Com o tema "Um Mundo, Uma Promessa", que remete a uma reflexão sobre a unidade do Escotismo em todo o mundo, o 21º Jamboree Escoteiro Mundial começou oficialmente no dia 28 de julho de 2007, e deu ênfase para a reafirmação da união do Escotismo, a paz e valores por ele compartilhados, nesse mundo tão dividido e conturbado.

Como é costume nos jamborees mundiais uma espetacular Cerimônia de Abertura marcou esse grande início. Pontualmente, afinal estávamos na terra dos ingleses, às 13h30min, as apresentações de dança dos países que compõem o Reino Unido, seguida do desfile das bandeiras das nações presentes no acampamento e da chegada da Bandeira Mundial Escoteira, deram início à festa.

Na Cerimônia de Abertura estavam presentes chefes, diretores e presidentes, representantes dos mais altos escalões da organização escoteira mundial. Contamos também com a visita ilustre do Príncipe William e do Duque de Kent que trouxe, para todos, um recado de boas vindas e bom divertimento da sua Majestade, a Rainha Elizabeth II.

{%GALERIA%}

Além destes, é claro, estavam acompanhando a cerimônia de abertura em torno de 40 mil jovens participantes e staffs (lê-se: Equipe Internacional de Serviço); escoteiros representantes de 158 países do mundo.

À noite a abertura continuou com uma grande festa, onde diversos artistas e bandas se revezaram para animar a imensa platéia. Foram quase 3 horas de música, dos mais variados estilos para que ninguém pudesse reclamar que não tenha tocado alguma música do seu agrado. E como não poderia deixar de ser a “The Adventure”, uma banda inglesa que tocava a música do Jamboree, encerrou a festa. E este era só o início de um divertido intercâmbio cultural..

A Estrutura do acampamento

Situado na cidade de Chelmsford, condado de Essex, a cerca de 80 km do centro Londres, o “Hylands Park” disponibilizou uma área verde de, mais ou menos, 200 hectares, para os escoteiros montarem a infra-estrutura do acampamento.

Como nos mostra a figura, a área roxa mais em cima, correspondia ao campo da Equipe Internacional de Serviço.
As áreas azuis, amarelas, verdes e vermelhas correspondiam aos sub-campos dos jovens. Cada um deles contava com cerca de 2 mil pessoas, aproximadamente 50 tropas e 200 patrulhas.

O Sub-campo Glacier, que foi onde a tropa do Distrito Federal montou seu acampamento, contava com escoteiros do Brasil, de Portugal, da Bélgica, da Eslovênia, da Islândia, da Irlanda do Norte, da Espanha, de Trinidad e Tobago, da Itália, da Alemanha, do Japão, da Holanda, do Texas, da China e, é claro, da Inglaterra.

A cada quatro desses sub-campos tinha um Hub (aquele espaço em branco com um losango, no meio) que disponibilizava algumas facilidades para todos – banheiros, telefones, internet, bancos, lanchonetes e um palco onde aconteciam as festas menores.

O Plaza, uma das áreas em laranja, e o "world scout centre" eram onde se encontravam os stands de delegações dos países. E toda a parte organizacional do jamboree estava localizada nas áreas em cinza.

Para se ter uma idéia do quão grande era esse acampamento demorava-se em torno de 22 minutos para se deslocar do hub Mountain até o módulo Elements.

As atividades

As atividades do jamboree eram divididas em:
– Atividades Cotidianas Permanentes – que eram as atividades realizadas diariamente em cada sub-campo como as refeições, as intendências e o Diário Mural.

– Atividades Específicas do Sub-Campo – que eram realizadas sob a coordenação dos chefes de tropa; fogos de conselho, vigílias, jogos escoteiros, jantares de integração com outros países e o maravilhoso Festival Gastronômico que deu o que falar… Os gringos simplesmente adoraram o nosso querido feijão com arroz e, o então famoso, brigadeiro de panela.

Além dessas atividades cotidianas e específicas, foram construídos vários módulos externos e módulos que aconteciam na área do jamboree, cujo ofereciam tendas com diferentes atividades. Muitas delas aconteciam ao mesmo tempo, então você tinha que ser cauteloso na escolha, pois infelizmente o Jamboree foi curto demais para se conseguir aproveitar tudo que ele disponibilizou.

O Energize era, por si dizer, o módulo mais alternativo do jamboree. Nele eram desenvolvidas atividades desafiantes de sobrevivência e malabarismo como circo, rodadas de futebol, karaokê, ensaios de dança, aulas de mergulho, tendas de relaxamento, pista de patins, bicicleta e skate. Uma alegria só.

O futebol, como todos sabem, é mania internacional, e foi no jamboree que nós confirmamos a fama do Brasil neste esporte, pois os brasileiros eram sempre os mais requisitados para as tradicionais partidas de fim de tarde.

Elements foi o módulo onde foram criadas quatro bases menores – água, fogo, terra e ar – na qual os participantes podiam explorar o poder dos quatro elementos e descobrir o bem e o mal que eles causam tanto para os humanos quanto para a natureza. Os escoteiros brincaram com ácido, construíram foguetes e realizaram inúmeros experimentos com materiais orgânicos e recicláveis.

O Aquaville e o Terraville traziam um só desafio para os participantes: Conseguir viajar ao redor do mundo em um só dia. Com o intuito de explorar novas culturas, distrair a cabeça e mexer o corpo podia-se escolher entre as mais de 300 atividades lá encontradas para passatempo. Claro, a área mais escolhida por todos nessas duas zonas foi à culinária…

O Brasil estava bem representado nessas vilas. Os chefes brasileiros tiveram que ensinar aos participantes coisas como confeccionar pulseiras e as típicas danças Maracatu e Forró.

Para se chegar ao Giwell Park era necessário acordar cedo – junto com o sol – pegar um ônibus, aproveitar os 50 minutos de trajeto para dormir e repor as energias para que quando finalmente se chegasse ao parque, que é conhecido como berço do escotismo Mundial, todos pudessem correr bastante e queimar muitas calorias. O “Giwell Adventure”, como era chamado esse módulo, dispunha de atividades de desafio com cordas, habilidades ao ar livre, escaladas e o famoso Vale do Desafio, que era uma simples corrida de obstáculos.. Bem, digamos que não era tão simples assim!

O Splash era o módulo que reunia as atividades aquáticas. Nele podia-se brincar com barcos a vela, caiaques, canoas canadenses, fazer rafting, além de claro, por sua mente para funcionar e montar um barco que fosse capaz de agüentar você e toda a sua patrulha sem afundar.

Sem esquecer que os escoteiros são úteis e praticam diariamente uma boa ação o jamboree planejou o Dia de Ação na Comunidade. Um dia em que todos ajudaram a fazer a diferença na comunidade através do envolvimento em projetos locais. Ao final deste dia ouviam-se histórias bem engraçadas desde pessoas que tinham ido pintar as cercas de um parque até escoteiros que foram obrigados a limparem as covas de um cemitério…

“Fé e Crenças” faziam parte do programa do Jamboree que tinha por objetivo conhecer e entender a herança espiritual da própria comunidade respeitando a escolha dos outros. Espaços de prática e adoração permitiam a todos os escoteiros um maior aprendizado sobre crenças e tradições religiosas diferentes das suas. Estavam representadas: Budismo, Catolicismo, Ortodoxa, Protestantismo, Mórmon, Hinduístas, Islamismo, Judaísmo, Shintoismo, Sikhism e Budismo Wou.

Todos os sub-campos tinham ½ dia para participarem das atividades da Aldeia e a da Vila Global de Desenvolvimento que tinham quatro temas principais: Saúde, Meio Ambiente, Paz e Direitos Humanos. Nelas os participantes foram estimulados a conhecerem a realidade e a dimensão do mundo visando que eles refletissem e encontrassem soluções e saídas conciliatórias para muitos problemas. Tendas da ONU, do Greenpeace, da UNICEF foram montadas para arrebanhar fiéis nessas lutas contra o preconceito, a miséria, a fome, as desigualdades e na busca da paz.

E por último, mas não menos importante, devo citar o dia do Escoteiro Lusófono…
A Comunidade do Escotismo Lusófono é composta pelos países de língua portuguesa que a partir do Jamboree da Holanda mantém a tradição de encontrar-se e desenvolver uma atividade de congraçamento.
Participaram de uma bonita festa, realizada em frente ao estande do contingente brasileiro, com muitas danças tradicionais, sorrisos e português – que há tempos não escutávamos- os escoteiros de Portugal, Moçambique, Cabo Verde, Angola e, é claro, do Brasil.

A APREMAVI não ficou de fora dessa…

Sabendo que duas de suas sócias eram escoteiras e estavam se preparando para ir para esse acampamento centenário, resolveu criar um material especialmente para ser distribuído durante os dias de acampamento.

Os adesivos do COOL WEATER, uma versão inglesa do então programa de ações climáticas – Clima Legal, eram bastante requisitados por todos, é o que diz Gabriela Schäffer: “Uma das horas mais divertidas de todo o jamboree eram as nossas horas livres. Nelas tínhamos a liberdade de sair andando pelo acampamento distribuindo os adesivos da APREMAVI. Cada escoteiro tinha uma reação diferente; muitos nos paravam e queriam mais e mais explicações sobre o programa, outros agradeciam e nos davam alguma coisa em troca, teve até um escoteiro da China que tentou me explicar algumas coisas sobre os programas de meio ambiente de lá… É, foi um trabalho bem divertido e com direito a muitos elogios dos chefes internacionais, que nos incentivaram e disseram que essa era uma excelente iniciativa jovem, ainda mais se tratando de um programa ambiental, um tema tão importante nos dias de hoje.”

Amanhecer do Escotismo

No dia 1º de agosto, escoteiros do mundo inteiro, participantes ou não do jamboree, cada um no seu país, com o seu grupo escoteiro, seus amigos e familiares; foram convidados a participar do “Sunrise Day”, ou melhor, o Dia do Amanhecer do Escotismo. Nesse dia tivemos a oportunidade de comemorar o futuro do Escotismo e ver como podemos melhorá-lo para atender às necessidades de um maior número de jovens e oferecer um movimento cada vez melhor em todo o mundo.

Na Ilha de Brownsea – Poole Harbour na costa sul da Inglaterra, cerca de 220 km a sudoeste do local do Jamboree, havia sido montado um acampamento modelo que lembrava o primeiro acampamento feito por BP há cem anos. Para esse acampamento paralelo foram selecionados dois escoteiros representantes de cada país que estava jamboree. Esses jovens participaram de inúmeras atividades e puderam aprender um pouco mais sobre os fundamentos e a história que a ilha nos remete.

Com a presença ilustre do Lord Baden Powell, neto do fundador do movimento, o escotismo mundial comemorava os seus 100 anos e, foi na arena principal que a emoção tomou conta de todos.

Lord Baden Powell leu para todos ali presentes a carta de despedida de seu avô e se emocionou ao dizer: “Estou muito feliz de estar aqui. Meu avô começou o movimento com apenas 20 meninos num acampamento na ilha de Brownsea. 100 anos depois, 28 milhões de pessoas, em 216 países do mundo, fazem parte desse movimento que se tornou um instrumento fundamental pela paz do mundo”.

Às 8 horas em ponto, com transmissão direta de Brownsea, Peter Duncan, Escoteiro Chefe da Scout Association, soprou o chifre de Kudu, exatamente como BP havia feito no primeiro acampamento, e emocionou todos ao dizer: “este é o lugar para se estar na Terra”.

Estava feito. A partir daquele momento, todos os jovens, cada um em sua língua, sua cultura e seu país começaram a renovar sua promessa escoteira, reafirmando os propósitos de igualdade, bondade e humildade que o escotismo tanto prega.

Ao fim da renovação da promessa muitos balões coloridos que representavam a diversidade cultural do movimento escoteiro e uma revoada de pombas brancas, símbolo do centenário, encheram os céus sob a arena principal causando uma imagem inesquecível para os 40 mil participantes do jamboree.
A arena central havia sido pintada com a cor da flor-de-lis, pois neste dia os escoteiros não carregavam bandeiras nacionais; carregavam, e com entusiasmo, uma bandeira única que representa o maior movimento juvenil do mundo, a bandeira do escotismo mundial.

Já no fim da cerimônia, todos os escoteiros foram coletar assinaturas de centenas de irmãos em seus lenços especiais do centenário e foram feitas ainda, nas mais diferentes religiões, preces pela paz e pela igualdade no mundo.
Com certeza absoluta, esse dia 1º de agosto ficará para sempre na mente e no coração de alguns milhões de escoteiros…

Curiosidades

Um jamboree é sempre bom para você explorar as várias partes do mundo e de diversas maneiras – sociais, culturais, geográficas, econômicas e históricas; para você respeitar as diferenças e igualdades de cada país e cada cultura; para você participar de diversas oficinas e desenvolver novas habilidades; para ter a oportunidade de trabalhar em grupos multi-culturais e descobrir outros interesses.

Um jamboree é o lugar ideal para você fazer mil novos amigos; para ver que os "Free Hugs" realmente funcionam; é um lugar para você por em prática suas aulas de inglês, francês, alemão; e, para você no final de tudo saber a diferença entre os japoneses, os chineses e os coreanos, sem chatear mais ninguém…

Um jamboree é um bom lugar para você descobrir que fila Indiana não existe, pois durante os doze dias de acampamento os indianos não entraram em nenhuma fila da maneira correta, assim nós deduzimos que na Índia não deve existir fila, logo a tal fila indiana deve ser urgentemente rebatizada para algo como "Fila Brasileira", "Fila Austro-Húngara"; Tudo, menos fila indiana.

Um jamboree é o lugar certo para você rir, e rir muito! Rir das suas mancadas, dos tombos, da lama grudada em todas as partes do seu material, dos novos amigos, das novas canções compartilhadas, das palavras incompreensíveis… Rir, simplesmente rir, pois o Escoteiro é alegre e sorri até mesmo nas dificuldades.

Um jamboree é um ótimo lugar para uma primeira viagem internacional; para um primeiro contato internacional; é um bom lugar para se emocionar; para aprender e para ensinar. Um chefe brasileiro chegou a ficar super famoso após divulgar a música do apito paralisador. E o melhor nem era isso, era ver que ao final do jamboree a tal música podia ser ouvida em várias outras línguas.
Um jamboree é o lugar certo para você descobrir que o mundo simplesmente adora o Brasil. Eles fazem de tudo para conseguir ter em mãos alguma coisa que lembre o nosso país…

E, um jamboree pode ser o lugar certo para você entrar para Livro dos Recordes. O movimento escoteiro conseguiu mais uma vez ter seu nome escrito neste tão famoso livro, dessa vez, claro, deve ser a mais importante de todas, pois ser a organização que mais reúne jovens no mundo inteiro, ao total são 28 milhões, não é para qualquer um…

E agora?

Pois é, infelizmente o jamboree chegou ao fim…
Os momentos nele vividos são inexplicáveis para quem não foi.
Os novos amigos e contatos feitos ficarão para sempre na nossa lembrança.

As lágrimas que caíram durante a cerimônia de encerramento só serviram para unir ainda mais todas as lembranças desse jamboree e para nos encorajar a participar do próximo…

A emoção no amanhecer do escotismo, ao ver o mar de 40 mil lenços amarelos girando sobre as nossas cabeças, servirá de inspiração para os próximos cem anos de história.

Agora é hora de por em prática e compartilhar todo o novo conhecimento adquirido.

É hora de lutar para construir um mundo melhor, um mundo de paz. Pois se durante os 12 dias de acampamento até os judeus, os japoneses, os alemães, os norte americanos, os árabes, os irlandeses, os ingleses e os franceses, enfim…todos, conseguiram se divertir e deixar de lado todas as diferenças culturais e econômicas é notório que, com um pouco de esforço, o mundo um dia poderá chegar a esse patamar também.

É hora de lembrar, mais do que nunca, dos ensinamentos e das palavras do nosso grande chefe.

É hora de honrar a nossa pátria com orgulho e com lealdade.

É uma boa hora para parar e ver que o escotismo é realmente maravilhoso e que a união desse movimento é certamente a aventura mais maravilhosa de todas.

E, como todos dizem, não é hora de chorar porque acabou. É hora de sorrir porque aconteceu.

Pin It on Pinterest