Mover, voltado à inovação e descarbonização na indústria automotiva, com exigências de eficiência energética e reciclabilidade para veículos novos. Na gestão urbana, foi instituído o Programa Cidades Verdes Resilientes (PCVR), que apoia a elaboração de planos locais de adaptação climática por meio da iniciativa AdaptaCidades. Além disso, foi criada a Portaria 1.250/2024, que regulamenta propostas dentro da Lei de Incentivo à Reciclagem.

Por fim, no campo da governança e financiamento da política ambiental nacional foi instituído o Programa Eco Invest Brasil pela Lei 14.995/2024 para atrair investimentos estrangeiros em projetos sustentáveis, prevendo R$6,8 bilhões em capital público e busca de R$37,6 bilhões em capital privado. Foi criado o Comitê Interinstitucional da Taxonomia Sustentável Brasileira, com consulta pública sobre os cadernos técnicos da primeira edição da TSB e previsão de publicação até julho de 2025. 

Também foi assinado o Pacto pela Transformação Ecológica entre os três poderes, com medidas sobre ordenamento territorial, transição energética e desenvolvimento sustentável. Outras ações incluem a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (Lei 14.944/2024), com criação de comitê interinstitucional, Sisfogo e incentivo à substituição do uso do fogo; o Plano Safra 2024/2025, com R$400,59 bilhões em financiamentos, incluindo o RenovAgro Ambiental; e a aprovação de R$882 milhões em projetos pelo Fundo Amazônia. A Instrução Normativa IBAMA 20/2024 definiu regras para reparação administrativa de danos ambientais, e foi criado o grupo AGU Enfrenta, com atuação destacada no Pantanal. Segundo a Lei de Acesso à Informação, o Ibama arrecadou R$361 milhões em 2024, embora outras fontes indiquem um recorde de R$729 milhões.

 

Capa do Informe Brasil 2025 do Observatório do Clima
Monitor 2045

O Monitor 2045 é uma ferramenta colaborativa liderada pelo Observatório do Clima, criada para monitorar políticas públicas nos próximos anos, envolvendo ativamente a sociedade e tornando o processo mais transparente e inclusivo. Com a colaboração de diversas organizações, incluindo a Apremavi, e especialistas, a iniciativa tem como objetivo ajudar a transformar o Brasil em uma economia de carbono negativo até 2045.

> Conheça a iniciativa

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Clima muda rápido demais para as florestas tropicais

Clima muda rápido demais para as florestas tropicais

Clima muda rápido demais para as florestas tropicais

Novo estudo global aponta que árvores em florestas tropicais nas Américas estão mudando em um ritmo muito mais lento do que o necessário para se adaptar às consequências da mudança no clima.

As florestas tropicais das Américas, conhecidas por sua extraordinária biodiversidade e papel crucial na regulação do clima global, podem estar em descompasso com as mudanças climáticas. Um artigo publicado na revista Science revela que essas florestas não estão se adaptando com rapidez suficiente para acompanhar as alterações nas temperaturas e nos regimes de precipitação causados pelas mudanças climáticas. Até 2100, as projeções indicam um aumento de até 4 °C nas temperaturas e uma redução de quase 20% na precipitação em muitas regiões tropicais.

“Esses ambientes estarão sujeitos a climas que nunca enfrentaram antes”, relata o estudo. Com isso, é possível que, no futuro, comunidades vegetais completamente diferentes –  e ainda desconhecidas – substituam as florestas tropicais atuais. 

O trabalho analisou 6.000 parcelas permanentes de floresta e envolveu a colaboração de 134 cientistas de todo o mundo, dentre eles pesquisadores brasileiros. Eles  observaram mudanças muito lentas na composição das espécies arbóreas nas últimas décadas – muito aquém da velocidade exigida pelas mudanças no clima. As mudanças observadas nas características das árvores representam apenas cerca de 10% do que seria necessário para acompanhar as alterações ambientais em curso.

Como as árvores são organismos de vida longa e com baixa taxa de renovação, a lentidão em acompanhar o clima pode levar a florestas cada vez mais vulneráveis. Isso significa que “as florestas estão ficando para trás em relação ao clima”. Essa lacuna crescente ameaça comprometer os serviços ecossistêmicos essenciais que essas florestas prestam, como a regulação do carbono, a proteção da biodiversidade e a manutenção dos ciclos hidrológicos.

 

Montanhas, secas e adaptações possíveis

O estudo também aponta que as florestas em regiões montanhosas tendem a responder mais rapidamente às mudanças, já que espécies podem migrar para altitudes mais adequadas em distâncias menores. Nas planícies, esse deslocamento é mais difícil.

Além disso, espécies com traços adaptativos à seca – como árvores caducifólias, que perdem as folhas durante a estação seca – podem se tornar mais comuns. Traços como tolerância à seca e maior plasticidade funcional serão cruciais para a sobrevivência das espécies no novo cenário climático.

 

Fragmentação e limitações à adaptação

Regiões como a Mata Atlântica e o sul da Amazônia brasileira apresentam uma vulnerabilidade ainda maioràs mudanças climáticas: nesses locais, a fragmentação florestal e outras pressões humanas dificultam a capacidade das florestas de se ajustarem, reforçando sua fragilidade.

Diante desse cenário, os cientistas reforçam a urgência de conservar áreas florestais intactas, restaurar ecossistemas degradados e criar corredores ecológicos que facilitem a migração natural das espécies. Mais do que nunca, compreender e apoiar os processos de adaptação natural é essencial para a sobrevivência desses ecossistemas – e, por extensão, do equilíbrio climático global.

A pesquisa também reforça a importância do monitoramento ecológico de longo prazo e do trabalho colaborativo entre cientistas, comunidades locais e tomadores de decisão para construir respostas eficazes diante da crise climática.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Seminário debate delegação de competência para intervenções na Mata Atlântica da região Sul

Seminário debate delegação de competência para intervenções na Mata Atlântica da região Sul

Seminário debate delegação de competência para intervenções na Mata Atlântica da região Sul

A Lei da Mata Atlântica, lei 11.428 de 2006, exige de todos os entes públicos assumam o compromisso com a conservação e uso sustentável do bioma. Nesse contexto, os municípios devem assumir suas responsabilidades na proteção desse bioma por meio dos instrumentos previstos na legislação. Dentre eles se destaca o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica, que cada município deve elaborar e aplicar. 

Esse plano deve incluir um diagnóstico da vegetação nativa remanescente, a identificação das principais causas do desmatamento local, sugestões de ações preventivas para mitigar ameaças, diretrizes para o uso sustentável da vegetação e a definição de áreas prioritárias para conservação e restauração.

A partir da edição da Lei Complementar n° 140, de dezembro de 2011, que fixa normas para competência comum entre os vários níveis de governo, surgem os termos de cooperação entre estados e municípios, que são acordos destinados à delegação da gestão da flora nativa da Mata Atlântica para os municípios. Esses termos estabelecem os critérios e procedimentos para a delegação de competência, permitindo que o município tenha autonomia para licenciar atividades relacionadas ao uso do solo e à construção de empreendimentos.

No dia 15 de março o Instituto MIRA-SERRA e a Rede de ONGs da Mata Atlântica promoveram o seminário “Convênios de Delegação de Competência para intervir na vegetação da Mata Atlântica, no âmbito da região Sul, Brasil – estudo de caso, relatos dos participantes, encaminhamentos” em Porto Alegre (RS). O evento contou com a parceria da Apremavi, Mater Natura e SPVS, além do apoio da SOS Mata Atlântica e financiamento da Hempel Foundation por meio do projeto “Cuidando da Mata Atlântica.”

O objetivo do encontro foi discutir os convênios que delegam competência para a intervenção na vegetação da Mata Atlântica na região Sul, abordando desafios e soluções para garantir a efetividade da legislação ambiental. Participaram representantes de diversas organizações, incluindo Instituto MIRA-SERRA, Apedema, Agir Azul, Onda Verde, Aipan, Igré e a Apremavi.

O seminário iniciou com a apresentação dos participantes e seguiu para a análise de casos concretos no Rio Grande do Sul. Foi enfatizado que os municípios podem perder a delegação de competência caso descumpram a Lei da Mata Atlântica, e que as entidades da RMA precisam ficar atentas e, nesses casos, requerer a suspensão desses termos quando irregularidades são constatadas.

 
Desafios na implementação dos Termos de Cooperação

Entre os principais problemas apontados estão os conflitos legais decorrentes da interpretação das prefeituras sobre a hierarquia dos planos ambientais. Muitas administrações municipais consideram o Plano Diretor superior ao Plano da Mata Atlântica, resultando em embates jurídicos e dificuldades na aplicação da legislação ambiental.

Além disso, os estados não possuem competência para fiscalizar os planos municipais de Mata Atlântica, o que abre margem para irregularidades. No Rio Grande do Sul, por exemplo, vários municípios justificam desmatamentos ilegais alegando, de maneira equivocada, que as áreas afetadas pertencem ao bioma Pampa, escapando, assim, da proteção estabelecida para a Mata Atlântica.

Outro desafio é a renovação dos termos de cooperação. Idealmente, essa renovação deveria estar condicionada à existência de Planos Municipais de Mata Atlântica, garantindo uma gestão ambiental estruturada. No entanto, essa exigência não tem sido cumprida na prática, deixando a fiscalização e a proteção ambiental fragilizadas.

Um levantamento preliminar realizado pela MIRA-SERRA e apresentado durante o seminário revelou o status dos termos de delegação de competência nos estados do Sul do Brasil. Em Santa Catarina, não houve retorno das autoridades devido ao período de férias. No Paraná, o protocolo para a realização do levantamento já foi iniciado. Já no Rio Grande do Sul, 188 municípios possuem termos de cooperação, mas a maioria enfrenta problemas como irregularidades na aplicação da legislação e a falta de profissionais qualificados para a gestão ambiental.

Lisiane Becker, bióloga e presidente do Instituto MIRA-SERRA comenta sobre a importância da discussão do tema: “a delegação de competência do estado aos municípios para intervir na vegetação da Mata Atlântica é o principal meio de extinção da nossa fauna – agravando os eventos climáticos extremos devido à redução dos serviços ecossistêmicos”.

Ainda, ela ressalta a importância de momentos como esse entre organizações ambientalistas: “O evento se prestou, também, como uma qualificação às entidades com distintos focos de atuação – visto que esse tipo de delegação de competência interage (diretamente ou indiretamente) com seus objetivos ambientalistas.”

 

Propostas e encaminhamentos

Os participantes do seminário discutiram soluções para aprimorar a gestão ambiental e a fiscalização da Mata Atlântica no Sul do Brasil. Entre as principais propostas, destacam-se a criação de um checklist baseado na atuação das ONGs para evitar ataques ao licenciamento ambiental, a publicação de estudos de caso sobre a aplicação da Lei da Mata Atlântica e o desenvolvimento de cartilhas informativas sobre denúncias ambientais e resgate de fauna. Também foi sugerida uma fiscalização estadual mais rigorosa sobre os planos municipais, a destinação de recursos específicos para sua implementação e o monitoramento contínuo dos termos de cooperação. Essas medidas visam fortalecer a governança ambiental e garantir a proteção efetiva do bioma.

“Além disso, outras ideias discutidas levaram a um denominador comum: ampliar e consolidar a capacitação no tema, de modo que os atores socioambientais tenham segurança na aplicação da legislação relacionada ao uso do solo na Mata Atlântica. Isso inclui estratégias para apresentação de denúncias bem fundamentadas, fortalecimento das atividades colaborativas, interface com profissionais da comunicação e exercício do controle social, entre outros aspectos”, relata Lisiane.

Segundo ela, o MIRA-SERRA, com base nas sugestões dos participantes, pretende oferecer um programa de capacitação gratuito e online, semelhante ao que foi idealizado e executado na Bacia Hidrográfica do Rio Caí (Planos Municipais e Regional de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica no âmbito da B.H. do Rio Caí), com o objetivo de suprir essa lacuna de capacitação.

Além disso, um dos principais resultados do debate promovido pelo seminário foi o questionamento sobre a competência original para intervenção na Mata Atlântica. Se considerarmos que a competência originária para intervenções no bioma é da União, surge a necessidade de discutir a regulamentação federal para a delegação de competência entre Estado e Município. A pesquisa realizada pelo Instituto MIRA-SERRA revelou grandes discrepâncias na delegação de competências aos municípios, que não parecem estar devidamente respaldadas pela Lei Complementar 140/2011. Os estados estariam repassando diversas atribuições federais e estaduais aos municípios sem padronização e sem a devida transparência, tornando inviável o controle social sobre essas decisões.

Apresentação de estudos de caso durante o evento.

Apresentação de estudos de caso durante o evento. Foto: Thamara Santos de Almeida.

Cuidando da Mata Atlântica: Articulação Região Sul da RMA

O seminário é fruto do projeto “Cuidando da Mata Atlântica” que busca contribuir com a conservação e restauração da Mata Atlântica através da articulação das organizações da RMA, na defesa do arcabouço legal que protege o bioma na Região Sul do país e o estímulo à criação e implantação de Unidades de Conservação.

É financiado pela Fundação Hempel e coordenado pelo Mater Natura, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, Apremavi, SPVS e Instituto MIRA-SERRA.

> Saiba mais

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: João de Deus Medeiros e Miriam Prochnow.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

COP30: organizações exigem transparência e veto a lobistas do petróleo

COP30: organizações exigem transparência e veto a lobistas do petróleo

COP30: organizações exigem transparência e veto a lobistas do petróleo

A influência de lobistas da indústria petrolífera – uma das principais vilãs na mudança do clima – nas negociações climáticas é  grande obstáculo para a implementação de políticas eficazes de transição energética. Por anos, representantes do setor de combustíveis fósseis têm ocupado espaços nas Conferências das Partes (COPs), eventos globais de negociação climática, dificultando a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.

Um grupo composto por 260 organizações e especialistas, entre eles a Apremavi, por meio de uma articulação dentro do Observatório do Clima, assinou uma carta aberta direcionada às lideranças da COP30. O documento exige maior transparência e medidas para evitar conflitos de interesse, buscando  de impedir a influência de lobistas da indústria do petróleo nas decisões da conferência, que este ano será realizada em Belém.

 

Medidas indicadas pela carta:

∙ Exclusão de representantes de setores altamente poluentes das negociações climáticas e a implementação de diretrizes rigorosas para evitar conflitos de interesse dentro da COP;
∙ Criação de padrões de transparência para todos os envolvidos nas negociações da conferência;
∙ As parcerias entre a Presidência da COP e as indústrias poluidoras da COP devem cessar, excluindo explicitamente as indústrias altamente poluidoras;
∙ Mudanças no processo de seleção da presidência da COP, garantindo que os países anfitriões apresentem avanços concretos na implementação do Acordo de Paris e estejam livres da influência de setores poluentes.

“Estabelecer um modelo baseado em transparência e responsabilidade, que priorize a sociedade em vez das indústrias poluentes, fortalecerá a confiança no processo da COP e impulsionará os objetivos do Acordo de Paris. Sem essas mudanças, corremos o risco de que a diplomacia climática global continue sendo um exercício sem impacto real, incapaz de enfrentar a crise climática de maneira eficaz”, destaca o documento.

O manifesto foi enviado no dia 17 de março ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao presidente da COP30, André Aranha Corrêa do Lago, à CEO da cúpula, Ana Toni, e ao secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell. Nesse sentido, a sociedade civil cobra o governo brasileiro de não permitir que a COP30 repita a presença de representantes do setor petrolífero e de outras indústrias altamente poluidoras, pouco visíveis e muito prejudiciais nas negociações de redução de emissões. 

“Vamos ter que fazer o mapa do caminho para o fim do combustível fóssil, desmatamento e também para fortalecer a cooperação em situação adversa. Vamos enfrentar também os superpoluentes que são também uma grande contribuição para a mudança do clima”, comentou  Marina Silva, Ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima na abertura da “Conferência sobre Clima e Ar Limpo” (18/03/2025).

> Confira a carta na íntegra

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Carolina Schäffer.

Exposição “Somos o Clima que Protegemos” no Museu do Amanhã tem participação da Apremavi

Exposição “Somos o Clima que Protegemos” no Museu do Amanhã tem participação da Apremavi

Exposição “Somos o Clima que Protegemos” no Museu do Amanhã tem participação da Apremavi

No dia 13 de março de 2025 aconteceu, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, a abertura da Exposição “Somos o Clima que Protegemos”. A iniciativa é resultado da iniciativa Defensoras por Defensoras, do Observatório do Clima (OC)

Uma árvore, peça principal da exposição, foi produzida pelas defensoras, que têm se reunido desde 2021, a partir da necessidade de um espaço de formação, acolhimento e fortalecimento pessoal, social e político. São mulheres que atuam na linha de frente das lutas socioambientais no Brasil. Junto à árvore, um painel apresenta as fotos das defensoras e um vídeo conta as suas histórias.

No início, as reuniões eram apenas virtuais com algumas lideranças. O grupo cresceu à medida que cada uma trazia mais ativistas – hoje, são cerca de 40 integrantes. Em outubro de 2024, com apoio do OC, elas se encontraram em Brasília para reafirmar suas lutas e construir novas estratégias coletivas. A árvore cenográfica foi criada na ocasião: as defensoras se inspiraram na estrutura de raízes, tronco, caule, folhas, flores e na simbologia da floresta para expressar a força de cada uma e a solidez do coletivo. Muitas vezes anônimas e desconhecidas da sociedade, elas acreditam que juntas podem dar visibilidade a histórias, desafios e conquistas de mulheres que cuidam de seus territórios.

A abertura do evento foi feita por Marcio Astrini (secretário executivo do OC), Camila Rodrigues (gerente do Museu do Amanhã), Joana Amaral (OC) e Isvilaine Silva (OC). Participaram do evento, a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG); a assessora do Ministério das Mulheres Joci Aguiar (que integra a rede de defensoras); a diretora da ActionAid Brasil Ana Paula Brandão; a coordenadora executiva do IEB, Andreia Bavaresco; e a diretora executiva do Instituto Internacional Arayara, Nicole Oliveira, entre outras convidadas.

Estiveram no Museu do Amanhã as defensoras: Andira Angeli Cacheado e Silva (Casa Miga Acolhimento LGBTQIA+, do Amazonas); Angela Maria Feitosa Mendes (Comitê Chico Mendes, do Acre); Benedita da Guia Ferreira Mendes (Instituto Centro de Vida, de Mato Grosso); Francisca Maria da Silva (Economia Solidária, de Minas Gerais); Linalva Cunha Cardoso Silva (Coletivo de Mulheres Trabalhadoras Rurais, do Maranhão); Maria Ducenilde Mendonça (Pijcre Akroá, do Maranhão); Maria Flor Torres Calçado (Casa Ilharga, templo Maria Bárbara Soeira Toya Azakar, do Pará); Miriam Prochnow (Apremavi, de Santa Catarina); Neide Alves dos Santos (Rede Territorial de Economia Solidária do Litoral Norte e Agreste Baiano, da Bahia); Sarah Marques (Caranguejo Tabaiares Resiste, de Pernambuco), Selma dos Santos Dealdina Mbaye (Conaq, do Espírito Santo); Severiá Maria Idioriê (Fundo Casa Socioambiental, de Mato Grosso); Tatianny Cristina Queiroz Soares (Rede Jandyras, do Pará); Valdinéia Sauré (Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós, do Pará).

Segundo Miriam Prochnow, dar visibilidade às vivências de cada uma, é uma das ações mais importantes de apoio ao trabalho das defensoras. Fazer essa conexão com o clima é ainda mais importante, por conta do momento atual: “são exemplos de vida que trazem inspiração para seguir adiante e também para serem replicados. Ser parte desse coletivo, estar junto com essas mulheres guerreiras maravilhosas é algo que traz uma realização indescritível. Ter participado da cerimônia de abertura da exposição “Defensoras – Somos os Clima que Protegemos” me trouxe uma felicidade única, um sentimento muito grande de completude. Estar nesse ambiente onde também podemos acolher e remediar as dores, as tristezas e os problemas é algo que tem potencial de cura, para nós e também para o planeta. Que essa iniciativa consiga seguir firme, forte, inclusiva e alegre” complementa Miriam. Taís Fontanive também integra a iniciativa, representando a Apremavi.

Miriam Prochnow da Apremavi na exposição "Somos o Clima que Protegemos" do Observatório do Clima no Museu do Amanhã

Miriam Prochnow da Apremavi e Defensoras por Defensoras na abertura do evento e na exposição “Somos o Clima que Protegemos” do Observatório do Clima no Museu do Amanhã. Fotos: Arquivo Apremavi e Albert Andrade/Museu do Amanhã.

Observatório do Clima

A mostra, que segue até o dia 13 de junho, é uma parceria do Observatório do Clima com o Museu do Amanhã e tem o apoio da ActionAid, Fundação Avina, Fundo Casa, Instituto Arayara, Hivos e Purpose.

Sobre o Observatório do Clima – Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com 133 integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática (oc.eco.br). Desde 2013 o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil.

> Conheça a iniciativa

 

Autora: Miriam Prochnow.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Albert Andrade/Museu do Amanhã.

Apremavi é homenageada na ALESC por atuação em defesa do meio ambiente

Apremavi é homenageada na ALESC por atuação em defesa do meio ambiente

Apremavi é homenageada na ALESC por atuação em defesa do meio ambiente

No dia 10 de março, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) realizou um evento alusivo à Campanha da Fraternidade 2025, uma iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, a campanha deste ano convida à reflexão e à ação em prol do meio ambiente e da harmonia entre seres humanos e natureza.

“A Campanha da Fraternidade deste ano busca conscientizar os fiéis e a sociedade sobre a importância de cuidar da criação e de promover uma relação equilibrada com o meio ambiente. Além disso, também inspira uma conversão ecológica e uma mudança de comportamento”, destacou Padre Pedro à Agência da Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

Durante a sessão especial, diversas personalidades e entidades sociais foram homenageadas por seu compromisso com os valores da Campanha da Fraternidade 2025. Entre os reconhecidos, a Apremavi recebeu uma premiação por sua atuação em Santa Catarina.

João de Deus Medeiros, conselheiro da Apremavi, recebeu a homenagem em nome da instituição e ressaltou a relevância do reconhecimento: “Foi um evento memorável, com uma grupo seleto de homenageados, dentre os quais muitos amigos de jornada de longa data que, de forma persistente e incansável, se destacam pelo trabalho em prol da defesa da natureza, contribuindo assim para a mudança de um cenário que hoje já se configura como crítico. Compartilhar esse momento com tantas pessoas e entidades que se destacam nessa construção fraterna, ocupando um espaço formal como o plenário da ALESC, onde muitos debates se estabelecem sobre as definições de rumo de nossa sociedade, foi desafiador e gratificante. Que o espírito de fraternidade que inspirou esse evento seja um estímulo adicional para o reconhecimento e continuidade do trabalho de todos os homenageados que tanto contribuem para a ecologização das mentes do nosso povo”.

A cerimônia destacou a necessidade de construirmos uma sociedade mais justa e fraterna, capaz de solidária e responsavelmente nos conduzir na administração da grave crise climática que administramos.

Apremavi é homenageada na ALESC por atuação em defesa do meio ambiente 2025

João de Deus Medeiros, conselheiro da Apremavi, recebendo a homenagem da ALESC em nome da Apremavi. Foto: Agência ALESC.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: João de Deus Medeiros.
Foto de capa: Rodolfo Espínola/Agência ALESC.

Conservador das Araucárias destaca avanços do projeto na II Reunião do Grupo de Transparência

Conservador das Araucárias destaca avanços do projeto na II Reunião do Grupo de Transparência

Conservador das Araucárias destaca avanços do projeto na II Reunião do Grupo de Transparência

Nos dias 18 e 19 de março de 2025, a Apremavi realizou a II Reunião do Grupo de Transparência e Divulgação do Conservador das Araucárias, um projeto desenvolvido em parceria com a Tetra Pak. O evento reuniu 63 participantes, sendo 51 presencialmente e 12 de forma on-line, representando organizações da sociedade civil, governo, setor privado e academia. O encontro foi uma oportunidade para compartilhar os avanços do projeto, debater estratégias para ampliar sua transparência e fortalecer sua governança.

Além do Grupo de Transparência e Divulgação, que promove a troca de informações com a sociedade e recebe sugestões para aprimorar as ações do projeto, o Conservador das Araucárias conta com um Grupo Executivo e um Grupo de Acompanhamento. Essas instâncias trabalham de forma integrada na implementação das metas do projeto, que busca restaurar sete mil hectares de áreas degradadas.

Wigold Schaffer, Coordenador Geral do projeto, avalia o momento como oportuno para compartilhar os resultados até aqui e também os desafios do Conservador das Araucárias, mas vai além: “Esperamos que o Grupo de Transparência seja também um exemplo de colaboração e governança para a restauração da Mata Atlântica, sobretudo diante dos cenários de crise climática e de biodiversidade que a humanidade enfrenta.

Miriam Prochnow apresenta principais resultados do projeto em 2024 na II Reunião do Grupo de Transparência e Divulgação do Conservador das Araucárias

Miriam Prochnow apresenta principais resultados do projeto em 2024 na II Reunião do Grupo de Transparência e Divulgação do Conservador das Araucárias. Foto: Carolina Schaffer.

Visitas de campo e plantio de mudas nativas

A programação teve início na terça-feira (18), com visitas às áreas de restauração de duas propriedades localizadas em Atalanta (SC). Durante as visitas, foram entrevistados os proprietários parceiros do projeto, bem como visitadas as áreas restauradas ao longo do segundo semestre de 2024.

O projeto atua com três tipos de propriedades, pequenas, médias e grandes, e o piloto em pequenas propriedades, que busca trazer um impacto social para o projeto, está sendo desenvolvido primeiramente em Atalanta.

Para marcar a ocasião, também foi realizado um mutirão de plantio de 350 mudas nativas na propriedade de Roseli Kunen, reforçando o compromisso do Conservador das Araucárias com a restauração da Mata Atlântica. Roseli entra oficialmente no projeto este mês, após ter assinado o Contrato de Parceria Rural.

Mutirão de plantio e visitas às propriedades atendidas pelo Conservador das Araucárias em Atalanta

Mutirão de plantio e visitas às propriedades atendidas pelo Conservador das Araucárias em Atalanta (SC). Fotos: Wigold Schaffer.

Encontro híbrido no Centro Ambiental da Apremavi

Na quarta-feira (19), a reunião aconteceu no Centro Ambiental da Apremavi, em Atalanta (SC), com transmissão on-line para participantes remotos. A abertura contou com falas do Presidente da Apremavi, Edinho Pedro Schäffer, do Gerente de Projetos da Natureza da Tetra Pak, Martin Carlsson, do Prefeito de Atalanta, Claudio Volnei Sens, do Diretor de Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Thiago Belote Silva, e do Deputado Estadual Marquito.

Em sua fala, Martin Carlsson mencionou que todos nós precisamos trabalhar juntos para proteger e restaurar a natureza. “Ao nos reunirmos e nos engajarmos uns com os outros, podemos alcançar muito mais. Na reunião do Grupo de Transparência e Divulgação, fizemos exatamente isso, dando voz tanto a especialistas em conservação quanto a pequenos produtores rurais. Como representante da Tetra Pak, sinto orgulho de ver os impactos sociais e ambientais positivos que foram alcançados e compartilhados.”

Além dos representantes mencionados, outras instituições parceiras estiveram presentes, reforçando o compromisso coletivo com a restauração ecológica. Entre elas, destacam-se organizações ambientais como a The Nature Conservancy Brasil, a Reserva Araponga e o WWF Brasil, além de entidades governamentais como a Amavi, a Cisamavi e a Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). O setor produtivo também marcou presença, representado por empresas como a Klabin e a Frutafina. Instituições de ensino e pesquisa, como a Embrapa Florestas, a UFSC e a Unidavi, contribuíram com conhecimento técnico e científico. Participaram ainda lideranças políticas, incluindo o ex-prefeito de Atalanta e representantes da Secretaria de Meio Ambiente do município, bem como representantes da Epagri, do Instituto Água e Terra (IAT), da Contag, da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura e do Fórum de  Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, reforçando a importância do trabalho conjunto entre a sociedade civil, o setor privado e o poder público para a conservação e restauração da Mata Atlântica.

Durante a apresentação dos resultados do projeto em 2024, Miriam Prochnow e Carolina Schäffer, mostraram fotos das áreas restauradas e apresentaram dados das áreas em restauração pelo projeto. Em seguida, Wigold Schaffer e Maíra Ratuchinski mediaram a apresentação das atividades de restauração conduzidas em Atalanta, culminando com a assinatura simbólica de seis novos contratos de adesão ao projeto.

O momento foi marcado por grande emoção, especialmente quando Roseli Kunen se emocionou ao compartilhar que ao participar do projeto está realizando um sonho de seus antecessores, “eles sempre desejaram receber um pagamento pela conservação e restauração da floresta, e essa hora agora chegou”. 

Ato de assinatura de seis novos Contratos de Parceria Rural do Conservador das Araucárias

Ato de assinatura de seis novos Contratos de Parceria Rural do Conservador das Araucárias. Foto: Wigold Schäffer.

A tarde foi dedicada às apresentações dos parceiros que estão desenvolvendo outras iniciativas de carbono, como o Conservador da Mantiqueira, desenvolvido pela The Nature Conservancy Brasil, projetos de políticas públicas apoiados pelo WWF Brasil e ações desenvolvidas pela Força Tarefa de Carbono do Pacto para a Restauração da Mata Atlântica. Divaldo Rezende, Chairman da Social Carbon, finalizou a tarde com uma apresentação sobre certificação de carbono, fornecendo insights valiosos para a evolução do Conservador das Araucárias.

Durante as discussões, Thiago Belote Silva, Diretor de Florestas do Ministério do Meio Ambiente, destacou a relevância do Conservador das Araucárias para a implementação do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg): “O Conservador das Araucárias é um exemplo de contribuição concreta para o Planaveg, pensando em paisagens onde a política está sendo implementada”, afirmou Belote.

O evento reforçou o compromisso da Apremavi e da Tetra Pak com a transparência e o aprimoramento contínuo das ações de restauração florestal, demonstrando que parcerias sólidas são essenciais para a conservação e a restauração da Mata Atlântica. 

Encontro hibrido para apresentação dos resultados do Conservador das Araucárias e das ações de carbono dos parceiros

Encontro híbrido para apresentação dos resultados do Conservador das Araucárias aconteceu em março de 2025. Fotos: Carolina Schäffer e Miriam Prochnow.

Conservador das Araucárias

O Conservador das Araucárias é um projeto da parceria entre a Tetra Pak e a Apremavi que visa a restauração florestal com espécies nativas, atrelada à captura de carbono para mitigação das mudanças climáticas, a adequação de propriedades rurais à legislação ambiental e a conservação de mananciais hídricos, do solo e da biodiversidade, bem como a melhoria da qualidade de vida da população inserida no território.

O projeto tem a ambição de restaurar 7 mil hectares da Mata Atlântica até 2030 – o equivalente a 9.800 campos de futebol.

> Conheça o projeto

 

Autoras: Carolina Schäffer e Miriam Prochnow.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Brasil define novas metas para a biodiversidade até 2030

Brasil define novas metas para a biodiversidade até 2030

Brasil define novas metas para a biodiversidade até 2030

No dia 20 de fevereiro, a Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), que integra o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), publicou no Diário Oficial da União a resolução n° 9, que define as Metas Nacionais de Biodiversidade para o período de 2025 a 2030. 

As metas são uma resposta às obrigações assumidas pelo Brasil ao aderir ao Marco Global de Kunming-Montreal (GBF), firmado em dezembro de 2022, e visam orientar ações de conservação e uso sustentável da biodiversidade. A medida recomenda ao governo federal a adoção dessas metas na Estratégia e Plano de Ação Nacionais para a Biodiversidade (NBSAP – National Biodiversity Strategies and Action Plans, em inglês).

A definição das metas contou com ampla participação social. Durante nove meses, a sociedade teve acesso a uma consulta pública online na Plataforma Brasil Participativo, além de oficinas e audiências setoriais para contribuir com a formulação das diretrizes. A implementação das metas contará com a cooperação voluntária de estados, municípios, organizações da sociedade civil e entidades privadas.

As 23 metas propostas são detalhadas no documento final e abrangem aspectos fundamentais da gestão da biodiversidade, incluindo conservação, restauração ecológica e o uso sustentável dos recursos naturais. 

Confira as metas propostas:

  • Meta 1A – Promover o planejamento espacial para reduzir a perda de biodiversidade / Meta 1B – Zerar o desmatamento e a conversão da vegetação nativa para reduzir a perda da biodiversidade
  • Meta 2 – Restaurar os ecossistemas
  • Meta 3 – Conservar e manejar os ecossistemas
  • Meta 4 – Deter as extinções de espécies e a perda de variabilidade genética
  • Meta 5 – Promover o uso e o comércio sustentável
  • Meta 6 – Reduzir a introdução e os impactos das espécies exóticas invasoras
  • Meta 7 – Reduzir a poluição e seus impactos sobre a biodiversidade
  • Meta 8 – Minimizar o impacto da mudança do clima sobre a biodiversidade
  • Meta 9 – Promover o uso sustentável da biodiversidade e a bioeconomia
  • Meta 10A – Promover atividades produtivas sustentáveis / Meta 10B – Promover a sustentabilidade na pesca extrativa e na extração de bioinsumos aquáticos
  • Meta 11 – Proteger e recuperar os serviços ecossistêmicos
  • Meta 12 – Ampliar e fortalecer os espaços verdes e azuis urbanos
  • Meta 13 – Promover o acesso e a repartição de benefícios
  • Meta 14 – Integrar os valores da biodiversidade nas políticas públicas e nas contas nacionais
  • Meta 15 – Promover atividades empresariais sustentáveis
  • Meta 16 – Incentivar o consumo sustentável e reduzir a geração de resíduos
  • Meta 17 – Promover medidas de biossegurança
  • Meta 18 – Eliminar subsídios prejudiciais e aumentar incentivos positivos para a biodiversidade
  • Meta 19 – Aumentar o financiamento para a implementação da EPANB
  • Meta 20 – Promover a capacitação e a cooperação para a biodiversidade
  • Meta 21 – Promover o acesso a dados, informações e conhecimento
  • Meta 22 – Assegurar para todos a participação na tomada de decisão e o acesso à justiça
  • Meta 23 – Assegurar a equidade de gênero na implementação da EPANB

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Campos de Altitude sob ataque

Campos de Altitude sob ataque

Campos de Altitude sob ataque

Os Campos de Altitude têm sido alvo de tentativas de flexibilização de sua proteção, comprometendo a conservação desses ambientes e seus serviços ecossistêmicos. O Projeto de Lei (PL) 364/2019 busca retirar esses ecossistemas da proteção conferida pela Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/2006) além de todas as demais fitofisionomias não florestais, colocando em risco diversas áreas naturais de todos os biomas do país.

 

Os impactos do PL 364/2019 nos Campos de Altitude

O PL 364/2019 surgiu em resposta às fiscalizações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em municípios da região dos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul. As autuações foram aplicadas a produtores rurais que convertiam campos nativos para a agricultura sem autorização, o que motivou a proposição legislativa para excluir os Campos de Altitude do escopo de proteção da Lei da Mata Atlântica.  

Além disso, um substitutivo ao PL 364/2019, aprovado na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, vai ainda mais longe ao remover a proteção de todas as fitofisionomias não florestais nativas do Brasil. Caso essa proposta avance, cerca de 48 milhões de hectares de campos nativos perderão proteção legal, incluindo 50% do Pantanal, 32% do Pampa, 7% do Cerrado e 15 milhões de hectares na Amazônia.

A retirada dessa proteção legal também afeta diretamente as metas ambientais brasileiras, incluindo a conservação da biodiversidade, a redução das emissões de carbono e os esforços de mitigação das mudanças climáticas. Cientistas brasileiros publicaram uma carta na revista Science denunciando a proposta como um “golpe severo para a biodiversidade brasileira e global.”

Atualmente, o PL está com o status de “Aguardando Deliberação do Recurso na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA)”

> Saiba mais 


Mudanças na Legislação Estadual

Os impactos do PL 364/2019 não se limitam à esfera federal. Estados como Santa Catarina já estão modificando suas legislações ambientais. Em 2022, o Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina restringiu a proteção dos Campos de Altitude apenas às áreas acima de 1500 metros de altitude e redefiniu todos os critérios para classificação dos estágios sucessionais da vegetação campestre. Com isso, a área protegida foi reduzida para apenas 3,8% da cobertura original definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e os critérios que permitem a supressão da vegetação campestre flexibilizados, em conflito direto com os parâmetros estabelecidos pelo CONAMA.

Essa restrição da ocorrência de Campos tão somente em altitudes superiores a 1500m contraria as definições do Mapa da Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica e da Resolução CONAMA 423/2010, que estabelecem que os Campos de Altitude estão presentes em altitudes a partir de 400 metros, dependendo da latitude. A alteração também introduz novos critérios para a classificação dos estágios sucessionais, comprometendo a recuperação e manutenção desses ecossistemas.

> Confira o parecer 

 

Uso sustentável dos Campos de Altitude

Apesar dos desafios impostos por mudanças legislativas, é possível compatibilizar a conservação dos Campos de Altitude com atividades econômicas sustentáveis. Modelos de manejo, como a pecuária extensiva tradicional e o turismo ecológico, são exemplos viáveis de uso econômico que preservam a integridade ambiental.

A Pecuária Familiar Tradicional, por exemplo, mantém uma relação simbiótica com os campos nativos, sendo um modelo de produção que respeita a dinâmica natural do ecossistema. O pastoreio extensivo tradicional é reconhecido como atividade de uso indireto, não exigindo autorização dos órgãos ambientais desde que não promova a degradação do bioma ou a introdução de espécies exóticas.

O PL 364/2019 representa uma ameaça significativa às áreas campestres do Brasil, comprometendo a proteção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos essenciais. As mudanças na legislação estadual indicam uma tendência de redução dos níveis de proteção ambiental preocupante, e contrariam diretrizes científicas assim como marcos legais previamente estabelecidos.

Para garantir a manutenção e restauração desses ecossistemas, é fundamental rejeitar propostas que enfraquecem a proteção ambiental e incentivar políticas públicas que estimulem a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. O futuro dos Campos de Altitude depende de decisões baseadas na ciência e no compromisso com a proteção e salvaguarda da biodiversidade brasileira.

 

Campanha em prol dos Campos

Essa matéria é fruto da campanha “Proteja os Campos de Altitude”, uma das iniciativas do projeto “Cuidando da Mata Atlântica: Articulação Região Sul da RMA”, executado numa articulação entre a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e Instituto Mira Serra, com o apoio financeiro da Fundação dinamarquesa Hempel por meio da Fundação SOS Mata Atlântica.

> Conheça a campanha 

 

Referências:

Coalizão Pelo Pampa. (2024). Carta aberta à sociedade brasileira: PL 364/2019, a extinção dos campos nativos, e as perdas para a sociedade brasileira.

Overbeck, G. E., Toma, T. S., da Silveira-Filho, R. R., Dechoum, M. S., Fonsêca, N. C., Grelle, C. E., … & Fernandes, G. W. (2024). Brazil’s natural grasslands under attack. Science, 384(6692), 168-169.

SOS Mata Atlântica. (2024). Nota técnica e jurídica: Impactos ambientais decorrentes da aprovação do PL 364/19 e possibilidades de solução.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer e João de Deus Medeiros.
Foto de capa: Wigold Schaffer.

Projeto +Floresta finaliza restauração no PA Maria Silverston em Abelardo Luz (SC)

Projeto +Floresta finaliza restauração no PA Maria Silverston em Abelardo Luz (SC)

Projeto +Floresta finaliza restauração no PA Maria Silverston em Abelardo Luz (SC)

O trabalho de restauração ecológica no Projeto +Floresta avançou com a conclusão da fase de implantação em mais uma área. Desta vez, as ações de restauração foram realizadas na Reserva Legal do Projeto de Assentamento Maria Silverston em Abelardo Luz (SC).

Em maio de 2024, foi promovida uma reunião com a comunidade do assentamento para apresentar os resultados dos diagnósticos do meio físico e socioeconômico, além do projeto final de restauração aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O encontro reuniu 20 participantes, incluindo moradores locais, equipe da Apremavi e representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Ibama.

A Reserva Legal do assentamento abrange 17,76 hectares e é composta por áreas de banhado, floresta e espaços de uso antrópico. A vegetação local, especialmente na área úmida, apresentava alta incidência de Pinus spp., uma espécie invasora. Como primeira etapa da restauração, foi realizada a remoção do pinus, com parte da madeira destinada à comunidade para aproveitamento, mediante aprovação do Incra. Em seguida, foi construída uma cerca de isolamento ao longo de toda a Reserva Legal.

O processo de recuperação seguiu com o plantio heterogêneo de mudas nativas nas clareiras abertas pela remoção dos pinus e nas áreas anteriormente utilizadas pelo homem. Além disso, foi feito o enriquecimento ecológico com espécies nobres nas áreas onde a floresta já estava estabelecida. Entre as espécies plantadas, destacam-se pitanga, cedro, espinheira-santa, araçá, cereja e erva-mate, além das espécies-alvo do projeto: araucária e imbuia.

Lenira Ricardo, moradora do PA Maria Silverston e vizinha da Reserva Legal, compartilha sua experiência sobre as atividades: “Foi um trabalho muito bonito e desafiador para quem esteve na execução. No futuro, trará muitos benefícios, pois agora há muitas árvores e espécies que antes não existiam ali. É algo de que nossos netos irão se beneficiar.”

Atividades de reunião com moradores, ações de restauração, placa do projeto e remoção de Pinus spp. Fotos: Edilaine Dick e Marluci Pozzan.

+Floresta

Visa contribuir com a restauração da vegetação nativa na Floresta Ombrófila Mista, no Oeste de Santa Catarina, com o incremento de espécies vegetais ameaçadas de extinção como a araucária, a imbuia e o xaxim, ambas com histórico de intensa exploração no estado.

É financiado pelo Ibama através do Acordo de Cooperação Técnica nº 34/2021 e supervisionado pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF/SC), pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Justiça Federal de Santa Catarina, na forma da ação n° 5001458-53.2017.4.04.7200/SC.

> Conheça o projeto

 

Autora: Marluci Pozzan.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Edilaine Dick.

Campos de Altitude: biodiversidade e clima em perigo

Campos de Altitude: biodiversidade e clima em perigo

Campos de Altitude: biodiversidade e clima em perigo

Por vezes, os Campos de Altitude são vistos como monótonos e pobres em biodiversidade quando comparados às florestas. No entanto, diversos estudos demonstram que esses ecossistemas possuem uma rica biodiversidade e desempenham um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas.

 

A biodiversidade dos Campos de Altitude

A biodiversidade dos campos ainda é pouco conhecida. Pesquisas conduzidas pelo botânico João Iganci e seus orientandos na Serra Geral, no sul do Brasil, revelaram uma biodiversidade surpreendente. Foram identificadas aproximadamente 300 espécies exclusivas da região, sendo 25% delas endêmicas, uma taxa de endemismo superior à da Mata Atlântica na mesma localidade.

A vegetação campestre da Serra Geral é considerada a mais rica em angiospermas endêmicas do sul do Brasil. Cerca de 296 espécies endêmicas foram registradas, tornando essa formação vegetal uma prioridade para estudos de conservação. Dentro das áreas protegidas da região, encontram-se parques nacionais e estaduais, reservas biológicas, florestas nacionais, estações ecológicas e áreas de interesse ecológico.

Dentre os 116 táxons endêmicos registrados nos Campos de Altitude da Serra Geral, 41% foram identificados dentro de Unidades de Conservação, enquanto 59% foram encontrados apenas fora dessas áreas protegidas, reforçando a necessidade de estratégias eficazes para sua preservação. O Parque Nacional de São Joaquim se destaca como a área protegida com o maior número de espécies endêmicas (35 táxons), o que evidencia sua importância na conservação da flora campestre. Outras áreas com alta diversidade incluem a região de Urubici (SC), Curitiba (PR) e o nordeste do Rio Grande do Sul.

Embora ainda não haja um levantamento abrangente das espécies de Funga nos Campos de Altitude, apenas no Parque Nacional de São Joaquim já foram registradas 160 espécies, algumas das quais estão ameaçadas de extinção.

Hippeastrum santacatarina espécie endêmica dos Campos de Cima da Serra

Algumas das espécies endêmicas dos Campos de Cima da Serra: Hippeastrum santacatarina, Lupinus rubriflorus, Adesmia reitziana, Buddleja cestriflora e Senecio conyzifolius. Fotos: Cassio Rabuske da Silva (CC BY-NC-SA 4.0 via Flora UFSC), Martin Grings (CC BY-NC-SA 4.0 via Flora UFSC), Guilherme Peres Coelho e Wigold Schäffer.

Sumidouros naturais para a mitigação das mudanças climáticas

Além de sua rica biodiversidade, os Campos de Altitude fornecem serviços ecossistêmicos essenciais, como a estabilização do solo, a manutenção das propriedades hidrológicas e, especialmente, a estocagem de carbono. Como sumidouros naturais, esses ecossistemas absorvem grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera, contribuindo diretamente para o equilíbrio climático global.

O estoque de carbono refere-se à quantidade de carbono armazenada em diferentes reservatórios naturais da Terra, incluindo vegetação, solos, oceanos e a atmosfera. Nos Campos de Altitude, esse armazenamento ocorre predominantemente nos solos ricos em matéria orgânica, que acumulam carbono por longos períodos de tempo. 

Pesquisas conduzidas nos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul, demonstram que esses solos possuem estoques de carbono substancialmente maiores do que os estimados em inventários anteriores. Os estoques dessa região são 70% maiores do que os valores de referência globais do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e até 120% superiores às estimativas em mapas nacionais de SOC (Carbono Orgânico do Solo). Essa capacidade de retenção de carbono reforça a importância da conservação desses ecossistemas para o combate às mudanças climáticas.

As projeções futuras indicam que os Campos de Altitude estão sob grave risco de redução devido às mudanças climáticas. Estudos preveem perdas superiores a 95% das áreas climaticamente e topograficamente adequadas até 2050, comprometendo a capacidade desses ecossistemas de atuarem como sumidouros de carbono.

 

Projeto de Lei ameaça a biodiversidade e agrava a crise climática

O Projeto de Lei (PL) 364/2019 ameaça os Campos de Altitude e os demais campos nativos do Brasil. Caso aprovado, o PL pode representar um grande retrocesso na conservação desse ecossistema sensível, expõe campos nativos em todos os biomas brasileiros à conversão para expansão agrícola, especulação imobiliária e atividades que comprometem a biodiversidade local. 

Além da evidente ameaça representada pelo PL 364/2019, iniciativas na direção de acelerar a eliminação dos Campos de Altitude já foram implementadas em Estados como Santa Catarina que, a despeito da flagrante inconstitucionalidade, modificam suas legislações ambientais. Em 2022, o Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina restringiu a proteção dos Campos de Altitude apenas às áreas acima de 1500 metros de altitude, além de alterar os parâmetros para identificação de vegetação primária e secundária com seus distintos estágios sucessionais, em claro conflito com os parâmetros definidos pelo CONAMA. Com isso, a área protegida foi reduzida para apenas 3,8% da cobertura original definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, dessa porção ínfima que restou, ainda flexibilizou regras para favorecer a supressão da vegetação campestre.

A perda desses habitats pode resultar na extinção dessas espécies endêmicas ainda pouca estudadas e que dependem dessas áreas para sua sobrevivência, além de comprometer serviços ecossistêmicos fundamentais.

 

Campanha em prol dos Campos

Essa matéria é fruto da campanha “Proteja os Campos de Altitude”, uma das iniciativas do projeto “Cuidando da Mata Atlântica: Articulação Região Sul da RMA”, executado numa articulação entre a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e Instituto Mira Serra, com o apoio financeiro da Fundação dinamarquesa Hempel por meio da Fundação SOS Mata Atlântica.

> Conheça a campanha 

 

Referências:

Gorsani, R. G. (2023). ‘Campo de altitude’: climate changes in time and space.  

Iganci, J. R., Heiden, G., Miotto, S. T. S., & Pennington, R. T. (2011). Campos de Cima da Serra: the Brazilian Subtropical Highland Grasslands show an unexpected level of plant endemism. Botanical Journal of the Linnean Society, 167(4), 378-393.  

Külkamp, J., Heiden, G., & Iganci, J. R. V. (2018). Endemic plants from the southern Brazilian Highland grasslands. Rodriguésia, 69(2), 429-440.  

Pla, C., Külkamp, J., Heiden, G., Lughadha, E. N., & Iganci, J. R. (2020). The importance of the Brazilian Subtropical Highland Grasslands evidenced by a taxonomically verified endemic species list.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Margarida-melada: espécie endêmica dos Campos de Altitude

Margarida-melada: espécie endêmica dos Campos de Altitude

Margarida-melada: espécie endêmica dos Campos de Altitude

O gênero Senecio pertence à família Asteraceae e é um dos mais diversos dentro do grupo, com aproximadamente 1000 espécies distribuídas principalmente em regiões montanhosas ao redor do mundo. Na América do Sul, a diversidade do gênero é particularmente elevada, com cerca de 500 espécies, dessas cerca de 60 ocorrem no Brasil. Essas espécies se desenvolvem predominantemente em ambientes úmidos, como os Campos de Altitude das regiões Sul e Sudeste do país.

Apesar de sua riqueza e diversidade, o conhecimento sobre a diversidade de Senecio spp. no Brasil ainda é incipiente, com alguns levantamentos botânicos realizados em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

 

Senecio conyzifolius

Dentre as espécies do gênero Senecio, destaca-se Senecio conyzifolius, conhecida popularmente como arnica ou margarida-melada. Trata-se de uma erva perene que pode atingir cerca de 60 cm de altura, caracterizando-se pela presença de longos pelos roxos que secretam uma substância pegajosa ao longo do caule e das inflorescências. As flores são amarelas, e a espécie floresce entre agosto e outubro.

A distribuição da espécie ocorre principalmente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo comum nos Campos de Cima da Serra e nas regiões das Missões, Planalto Médio e Encosta Superior do Nordeste, sendo endêmica desses locais. Pode ser observada com frequência em campos abertos e ao longo das estradas.

 

Importância ecológica e medicinal

A polinização da espécie ocorre principalmente por borboletas e abelhas, destacando sua importância ecológica na manutenção das interações entre insetos polinizadores e a flora dos Campos de Altitude.

Além de seu papel ecológico, essa espécie é amplamente utilizada na medicina popular. Suas flores e folhas são empregadas na forma de alcoolatura para uso externo, sendo um remédio tradicional para tratar machucados e contusões. A planta é chamada pelas comunidades locais de “Arnica”.

Apesar de seu potencial cicatrizante, o uso interno da espécie não é recomendado, pois estudos apontam a presença de substâncias que podem ser tóxicas ao fígado (alcaloides pirrolizidínicos). Dessa forma, seu uso deve ser exclusivamente externo, evitando a aplicação em feridas abertas ou extensas*

*Os dados sobre usos medicinais das espécies nativas são apenas para informação geral, onde os estudos foram feitos com propriedades isoladas em uma quantidade específica. O uso de medicamentos fitoterápicos deve ser seguido de orientações médicas

Detalhe dos ramos de Senecio conyzifolius (margarida-melada)

Registros das flores e ramos de Senecio conyzifolius. Fotos: Carolina Schäffer, Wigold Schäffer e Maurício Mercadadante CC BY-NC-SA 2.0

Projeto de Lei ameaça a espécie 

A margarida-melada, assim como toda a biodiversidade dos Campos de Altitude está ameaçada pelo Projeto de Lei (PL) 364/2019. Caso aprovado, o PL pode representar um grande retrocesso na conservação desse ecossistema sensível, pois expõe campos nativos em todos os biomas brasileiros à conversão para expansão agrícola, especulação imobiliária e atividades que comprometem a biodiversidade local. 

O PL também incentiva o retrocesso a nível estadual em Santa Catarina. Em 2022, o Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina restringiu a proteção dos Campos de Altitude apenas às áreas acima de 1500 metros de altitude. Com isso, a área protegida foi reduzida para apenas 3,8% da cobertura original definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, dessa porção ínfima que restou, ainda flexibilizou regras para favorecer a supressão da vegetação campestre.

A perda desses habitats pode resultar na extinção dessas espécies endêmicas ainda pouco estudadas e que dependem dessas áreas para sua sobrevivência, além de comprometer serviços ecossistêmicos fundamentais.

> Saiba mais 

 

Referências consultadas:

Araújo, F. P., Klein, P. A., Fernandes, M., Renck, M. V. K., & Rolim, R. G. (2022). Se essa rua fosse minha eu mandava semear: plantas ornamentais nativas para manutenção de polinizadores em áreas urbanas nos campos de cima da serra, Rio Grande do Sul, Brasil. Pesquisas, Botânica, (76), 193-217.

Boldrini, I. I., Bordignon, S. A. D. L., Borges, R. A. X., Vieira, M. D. S., Overbeck, G. E., & Lange, O. (2023). Guia de plantas campestres dos Aparados da Serra. Rede Campos Sulinos.

Oliveira, C. C. D., Silva, M. J. D., & Teles, A. M. (2015). Senecio L.(Asteraceae, Senecioneae) no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Hoehnea, 42(4), 703-724.

Silva, C. D. M. D., Bolzan, A. A., & Heinzmann, B. M. (2006). Alcalóides pirrolizidínicos em espécies do gênero Senecio. Química nova, 29, 1047-1053.

Teles, A.M.; Heiden, G.; Freitas, F.S. Senecio in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 

Horto Didático de Plantas Medicinais do HU/CCS da Universidade Federal de Santa Catarina.

 

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer e Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Carolina Schäffer.

Restauração estratégica: áreas prioritárias para biodiversidade e carbono no Brasil

Restauração estratégica: áreas prioritárias para biodiversidade e carbono no Brasil

Restauração estratégica: áreas prioritárias para biodiversidade e carbono no Brasil

O Brasil tem a meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030 segundo o Plano Nacional de Vegetação Nativa (PLANAVEG). Em paralelo, o Marco Global da Biodiversidade propõe a recuperação de 30% das áreas degradadas passíveis de restauração no mesmo período.

Um estudo recente do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS) apresenta uma abordagem pioneira para planejar a restauração ecológica em todo o território nacional, utilizando critérios que maximizam ganhos em biodiversidade, conectividade funcional e estocagem de carbono. 

Pesquisadores utilizaram uma abordagem de Planejamento Sistemático da Conservação (SCP) para identificar as áreas prioritárias para restauração em todos os seis biomas brasileiros: Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal. O estudo considerou dois principais critérios: o ganho potencial de habitat para as espécies de fauna e flora e o aumento da conectividade funcional para espécies de médio e grande porte.

 

Impactos positivos da priorização
  • As áreas de alta prioridade para ganho de habitat estão localizadas, principalmente, nos limites entre os biomas;
  • As áreas prioritárias para a conectividade estão distribuídas dentro dos biomas, exceto na Amazônia, onde se concentram na sua porção sudeste;
  • Regiões críticas incluem o arco do desmatamento na Amazônia, o Cerrado central, os limites da Caatinga, Pampa e Pantanal, e as áreas costeiras da Mata Atlântica.

Se a meta de restauração de 30% for atingida, os impactos positivos incluirão:

  • Um aumento de 40% na disponibilidade de habitat para 11.048 espécies, das quais 6% são ameaçadas e 23% são endêmicas;
  • Uma melhoria de 60% na conectividade funcional das paisagens restauradas;
  • Um potencial de sequestro de carbono de até 9,8 milhões de toneladas de carbono.

Os resultados do estudo oferecem subsídios para a implementação de políticas e projetos de restauração ao identificar áreas estratégicas, contribuindo para a alocação eficiente de recursos e a criação de incentivos para a restauração ecológica, promovendo a conservação da biodiversidade e o enfrentamento da crise climática.

> Confira a publicação

 

As 30% principais áreas prioritárias para restauração maximizando os ganhos de habitat e conectividade por bioma. Crédito: “Addressing the urgent climate and biodiversity crisis through strategic ecosystem restoration in Brazil”

As 30% principais áreas prioritárias para restauração maximizando os ganhos de habitat e conectividade por bioma. Crédito: “Addressing the urgent climate and biodiversity crisis through strategic ecosystem restoration in Brazil”

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

A história de formação dos Campos de Altitude

A história de formação dos Campos de Altitude

A história de formação dos Campos de Altitude

Os Campos de Altitude são uma das fitofisionomias mais singulares e antigas da Mata Atlântica, ocupando regiões elevadas das cadeias montanhosas da Serra Geral, da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira. Essas paisagens naturais são testemunhas de uma história geológica e climática complexa, que moldou sua biodiversidade ao longo de milhões de anos.

 

História geológica dos Campos de Altitude

A origem dos Campos de Altitude está intimamente ligada à história geológica. A região onde eles se encontram repousa sobre um escudo cristalino Pré-cambriano, que sofreu intensos eventos orogênicos até o Ordoviciano. Durante o Jurássico, derramamentos basálticos cobriram a área, mas foi no final do Cretáceo, com o rompimento do supercontinente Gondwana e a formação do Oceano Atlântico, que as Serras do Mar e da Mantiqueira começaram a se elevar. Esse soerguimento continuou durante o Paleoceno e o Mioceno, moldando o relevo acidentado que hoje caracteriza a região.

Os Campos de Altitude, típicos dos pontos mais elevados dessas serras, são formados sobre rochas ígneas ou metamórficas expostas por processos erosivos que ocorreram ao longo das eras geológicas. Durante o Pleistoceno, ciclos de glaciação alternaram climas úmidos e semiáridos, influenciando a distribuição da vegetação. Nos períodos glaciais, o clima tornou-se mais frio e seco, com a formação de calotas de gelo e a redução do nível do mar. Nas serras do sudeste brasileiro, esses eventos levaram à expansão dos campos e à retração das florestas, que se limitaram a vales úmidos.

Com o fim da última glaciação, há cerca de 15 mil anos, o clima começou a se aquecer. No entanto, a umidade só retornou significativamente há aproximadamente 5 mil anos, permitindo a expansão das Florestas Ombrófilas Mistas. Os Campos de Altitude, no entanto, permaneceram como relictos da vegetação mais antiga que predominava durante os períodos glaciais, sobrevivendo apenas nos topos das montanhas, onde as condições climáticas ainda determinavam estações frias e secas mais prolongadas.

 

A paleobotânica e a biodiversidade conta a história dos Campos de Altitude

A reconstrução da história dos Campos de Altitude é possível graças a técnicas como a palinologia (estudo de pólens e esporos) e a análise de carvão vegetal, que permitem aos pesquisadores entender as mudanças na vegetação e no clima ao longo do tempo. Um estudo realizado em uma turfeira na Serra dos Campos Gerais, no Paraná, revelou detalhes sobre a evolução desses ecossistemas.

Durante o período glacial tardio, há cerca de 12.500 anos, predominavam campos diversificados com manchas esparsas de Florestas com Araucárias. O clima era 3 a 5°C mais frio e seco do que o atual, e os incêndios eram raros. No início e no meio do Holoceno (até 2.850 anos atrás), os campos continuaram dominantes nas áreas altas, enquanto as florestas tropicais se expandiam nos vales, favorecidas por um clima mais quente e úmido. A expansão das florestas de araucária para as áreas altas só ocorreu no final do Holoceno, há cerca de 1.500 anos, quando o clima tornou-se mais úmido e com estações secas menos intensas.

A biodiversidade dos Campos de Altitude também conta sua própria história. Uma pesquisa evolutiva demonstrou como a estabilidade dessa fitofisionomia gera uma diversidade maior. Foi mapeado a distribuição de espécies endêmicas de gêneros como Petunia, Calibrachoa e Adesmia. Essas espécies, altamente adaptadas às condições específicas dos campos, revelam padrões de diversidade que refletem a estabilidade climática das áreas mais altas. Durante o Último Máximo Glacial, o clima frio e seco permitiu que espécies campestres avançassem sobre áreas antes ocupadas por florestas, diversificando-se e originando novas linhagens.

 

Projeto de Lei ameaça o futuro do ecossistema

O Projeto de Lei (PL) 364/2019 ameaça os Campos de Altitude e todas as demais formações não florestais nativas do Brasil. Caso aprovado, o PL pode representar um grande retrocesso na conservação desse ecossistema sensível, expondo campos nativos e demais formações vegetais herbáceas e arbustivas, em todos os biomas brasileiros, à conversão para expansão agrícola, especulação imobiliária dentre outras atividades que comprometem a biodiversidade local, a estabilidade hídrica e intensificam a emergência climática que já administramos.

Além da evidente ameaça representada pelo PL 364/2019, iniciativas na direção de acelerar a eliminação dos Campos de Altitude já foram implementadas em Estados como Santa Catarina que, a despeito da flagrante inconstitucionalidade, modificam suas legislações ambientais. Em 2022, o Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina restringiu a proteção dos Campos de Altitude apenas às áreas acima de 1500 metros de altitude, além de alterar os parâmetros para identificação de vegetação primária e secundária com seus distintos estágios sucessionais, em claro conflito com os parâmetros definidos pelo CONAMA. Com isso, a área protegida foi reduzida para apenas 3,8% da cobertura original definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, dessa porção ínfima que restou, ainda flexibilizou regras para favorecer a supressão da vegetação campestre.

A perda desses habitats pode resultar na extinção de espécies endêmicas que dependem dessas áreas para sua sobrevivência, além de comprometer serviços ecossistêmicos fundamentais, como a regulação hídrica e o armazenamento de carbono.

 

Campanha em prol dos Campos

Essa matéria é fruto da campanha “Proteja os Campos de Altitude”, uma das iniciativas do projeto “Cuidando da Mata Atlântica: Articulação Região Sul da RMA”, executado numa articulação entre a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e Instituto Mira Serra, com o apoio financeiro da Fundação dinamarquesa Hempel por meio da Fundação SOS Mata Atlântica.

> Conheça 

 

Referências:

Behling, H. (1997). Late Quaternary vegetation, climate and fire history of the Araucaria forest and campos region from Serra Campos Gerais, Paraná State (South Brazil). Review of palaeobotany and palynology, 97(1-2), 109-121.

Behling, H. (1998). Late Quaternary vegetational and climatic changes in Brazil. Review of palaeobotany and palynology, 99(2), 143-156.

Barros, M. J., Silva-Arias, G. A., Fregonezi, J. N., Turchetto-Zolet, A. C., Iganci, J. R., Diniz-Filho, J. A. F., & Freitas, L. B. (2015). Environmental drivers of diversity in Subtropical Highland Grasslands. Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics, 17(5), 360-368.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: João de Deus Medeiros.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Pin It on Pinterest