Em julho, a Apremavi recebeu a visita de Thibault Vermeulen, estudante da Universidade de Yale que trabalha com o Diálogo Florestal Internacional (The Forests Dialogue – TFD) e esta no Brasil, entre junho e agosto, para fazer um estágio. O foco do trabalho será o Diálogo do Uso do Solo (Land Use Dialogue – LUD), além de uma pesquisa relacionada aos impactos do Diálogo Florestal nos territórios onde aconteceram as edições da iniciativa.
Na Apremavi, Thibault realizou entrevistas com atores do LUD Alto Vale, teve contato com as ações do Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina e acompanhou os trabalhos do Viveiro Jardim das Florestas, em Atalanta (SC).

Após fazer a trilha da restauração, o estudante falou que foi uma experiência incrível. Também disse que bebeu água da nascente e que talvez tenha sido a melhor água que bebeu na vida. “Escolhi vir ao Brasil para meu estágio com o Diálogo Florestal para entender melhor como as práticas de uso do solo se cruzam com as realidades sociais locais. A semana que passei em Atalanta me ajudou a aprofundar minha compreensão dessas questões. Uma coisa que admiro muito na Apremavi é a dedicação dos funcionários em tomar o tempo para conhecer e engajar com os atores locais. Isso ajuda a construir legitimidade e implementar projetos que podem gerar mudanças.”

Registros dos diálogos já realizados por Thibault no Alto Vale. Fotos: Miriam Prochnow, Arquivo Apremavi. 

O pesquisador destacou o trabalho da Apremavi para a promoção de mudanças sistêmicas: “Fiquei impressionado com a disposição da organização em se envolver em várias questões, incluindo políticas públicas, bem como educação e engajamento dos jovens. A Apremavi entende a importância do diálogo e da construção de parcerias com empresas privadas, mas segue com as raízes ativistas de sua fundação, dando prioridade à justiça social. A nível pessoal, também desenvolvi excelentes relações com o pessoal com quem trabalhei no viveiro, bem como com as partes interessadas locais que tive a oportunidade de entrevistar.”

Numa avaliação geral sobre o LUD Alto Vale, os entrevistados têm uma visão positiva da iniciativa, que oportunizou um olhar integrado do território e de parcerias que foram fortalecidas, além de novas que surgiram. Também fortaleceu parcerias bilaterais, com o surgimento de novos projetos. Como exemplos de projetos que utilizaram as informações e articulações do LUD AVI há o Restaura Alto Vale, executado pela Apremavi, e o projeto de criação de RPPNs, executado pela Associação Ambientalista Pimentão. Todos os atores acham que uma nova fase do LUD é necessária e que temos um LUD latente.

As impressões iniciais,compiladas por Thibault, resultantes das entrevistas são:

Participação de lideranças locais

・O LUD permite o envolvimento de lideranças locais. Quanto mais as lideranças confiam no processo de diálogo, mais participação haverá e, consequentemente, a mudanças de políticas e práticas;
・Ensino Eurocêntrico e problema geracional e cultural;
・As práticas de uso do solo continuam sendo o resultado do legado da educação e transmissão de práticas eurocêntricas;
・Possibilidade de promoção de um bloqueio cultural, o produtor considera que suas práticas são as melhores porque eram aquelas dos seus antepassados.

Educação ambiental

・Para enfrentar esse problema cultural, a educação ambiental é primordial. Podem ser aplicadas atividades como palestras para crianças e capacitação técnica para agricultores.

Engajamento dos jovens

・Necessidade de envolver mais jovens no processo do diálogo;
・Pode ajudar também a resolver o problema geracional, ajudar e tratar o problema do uso do solo de uma maneira mais interseccional (pensando nos aspectos sociais e ambientais de forma integrada).

Articulação após as etapas de diálogo

・Foi interessante observar que representantes de setores bem-organizados (governo, ONG) acharam que a articulação/engajamento após o Diálogo foi um sucesso;
・Representantes de setores menos organizados (agricultores) avaliam que o processo de engajamento parou depois do encontro.

Mensuração de resultados
・Muitos participantes destacaram a dificuldade de mensurar os resultados da iniciativa;
・O LUD é visto como um processo de longo prazo que permite criar relações de confiança.

Anseios por novas edições
・Anseios de realizar um outro LUD e de continuar o processo de articulação;
・Uma fração dos participantes avaliou que seria melhor fazer um LUD em escala local (municípios, por exemplo) para falar de desafios mais específicos.

Registros da fase de campo do LUD Alto Vale. Fotos: Arquivo Apremavi.

O Diálogo do Uso do Solo (LUD)

O Diálogo do Uso do Solo é uma plataforma de participação de múltiplas partes interessadas, com o propósito de reunir conhecimento e liderar processos que influenciam negócios responsáveis, melhorem a governança de territórios e promovam o desenvolvimento inclusivo em paisagens relevantes. O Diálogo do Uso do Solo já contou com várias edições ao redor do mundo, como em Gana, Uganda, República Democrática do Congo e Tanzânia.

Foi realizado pela primeira vez entre 2016 e 2017, no Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Em 2019, foi iniciado na Amazônia, na cidade de Belém com foco no Centro de Endemismo Belém (CEB), em 2020 na Bahia e em 2021 em São Paulo. Atualmente, novas iniciativas estão em fase de articulação nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Espírito Santo.

+ Acesse o Guia sobre o LUD

A edição do Alto Vale  promoveu a discussão de cenários sustentáveis no longo prazo para a Mata Atlântica, levando em conta a paisagem e as diferentes formas de uso do solo. O conhecimento existente no território e envolvimento os diversos setores da sociedade para discutir cenários que permitam uma melhor governança e o desenvolvimento inclusivo em paisagens em risco de destruição foram pilares para as discussões.

Conheça alguns dos participantes e atividades do LUD Alto Vale:

Autores: Miriam Prochnow e Vitor L. Zanelatto.
Revisão: Carolina Schäffer​ e Thamara Almeida.

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