30/04/2009 | Notícias
Aconteceu no dia 28 de abril de 2009, o primeiro seminário do Programa Matas Legais no estado do Paraná. O seminário foi destinado aos produtores rurais integrados ao programa. O evento aconteceu no município de São Jerônimo da Serra (PR), e contou com 90 participantes, dos quais 84 são agricultores do Assentamento Paulo Freire e Dom Helder.
No período da manhã as palestras foram realizadas no Clube Serrano. Leandro Casanova, Coordenador Geral do Programa Matas Legais da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), palestrou sobre Legislação Ambiental, dando destaque às Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL).
Em seguida, Paulo Vicente Ângelo, extensionista florestal da Klabin, realizou sua palestra abordando a importância da parceria existente entre Apremavi e Klabin para a adequação das propriedades à legislação ambiental e para a transformação das propriedades num local agradável, em harmonia com a natureza. O palestrante também destacou a grande presença das mulheres no evento, mostrando que elas estão ocupando seus lugares no gerenciamento das propriedades.
Os dois palestrantes comentaram sobre o projeto de isolamento das APPs do assentamento Paulo Freire, que está sendo executado através da parceria criada entre o Programa Matas Legais, o INCRA e os Assentados. O projeto prevê a construção de cercas em todas as APPs do assentamento, isolando-as dos animais domésticos, bem como a recuperação das APPs degradadas com o plantio de mudas de árvores nativas. Leandro Casanova destacou a importância do projeto para a criação de corredores ecológicos que irão conectar importantes fragmentos florestais existentes na região e para a manutenção da biodiversidade local.
A tarde aconteceu uma visita à campo, na propriedade de Lauro Skiba, com o tema Recuperação de Nascentes Degradadas e Agroecologia Rumo à Propriedade Legal. Os técnicos do programa Matas Legais (PR), Emílio André Ribas e Evilásio Putkkamer Junior, fizeram demonstrações práticas de recuperação de nascentes degradadas e cultivo agrícola, utilizando pó da rocha de basalto em substituição à adubação química e inseticidas sintéticos.
Lauro Skiba iniciou a recuperação de uma nascente degradada há oito meses. Construiu uma cerca para isolar animais domésticos e o plantio de 1.800 mudas de árvores nativas, da nascente. Os participantes do seminário puderam acompanhar o desenvolvimento das árvores plantadas numa área tomada pelo capim braquiária (de extrema agressividade) e verificaram a importância dos tratos culturais para o desenvolvimento destas plantas. A demonstração sobre agroecologia foi feita com base num experimento realizado na propriedade, utilizando o pó de rocha basalto como adubação para o milho. O destaque para esta apresentação foi a minimização dos custos de produção com boa produtividade da lavoura, o que viabiliza economicamente a conversão da agricultura convencional para a agroecologia.
O agricultor ficou muito contente em ceder sua propriedade para as atividades do seminário. Segundo Lauro Skiba, a presença de agricultores de outro assentamento é importante para criarmos intercâmbios de conhecimentos, e o programa Matas Legais assume papel fundamental nesse processo.
O coordenador do Programa Matas Legais no Paraná, Evilásio Puttkamer Junior, avalia o evento de maneira positiva: nos assentamentos estamos em contato com pessoas humildes e estas pessoas nos surpreendem ao demonstrarem grande interesse em preservar e recuperar as florestas nativas, diferentes da maioria dos grandes proprietários que demonstram maior resistência na preservação ambiental. Tenho certeza que os participantes do seminário retornaram às suas propriedades ainda mais conscientes de sua importância como grandes parceiros na preservação do meio ambiente.
O Programa Matas Legais é uma parceria da Apremavi e da Klabin S/A. No estado do Paraná o projeto encontra-se no 2º ano de atividades, e no estado de Santa Catarina em seu 4º ano. O programa tem o objetivo de desenvolver um programa de conservação, educação ambiental e fomento florestal que ajude a preservar e recuperar os remanescentes florestais nativos, melhore a qualidade de vida da população e minimize impactos da produção florestal, levando em consideração o planejamento de propriedades e paisagens.
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24/04/2009 | Notícias
Nos dias 17, 18 e 19 de abril aconteceu em Atalanta (SC) a I Festa Ecológica. O evento foi organizado pela Prefeitura Municipal de Atalanta e aconteceu no Parque de Exposições Vergílio Scheller. A festa foi denominada de Ecofest por Atalanta ser considerada Capital Ecológica do Estado de Santa Catarina e também conhecida regionalmente como Cidade Jardim da Mata Atlântica.
Um dos grandes motivos de Atalanta obter estes títulos, se deve ao trabalho de preservação e recuperação da natureza que a Apremavi desenvolve no município. Grande parte dos trabalhos da instituição tiveram início em Atalanta, como o projeto Enriquecimento Ecológico de Florestas Secundárias da Mata atlântica apoiado pelo Ministério do Meio Ambiente e o Projeto Planejando Propriedades e Paisagens, apoiado pela Fundação O Boticário, entre vários outros.
Durante os três dias da festa, a Apremavi pode divulgar e apresentar ao público as principais atividades que desenvolve em prol do meio ambiente e os materiais de educação ambiental que dispõe para a conscientização de toda a população.
Outras organizações também puderam expor seus trabalhos, como a Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia, estabelecimentos comerciais que fazem parte do CDL de Atalanta, Secretaria da Agricultura, Projeto Microbacias, Associação de Produtores Agroecológicos Semente do Futuro, entre outras.
A Apremavi também auxiliou na organização do ciclo de palestras que aconteceu no auditório do Parque Natural Municipal da Mata Atlântica. O Seminário contou com a participação de mais de 120 pessoas, vindas de todo o estado.
A primeira palestra, com o tema Legislação Ambiental, foi proferida pelo promotor de justiça Jadson J. Teixeira. O promotor explicou sobre a legislação ambiental e as penalidades que poderão ser impostas aos agricultores que não regularizarem as suas propriedades em relação a Reserva Legal e também para quem descumprir a legislação federal, referindo-se à inconstitucionalidade de artigos do código ambiental catarinense, recém aprovado na Assembléia. O Promotor mencionou ainda que gostaria que todas as pessoas preservassem o meio ambiente de forma voluntária.
Posteriormente, foi a vez de Wigold B. Schäffer, Coordenador dos Núcleos da Mata Atlântica e Pampa do Ministério do Meio Ambiente, falar sobre Parcerias possíveis com o Ministério do Meio Ambiente. Wigold falou sobre a legislação ambiental em vigor, destacando que mais de 80% das propriedades rurais de Atalanta estão de acordo com a legislação. Algumas propriedades precisam de pequenos ajustes que não comprometem a produtividade do agricultor. Wigold mostrou imagens recentes de satélite do município de Atalanta que mostram que a maioria dos agricultores tem área de floresta suficiente em suas propriedades, basta apenas que o agricultor faça a averbação. A realidade é parecida no Alto Vale do Itajaí, salvo a questão da rizicultura na região. O problema maior ainda é em relação às Áreas de Preservação Permanente (APPs), cuja recuperação é necessária, tanto em Atalanta, quanto no estado de Santa Catarina.
Lauro Bacca, Presidente da Associação dos Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) falou sobre a Utilização Sustentável das Florestas informando questões relativas às RPPNs no Brasil e em Santa Catarina.
Por fim, Agostinho Senem, secretário executivo da Amavi, falou sobre a Proposta da Amavi para a Averbação das Reservas Legais nos Municípios do Alto Vale do Itajaí. Agostinho comentou que a Amavi está firmando uma parceria com o Ministério do Meio Ambiente para isentar os agricultores dos custos de elaboração dos mapas.
Paralelo ao seminário aconteceu a Assembleia Geral Ordinária da RPPN Catarinense. Posteriormente, o presidente da Apremavi Edegold Schäffer e o fundador da instituição Wigold B. Schäffer, conduziram os participantes da assembleia a uma visita a RPPN Serra do Pitoco, localizada na comunidade de Alto Dona Luiza no município de Atalanta.
As fotos abaixo mostram atividades do evento e também algumas imagens da palestra proferida por Wigold B. Schaffer, mostrando a realidade do município de Atalanta, com relação às APPs e a Reserva Legal.
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22/04/2009 | Notícias
Para homenager o dia da Terra, a Apremavi inaugura esta nova seção: "Amigo da Natureza". Serão contadas histórias de pessoas que fizeram e fazem sua parte em prol do nosso Planeta. Histórias que inspiram novas ações em prol do bem comum. Histórias que precisam ser divulgadas. Histórias que são verdadeiros exemplos de vida.
Você pode sugerir nomes de pessoas e histórias para esta seção. Entre em contato pelo email: info@apremavi.org.br e faça sua contribuição.
O primeiro Amigo da Natureza da seção é Daniel Pedro Schaffer.
Daniel Pedro Schaffer
Ao longo da vida eu fiz muitos amigos e sempre consegui o respeito e a ajuda destes amigos. Respeitar as pessoas, manter amizade com todos, negros, brancos, pobres, ricos, crianças ou idosos, é a melhor coisa da vida…
Daniel Pedro Schäffer nasceu no dia 24 de março de 1933 na localidade de Rio Caeté, atual município de Alfredo Wagner (SC), aos pés do Campo dos Padres, uma região de grande diversidade ambiental. Era o caçula entre 8 filhos de Pedro e Carolina Schäffer.
Ao repórter Caco Barcellos, em 1999, o Seu Daniel, como era popularmente conhecido, resumiu o que pensava em relação à natureza: Eu não me considero dono de terra, apenas aluguei um pedaço de 25 hectares. O meu contrato de aluguel é de 90 anos e estou procurando fazer tudo o que posso para entregá-lo tão bem, ou melhor, do que o encontrei, para os filhos, netos e as gerações futuras… Se eu ajudei a cortar 1.000 árvores, quero deixar plantadas pelo menos outras 1.000, para quem vier depois de mim.
Ainda pequeno, com apenas 6 anos de idade, seus pais se mudaram para o Distrito de Serra Pitoco, atual município de Atalanta(SC). Corria o ano de 1938 e o mundo começava a se envolver na segunda grande guerra. A guerra dos agricultores de Santa Catarina era outra, não menos cruel, contra a Mata Atlântica e os índios, seus primitivos habitantes, considerados obstáculos ao desenvolvimento. Daniel já fazia parte da quarta geração de família de alemães que haviam aportado no Brasil em 1858 e se estabelecido no atual município de Rancho Queimado(SC). A mudança para Serra Pitoco representava a busca de um novo eldorado ou nova terra prometida, a terceira, visto que as terras em Rancho Queimado e Alfredo Wagner, depois de desmatadas e queimadas diversas vezes, já não produziam o bastante para sustentar toda a família.
A viagem de aproximadamente 100 km de Alfredo Wagner a Serra Pitoco, em meio à mata virgem, foi feita num carretão puxado por 4 cavalos e durou 8 dias, visto que as estradas de terra eram precárias e em alguns trechos inexistentes.
Daniel contou essa história muitas vezes; ao chegar aqui na Serra Pitoco o que encontramos foram as florestas densas, repletas de madeiras nobres e que pareciam inesgotáveis. Aqui, a primeira atitude de meus pais e irmãos mais velhos foi iniciar a derrubada da floresta para dar espaço para agricultura e pastagem… Hoje eu lamento porque as florestas foram derrubadas e em seguida impiedosamente queimadas, transformadas em cinzas, até mesmo as madeiras mais nobres como cedro, canela, peroba, ipê e muitas outras eram queimadas ou jogadas nos grotões e riachos… Nascente d´água e margem de rio ninguém respeitava, eram os primeiros lugares a serem derrubados para fazer pasto para o gado…Muitas vezes as pessoas derrubavam as grandes árvores no topo dos morros só para ver o tombo e ouvir o barulho da queda…nada era aproveitado da madeira…ninguém sabia quais podiam ser as consequências, ninguém tinha qualquer preocupação .. a natureza parecia inesgotável e a ordem era desmatar…derrubar tudo…chegávamos a derrubar imensos pés de ingá-macaco ou cortiça (araticum) apenas para comer os frutos…ninguém lembrava que seria a última vez… que no próximo ano não haveria mais pés de ingá e nem frutos….
Em média cada colono, como são ainda hoje conhecidos os pequenos produtores rurais de Atalanta e região, tinha uma gleba com 25 hectares de terra. Todos os anos faziam novas roças, popularmente chamadas de coivara, desmatando e queimando 1 ou 2 hectares, os quais eram utilizados para o plantio do milho, feijão, abóbora, batatas e outras culturas utilizadas para consumo das pessoas e dos animais. Na época da colonização da região quase não havia comércio, era necessário produzir primeiro para sobreviver e depois para trocas de mercadorias ou produtos entre vizinhos. Apenas alguns produtos não perecíveis como feijão ou charque eram vendidos para atravessadores ou diretamente nas vendas das vilas mais próximas. Essas novas roças podiam ser plantadas por três ou no máximo quatro anos, aí a terra ficava esgotada e já não produzia o bastante, necessitando ser abandonada e ficar em pousio por um período de no mínimo uns 6 a 10 anos, quando voltava o ciclo de cortar e queimar. No segundo ciclo a terra já produzia bem menos do que no primeiro e aos poucos, após sucessivas queimadas, ia esgotando toda a camada fértil
Na vida e no trabalho Daniel assumiu muitos desafios. Aos 16 anos de idade perdeu o pai, cabendo a ele assumir os trabalhos e a administração da casa e do terreno de 25 hectares. Teve três filhos e com a ajuda da sua esposa Anita, mais tarde ajudou também a cuidar dos netos e de muitas outras crianças, que o adoravam, pois ele sempre tinha algo interessante para contar e ensinar. Era determinado, transmitia confiança e obtinha a admiração das pessoas que com ele conviviam. Foi agricultor, marceneiro, carpinteiro, suinocultor e piscicultor. Foi também o barbeiro e fotógrafo da comunidade, ajudou na escola, na igreja, no clube de bolão e na Apremavi. Foi ainda vereador em Atalanta.
Uma das histórias que contava é que já na década de 1950 percebeu que algumas práticas agrícolas não poderiam continuar da forma como vinham sendo realizadas. Observara que algumas propriedades da região, onde o desmatamento já tinha consumido praticamente todas as florestas, começavam a apresentar sinais de diminuição da água nas nascentes e pequenos riachos e perda da fertilidade do solo. Isso fez com que percebesse que o tesouro mais importante de seu imóvel eram algumas nascentes de água as quais precisavam ser preservadas.
Desde logo decidiu que aquela área com aproximadamente 3 hectares, incluindo todo o morro no entorno das nascentes deveria permanecer com a cobertura da floresta primitiva, apesar de estar localizada no meio do terreno, onde estavam também parte das terras mais férteis. A decisão de manter preservadas as nascentes foi importante, pois na década de 1960 ele tornou-se carpinteiro e marceneiro, construindo uma pequena marcenaria cujas máquinas eram movidas com roda d´água. Muitas pessoas da região ainda tem móveis por ele fabricados. A água proveniente das nascentes que ficavam a menos de 200 metros tocava também um pequeno gerador e produziu por muitos anos a energia elétrica para a sua casa, antes da chegada da energia elétrica da rede pública em 1978.
Ainda hoje, mais de 70 anos depois, ali ainda brotam algumas das mais importantes nascentes do rio Dona Luiza, um dos afluentes do rio Itajaí do Sul, da mesma forma como ele e seus pais as encontraram quando chegaram para colonizar a terra, enquanto que outras nascentes da região estão destruídas e chegam a secar em períodos de estiagem.
Frequentou a escola por apenas 3 anos, mas leu muito, viajou e buscou as informações e conhecimentos dos quais precisava. Antes de assumir um novo desafio na vida, procurava ouvir, pesquisar e observar. Era um perfeccionista, queria sempre o melhor resultado, não gostava das coisas mal feitas ou feitas pela metade. Tinha o hábito de se orientar por exemplos bem sucedidos, nem que para isso tivesse que viajar centenas de quilômetros e investir alguns dias. Passava horas conversando com pessoas que sabiam fazer coisas novas ou diferentes.
Mesmo tendo exercido diversas atividades Daniel nunca deixou de ser agropecuarista. Já no final da década de 1960 abandonou de vez a roça de coivara e pousio, pois chegou à conclusão que era uma prática agrícola que empobrecia cada vez mais o solo e em consequência trazia mais dificuldades à sobrevivência dos pequenos produtores. Passou a planejar as atividades agroflorestais observando a paisagem e as características do terreno. Nas áreas com maior declividade implantou reflorestamentos e plantou espécies frutíferas. Nas áreas mais planas manteve as atividades agrícolas mais intensivas, sem esquecer da adubação orgânica, da adubação verde e da cobertura do solo.
Sempre procurou fazer coisas novas, algo diferente que pudesse melhorar a qualidade de vida e a qualidade do meio ambiente. A diversificação das atividades, o cuidado com o solo, a proteção das nascentes, o pioneirismo em reflorestar com espécies de árvores nativas e outras práticas agrícolas inovadoras para a época o levaram a ser premiado por duas vezes como Produtor Modelo pelo Ministério da Agricultura. Já na década de 1990, sempre com espírito inovador, iniciou a primeira criação de trutas da região do Alto Vale do Itajaí, atividade que também só foi possível graças às nascentes preservadas e protegidas muitos anos antes.
O maior legado por ele deixado foram as experiências com conservação e recuperação da Mata Atlântica. Foram dele, as primeiras experiências da região com enriquecimento de florestas secundárias, plantando espécies nativas nobres no meio das capoeiras. Foi ele também o primeiro plantador de palmito-juçara (Euterpe edulis) e um dos primeiros a plantar pinheiro brasileiro (araucaria angustifolia) no município de Atalanta, inclusive, consorciando estas duas espécies constantes da lista de espécies ameaçadas de extinção. Plantou também espécies exóticas como eucalipto e pinus, em pequenos blocos, e os enriqueceu com espécies nativas como o palmito.
Vale aqui mencionar um comentário feito pelo Dr. Paulo Nogueira Neto, um dos maiores especialistas em conservação da biodiversidade e proteção dos ecossistemas naturais do Brasil e do mundo, quando em visita ao local em 2007: Esta aqui é uma das melhores e mais bem sucedidas experiências de Sistema Agroflorestal (SAF) que eu já vi, aqui tem resultados concretos e palpáveis que devem ser difundidos para outras regiões, resultados que mostram que na pequena propriedade bem administrada tem espaço para produzir e preservar ao mesmo tempo. E olha que o Seu Daniel jamais mencionou e talvez nem soubesse o conceito de SAF, fizera tudo intuitivamente e observando os erros e acertos dele e dos outros.
Suas experiências serviram e ainda servem de exemplo e modelo para grande parte dos projetos da Apremavi. Na década de 1980 ao coletar mudinhas na mata para replantar em áreas desmatadas ou para enriquecer capoeiras, percebeu que os resultados não eram os esperados. Muitas mudinhas morriam em função das raízes danificadas e outras, obtidas de áreas sombreadas, não se adaptavam a ambientes com luz do sol. Como não havia viveiros e nem mudas nativas para adquirir na região começou também a coletar sementes e sugeriu que se começasse um viveiro próprio. Surgia assim o Viveiro Jardim das Florestas da Apremavi que atualmente tem capacidade para produzir aproximadamente um milhão de mudas de mais de 120 espécies nativas da Mata Atlântica.
Seu Daniel partiu em 2003 aos 70 anos de idade, deixando como maior legado exemplos que mostram claramente que é possível preservar a natureza e produzir ao mesmo tempo. Sobre a atividade agropecuária sempre dizia que a única forma do pequeno produtor rural se manter na roça e viver bem é através da diversificação de atividades sem deixar de cuidar da preservação do solo, da água, dos animais e das florestas.
Inúmeras são as pessoas do Brasil e do mundo que atualmente passam por lá. Algumas ficam hospedadas na casa da Oma Anita, onde funciona uma modesta hospedaria. Ela sempre se dedicou aos trabalhos na agropecuária e a manter um belo jardim com muitas flores. O jardim, assim como os plantios de araucária, de palmito e as áreas de eucalipto enriquecidas com espécies florestais nativas deixadas pelo Seu Daniel deixam os visitantes admirados e lhes trazem grandes inspirações para aplicar alguns dos exemplos em suas regiões.
As pessoas que lá passam, podem observar que a integração entre Homem e Natureza é possível. Podem também descansar, tomar um delicioso chimarrão e prosear à sombra de uma majestosa figueira plantada há 35 anos pelo Seu Daniel, local onde com sua inseparável cuia de chimarrão, recebia amigos, contava histórias, cativava pessoas e cultivava amizades…
Por tudo isso, o Seu Daniel é para a Apremavi um "Amigo da Natureza".
Fotos: Miriam Prochnow e Wigold Schaffer
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19/04/2009 | Notícias
No dia 18 de abril, foi realizada mais uma Assembleia Geral Ordinária da RPPN Catarinense, desta vez na cidade de Atalanta. Desde setembro de 2008 a associação não realizava uma reunião aberta a todos em virtude das catástrofes que assolaram parte do estado e afetaram diretamente vários associados.
O evento ocorreu durante a I Ecofest de Atalanta onde a RPPN Catarinense marcou presença através do seu presidente, Lauro Bacca, que proferiu palestra sobre "As RPPNs em Santa Catarina" para um auditório lotado de aproximadamente 120 pessoas. Antes dele, também palestraram o Promotor da Comarca de Ituporanga, Jadson Javel Teixeira e o diretor do Núcleo de Mata Atlântica do Ministério do Meio Ambiente, Wigold Schäffer.
Após as palestras, os associados se reuniram para iniciar a assembléia que contou com a presença de três novos proprietários de RPPNs: Irimar José da Silva, da Vale das Pedras (Alfredo Wagner), Elizabeth de Siervi, da Sertão do Pantanal (Florianópolis) e Adriana Ern (Ken), da RPPN TUN (Rancho Queimado), além dos representantes das RPPN Chácara Edith, Morro dos Zimbros, Morro das Aranhas, Leão da Montanha e Bugerkopf.
Além da aprovação dos novos sócios, na assembleia foram apresentados os resultados do Edital do Programa de Incentivo às RPPN da Mata Atlântica e também foram apresentadas as atividades realizadas pela Diretoria no ano de 2008.
Um dos projetos aprovados dentro do edital do programa de RPPNs, foi o da elaboração do Plano de Manejo das RPPNs Chácara Edith e Caetezal. Para dar início a elaboração dos referidos Planos de Manejo dessas RPPNs, acontecerá no dia 02 de maio de 2009, a primeira reunião de planejamento, na RPPN Chácara Edith, em Brusque. Esta é uma grande oportunidade para troca de informações e aprendizado para todos, já que mais cedo ou mais tarde, todas as RPPNs terão que elaborar o seu Plano de Manejo.
No período da tarde, os anfitriões Wigold e Edegold Schäffer levaram todos a um passeio para conhecer a RPPN Serra do Pitoco.
A próxima assembleia da RPPN Catarinense está agendada para o dia 04 de julho em local ainda a confirmar.
Visita à RPPN Serra do Pitoco, em Atalanta (SC). Fotos: Arquivo RPPN Catarinense.
19/04/2009 | Notícias
Imbuia, carinhosamente conhecida como princesa do Alto Vale, é um pequeno município localizado na região do Alto Vale do Itajaí (SC), caracterizado por belezas naturais exuberantes e por pequenas propriedades rurais, que movimentam a economia local. Em dezembro de 2008, o município deu um grande passo em direção à conservação ambiental, com a criação do Parque Natural Municipal Trilha dos Bugres.
A proposta que já vinha sendo discutida desde julho de 2007, entre representantes da prefeitura e da sociedade civil, ganhou forma com os estudos realizados no período de novembro de 2007 a abril de 2008 e com audiência pública realizada no dia 15 de maio de 2008. Tornou-se então realidade através da assinatura do decreto nº 44 de 22 de dezembro de 2008, que foi publicado no dia 18 de março de 2009 na edição nº301 do jornal "A Comarca".
Os estudos para criação do Parque Natural Municipal Trilha dos Bugres, foram coordenados pela ecóloga, Dulciani Terezinha Allein Schilikmann, da Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio e Meio Ambiente de Imbuia e pela bióloga e coordenadora de projetos da Apremavi, Edilaine Dick. Contou com o apoio do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Imbuia, Ministério Público comarca de Ituporanga, Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac) e o Instituto de Pesquisas Ambientais da Furb (IPA).
O Parque Natural Municipal Trilha dos Bugres, que tem uma área aproximada de 90 ha, está localizado em uma importante área de transição entre a Floresta Ombrofila Mista e Floresta Ombrofila Densa, em diferentes estágios de regeneração. Abriga espécies ameaçadas de extinção, como a araucária (Araucaria angustifolia), imbuia (Ocotea porosa), canela-sassafrás (Ocotea odorifera) e o xaxim-bugio (Dickisonia sellowiana). Tem ainda outras espécies nobres como a canjerana (Cabralea canjerana), cedro (Cederela fissilis), peroba (Aspidosperma parvifolium), erva-mate (Ilex paraguariensis), pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii) e açoita-cavalo (Luehea divaricata). Na área também são encontradas diversas espécies de aves, mamíferos, anfíbios e répteis. O parque mantém ainda inúmeras nascentes e riachos que contribuem para a manutenção e disponibilização de recursos hídricos ao município.
Ao mesmo tempo que a área possui atributos com relação a biodiversidade e aspectos hídricos, ela vinha sofrendo pressões com a ocupação de áreas de preservação permanente por plantios agrícolas e florestais com espécies exóticas, caça de animais silvestres e desmatamento para obtenção de lenha para secagem de fumo.
Com esse exemplo de criação de uma Unidade de Conservação, o município de Imbuia, a exemplo do município de Atalanta que criou o Parque Natural Municipal Mata Atlântica, está garantindo a preservação de um importante remanescente florestal, que proporcionará o desenvolvimento de atividades de educação ambiental com a visitação pública e a contemplação da natureza e também servirá como apoio para o desenvolvimento de atividades ligadas ao eco e agroturismo.
São exemplos importantíssimos que devem ser seguidos por outros municípios.
Fotos: Edilaine Dick e Dulciani Schilikmann
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17/04/2009 | Guia de Espécies, Para fauna, Para restauração, Secundárias
Baga-de-macaco, uma fruta prá bicho nenhum botar defeito
A baga-de-macaco, também conhecida popularmente como laranja-de-macaco ou bacupari-miúdo, tem seu nome científico Posoqueira acutifolia com origem indígena. Posoqueria em tupi-guarani quer dizer bebida forte, porque os índios usavam as suas sementes para fazer café.
Ocorre na Mata Atlântica, a partir da Bahia em direção ao Sul do Brasil, mas também tem registros no Pantanal e na Amazônia. É uma árvore pequena de 4 a 8 metros, cuja copa pode ter até 3 metros de diâmetro, com folhas perenes. Normalmente é encontrada em terrenos férteis e úmidos.
Seus frutos, quando maduros, são bagas amarelas recheadas de sementes de cor creme, translúcidas e poliedrais (que tem muitas faces), sem muita polpa. Quando semeadas, normalmente germinam entre 30 a 90 dias e o crescimento da muda é um pouco lento. Como é uma fruta muito apreciada pelos animais, em especial os macacos, é comum encontrar na mata, vestígios de frutos comidos e ao lado deles sementes germinando e já formando novas plantinhas.
O fato da baga-de-macaco ter suas frutas tão apreciadas pelos animais, faz com que essa espécie seja muito importante nos plantios de recuperação e restauração florestal. Atrair a fauna em áreas em recuperação é um fator importante para a dispersão de sementes de outras espécies. A planta também é uma espécie que pode ser utilizada para fins ornamentais.
A Apremavi tem utilizado muito essa espécie nos seus projetos de recuperação ambiental. A coleta dos frutos da baga-de-macaco e a separação de suas sementes costuma ser uma atividade bastante divertida no viveiro Jardim das Florestas.
A baga-de-macaco é também uma planta com potencial medicinal*. Popularmente seus galhos e folhas são utilizadas como antimicrobianas, cicatrizantes e antiinflamatórias. Já foram realizadas pesquisas para testar essas propriedades e os resultados são bastante promissores, indicando que a espécie tem de fato um grande potencial para o desenvolvimento de produtos medicinais.
Baga-de-macaco
Nome cientifico: Posoqueira acutifolia Mart.
Família: Rubiacea.
Utilização: madeira utilizada para lenha e fabricação de cabos de ferramentas e serviços de marcenaria em geral.
Coleta de sementes: diretamente da árvore.
Fruto: amarelo carnoso.
Flor: branca.
Crescimento da muda: lento.
Germinação: demorada.
Plantio: mata ciliar, área aberta, solo degradado.
Época de coleta de sementes: junho a fevereiro.
* Os dados sobre usos medicinais das espécies nativas são apenas para informação geral. O uso de medicamentos fitoterápicos deve ser seguido de orientações médicas.
Fontes consultadas
Frutas Raras. Disponível em: http://frutasraras.sites.uol.com.br/posoqueriaacutifolia.htm. Acesso em 16 de abril de 2009.
PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.
Propriedades Farmacológicas. Disponível em:
http://serv- bib.fcfar.unesp.br/seer/index.php/Cien_Farm/article/viewFile/345/330. Acesso em 16 de abril de 2009.
15/04/2009 | Notícias
Nos dias 17, 18 e 19 de abril de 2009, acontecerá no município de Atalanta (SC), a 1ª Ecofest, a festa ecológica municipal. Organizada pela Prefeitura Municipal, juntamente com diversos apoiadores o evento acontecerá no Parque de Exposições Virgílio Scheller. Estão sendo esperados milhares de visitantes. Atalanta resolveu fazer uma Ecofest, por ser considerada a Capital Ecológica de Santa Catarina.
O público poderá desfrutar de uma programação especial com várias atividades relacionadas ao meio ambiente. No sábado, acontecerá, no auditório do Parque Mata Atlântica, o seguinte ciclo de palestras:
Legislação Ambiental – Jadson J. Teixeira
Proposta da Amavi para a Averbação das Reservas Legais nos Municípios do Alto Vale do Itajaí – Agostinho Senem
Parcerias com o Ministério do Meio Ambiente – Wigold B. Schäffer
Utilização Sustentável de Florestas – Lauro Bacca
Também no sábado, nas salas de apoio do Parque Mata Atlântica, será realizada a Assembléia Geral Ordinária da Associação dos Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN Catarinense).
Além disso, as pessoas que participarem da festa terão a oportunidade de plantar uma árvore nativa no Parque Natural Municipal da Mata Atlântica, localizado ao lado do Parque Virgílio Scheller. Será mais um plantio do Programa Clima Legal da Apremavi. O Clima Legal tem o objetivo de promover a implantação de plantios para seqüestro de carbono ajudando a amenizar os efeitos do aquecimento global tanto no planeta, como em Santa Catarina. É também uma estratégia para a conservação da biodiversidade na Mata Atlântica. Este plantio será o primeiro a ser feito com as doações da festa de Bodas de Prata do casal Miriam Prochnow e Wigold Schäffer.
No local do evento também haverá uma exposição com estandes de várias empresas e organizações, como o CDL de Atalanta, a Epagri, a Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia, a Associação dos produtores agroecológicos Sementes do Futuro, a Associação dos Piscicultores do município de Atalanta, entre outros. A Apremavi também terá um estande durante os três dias de realização da festa, para mostrar as atividades que desenvolve em prol da preservação e recuperação do meio ambiente.
A festa também terá outras atrações como bailes e shows e a oportunidade de se fazer o passeio na trilha ecológica do Parque Mata Atlântica, com destino à cachoeira Perau do Gropp com 41 metros de queda livre.
Maiores informações no fone: (47) 3535 0101
14/04/2009 | Notícias
Em dezembro de 1988, nascia em Santa Catarina a Federação de Entidades Ecologistas Catarinenses (FEEC). Fundada com o objetivo de congregar, estimular e otimizar o trabalho voluntário das ONGs ambientalistas das diferentes regiões do estado, buscando constituir uma referência de integração e organização política dessas entidades.
A FEEC possui diversas entidades filiadas, que durante 20 anos foram parceiras, repassando denúncias de agressão ambiental e informações que permitiram que fossem elaborados e encaminhados moções, informações aos Ministérios Públicos, aos governos, aos legislativos e aos órgãos ambientais e cobrado ações imediatas. Tem atuado em diferentes conselhos e instâncias de gestão e decisão das políticas públicas ambientais, como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), Reserva da Biosfera, Fundo Estadual de Preservação do Meio Ambiente (FEPEMA), entre outros.
Também premiou pessoas físicas ou jurídicas que se destacaram por desenvolver boas práticas ambientais, e também aquelas que se destacaram por desenvolver ações contrárias ao meio ambiente. Desenvolveu cursos de capacitação com as ONGs filiadas e também produziu materiais de educação ambiental que serviu como base para atuação das mesmas.
A primeira Coordenadora Geral da FEEC foi a atual Coordenadora de Políticas Públicas da Apremavi, Miriam Prochnow e uma das primeiras ações realizadas foi a elaboração e a coleta de assinaturas da primeira emenda popular protocolada na então Assembléia Constituinte, contedo um texto para o capítulo do Meio Ambiente para a Constituição do Estado de Santa Catarina.
Visando promover a integração e definição de estratégias para atuação compartilhada frente às questões ambientais do estado, assim como apresentação do relatório anual de atividades realizadas em 2008, articulação e fortalecimento institucional, a FEEC estará realizando Assembléia Geral e evento comemorativo aos 20 anos, no dia 25 de abril de 2009.
O evento será realizado na pousada Recanto Silvestre em Blumenau (SC). A programação será composta por rodas de conversa; em um primeiro momento será feito um resgate da história do movimento ambientalista no estado e traçado diretrizes futuras. Em um segundo momento será realizada uma mesa-redonda na qual serão discutidas as questões atuais e emergenciais do estado. Haverá também troca de experiência entre as ONGs, e apresentação do relatório anual, articulação e fortalecimento institucional.
Maiores informações no convite em anexo ou através do telefone:(47) 35350119 e email: edilaine@apremavi.org.br
08/04/2009 | Notícias
A catástrofe que assolou Santa Catarina, deixando comovente rastro de destruição, presente na memória de tantos brasileiros, torna de difícil compreensão a iniciativa perpetrada pelo Governador do Estado que remete ao legislativo um projeto de lei flagrantemente inconstitucional, solapando regramentos da legislação de proteção ambiental. Mais enigmático foi a aprovação, rápida e sem registros de contrariedade, por parte dos membros do poder legislativo catarinense.
Não há como deixar de recorrer a clássica obra de Fiódor Dostoiévski, já que o episódio de imediato nos remete a uma percepção, ainda que enviesada, similar aquela assumida por alguns de seus personagens. Parece que aos parlamentares e centenas de agricultores que se aglomeravam no plenário da Assembléia, o castigo prévio da catástrofe ambiental, de certa forma, lhes facultava e legitimava o crime. Na ficção Dostoiévski narra:
"Esse crime ínfimo não seria atenuado por milhares de boas ações? Por uma vida _ milhares de vidas salvas do apodrecimento e da desagregação. Uma morte e cem vidas em troca ora, isso é uma questão de aritmética. Aliás, o que pesa na balança comum a vida dessa velhota tísica, tola e má? Não mais que a vida de um piolho, de uma barata, e nem isso ela vale porque a velhota é nociva. Ela apoquenta a vida dos outros".
Na vida real ouvimos a exaustão o argumento utilitarista de que preservar a natureza, ou melhor, manter preservado aquele mínimo exigido pela legislação, significa penalizar milhares de agricultores que deixarão de produzir nessas áreas e, consequentemente, deixar de auferir lucros. Eliminar as ditas APPs, nesse cenário, é um crime ínfimo, já que, dizem os deputados, todos sabemos que as tais APPs apoquentam a vida de muita gente. Mas, não sejamos ingênuos, a velhota tísica, tola e má, e que precisa ser sacrificada em nome do bem comum, é a nossa jovem Constituição Federal, e com ela a democracia.
Poderíamos repetir, no afã de dissuadir deputados, o surrado refrão das calamidades decorrentes da degradação da natureza. Não funciona. Apesar da cantilena de serem diferentes do resto do país, catarinenses, deputados ou não, são tão comuns quanto os demais brasilianos. E aí, nos ensina Garrett Hardin, reside a tragédia. Num país tão grande, e com tanta floresta, não é a mordidinha dada pelos catarinenses que vai fazer o planeta explodir, pensam os mais comuns.
Como pretensos adeptos da ética utilitarista de Jeremy Bentham, onde cada indivíduo só pensa em si mesmo, preocupa-se mais com suas vantagens do que com as dos outros, se comportam os aguerridos defensores da proposta do Governo Estadual. Os deputados, demagogos contumazes, comportaram-se de forma absolutamente previsível. Cientes de que o poder só se deixa agarrar por aquele que ousa inclinar-se e tomá-lo, melhor não contrariar os suicidas, eles resistiram a tragédia e por certo votarão nas próximas eleições. A estúpida estratégia da abstenção, adotada por alguns, insere-se na mesma lógica, porém com uma dosagem adicional e generosa de hipocrisia. Necessário um reparo, estamos sendo injustos com Bentham.
Já no final do século XVIII, registrada aqui sua precoce genialidade, Bentham com seu radical utilitarismo ocupou-se de questões éticas como a pobreza, o sofrimento e a justiça, posicionando-se em favor da eliminação da miséria e da diminuição do sofrimento humano através da criação de mecanismos com os quais se procura realizar um certo conceito de justiça social. Com notável criticidade se opôs aos revolucionários franceses, panfletários do ilusionismo que afirmavam os direitos universais do homem. Bentham, séculos antes de Hardin já nos alertava que o indivíduo somente possui direitos na medida em que conduz suas ações para o bem da sociedade como um todo, e a proclamação dos direitos humanos, tal como se encontra nos revolucionários franceses, seria demasiado e levaria ao egoísmo. Este, segundo Bentham, já é muito forte na natureza humana. Assim, o que deve realmente ser procurado é a reconciliação entre o indivíduo e a sociedade, mesmo que seja necessário o sacrifício dos supostos direitos humanos.
Feito o devido reparo, fica a constatação: para agricultores egoístas e parlamentares inconsequentes sequer cabe a menção de utilitaristas, seria um equívoco imperdoável. A insensatez dos parlamentares, por outro lado, os remete para a marginalidade, senão vejamos:
A Constituição Fedral (CF) de 1988 estabelece que a Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (Art. 37).
Antes da votação havia farta documentação atestando a ilegalidade da proposta, inclusive manifestações de representantes do Ministério Público; muitos foram os deputados que justificaram o voto no fato de estarem beneficiando pessoas que não resguardaram observância as leis vigentes; o posicionamento consciente de afronta as leis e a constituição é imoral; e por fim, a aprovação do PL não resguarda qualquer eficiência, pois a Assembléia Legislativa não tem competência para revogar dispositivos constitucionais, ou mesmo leis federais.
A CF sabiamente confere garantia ao direito de propriedade, não negligenciado, contudo, o necessário atendimento a sua função social. Tudo devidamente previsto no artigo 5º da Carta Magna. Já no artigo 186 há a previsão de que a função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I – aproveitamento racional e adequado; II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Considerando a manifesta ilegalidade do Código Ambiental de SC, aquele proprietário que por ele pautar suas ações estará sujeito a perder sua propriedade. Isto porque, não cumprindo os dispositivos da legislação federal estará utilizando de forma inadequada os recursos naturais e comprometendo a preservação ambiental. Logo, comprova-se cabalmente que a propriedade não cumpre sua função social. Configurado o quadro, cabe a União promover a desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, pois assim determina a CF no seu artigo 184. Não consta que deputados catarinenses tenham alertado os incautos agricultores das eventuais conseqüências de se pautar pela ilegalidade. A classe política atual, a propósito, tem demonstrado extremo desprezo em relação ao destino da nação, preocupados que estão mais com se servir da coisa pública. Como consolo, lembramos aos agricultores defensores do código que a CF também determina que as benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas.
A insanidade do Governador e dos parlamentares catarinenses é ainda mais evidenciada quando lembramos que Santa Catarina é um Estado originalmente coberto pela Mata Atlântica, aplicando-se no caso também os dispositivos da lei federal nº 11.428/06. Isso porque a CF definiu a Mata Atlântica como patrimônio nacional, determinando expressamente que a sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais (Art. 225, § 4º).
O mesmo artigo 225 da CF incumbiu ao poder público, entre outros afazeres, definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. O Governador de SC não apenas se desvencilhou desta obrigação ao propor o Código Ambiental, como também usurpou essa competência dos 293 prefeitos municipais, que agora não mais terão a autonomia conferida pela CF para criar áreas protegidas nos seus municípios. Friedrich Wilhelm Nietzsche, para quem toda ação é egoísta e a compaixão perversa, também nos dizia que a falta de consciência é uma forma de insanidade. Assim, não nos causa estranheza que na mente dos deputados catarinenses se estabeleça que o Presidente da República não mais disponha da prerrogativa constitucional para criar áreas protegidas no Estado. Sepultada no legislativo a república, surge em SC a reprivada, onde sem qualquer pudor se esbanja o dinheiro do contribuinte, obviamente sem compaixão.
Vale registrar que a CF estabelece que qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. Queremos com isto lembrar que o ato perpetrado pelo governador e deputados catarinenses é uma ameaça a democracia, porém não necessariamente a fragiliza. Ao contrário, uma vez restabelecida a prevalência do Estado de Direito e do império da lei, ainda que pelo caminho da justiça, fortalecida sai a democracia, pois demonstrado fica que mesmo os abusos do Estado nela são intoleráveis. Colocá-la a prova pode render bons frutos.
De toda forma, é lastimável e deveras negativo para a democracia o flagelo da autodesmoralização da classe política. E para corrigir isso não há judiciário que dê conta, restando ao eleitor fazer justiça com as próprias mãos: políticos que demonstram incapacidade para cumprir a missão que lhes foi delegada não podem ser reeleitos.
No estado essa missão significa agora reformular também todo o legislativo, porém ficou mais simples: em tempos de urnas eletrônicas, podemos fazer justiça usando apenas um dedinho.
Num quadro político tão anacrônico, aplicar a Teoria dos Castigos e das Recompensas, que Bentham já nos legou nos idos de 1811, pode ser demonstração de que a modernidade enfim chega a política catarinense.
07/04/2009 | Notícias
Mais de 60 organizações ambientalistas, empresas e governos se uniram e assinaram no dia 07 de abril de 2009, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica. A iniciativa visa promover a restauração florestal em larga escala, por meio da integração de ações e da ampliação do alcance dos projetos, criando sinergias entre os diferentes agentes que atuam na região.
A perda de cobertura florestal e a fragmentação dos remanescentes compromete a biodiversidade e os serviços ambientais da Mata Atlântica. É necessário reverter o processo de degradação e começar um amplo programa de recuperação dessa floresta. A restauração florestal deverá estar associada a outras ações, como a criação de Unidades de Conservação, mosaicos e corredores de biodiversidade, a promoção do uso sustentável dos recursos naturais e a eficácia de instrumentos de fiscalização e controle. Somente assim será possível manter vivo este bioma, que garante o abastecimento de água para quase 130 milhões de pessoas, além de ser um dos maiores repositórios de biodiversidade do planeta, comenta Miguel Calmon, coordenador geral do Conselho de Coordenação do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica.
Durante os últimos dois anos, especialistas de algumas das principais organizações que atuam no bioma realizaram um mapeamento que identificou 15 milhões de hectares de áreas potenciais para restauração na Mata Atlântica. A meta do Pacto é ter essa área restaurada até 2050, a partir de um esforço coletivo que também visa disseminar informações sobre técnicas de restauração florestal a fim de melhorar a qualidade dos projetos e monitorar as ações desenvolvidas em toda a Mata Atlântica, ampliando a eficácia do reflorestamento e os índices de sucesso.
Além do setor privado, o Pacto irá estabelecer parcerias com os governos estaduais, municipais e o federal, que tem a meta oficial de preservar 10% do bioma.
A iniciativa conjunta também prevê a geração de trabalho e renda na cadeia produtiva da restauração por meio da manutenção das áreas, produção de mudas, coleta de sementes, valoração e pagamento por serviços ambientais. Os esforços vão ainda se concentrar em ações de facilitação do cumprimento do Código Florestal brasileiro através da adequação ambiental das propriedades rurais, por meio da averbação de reservas legais e áreas de preservação permanente nos 17 estados do bioma Mata Atlântica.
O Pacto pretende, ainda, realizar eventos regionais para garantir a adesão de atores locais, promover cursos e treinamentos para a capacitação em restauração florestal nas principais regiões da Mata Atlântica e o estímulo à formação de centros de excelência em reflorestamento e serviços ambientais. Além disso, também está prevista a criação de um fundo privado para apoiar as ações diretas de restauração e garantir a sustentabilidade e a escala dos esforços planejados.
A Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) é umas das organizações signatárias do Pacto e integra também o Conselho de Coordenação do mesmo, juntamente com outras 15 instituições. Para Miriam Prochnow, representante da Apremavi junto ao Pacto, essa iniciativa é de grande relevância para a Mata Atlântica e está mostrando que parcerias para a conservação e restauração do meio ambiente são necessárias e possíveis.
Em anexo podem ser acessados os documentos produzidos pelo Pacto até o momento. Maiores informações também podem ser obtidas no site do pacto: www.pactomataatlantica.org.br
A Apremavi realiza ações de restauração da Mata Atlântica, desde a sua fundação em 1987. O Programa Clima Legal é um exemplo, como mostram as fotos abaixo.
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07/04/2009 | Notícias
Março foi um mês de diversas atividades de educação ambiental no Parque Mata Atlântica. Quatro grupos de estudantes visitaram a área procurando conhecer alternativas de conservação e recuperação da mata atlântica, bem como sua diversidade biológica.
Visitaram a área os estudantes da 3ª e 4ª série da Escola de Ensino Fundamental Vila Gropp, localizada no município de Atalanta; alunos da 1ª série do Centro Educacional Bom Pastor do município de Ituporanga; jovens do 3º e 4º ano do Curso Técnico Madeireiro da Escola de Educação Básica Elza Deeke, de Otacílio Costa; e o Grupo de Escoteiros do município de Agrolândia.
Os alunos foram recepcionados no auditório do parque onde receberam informações sobre a Unidade de Conservação e sua importância para a sociedade. Acompanhados pela funcionária da Apremavi, Jaqueline Pesenti, e pela bolsista contratada pela Prefeitura Municipal de Atalanta, Brenda Bilck, os estudantes percorreram a trilha principal do parque, a trilha da lontra, observando a fauna e a flora local, chegando até a cachoeira Perau do Gropp com 41 metros de altura.
No local, as monitoras lembraram aos alunos que nem sempre o parque foi assim. Em tempos passados a beleza da cachoeira dividia espaço com lixo e entulho de todos os tipos, afetando diretamente a diversidade biológica do local, a qualidade da água e de vida das pessoas, bem como a qualidade visual da paisagem, hoje tão apreciada.
Além do parque os estudantes dos municípios de Otacílio Costa visitaram também o viveiro de mudas Jardim das Florestas da Apremavi, onde foram recebidos pelo engenheiro florestal Leandro Casanova e puderam conhecer a produção de mudas nativas, além de receber informações sobre os diversos trabalhos que a instituição vem desenvolvendo em prol da conservação do meio ambiente.
Segundo a professora Nadilene Vicari, a visita foi muito importante: É muito importante a proximidade e a possibilidade de observação que os educandos têm quando surge uma oportunidade como da visita a este Parque Municipal de Atalanta, que é um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica. E, também, é uma forma de percepção de como é possível restaurar esta mata e buscar o desenvolvimento econômico de um modo sustentável. A exemplo disto a Apremavi é um referencial para toda a sociedade e demonstra claramente este fato através de projetos desenvolvidos com empresas do setor de base florestal, como por exemplo o projeto "Matas Legais". Sempre é uma satisfação e motivo de orgulho para todos nós conhecermos e participarmos de um trabalho sério como o desenvolvido por todos vocês!
O Parque Mata Atlântica e o viveiro de mudas da Apremavi, sempre possibilitaram às pessoas o contato direto com a natureza e com experiências de desenvolvimento econômico sustentável. Visitas podem ser agendadas através dos telefones:
Viveiro de Mudas: (47) 3535-0119
Parque Mata Atlântica: (47) 3535-0229
O horário de funcionamento do Parque, para atendimento de grupos para educação ambiental é Segunda á Sexta, das 7:30h às 12h e 13:30h às 18h.
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03/04/2009 | Notícias
Dia 31 de março de 2009 a Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina cometeu um dos maiores crimes contra o meio ambiente e, por conseqüência contra a vida da nossa gente. Após seis meses de tramitação o PL nº238/2008, batizado de Código Ambiental Catarinense, recheado de ilegalidades e inconstitucionalidades, foi à votação e aprovado por 31 votos a favor, com 07 abstenções.
Foi uma sessão bastante tumultuada, onde o dito setor produtivo leia-se: latifundiários, donos do agronegócio e madeireiros, escudados por milhares de pessoas devidamente custeadas e em sua maioria iludidas e mal informadas, praticamente lotaram os espaços da Assembléia, com o objetivo de pressionar e intimidar os parlamentares que ainda não estavam cooptados.
Os ambientalistas também se fizeram presentes e, embora em número menor, até porque não dispõem de recursos nem de financiadores para se deslocarem, com muita altivez, cumpriram o seu papel de ainda e até na última hora, tentar convencer os Deputados para não cometerem o equívoco histórico que, não obstante, acabou acontecendo.
Além da presença da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), destacamos entre os ambientalistas, representantes das ONGs Ipereté de Lages, da Acaprena e da Esquilo Verde de Blumenau, do Comitê da Bacia do Rio Itajaí, de vários dirigentes sindicais, vereadores, agricultores e do Movimento por um Código Ambiental Legal (Movical).
Também estavam reforçando o coro dos que lutam pela não repetição das tragédias de novembro de 2008, alunos e professores do curso de biologia da Fundação Universitária de Blumenau (FURB), que com cartazes e faixas alertavam sobre as conseqüências da aprovação do código: falta de água; enchentes; assoreamento dos rios; deslizamento de encostas e margens de cursos d´água; degradação do que resta da Mata Atlântica; prejuízos econômicos; perda de vidas humanas…
Com o mesmo intuito foram distribuídos para os Deputados e jornalistas, exemplares do informativo Santa e Frágil Catarina, editado pela Apremavi, com depoimentos de técnicos e pessoas de diversos setores, contrários ao código proposto. Nesse informativo constam, além dos depoimentos, informes técnicos e dados sobre as reais causas da tragédia que se abateu em nosso estado, particularmente e especialmente no Vale do Itajaí desmoronamentos; soterramentos de casas com famílias inteiras dentro; centenas de mortos e desaparecidos; milhares de desabrigados; assoreamento do rio que, inclusive, paralisou por meses o funcionamento dos portos de Itajaí e Navegantes, suas respectivas maiores fontes de receita. Destaca-se que a maioria das casas atingidas estava construída nas áreas de preservação permanente ao longo de rios e riachos e encostas de morros, áreas essas que são APP e, ao mesmo tempo, áreas frágeis e de risco.
O fato é que todos os dias são divulgadas novas comprovações de que as mudanças climáticas estão afetando seriamente a vida das pessoas. Uma das chamadas do Boletim do Departamento de Águas e Esgotos (DAE) de São Paulo, do dia 01 de abril de 2009, anuncia Aquecimento global aumenta enchentes em São Paulo. O texto da matéria afirma: estima-se que hoje o número de dias num ano com chuva acima de 10 milímetros já seja 12 a mais do que a média. Somando isso às novas projeções, o Sudeste ganhará quase um mês de chuva extrema no ano. Para quem acompanha os noticiários, esses fatos são facilmente visíveis.
Por esses motivos, para os ambientalistas que não são surdos ambientais e tem responsabilidade com a vida, a sessão do 31 foi torturante. Dos muitos disparates proferidos na ocasião pelos deputados defensores do projeto estão as afirmações de que: as enchentes e desmoronamentos nada tiveram a ver com as questões ambientais; que o homem é que domina o meio ambiente e não o contrário; que preservar 30 metros de Mata Ciliar conforme a Lei Federal prevê, causa maior tragédia que as enchentes e enxurradas; que 5 metros de APP são suficientes em Santa Catarina, dadas suas características diferentes e que mais do que isso inviabiliza economicamente a maioria das propriedades, justificando a sua aprovação.
Pior ainda ouvir de Deputados, representantes públicos que deveriam estar à serviço dos verdadeiros interesses da coletividade, pregações explícitas de desobediência civil, em suas defesas por um código que afronta a legislação federal. Pura demagogia para benefícios eleitoreiros.
Fica aqui um importante alerta aos proprietários rurais. Não se deixem enganar pelos que dizem que com a aprovação desse código ambiental às avessas, que deverá ser objeto de várias ações de inconstitucionalidade, a legislação federal poderá ser descumprida. O Código Florestal Federal continua valendo em território catarinense.
A Apremavi continua fazendo um alerta de que flexibilizar ainda mais o uso das Áreas de Preservação Permanente (APPs) aumentará a chance de uma futura catástrofe. Usamos o termo flexibilizar ainda mais, porque ao contrário do que tem sido dito pelos ruralistas, já existem inúmeras flexibilizações na legislação, permitindo o uso de APPs na pequena propriedade, entretanto desconhecemos qualquer iniciativa por parte desses setores em aplicá-las.
A Apremavi trabalha há mais de 20 anos com a recuperação de APPs e planejamento de propriedades e paisagens e se orgulha das parcerias que tem com agricultores que provam na prática que a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais valorizam sobremaneira as propriedades e seus produtos e contribuem de forma decisiva para o aumento da qualidade de vida na área rural.
Pouco adiantarão os lamentos que virão depois. O momento é agora. Garantir um desenvolvimento sustentável, com criatividade, com o trabalho digno e bonito que o povo catarinense sabe fazer. Temos que garantir sim o sucesso na produtividade agrícola, mas cuidando das nascentes, dos rios, das encostas, da diversidade das nossas florestas e dos animais, garantindo aos nossos filhos e netos a oportunidade de nascerem e viverem num ambiente saudável.
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02/04/2009 | Guia de Espécies, Melíferas, Nativas da Mata Atlântica, Notícias, Para paisagismo, Para restauração, Pioneiras
Bracatinga, rapidez em crescimento é com ela
A bracatinga (Mimosa scabrella) é considerada uma das espécies de crescimento inicial mais rápido do Sul do Brasil. Conhecida popularmente também como, abracaatinga, bracatinho e paracaatinga, destaca-se principalmente pela alta capacidade de colonizar terrenos totalmente descobertos. É uma árvore semidecídua, heliófila e pioneira, de crescimento rápido, características estas que a tornam excelente para a recuperação de áreas degradadas.
Pode ter de 5 a 15 m de altura e 30 a 40 cm de diâmetro. Seu tronco é reto e alto, quando em maciços ou curto e ramificado, quando isolada.
Quando jovem, a casca externa é marrom-acastanhada, com o crescimento passa a castanho-acinzentada, áspera, verrugosa e com separação em fendas com orientação longitudinal. A casca interna é de coloração bege-rosada a rosada.
Sua ocorrência é de São Paulo ao Rio Grande do Sul em regiões de altitudes nas florestas com araucárias.
O aparecimento dos botões florais da bracatinga dá-se em longo período do ano, porém com maior intensidade a partir do mês de junho, prolongando-se até agosto. Os frutos são do tipo vagem e amadurecem de novembro a janeiro. A floração e a frutificação iniciam a partir de dois anos em plantios.
Nos meses de frio no sul, essa leguminosa, é a única espécie que fornece pólen e néctar em abundância, sendo portanto de grande utilidade para apicultura.
Por serem altamente melíferas são muito visitadas por abelhas dos gêneros Apis e Trigona, que polinizam suas flores na busca de mel. O mel da flor de bracatinga é raro e de paladar amargo, porém extremamente medicinal. Age sobre o estômago, fígado e intestinos. Ajuda a equilibrar a taxa de açúcar no sangue. Pode ser usado por diabéticos e hipoglicêmicos.
A árvore é bastante ornamental, principalmente quando há presença de flores. Pode ser empregada, com sucesso, no paisagismo, principalmente na arborização de ruas estreitas. Como restrição, apresenta baixa longevidade.
Ela também é recomendada para a conservação de solos e na recuperação e reabilitação de solos degradados. Por regeneração natural ou sendo plantada, recobre rapidamente terrenos descobertos, inibindo a vegetação herbáceo-arbustiva e criando condições de micro clima favoráveis para espécies tolerantes ao sombreamento. A espécie é também recomendada para reposição de mata ciliar em locais com ausência de inundação.
Em seu ciclo de regeneração, numa dada fase de sucessão secundária, a bracatinga pode formar característicos maciços homogêneos. Nessas circunstâncias é possível fazer sua exploração, com base na lei 11.428 de 2006 (a lei da Mata Atlântica) e no decreto 6.660 de 2008, pelo fato da bracatinga se caracterizar como uma espécie pioneira (vide capítulo XI do decreto e portaria em anexo). Sua exploração nesse caso depende de autorização prévia dos órgãos competentes.
A madeira de bracatinga pode ser usada, em vigamentos, escoras em construção civil, para partes não aparentes de móveis, caixotaria, embalagens leves, compensados, laminados e aglomerados, para cabos de ferramentas e utensílios domésticos, além de peças para artesanato e marcenaria em geral.
Os índios de várias etnias do Paraná e de Santa Catarina, usam a casca do caule da bracatinga para combater coceiras.

Flor de bracatinga. Foto: Acervo Apremavi.
Bracatinga
Nome científico: Mimosa scabrella Benth.
Família: Fabaceae
Utilização: Madeira muito utilizada para lenha, construção civil e caixotaria. Utilizada também para paisagismo.
Época de coleta de sementes: Novembro a dezembro.
Coleta de sementes: Coleta das vagens diretamente da árvore quando iniciarem a abertura espontânea ou através da colocação de lonas sob as árvores nas horas mais quentes do dia com posterior recolhimento das sementes.
Fruto: Legume amarelo (vagens).
Flor: Amarela.
Crescimento da muda: Rápido.
Germinação: Rápida.
Plantio: Mata ciliar, área aberta, solo degradado.
Observação: Antes da semeadura as sementes devem passar por processo de quebra de dormência através de água fervente.
Fontes consultadas
BRACATINGA. In: Embrapa Florestas. Disponível em: http://www.cnpf.embrapa.br/pesquisa/efb/index_especies.htm. Data de acesso: 11 mar. 2009.
LORENZI, H. Mimosa scabrella Benth. In: LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992. p. 262.
PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.
PROPRIEDADES do Mel: flor de bracatinga.In: Edições Natureza. Disponível em: http://www.ednatureza.com.br/mel.htm. Data de acesso: 26 mar. 2009.
Autoras: Tatiana Arruda Correia e Miriam Prochnow.
31/03/2009 | Notícias
O mundo hoje assiste a muitos desastres que poderiam ser evitados ou minorados: a escassez de água potável, o aquecimento global, o desaparecimento de espécies. O ser humano continua a destruir a terra que o alimenta e o rio que mata sua sede. A sociedade humana continua a imaginar que tais recursos são infinitos.
Em Santa Catarina a insensatez de construir em áreas de preservação permanente e de arrancar as florestas de proteção de montanhas e de cursos d’água resultou, recentemente, em morte e sofrimento de seres humanos que talvez não soubessem que estavam ocupando áreas que deveriam protegidas. Isso porque os órgãos públicos, que deveriam informar sobre tal proteção e fiscalizar as atividades urbanísticas e agrícolas, não agiram.
Aprovar legislação que permite construções em áreas de grande declividade e à beira de rios ou nascentes é bem mais do que falta de bom senso: é assumir a responsabilidade pelas vidas que poderiam ter sido salvas e que se perderam.
Os levantamentos realizados em Blumenau e no tristemente lembrado Morro do Baú, indicam que a supressão da vegetação nativa e a ocupação das áreas de preservação permanente com construções e com reflorestamentos com espécies exóticas foram os principais responsáveis pelo enormidade da tragédia de 2008. O excesso de chuvas pode matar, mas mata mais em áreas de risco e em locais degradados.
Qual a resposta das autoridades catarinenses?
Alguns meses depois de tanta tragédia, na capital onde em todo verão falta água potável e metade das praias está poluída por coliformes fecais, discute-se o projeto de lei do Código Ambiental de Santa Catarina. Com qual finalidade? Proteger os rios e as florestas, assim protegendo a vida? Proteger o patrimônio natural de todos e a perene possibilidade de produzir alimentos e riquezas? Não exatamente.
Para melhor compreender a questão, faz-se necessário um pequeno resumo da estória do projeto de lei aqui comentado.
Como muitos sabem, Santa Catarina possui um importante remanescente da Floresta Atlântica, considerada como uma das mais importantes para a diversidade biológica de todo o planeta e Reserva do Patrimônio Natural da Biosfera (UNESCO).
Exatamente para ajudar o Estado a proteger o que resta de tal floresta, uma agência alemã vem colaborando financeiramente com projetos da Fundação Estadual do Meio Ambiente a FATMA. É doação: dinheiro que infelizmente não evitou que o Estado fosse considerado o maior desmatador de mata atlântica nos últimos anos.
Pois bem, a FATMA propôs aos alemães o custeio da elaboração de um anteprojeto-de-lei de código ambiental, sob o argumento de que tal legislação seria importante para proteger a mata atlântica (!).
Aprovada a proposta, técnicos da Fundação e consultores contratados trabalharam e discutiram as diversas regras legais que deveriam constar do novo documento. Também discutiram com alguns segmentos da sociedade (não com o Ministério Público). O documento foi levado com festa ao Palácio do Governo. Segundo afirmam os técnicos da FATMA, lá foi trocado por outro, o qual foi encaminhado à Assembléia Legislativa.
O projeto de lei, portanto, tem origem estranha, não serve ao objetivo de proteção ambiental e diverge, em pontos essenciais, da Constituição e da legislação federais, bem como afronta a Constituição do Estado de Santa Catarina.
A Constituição Federal, além do capítulo de proteção ao meio ambiente – inspirado em textos semelhantes das constituições modernas do mundo -, também define expressamente, em seu artigo 24, a competência concorrente da União e dos Estados para a elaboração de leis ambientais. Havendo legislação federal, portanto é o caso do Código Florestal, da Lei da Mata Atlântica, da Lei do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e da Convenção da Biodiversidade, entre outras -, a legislação estadual pode apenas complementá-la, sempre de forma mais protetora. Em resumo: regras estaduais menos protetoras do meio ambiente do que as regras federais não tem validade, não podendo gerar efeitos.
Assim, dizer que futuro Código Ambiental de Santa Catarina vai legalizar o desmatamento de áreas de preservação, é induzir em erro a população. Como também é induzir em erro não esclarecer aos agricultores e pecuaristas catarinenses sobre todas as possibilidades de utilização e de manejo produtivos das reservas legais, áreas de preservação permanente e remanescentes de mata atlântica, especialmente a partir da regulamentação do Código Florestal pela Resolução 369 do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA.
A mistificação que vêm sendo feita é impressionante, notadamente através de publicações na imprensa. A falta de exatidão é tanta que em um único texto pode-se facilmente chegar a contas absurdas de até 160% do território catarinense!! Em outro texto afirmou-se que 35% das margens de rios catarinenses não possuem qualquer vegetação de proteção. Isso quer dizer que 65%, ou seja, a maioria dos homens do campo, preservam o meio ambiente e continuam produzindo (é esse o bom modelo).
E porque o Estado não auxilia os demais a regularizarem sua situação, incentivando a recuperação com espécies que possam ser economicamente aproveitadas e estabelecendo áreas para dessedentação de animais e para outros usos típicos e permitidos das margens dos cursos d’água? Por que não investir realmente em ajudar a população do campo? Por que não investir em um futuro viável para todos? Por que não aproveitar a oportunidade e criar incentivos fiscais para a preservação dos recursos naturais, como o ICMs ecológico e o pagamento pela preservação?
Há exemplos importantes de atuação sustentável no Brasil: São Paulo anuncia um grande investimento para despoluir litoral e nascentes, ao tempo em que proliferam outros programas de apoio técnico e de incentivo à recuperação florestal.
A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE) indica que o número de pessoas com problemas para conseguir água chegará a 3,9 bilhões em 2030, isto é, metade da população do mundo. Um exemplo desse problema é visível no oeste catarinense, onde são necessários poços de grande profundidade para buscar a água que não existe mais na superfície (desmatou-se, matando rios e nascentes!).
No dia 28 de março do corrente cerca de 1 bilhão de pessoas participaram da Hora do Planeta, um ato simbólico para demonstrar sua preocupação com o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Vamos esperar que os legisladores catarinenses dêem sua contribuição, afastando do projeto do Código Ambiental as regras da degradação.
27/03/2009 | Notícias
No dia 24 de março de 2009 a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) através do projeto Elaboração dos planos de manejo da ESEC da Mata Preta e do Parna das Araucárias, deu mais um importante passo no que se refere à formação do Conselho Consultivo do Parque Nacional das Araucárias. Nesse dia foi realizada uma oficina visando dar continuidade ao processo de formação do respectivo conselho.
As atividades para a formação do Conselho Consultivo do Parque Nacional das Araucárias vêm sendo desenvolvidas desde o início do projeto e no momento se encontram em uma fase importante, que é o cadastramento das entidades com potencial para comporem o conselho, por atuarem na região de abrangência e terem representatividade perante a Unidade de Conservação (UC).
A oficina, que contou com a participação de cerca de 40 representantes da comunidade do entorno do parque, aconteceu na Câmara de Vereadores de Passos Maia, e teve dois momentos principais. No período da manhã contou com a presença de representantes das entidades governamentais com atuação nos municípios de abrangência da UC e proprietários de terras localizadas no interior do Parna e no período da tarde com representantes de entidades organizadas da sociedade civil.
No início do encontro, Edilaine Dick da Apremavi e Juliano Oliveira do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), fizeram uma apresentação do projeto desenvolvido pela Apremavi e do PARNA das Araucárias, conduzindo na sequência uma roda de conversa, momento esse que possibilitou que os participantes tirassem suas dúvidas sobre a UC.
Em seguida Marcos Alexandre Danieli da Apremavi e Marcelo Limont do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura fizeram uma apresentação sobre o que é, a importância do conselho consultivo, e a fase em que se encontra o processo de formação do conselho do PARNA das Araucárias.
No final da oficina foi entregue o edital de cadastramento para as entidades que apresentaram interesse preencherem e retornarem até o dia 31 de março, prazo esse que finaliza o cadastramento.
A organização da oficina contou ainda com apoio de Neluce Maria Arenhart Soares e Fabiana Prado do Mater Natura e Ezequiel Antonio Moura, estudante de biologia da UFSC.
Segundo Juliano Oliveira o processo de formação do Conselho Consultivo do Parque Nacional das Araucárias está evoluindo muito bem. As pessoas e instituições começam a se dar conta da importância do Parque e muitas já apóiam o mesmo abertamente, graças ao processo de mobilização realizado pela APREMAVI. Esperamos que seja o início de uma bela caminhada com destino a um futuro bem melhor para as pessoas e para a bela região onde elas vivem, garantindo a sobrevivência e a preservação da sua rica biodiversidade.
O edital para cadastramento das entidades interessadas tanto em participar do conselho consultivo do PARNA das Araucárias, como da Estação Ecológica (ESEC) da Mata Preta, encontra-se na página principal da Apremavi e está em vigor até dia 31 de março de 2009.
Veja na galeria fotos do PARNA das Araucárias, feitas em um levantamento de campo.
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26/03/2009 | Guia de Espécies, Nativas da Mata Atlântica, Notícias, Para fauna, Para restauração, Para SAFs, Secundárias
Pitanga, a fruta do azedinho doce
A pitanga, espécie nativa da Mata Atlântica, tem em seu nome origem tupi-guarani – “
pyrang” que significa vermelha. A fruta carnosa e aquosa, de cor vermelha (mais comum), amarela ou preta, tem sabor agridoce e já era apreciada pelos indígenas, bem como pelos primeiros colonizadores do Brasil.
Pertencente a família botânica das Myrtaceae, a pitanga (Eugenia uniflora L.) é uma das mais importantes frutas nativas da Mata Atlântica com grandes potencialidades para o cultivo comercial. De seus frutos, que contém vitaminas A, C, do complexo B, cálcio, ferro e fósforo, além do consumo in natura, podem ser obtidos sucos, sorvetes, geléias, doces, licores e vinhos. Além desses usos, mais comuns, algumas indústrias de cosméticos já têm utilizado seu extrato para a fabricação de sabonetes e shampoos.
As folhas da pitangueira contém o alcalóide denominado pitanguina (sucedâneo de quinino); bastante utilizada na medicina popular através de chás, indicada contra diarréias persistentes, contra afecções do fígado, em gargarejos nas infecções da garganta, contra reumatismos e gota. Tem ação calmante, antiinflamatória, diurética, combate a obesidade e também possui atividade antioxidante.
A pitangueira é uma espécie de ampla distribuição geográfica natural ocupando regiões de clima tropical e subtropical, indo de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul.
Atualmente as plantações comerciais significativas da fruta estão no nordeste brasileiro, onde o estado que se destaca é Pernambuco.
A pitanga é indicada para recuperação de áreas degradadas e também na implantação de sistemas agroflorestais, além de possuir boa potencialidade para consumo e processamento da polpa, é atrativa principalmente a avifauna, tornando-se uma espécie chave para indução na regeneração natural de florestas. Também é utilizada como espécie ornamental em muitas cidades brasileiras.
A pitanga, assim como outras dezenas de frutas nativas da Mata Atlântica, são pouco consumidas quando comparada a frutas exóticas (maçã, pêra, laranja, ameixa, etc). Cabe salientar que as nossas espécies frutíferas nativas são incomparáveis quanto a sabor e teor de vitaminas. A Apremavi tem um trabalho que tem por objetivo promover o resgate dessas espécies, através da produção de mudas, plantio e divulgação de suas potencialidades.
Receitas para testar
Licor de Pitanga
Ingredientes
1 e ½ litros de água filtrada
1 quilo de pitangas maduras
1 quilo de açúcar
1 litro de álcool 40
Modo de Preparo
Colocar numa vasilha de vidro, o álcool, o açúcar e as pitangas, deixando por um espaço de 4 dias, tendo porém, a precaução de mexer com uma colher de pau duas vezes ao dia. Passado esse tempo, misturar 1 e ½ litros de água filtrada, e, em seguida, filtrar e engarrafar. Este licor deve ser feito em vasilhame de vidro, louça ou cristal.
Geléia de Pitanga
Ingredientes
1 litro de pitangas
1/2 litro de água
Açúcar
Modo de Preparo
Retire o caroço da pitanga e ferva com água.
Retire do fogo e passe na peneira sem a água, junte o açúcar no mesmo peso da pitanga.
Cozinhe até dar o ponto.

Muda de pitanga. Foto: Acervo Apremavi.
Pitanga
Nome científico: Eugenia uniflora L.
Família: Myrtaceae
Utilização: madeira utilizada para a fabricação de cabo de ferramentas e outros componentes agrícolas. Seus frutos são comestíveis e servem de alimento para diversas espécies de aves.
Época de coleta de sementes: junho a janeiro.
Coleta de sementes: diretamente da árvore quando começar a queda espontânea dos frutos ou recolhê-los do chão.
Fruto: vermelho, laranja ou roxo, arredondado, contendo uma semente por fruto, possuindo aproximadamente 1,5 cm de diâmetro.
Flor: branca.
Crescimento da muda: médio.
Germinação: normal.
Plantio: mata ciliar, área aberta.
Fontes Consultadas:
LORENZI, H. Eugenia uniflora L. In: LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992. p. 262.
LICOR DE PITANGA. Disponível em: http://www.portaldasreceitas.com.br/ver_receita.php?c=4364. Data de acesso: 11 mar. de 2009.
PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.
PITANGA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pitanga. Data de acesso: 11 mar. de 2009.
EMBRAPA. Pitanga: Uma fruta especial.Disponível em: http://www.embrapa.br/imprensa/artigos/2008/pitanga-uma-fruta-especial-2/?searchterm=pitanga . Data de acesso: 11 de mar de 2009.
24/03/2009 | Notícias
Transcorridos pouco mais de três meses das catástrofes que assolaram o estado de Santa Catarina, em razão das fortes enxurradas e dos descuidos do homem com o meio ambiente, provocando enchentes de toda ordem, deslizamentos de encostas, dezenas de mortos e milhares de desabrigados, além de gigantescos prejuízos econômicos ao Estado, parece que a tragédia sensibilizou o Brasil e o Mundo, mas não a maioria dos deputados catarinenses, determinados que estão para a aprovação do Código Ambiental Estadual, PL 0238.0/2008, prevista para o próximo dia 31 de março na ALESC.
Das inúmeras alterações realizadas pelo Governo do Estado à minuta inicialmente elaborada por representantes de diferentes segmentos da sociedade civil, entidades públicas e privadas, a mais grave e perigosa de todas as alterações, sem sombra de dúvidas, está na redução das matas ciliares situadas às margens dos cursos dágua, de 30 para 5 metros. A mobilização do setor produtivo, com o apoio explícito do Governo é enorme e bem articulada, confundindo significativamente a opinião pública.
O argumento utilizado é o prejuízo econômico que as áreas de preservação permanente- APPs, situadas ao longo dos rios, ocasiona com a perda de área produtiva na pequena propriedade rural. Segundo informações do Levantamento Agropecuário Catarinense LAC, 89% das propriedades agrícolas catarinenses são minifúndios de até 50 hectares, representando aproximadamente 167.000 propriedades rurais distribuídas em solo catarinense.
E o argumento é que uma parcela destes está sendo economicamente afetada pelas regras ambientais vigentes. Porém, o que poucos sabem é que, também segundo dados do LAC, dos aproximadamente 6.000.000 de hectares que servem à produção agrícola do Estado, 32,52% pertence a apenas 1,9% dos proprietários rurais, detentores de grandes latifúndios. Este dado deixa explícito que os principais interessados (e beneficiados) com a mudança legislativa não são os pequenos agricultores (que representam 45,68% da extensão fundiária), e sim os grandes.
Com a lei, toda a sociedade catarinense abdicará para sempre de boa parte deste importantíssimo bem ambiental que a todos pertence (as matas ciliares), cuja função prioritária está na preservação dos recursos hídricos, essencial à sobrevivência humana, renúncia esta que servirá, de forma especial, a uma minoria economicamente privilegiada. É justo que isso ocorra? O que poucos sabem, pasmem, é que o pequeno agricultor familiar, e somente ele, em vista do reconhecido interesse social da sua atividade, já possui autorização legal, pelo próprio Código Florestal (lei 4.771/65) que se pretende revogar, para economicamente utilizar as áreas de preservação permanente, desde que o faça mediante um sistema de manejo agroflorestal sustentável.
Na realidade, nem o Poder Executivo Estadual, nem o Setor Agroindustrial, em vista da redação do art. 115 do projeto de lei, demonstram empenho em contornar o problema pelo caminho da legalidade, estímulo à utilização responsável destas áreas ecologicamente importantes e geração de fontes alternativas de renda ao pequeno agricultor. Aliás, no sistema de integração é fato sabido que desinteressa às agroindústrias que os seus integrados tenham outras fontes de renda. A absoluta relação de dependência faz e sempre fez parte do negócio. Também é importante que a população saiba que o Ministério Público, com razoabilidade e responsabilidade sócio-ambiental, de forma pontual, há anos, juntamente com a FATMA e outras entidades, mostra-se sensível à causa.
O auxílio vem sendo prestado a milhares de pequenos agricultores com a facilitação da obtenção dos licenciamentos ambientais através de termos de ajustamento de condutas- TACs, que vem sendo firmados e renovados com os diferentes setores produtivos (suinocultura, avicultura, rizicultura, fruticultura, dentre outros), voltados à regularização ambiental de situações consolidadas. Esses ajustes, em sua maioria, fixam a extensão das matas ciliares a serem protegidas em 10 metros, e não 30 como afirma o setor produtivo, mediante o cumprimento de outras exigências ambientais importantes, com especial destaque para o tratamento e destinação adequada dos resíduos da produção.
É revoltante que projetos de lei voltados a instituição de incentivos fiscais ecológicos, assim como outras iniciativas de estímulo à preservação ambiental e à sustentabilidade da própria atividade econômica continuem sem vez na Assembléia Legislativa. Se o Código Ambiental Estadual for aprovado com a atual redação, constituir-se-á numa aberração jurídica, eis que afrontará o Estado Constitucional de Direito em desrespeito às regras de competência previstas nas Constituições Federal e Estadual, como bem sabem os senhores Deputados, além de apresentar vício de legitimidade, eis que a sua redação atual não possui o amplo respaldo social, mas principalmente de um segmento, que é o setor produtivo.
E afetará também, de forma direta, a geração presente, tornando-a ainda mais vulnerável às intempéries climáticas, estimulando a ocorrência de novas catástrofes, possivelmente com maior envergadura que as já ocorridas, considerando a importância das matas ciliares na contenção de enchentes em face das previsíveis enxurradas que estão por vir.
Acredito que ainda haja tempo para uma mobilização e forte reação social voltada à reversão do quadro grave que se anuncia e sensibilização de nossos representantes, dispensando complexas batalhas judiciais, desgastantes e custosas aos cofres públicos. Ou aguardemos, mais uma vez, as conseqüências catastróficas de nossa passividade.
Luis Eduardo Souto é Promotor de Justiça e Coordenador-Geral do Centro de Apoio Operacional do Ministério Público de Santa Catarina. O artigo acima foi apresentado no Seminário "Ambientalis 2009", realizado em Chapecó de 17 a 19.03.2009, na palestra "Código ambiental de Santa Catarina".
Exemplo de que APP bem conservada ajuda a conter os impactos de enchentes e enxurradas. Ribeirão Garcia em Blumenau, com matas cilicares intactas após a catástrofe de novembro de 2008. Foto: Miriam Prochnow.
19/03/2009 | Notícias
No dia 18 de março de 2009, a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) promoveu mais um mutirão de plantio de árvores nativas dentro do Programa Clima Legal.
Desta vez, foram plantadas 950 mudas, provenientes de várias adesões ao programa. Participaram do plantio, além da equipe da Apremavi, algumas pessoas que aderiram ao Clima Legal, entre elas, o empresário Felipe Bonfanti de Barros. Felipe é proprietário da empresa Barros & Barros Engenharia e Assessoria em Logística, com sede em Bento Gonçalves (RS).
Em fevereiro de 2008, Felipe assinou um termo de parceria com a Apremavi, comprometendo-se a doar uma porcentagem do faturamento de suas vendas para o Programa Clima Legal. Felipe já conseguiu também, convencer alguns clientes seus a doarem o mesmo percentual para o Programa. Felipe já participou de um plantio em abril de 2008. O próximo passo de Felipe agora, é tentar conscientizar outros empresários e clientes para que façam o mesmo.
Também participou do plantio, o engenheiro mecânico e grande simpatizante da natureza Ângelo Sarda. Natural de Rio do Sul(SC) e residindo na Alemanha há 13 anos, Ângelo é um dos grandes plantadores de árvores nativas no Alto Vale do Itajaí. Um dos plantios fica aos pés da Serra do Pitoco em Atalanta.
O plantio ainda teve um outro significado muito especial, pois no local onde foram plantadas as mudas fica uma das nascentes do rio Santo Antônio, que abastece a cidade de Atalanta. A área que será agora recuperada, encontrava-se sem a vegetação ciliar o que no futuro, poderia comprometer o abastecimento de água da cidade.
A propriedade onde as árvores foram plantadas foi adquirida pela Apremavi em 2008 com recursos doados pelo espanhol Sergio Blanco Rodrigues. Além de doar os recursos para a compra do terreno, Sergio pretende também, aderir ao programa Clima Legal através da empresa ABNET Sistemas Logísticos Ltda, aberta recentemente em São Paulo, juntamente com o seu sócio, o também espanhol José Rodriguez Alonso.
Este é o segundo mutirão de plantio promovido pela Apremavi, dentro do Programa Clima Legal, o primeiro foi realizado em fevereiro de 2008 e já se constata um crescimento espetacular das árvores. Mas estes não são os únicos plantios realizados dentro do Programa Clima Legal.
Muitas pessoas que fazem sua adesão ao programa levam e plantam suas mudas em suas propriedades. A lista de adesões está crescendo e é importante que assim seja, uma vez que as conseqüências das mudanças climáticas estão sendo sentidas cada vez com mais intensidade. O Programa Clima Legal tem várias categorias que permitem que qualquer pessoa possa participar.
Fotos: Miriam Prochnow e Ângelo Sardá
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Veja matéria da RBA TV
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18/03/2009 | Guia de Espécies, Notícias, Para fauna, Para paisagismo, Para restauração, Pioneiras
Pau-cigarra, esplendorosamente amarelo
O Pau-cigarra (Senna multijuga) é uma espécie nativa, muito ornamental, também conhecida como Cigarreira, Caqueira, Aleluia e Cássia-verrugosa. Ocorre em quase todo o país, principalmente na Mata Atlântica.
Dois de seus nomes populares, “pau-cigarra” e “cigarreira”, fazem menção ao fato de ao final do verão, seu tronco normalmente encher-se de exúvias (cascas) de cigarras. Alguns dizem que a cigarra explode de tanto cantar, deixando a casca. Na verdade a casca vista é o esqueleto externo da fase larval das cigarras. A fase cantora é efêmera, durando dias, enquanto as larvas duram entre um a três anos, dependendo da espécie. A larva é sugadora, parasita de raízes de várias plantas.
Depois de muito sugar, passa por um processo de muda, subindo pelo tronco da árvore parasitada, deixando apenas seu exoesqueleto ou exúvia, “virando” uma cigarra voadora, cantora e reprodutora, que também suga seiva das árvores hospedeiras. Após a reprodução ela morre, seus ovos eclodem no solo ou no tronco, indo de novo sugar a seiva das raízes, durante um longo período¹. O tatu, sabendo disso, consegue identificar e cavar as suas raízes em busca destes insetos. Em Minas Gerais, as folhas, as flores e os frutos são fontes de alimento para o muriqui (Brachyteles arachnoides).
O Pau-cigarra, bem como outras cássias, são muito apreciadas pelas cigarras. A morte sem sinal aparente dessas árvores é muito comum, em virtude da sucção contínua da seiva das raízes por larvas em grande quantidade, e até mesmo adultos, de cigarras¹.
É uma planta que perde suas folhas no inverno (decídua), precisa de muita luz para seu desenvolvimento e se adapta bem a diversos tipos de solos. Como é uma planta heliófita (que precisa de luz) e pioneira, é muito útil em projetos de restauração de áreas degradadas e matas ciliares. Para a arborização urbana é também muito empregada, pois é extremamente ornamental florescendo por longo período (dezembro-abril). Além dessa característica, possui pequeno porte e forma estreita da copa, é particularmente indicada para a arborização de ruas estreitas sob redes elétricas.
A árvore tem de 6 a 10m de altura, com tronco de 30 a 40 cm de diâmetro. A madeira é leve, mole e de baixa durabilidade quando exposta as intempéries. Pode ser empregada para caixotaria leve, confecção de brinquedos e lenha.
Nessa época encontram-se vários exemplares de Pau-cigarra floridos no Viveiro Jardim das Florestas, assim como nas propriedades que ficam na Estrada Geral Alto Dona Luiza, que dá acesso à Apremavi. É uma ótima dica de passeio para quem gosta da natureza.

Muda de pau-cigarra. Foto: Acervo Apremavi.
Pau-cigarra
Nome cientifico: Senna multijuga (Rich.) H.S. Irwin & Barneby
Nomes populares: Cigarreira, pau-cigarra, caquera, aleluia, canafístula
Família: Leguminosae-Caesalpinioideae
Utilização: madeira utilizada para a fabricação de caixas e lenha. Espécie indicada para paisagismo urbano
Coleta de sementes: diretamente da árvore quando começar a abertura espontânea dos frutos
Época de coleta de sementes: maio a julho
Fruto: legume marrom (vagem), seco, contendo várias sementes por vagem
Flor: amarela
Crescimento da muda: rápido
Germinação: normal
Plantio: mata ciliar, área aberta, solo degradado
Fontes Consultadas
PAU CIGARRA. Disponível em: http://www.cotianet.com.br/jornalatuante/mat036.htm. Data de acesso: 10 mar de 2009.
CANAFÍSTULA. Disponível em: http://naturezadivina.org/comunidade/?q=canaf-stula-0. Data de acesso: 17 mar 2009.
LORENZI, H. Senna multijuga (Rich) In: LORENZI, H. Árvores brasileiras: um manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil, vol. 1, 3 ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2000.
PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.
13/03/2009 | Guia de Espécies, Notícias, Para fauna, Para paisagismo, Para restauração, Pioneiras, Secundárias
Cortiça-lisa, a fruta da criançada
A Cortiça-Lisa (
Rollinia rugulosa), também conhecida como Araticum-de-porco ou Araticum-verde, é uma árvore nativa do Brasil, de até 12m de altura e 40 cm de diâmetro. Ocorre desde Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, sendo mais frequente nas áreas da Floresta Ombrófila Mista, a Floresta com Araucárias.
Antigamente sua madeira era usada para fazer bóias para redes de pesca dos pescadores do litoral de Santa Catarina, daí vem o nome de “cortiça”.
Além de ser considerada uma espécie ornamental, a cortiça produz frutos comestíveis pelo homem, parecidos com a fruta-do-conde ou anona. O fruto é globoso, contendo numerosas sementes presas a uma polpa branca aquosa, mole e de sabor levemente ácido. É envolvido por uma casca amarelo-esverdeada. A cortiça-lisa tem uma prima conhecida como cortiça-crespa ou araticum-amarelo, que tem propriedades parecidas, mas seu fruto é mais doce e com menos polpa.
Sua madeira tem utilidade reduzida, mas a casca fornece fibras que podem ser utilizadas na fabricação de cordas. Seus galhos eram utilizados pelos índios para fazer flechas. As sementes tem propriedades medicinais, sendo popularmente utilizadas como anti-diarréicas.
A espécie é indicada para recuperação de ecossistemas degradados, particularmente as áreas de preservação permanente (APPs) por apresentar desenvolvimento rápido, além de produzir frutos muito procurados por pássaros e animais. A Apremavi tem produzido muitas mudas que são utilizadas nos projetos de restauração florestal.
Nos municípios do interior, onde a criançada ainda tem o privilégio de poder correr solta pelo mato e pelas roças, a cortiça-lisa é muito apreciada e às vezes é difícil controlar a gurizada enquanto não detonarem todos os frutos da corticeira.
Esse comportamento na verdade é herdado das gerações mais velhas. É comum ouvir adultos contando histórias de infância onde a cortiça-lisa aparece como a atriz-coadjuvante. Histórias que nos fazem lembrar o famoso Chico Bento que passa parte do seu tempo roubando as goiabas do vizinho, só que neste caso, as frutas cobiçadas são as cortiças. E tem também histórias bem pitorescas de adultos que colhiam as cortiças ainda verdes e as escondiam numa espécie de ninho de capim, para amadurecem longe do olhar e das mãos da gurizada. Mal sabiam eles que a criançada realizava verdadeiras competições para achar os tais ninhos de cortiça, que uma vez encontrados tornavam-se um verdadeiro troféu a ser exibido como motivo de grande orgulho.
O fato é que essa fruta típica do Brasil, merece uma atenção maior para seu potencial de uso comercial, seja na produção e comercialização in natura, seja na extração de sua polpa para produção de sucos e sorvetes.

Muda de Cortiça-lisa. Foto: Acervo Apremavi.
Cortiça-lisa
Nome científico: Rollinia rugulosa Schltdll
Família: Annonaceae
Utilização: madeira e paisagismo. Os frutos são comestíveis.
Coleta de sementes: diretamente do chão, ou coletando os frutos nos galhos.
Época de coleta de semente: fevereiro a março.
Fruto: carnoso com bastante polpa.
Flor: amarela.
Crescimento da muda: rápido.
Germinação: normal.
Plantio: mata ciliar, área aberta, solo degradado.
Fontes consultadas
PINTO, L.S. et al. Indução do enraizamento de estacas de araticum-de-porco pela aplicação de fitorreguladores. Scientia Agraria, v.4, n.1-2, p.41-45, 2003.
LORENZI, H. Caesalpinia peltophoroides Benth. In: LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992. p. 148.
PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.
Autoras: Miriam Prochnow e Tatiana Arruda Correia.