Chamo a sua atenção para um tema polêmico e alarmante que precisa do seu entendimento e de sua ação: a extinção de um ecossistema único em todo o mundo, patrimônio de todos os paranaenses. A extinção de uma história de milhares de anos que nunca foi contada devidamente e que pode se perder para todo o sempre. Para evitarmos este fim melancólico, precisamos sair deste estado de letargia.

Bombardeados com o apelo de que possuímos a capital ecológica do país, com tantos metros quadrados de área verde por habitante e possuidora de parques fantásticos, alguns podem se regojizar com estas baboseiras tão bem "marketeadas". Uma pitada de alívio talvez, ainda que subliminar, sempre acompanha estas mensagens. Esta sensação de "alívio" é facilmente explicável. Ela decorre da inércia e passivo ambiental que todos nós carregamos.

No fundo, nossa falta de ação nos perturba. Daí sentirmos esta sensação agradável sempre que nosso cérebro recebe a informacão de que está tudo bem e que podemos seguir ignorando as consequências de nosso consumismo desvairado. Mais ou menos assim: "podemos continuar poluindo e explorando a natureza, pois tudo está sob controle." Adicione-se a este sentimento uma cultura tradicionalmente extrativista e imediatista que sempre foi orientada para a dominação da natureza e busca do lucro a qualquer preço.

Chega. Está na hora de acordarmos para a realidade. O Paraná não é uma imensa Serra do Mar em termos de conservação. O Estado do Paraná possuia 85% de sua superfície coberta por matas nativas milenares. Hoje, restam-nos míseros 3% (em acelerado grau de devastação). Os outros 97% foram tomados pela agricultura, agropecuária, reflorestamentos com espécies exóticas, cidades, represas, e "manejo" inadequado.

Pois bem, dos 85% citados acima, restaram apenas 0,8% de Florestas com Araucária. O equivalente a aproximadamente 60.000 hectares ou 25.000 alqueires. São cerca de 500 áreas pequenas, a grande parte entre 50 e 300 hectares. Para se ter uma idéia do pouco que esta área representa basta dizer que o Parque Nacional do Iguaçu tem aproximadamente 190.000 hectares. Como este levantamento científico* foi realizado em 2001, é lógico concluir que não corresponde à realidade atual. Estima-se que em no máximo dois anos, estes 0,8% de florestas desaparecerão da superfície do Paraná.. Repetindo, em dois anos ou menos, dado o ritmo de exploração atual, as Florestas com Araucária do Paraná estarão extintas.

Denomina-se cientificamente de Floresta Ombrófila Mista as áreas de floresta onde há a presença da Araucária angustifolia (pinheiro do Paraná) e espécies como imbuia,canela e dezenas de outras típicas apenas deste bioma. Todas estas espécies estão ameaçadas de extinção. Não se trata, todavia, de salvar apenas estas árvores. No Paraná existem quatro diferentes consorciações típicas de Floresta com Araucária (capões de Floresta com Araucárias e os Campos Gerais, por exemplo). Estes ecossistemas são formações únicas que, com seus rios, nascentes, paisagens as mais diversas, fauna e flora estão condenados ao desaparecimento.

Existe alguma solução? Sim. Uma primeira hipótese seria através da sociedade civil organizada. A adoção de áreas e sua transformação em RPPNs (Reservas Privadas do Patrimônio Natural) por empresas e particulares é uma saída. A recente campanha em andamento da SPVS (Sociedade de Pesquisa da Vida Selvagem e Educação Ambiental) dá um passo inédito nesse sentido. É uma iniciativa original e objetiva. O proprietário recebe uma quantia mensal para a manutenção da área e compromete-se a transformá-la em RPPN, uma unidade de conservação privada reconhecida pelo SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

A segunda alternativa aqui proposta é parecida com a primeira, mas como não poderia deixar de ser, depende do governo. Com menos de dois anos para a extinção total deste ecossistema, apenas uma medida imediata do governo pode salvar o maior número de áreas no menor tempo possível. Esta medida consistiria num novo instrumento jurídico, a "servidão ecológica". Seria uma espécie de contrato entre o governo e os proprietários. Existem figuras jurídicas similares em outros países. Resumidamente, a idéia baseia-se no pagamento pelo governo estadual aos proprietários das áreas conservadas de um valor para que estes mantenham suas áreas intactas, comprometendo-se a preservar permanentemente suas propriedades. Trata-se de uma espécie de adoção.

Até o momento não houve lei, decreto ou fiscalização que adiantasse. No meu entendimento, a única coisa que pode frear a derrubada do "mato", sendo pragmático e objetivo, é dinheiro. Através de estudo realizado pelo Ipardes**, calcula-se que 14 milhões de reais ao ano sejam suficientes para manter os 60.000 hectares restantes. Assim, de acordo com este estudo, um fazendeiro que possua 200 hectares de floresta em boas condições, receberia do governo 46.600 reais/ano para manter a floresta intacta.

A conservação destes 60.000 hectares não teria impacto negativo na economia do Paraná. Pelo contrário, seria uma forma de incentivar o ecoturismo e o desenvolvimento sustentável de pequenas propriedades. Aos críticos proponho que ao invés de desperdiçar energia contra meia dúzia de ambientalistas, abracem esta causa ou então sejam pró-ativos. Criem e proponham algum plano alternativo melhor, se é que realmente se preocupam com o patrimônio de todos os paranaenses.

O governo do Estado tem agora a última chance de passar para a história como o maior defensor do patrimônio público dos paranaenses. Um patrimônio tão importante quanto a Copel ou a Sanepar. Tão importante quanto Sete Quedas ou Vila Velha. Quanto valem os 60.000 hectares restantes desta floresta? Não têm preço. Governos anteriores gastaram muito mais em propaganda, por que não na preservação? Se podemos encampar pedágios e empresas públicas em prol do bem comum, por que não nossas florestas?

* Fonte: Conservação do Bioma Floresta com Araucária: Diagnóstico dos remanescentes florestais. Curitiba, 2001. Fundação de Florestas do Paraná.
** Estudo realizado pelo Ipardes para propriedades de 10 até 200 hectares.

Giem Guimarães é empresário e conselheiro da SPVS e membro da FIEP.

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