Retrospectiva Apremavi: um olhar sobre 2020
No final de 2019, quando falamos que estávamos preparados para o ano de 2020 nós na verdade não fazíamos ideia do que estava por vir. Falar de 2020 é inevitavelmente também falar sobre a Covid-19. Ainda que os meses de janeiro e fevereiro estivessem indo de vento em popa, a pandemia chegou e tudo foi colocado em pausa. Atividades de campo, encontros com a comunidade, reuniões e palestras, mutirões de plantio… muitos dos nossos planos foram adiados, alguns foram reajustados e passaram a ser virtuais, outros ficaram para depois. Mas de tudo que foi pausado, pelo menos até aqui, precisamos enfatizar que a nossa vida não foi pausada. Diferente das mais de 187 mil mortes até agora, temos a sorte e o privilégio de estarmos vivos, de podermos continuar dando o nosso melhor e de seguirmos construindo oportunidades de futuro.
Numa singela homenagem às vítimas de Covid-19, a Apremavi realizou no início de dezembro um plantio simbólico de 80 mudas nativas da Mata Atlântica. O plantio faz parte da campanha Bosques da Memória que acontece até junho de 2021.
Plantio de 80 mudas em homenagem às vítimas da Covid-19. A ação faz parte da Campanha Bosques da Memória. Foto: Arquivo Apremavi.
Além da pandemia, estamos vivendo um ciclo de devastação no Brasil que tem o aval do governo federal e vários governos estaduais. O resultado disso: recordes de desmatamento no país inteiro, inúmeros incêndios florestais em todos os biomas, retrocessos na legislação ambiental – inclusive na Mata Atlântica, um sistema ambiental esvaziado e sem nenhum recurso, sem falar nas inúmeras ameaças à biodiversidade. Esse é um desmonte sistêmico e estratégico da estrutura ambiental do país.
Na contramão, a Apremavi se manteve firme e forte no seu lema “boca no trombone e mão na massa“. O mão na massa teve que ser reestruturado para que as medidas de isolamento social e distanciamento fossem respeitadas e o boca no trombone passou a ser integralmente na internet para evitar aglomerações. Mas mesmo com todos os rearranjos, muita coisa foi feita em 2020, por isso fizemos aqui um pequeno balanço da nossa atuação este ano.
Queremos dar destaque aos nossos viveiristas, que este ano produziram 417.914 mudas nativas da Mata Atlântica. As atividades do Viveiro Jardim das Florestas não pararam, além da produção e do cuidados com as mudas, sistematizamos a coleta de sementes, instalamos energia solar e até reconstruímos a estufa derrubada pelo ciclone-bomba após uma bem sucedida campanha online. Bem sucedida também foi a live sobre o Viveirista como um profissional do clima que marcou a participação da Apremavi no Dia do Profissional do Clima, realizado pelo Youth Climate Leaders. Não foi atoa que o Viveiro, junto com o Projeto Restaura Alto Vale, receberam o Prêmio Expressão de Ecologia.
Além das mudas produzidas, este ano foram plantadas e doadas mais de 200 mil mudas nativas no âmbito dos projetos que desenvolvemos. O Restaura Alto Vale além de visitar 93 novas propriedades e restaurar 50 hectares de APP, também lançou uma série de curtas chamada “Plantadores de Florestas” com depoimentos dos agricultores e apoiadores que participam do projeto. Os 12 vídeos publicados já foram visualizados mais de 13 mil vezes nas redes sociais da Apremavi.
Os Programas Matas Legais e Matas Sociais, desenvolvidos numa parceria com a Klabin que completou 15 anos este ano, passaram por uma reestruturação e a partir de 2021 terão um novo escopo que trará ainda mais bons resultados e benefícios aos agricultores e ao meio ambiente. Como forma de estreitar os laços com os agricultores que participam do Matas Sociais e manter a comunicação mesmo em tempos de pandemia, foi lançado o podcast Vozes do Matas que já conta com 14 episódios e apresenta temas que vão desde a importância da proteção das nascentes até alternativas de venda de produtos na propriedade. Além disso, o Matas Sociais também foi selecionado na segunda chamada pública dos Casos de Sucesso do Diálogo Florestal e figura agora na publicação lançada pelo DF. Ao todo, neste ano, os programas doaram e/ou plantaram 65 mil mudas nativas.
O Clima Legal também está passando por uma reestruturação e deve chegar em 2021 com muitas novidades. Já o projeto Bosques de Heidelberg fecha o ano com o plantio e a distribuição de 21.741 mudas de árvores nativas e com a novidade de ter realizado o primeiro plantio do projeto fora de Santa Catarina – foram plantadas 11 mil mudas no município de Socorro em São Paulo. Também destacamos uma parceria que já dura mais de 20 anos com o Supermercado Archer de Brusque (SC), e que distribuiu 30 mil mudas aos clientes do supermercado numa grande ação no Dia da Árvore em setembro deste ano.
O Parque Natural Municipal da Mata Atlântica, que comemorou 20 anos de criação este ano, esteve fechado para visitas durante boa parte do ano, mesmo assim, realizou o Concurso de Desenho “Parque Mata Atlântica 20 Anos”, e lançou a sua nova nova identidade visual. Já o projeto RPPN Samuel Klabin fechou o ano com um projeto de trilha ecológica que será implantada nos primeiros meses do próximo ano.
Por fim, precisamos mais uma vez deixar o alerta da mortandade de bugios aqui no Alto Vale do Itajaí. Até o dia 15 de dezembro foram encontrados 9 bugios mortos em 4 áreas diferentes, em duas localidades só do município de Atalanta (SC). É importante esclarecer que os macacos não transmitem a febre amarela. Eles também são vítimas. Na verdade são considerados sentinelas. Num momento tão trágico, especialmente para os bugios, é importante ampliar as ações de combate à caça e também de proteção dos remanescentes florestais, preservando seus locais de habitat.
Momentos de 2020. Fotos: Arquivo Apremavi.
Num balanço interno, entre pausas, alto e baixos, além de organizar a casa, estamos entendendo que 2020 foi um ano que nos permitiu também reforçar nossas ações em rede e valorizar ainda mais os coletivos que nos fazem ir mais longe. Essas redes e coletivos serão fundamentais para darmos conta de todos os desafios que 2021 trará. Será necessário muito diálogo e muitas parcerias. Por isso queremos deixar um agradecimento especial a todos que neste ano de 2020 compartilharam conosco os ideais e as ações em prol de um mundo melhor, solidário e sustentável, com respeito a todas as formas de vida, ao isolamento social e à ciência.
Boca no trombone e mão na massa é muito mais do que o lema que acompanha a nossa instituição desde a sua fundação. Ele é um chamado de resistência. Que venha 2021 porque nós seguiremos resistindo e lutando pelas florestas, pela biodiversidade e pelo futuro comum de todas as espécies.
Autora: Carolina Schäffer.