A importância dos Planos de Manejo para as Unidades de Conservação e o trabalho da Apremavi

A importância dos Planos de Manejo para as Unidades de Conservação e o trabalho da Apremavi

A importância dos Planos de Manejo para as Unidades de Conservação e o trabalho da Apremavi

O Brasil possui um dos mecanismos legais mais robustos para áreas protegidas no mundo: o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Criado pela Lei nº 9.985, o SNUC estabelece normas e procedimentos que permitem às esferas públicas e à iniciativa privada criar, implementar e gerir Unidades de Conservação (UCs) no país. Um componente crucial deste sistema é a elaboração do Plano de Manejo, documento técnico que guia todas as ações dentro de uma UC, buscando promover uma gestão eficaz e sustentável.

Um Plano de Manejo consiste em um documento técnico elaborado a partir de diversos estudos, incluindo diagnósticos do meio físico, biológico e social. É através dele que são definidos quais usos serão permitidos na área, assim como onde e de que forma estes usos irão ocorrer.

Apesar da exigência legal, a implementação de Planos de Manejo em todas as UCs está longe de ser uma meta alcançada. De acordo com uma entrevista realizada pelo Oeco em 2017 com Ana D’Amico, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), apenas 53% das unidades de conservação federais possuíam um Plano de Manejo naquela época. A falta de recursos financeiros e humanos é apontada como uma das principais barreiras para a elaboração desses planos.

A Apremavi, por meio da sua área temática de Conservação da Biodiversidade, tem avançado na criação e implementação de Planos de Manejo em diversas UCs, especialmente em Santa Catarina. Fabiana Dallacorte, bióloga e sócia da Bio Teia Estudos Ambientais, e Edilaine Dick, coordenadora de projetos e diretora da Apremavi, compartilharam suas experiências e desafios no desenvolvimento dos Planos de Manejo.

 

Apremavi: Desde quando você atua na elaboração de Planos de Manejo e como funciona esse trabalho?

Fabiana: Eu faço planejamento de áreas protegidas desde que comecei a atuar como profissional, após formada. Trabalhar com planejamento de áreas protegidas é trabalhar com Biologia da Conservação, uma área pouco valorizada por muitos acadêmicos. É uma matéria que olha para outras, tais como a Ecologia, a Genética e possui uma importância imensa para resguardar o futuro do nosso mundinho. Então, trabalhar com planejamento de áreas protegidas é formidável, pois possibilita atuar em teia com profissionais de áreas diversas e de conhecer lugares incríveis.

Apremavi: Qual a importância do desenvolvimento do Plano de Manejo para as Unidades de Conservação?

Fabiana:  A necessidade de Plano de Manejo de uma UC está no SNUC e é necessário para a gestão da área protegida, é o alicerce da gestão tanto para o dia-a-dia, quanto para a visão geral sobre a UC. O Plano de Manejo é um documento técnico, que com base no objetivo da criação da UC, dá diretrizes às atividades a serem desenvolvidas, define o zoneamento, e estabelece normas para estas zonas e normas gerais da UC.

Apremavi: Quais os principais desafios e oportunidades no desenvolvimento de um Plano de Manejo?

Fabiana Dallacorte: a carência de dados biológicos, ecológicos, taxonômicos, dos organismos naturais que vivem na UC. Pouco recursos e tempo para fazer estudos mais aprofundados sobre a biodiversidade do local, seu entorno, sobre as populações humanas que interagem com a UC.  Oportunidades: para algumas UCs, a exemplo  de uma  Área de Proteção Ambiental  que estou fazendo o planejamento no estado de Goiás, é a primeira vez que alguém conversa com a população envolvida pela UC. O Plano de Manejo  é o primeiro contato com a população explicando o que é, qual seu limite, e outras informações básicas que até então as pessoas não sabiam. 

Apremavi: Quais planos de manejo a Apremavi já coordenou?

Edilaine: A Apremavi já colaborou para os planos de manejo do Parque Nacional das Araucárias, Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Serra do Lucindo, Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) da Serra da Abelha e atualmente no Parque Natural Municipal da Mata Atlântica. Também colaboramos para a revisão do Plano de Manejo do Parque Estadual das Araucárias.

Apremavi: O que acontece depois que um plano de manejo é aprovado? Quais são as próximas etapas?

Edilaine: Os servidores da UC e conselheiros devem se apropriar do documento para que efetivamente se torne uma ferramenta de gestão. O Plano de Manejo quando bem utilizado permite verificar se os objetivos e planejamento estão sendo alcançados

Apremavi: Como uma Organização da Sociedade Civil (OSCs) , qual a importância de contribuir na elaboração e revisão dos planos de manejo de unidades de conservação?

Edilaine: As OSCs podem ser protagonistas do processo elaborando e revisando o Plano de Manejo, ou então participando dos conselhos contribuindo na disponibilização de dados, desenvolvimento de pesquisas e acompanhamento do processo de elaboração do plano. Quando atuantes em determinada região, as organizações podem fazer a diferença na UC, proporcionando a interação entre os atores internos e externos em parceria com gestores federais, estaduais ou municipais.

Os Planos de Manejo são instrumentos essenciais para a gestão eficaz das Unidades de Conservação no Brasil. Embora a implementação ainda enfrenta desafios significativos, o trabalho de instituições como a Apremavi em colaboração com diversos atores e instituições demonstra que é possível avançar na criação e aplicação desses planos, contribuindo para a conservação da biodiversidade em áreas protegidas.

 

Registros da etapa de reconhecimento da revisão do Plano de Manejo do Parque Natural Municipal da Mata Atlântica. Fotos: Fabiana Dallacorte e Heloisa Koffke (Bio Teia Estudos Ambientais)

Referências consultadas:

Carrillo, A. C. (2013). Lições aprendidas sobre a etapa de planejamento em planos de manejo de UC.

D’Amico, A. R., Coutinho, E. D. O., & Moraes, L. F. P. (2018). Roteiro metodológico para elaboração e revisão de planos de manejo das unidades de conservação federais. Brasília: Instituto Chico Mendes.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Heloisa Koffke para Bio Teia Estudos Ambientais.

Apremavi integra Comitês de Bacias Hidrográficas de SC

Apremavi integra Comitês de Bacias Hidrográficas de SC

Apremavi integra Comitês de Bacias Hidrográficas de SC

A Lei Federal n° 9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, tem como fundamentos que a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, além de que a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários da água e das comunidades (população da bacia). 

Dessa forma, os Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH) representam a principal instância de gestão, pois são os espaços em que um grupo de pessoas, com diferentes visões e atuações, se reúnem para discutir sobre o uso da água entre os diferentes setores da bacia. Em Santa Catarina são 16 comitês formalizados, entre eles o Comitê de Gerenciamento das Bacias Hidrográficas do Rio Chapecó, do Rio Irani e Bacias Contíguas (Comitê Chapecó Irani) e o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí e Bacias Contíguas (Comitê do Itajaí), comitês onde a Apremavi é organização-membro.

O Comitê Chapecó Irani é formado por 40 organizações e abrange 59 municípios. A posse das novas organizações-membro ocorreu no dia 24 de junho de 2024, no auditório da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) em Chapecó (SC) durante a 2ª Assembleia Geral Ordinária. A Apremavi se inscreveu no processo de renovação da composição do Comitê Chapecó Irani para o mandato de 2024 a 2028 e na Assembleia Setorial Pública (ASP) realizada em 09 de maio de 2024 garantiu uma vaga no segmento de população da bacia. A instituição é representada no comitê pelas coordenadoras de projetos da Apremavi: Marluci Pozzan e Edilaine Dick.

Já o Comitê do Itajaí é formado por 50 organizações e abrange 52 municípios. Neste comitê, a Apremavi é atuante desde 1998 e é representada atualmente pelo coordenador de projetos da Apremavi, Leandro da Rosa Casanova, e Daiana Tânia Barth, técnica ambiental da instituição no segmento de população da bacia. 

Para Leandro Casanova, “Integrar o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí tem sido uma experiência que traz grande satisfação, uma vez que, como membro representante da sociedade civil organizada, temos o poder de voto, para contribuir para questões que venham promover a boa política de uso na Bacia Hidrográfica. A exemplo disso, podemos citar que em um determinado momento houve uma manifestação para que acontecesse a recategorização do Parque Nacional Serra do Itajaí. Entretanto, a pauta foi levada a todos os membros do Comitê, na qual elaborou-se uma moção contrária a essa recategorização. Em uma Assembleia Geral Extraordinária, por unanimidade os membros decidiram pela não recategorização”.

A posse das novas organizações-membro do Comitê Chapecó Irani. Foto: Marluci Pozzan

Posse das novas organizações-membro doComitê Chapecó Irani no auditório da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) em Chapecó (SC) durante a 2ª Assembleia Geral Ordinária. Foto: Marluci Pozzan.

Autora: Marluci Pozzan.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Rede de Sementes +Floresta participa do III Encontrão do Redário

Rede de Sementes +Floresta participa do III Encontrão do Redário

Rede de Sementes +Floresta participa do III Encontrão do Redário

Entre os dias 04 e 07 de julho, Idania Correa coletora de sementes do +Floresta e Marluci Pozzan coordenadora de projetos da Apremavi participaram do III Encontrão do Redário – em Juazeiro (BA). Idania e Marluci representaram a Rede de Sementes +Floresta, que é apoiada pela Apremavi. 

O Redário é uma articulação entre redes e grupos de coletores de sementes para estruturação da base da cadeia de restauração em larga escala. O Encontro das Redes do Redário reúne anualmente técnicos e coletores de redes de sementes de todo o Brasil. Neste ano, o evento teve como objetivo avançar na construção dos princípios e do funcionamento do Redário. O encontro contou com representantes de 27 redes de sementes nativas dos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica.

No primeiro dia do encontro aconteceu a apresentação do Comitê Gestor e reflexões sobre a estrutura do Redário. No segundo dia os participantes se deslocaram para o Centro de Formação Dom José Rodrigues (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA) para conhecer uma área de recaatingamento e tecnologias sociais do IRPAA. Além disso foram apresentados os grupos de trabalho do Redário e finalizado o dia com uma prática de muvuca de sementes. 

Idania Aparecida dos Santos Correa, agricultora e coletora da Rede de Sementes +Floresta conta sobre a experiência de participar do encontro: “Compartilhar o conhecimento foi renovador, estar nesse espaço nos mostra a importância do comprometimento que as pessoas têm com a natureza. Aprendi que toda rede tem sua importância independente de seu tamanho ou bioma e que é importante não desistir, pois a natureza agradece nosso trabalho de coletor. Tenho a perspectiva de que as sementes plantadas agora irão gerar frutos para meus filhos no futuro.”

A Rede de Sementes +Floresta teve início em 2023 e é formada por agricultores de Abelardo Luz, que realizam a coleta e beneficiamento de sementes nativas da Floresta Ombrófila Mista.

Rede de Sementes +Floresta participa do III Encontrão do Redário Foto: Debora Alves

Idania Correa e Marluci Pozzan no III Encontrão do Redário em Juazeiro (BA). Foto: Débora Alves.

Autora: Marluci Pozzan.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.

Como a biodiversidade pode mitigar as mudanças climáticas

Como a biodiversidade pode mitigar as mudanças climáticas

Como a biodiversidade pode mitigar as mudanças climáticas

A humanidade enfrenta uma dupla crise planetária: as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.  A biodiversidade promove inúmeros benefícios socioambientais positivos, como a qualidade da água, do ar, polinização, segurança alimentar, saúde e bem estar. Além de ameaçada pelas alterações antrópicas como a mudança no uso do solo, contaminação e exploração de recursos, as mudanças climáticas aceleram a perda de diversidade de espécies. Um ecossistema afetado tem sua capacidade de mitigar as mudanças climáticas por meio do sequestro de carbono reduzida.

A proteção, conservação e restauração da biodiversidade colaboram diretamente para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Contudo, a criação de uma abordagem integrada entre as duas problemáticas é um desafio. Pensando nisso, um artigo científico publicado em maio deste ano na revista Bioscience da Oxford listou seis pontos-chaves em que a biodiversidade contribui na mitigação das mudanças climáticas com o objetivo de interligar e relacionar ambos desafios que vivemos em prol de soluções compartilhadas. Confira abaixo:

  1. Conservação dos estoques e sumidouros de carbono

É necessário que a conservação e a expansão da proteção dos ecossistemas naturais seja prioritária e que os ecossistemas nativos não sejam substituídos por espécies exóticas como o Pinus sp. e Eucalyptus sp. Dessa forma, será promovida a manutenção dos estoques de carbono e conservação da biodiversidade. Por exemplo, nas Florestas nativas na Amazônia, na Bacia do Congo e no Sudeste Ásia; que são particularmente importantes devido à co-ocorrência de alto carbono e biodiversidade. Nessas realidades, é mais barato manter a floresta em pé e conter a perda da biodiversidade do que restaurar áreas alteradas.

Contudo, a prioridade entre conservação e restauração varia em cada região, na Mata Atlântica a restauração dos ecossistemas deve ser uma prioridade para os fundos ambientais.

  1. Restauração da biodiversidade

É necessário ir além do cumprimento de metas de restauração em milhões de hectares para analisar como essa restauração é feita. Para isso, é preciso considerar a diversidade de espécies, para que elas promovam uma conectividade ambiental e gerem benefícios ecossistêmicos. 

  1. Conservação integrada da fauna e flora local

A conservação da flora e da fauna pode sequestrar potencialmente 6,5 bilhão de toneladas por ano, ou 6,5 PgC (pentagramas de carbono) por ano. Isso ocorre devido a sua interação e complexidade alimentar, que altera regimes de incêndios e microclima; bem como a promoção da diversidade de habitats; além de serviços como a dispersão, polinização e propagação de plantas. Dessa forma, a conservação de habitats como as florestas devem estar integradas a conservação das espécies.

  1. Utilizar somente as áreas já existentes de agricultura, pastagem e silvicultura

A expansão de plantações é uma das principais causas de perda de biodiversidade, devido à degradação e perda de habitat, que acabam afetando também o clima e os recursos hídricos. Dessa forma, uma gestão mais eficiente das áreas de agricultura, pecuária e silvicultura poderia sequestrar mais de 13,7 bilhão de toneladas de carbono. Nesse sentido, é incentivada a formulação de políticas públicas que proíbam a expansão dessas áreas.

  1. Incorporação da biodiversidade nos modelos de negócios

É necessário que mais incentivos econômicos sejam concedidos às empresas em prol da conservação da biodiversidade. As empresas e as instituições financeiras precisam

definir a sustentabilidade com mais precisão em termos de conservação da biodiversidade, e devem ser fornecidos incentivos para isso. O Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) está no caminho ao alocar recursos essenciais para a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD). Da mesma forma, o setor privado pode aumentar o seu Impacto Líquido Positivo (NPI) – meta de gestão corporativa de biodiversidade.

  1. Conferências das Partes (COPs) conjuntas sobre biodiversidade e clima

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU e a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) já pontuou que a crise da biodiversidade e das mudanças climáticas deve ser enfrentada de forma conjunta.

Uma forma de fazer isso é integrar as Conferências das Partes sobre clima e biodiversidade, aumentando a sinergia entre especialistas e acordos ambientais multilaterais e instituições internacionais.

Seis pontos-chave nos quais combater a crise da biodiversidade pode contribuir para uma solução eficaz para a emergência climática (topo). Fonte: Pereira et al. 2024. 

Seis pontos-chave nos quais combater a crise da biodiversidade pode contribuir para uma solução eficaz para a emergência climática (topo). Fonte Pereira et al. 2024.<br />

Seis pontos-chave nos quais combater a crise da biodiversidade pode contribuir para uma solução eficaz para a emergência climática (topo). Fonte: Pereira et al. 2024. 

Além disso, o artigo mostra seis pontos-chaves que podem ser transformados em metas para resolver a dupla crise conjuntamente: 

  • Aumentar os estoques e o sequestro de carbono otimizando a gestão dos ecossistemas terrestres e aquáticos;
  • Restauração com uma gama diversificada de espécies nativas, garantindo a conectividade ambiental e restaurando os benefícios que os ecossistemas podem nos proporcionar;
  • Reduzir a perda de biodiversidade;
  • Garantir a manutenção dos serviços ecossistêmicos;
  • Melhorar a gestão da terra nas áreas agrícolas existentes, garantindo a subsistência e o sequestro de carbono;
  • Incorporar a biodiversidade nos modelos de negócios, compensando perturbações e danos à biodiversidade causados ​​pelas atividades humanas;
  • Integrar COPs para abordar questões ambientais em conjunto;
  • Incorporar a biodiversidade numa agenda abrangente sobre mudanças climáticas;
  • Alcançar um impacto positivo líquido (NPI) para a biodiversidade;
  • Alcançar compromissos de emissões líquidas zero de carbono até 2050;
  • Garantir um ambiente sustentável para as gerações presentes e futuras.

 

> Confira o artigo na íntegra

 

Referência consultada:
PEREIRA, Cássio Cardoso; KENEDY-SIQUEIRA, Walisson; NEGREIROS, Daniel; FERNANDES, Stephannie; BARBOSA, Milton; GOULART, Fernando Figueiredo; ATHAYDE, Simone; WOLF, Christopher; HARRISON, Ian J; BETTS, Matthew G. Scientists’ warning: six key points where biodiversity can improve climate change mitigation. Bioscience, [S.L.], v. 74, n. 5, p. 315-318, maio 2024. Oxford University Press (OUP). http://dx.doi.org/10.1093/biosci/biae035.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Caroba, indicada para arborização e restauração ecológica

Caroba, indicada para arborização e restauração ecológica

Caroba, indicada para arborização e restauração ecológica

A caroba, carobão ou jacarandá-mimoso (Jacaranda micrantha) é uma espécie muito apreciada para fins paisagísticos, ornamentais ou na recuperação de ecossistemas degradados.

A espécie ocorre no Paraguai, Nordeste da Argentina e Brasil. Na Mata Atlântica e no Pampa brasileiro ocorre no Sudeste (Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) e Sul (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) na Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila Mista.

Em relação a sua ecologia, é uma espécie pioneira a secundária inicial, sendo mais encontrada na vegetação secundária; nas capoeiras, borda de mata até mesmo em terrenos abandonados. A caroba pode ser plantada em plantio misto, associado com espécies pioneiras, ou em linhas em faixas de 2 a 4 m de largura. É recomendada na recuperação de ecossistemas degradados e próxima de cursos d’água.

Além da restauração, a espécie pode ser utilizada de forma ornamental pela beleza das suas flores,  para arborização em parques, avenidas e rodovias.  Apesar de não estar ameaçada, ela vem sendo explorada no Alto Uruguai no Rio Grande do Sul, devido a sua baixa frequência e exploração na indústria e em construções em geral, e por suas propriedades medicinais*.

Caroba Jacaranda micrantha

Detalhes da flor, folha, sementes, árvore e tronco. Fotos: John Forlonge e João Augusto Bagatini para Flora Digital da UFSC 

Caroba

Nome científico: Jacaranda micrantha Cham.
Família: Bignoniaceae
Utilização: Madeira utilizada para marcenaria, carpintaria, instrumentos musicais, celulose e móveis. Paisagismo de grandes áreas.
Coleta de sementes:  diretamente da árvore quando começar a abertura espontânea dos frutos.
Época de coleta de sementes: Maio a setembro
Fruto: Seco deiscente.
Flor: Roxa
Crescimento da muda: Médio.
Germinação: Rápida.
Plantio: Mata ciliar, área aberta.
Status de conservação: Não listada – Portaria MMA 148/2022; LC – Menos preocupante (IUCN).

* Os dados sobre usos medicinais das espécies nativas são apenas para informação geral, onde os estudos foram feitos com propriedades isoladas em uma quantidade específica. O uso de medicamentos fitoterápicos deve ser seguido de orientações médicas

 

Fontes consultadas:

PROCHNOW, P. (org.). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: Apremavi, 2007. 188 p. Disponível em: https://apremavi.org.br/wp-content/uploads/2018/03/livro-jardim-das-florestas.pdf. Acesso em: 27 dez. 2023.

CARVALHO, P. (2003). Carobão: Jacaranda micrantha.

FARIAS-SINGER, R. Jacaranda in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB114153>. Acesso em: 01 jul. 2024

JARENKOW, J. A; BRACK, P. Flora arbórea e arborescente do Rio Grande do Sul, Brasil. RiMa, 2006.

Autora: Thamara Santos de Almeida
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto
Foto de capa: John Forlonge

Como as mudanças climáticas impactam a agricultura familiar

Como as mudanças climáticas impactam a agricultura familiar

Como as mudanças climáticas impactam a agricultura familiar

Campanha lançada no começo de junho pela CONTAG Federações e Sindicatos junto ao Observatório do Clima evidencia como as mudanças climáticas impactam a agricultura familiar. A iniciativa contou com a colaboração técnica e científica da Apremavi.

As mudanças climáticas são um dos maiores desafios do nosso século e seus impactos não estão distantes, são realidade no presente. Embora a crise climática afete a todos, ela impacta principalmente grupos que contribuíram e contribuem menos para o seu agravamento, como os agricultores familiares.

Pensando nisso, a CONTAG e o Observatório do Clima lançaram a campanha “Será que vai chover? É a tal da mudança climática?” para mostrar como as mudanças climáticas afetam diretamente a agricultura familiar, que é fundamental não apenas para a subsistência e o sustento direto dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e suas famílias, mas também é a garantia da soberania alimentar brasileira e parte da solução para a crise climática.

Miriam Prochnow, diretora e cofundadora da Apremavi, foi uma das colaboradoras técnicas e científicas nas oficinas de formação da campanha. Ela comenta sobre a importância da restauração em propriedades rurais no combate à crise climática: “nós precisamos com urgência debater a questão da adaptação climática em todos os setores, inclusive na agricultura. E nesse sentido, trabalhar o planejamento das propriedades levando em conta as soluções baseadas na natureza é imprescindível, como exemplo a restauração de ecossistemas, que é uma das soluções mais eficiente para o aquecimento global”.

A iniciativa conta com a produção de vídeos animados, seis episódios de podcast, uma cartilha, entre outras ações.

> Saiba mais

Autora: Thamara Santos de Almeida com informações da campanha “Será que vai chover?”
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Carolina Schäffer
Foto de capa: Plantio no Assentamento Filhos do Contestado em São Cristóvão do Sul (SC), 17 de abril de 2021. Foto: Miriam Prochnow

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico dos aspectos socioeconômicos

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico dos aspectos socioeconômicos

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico dos aspectos socioeconômicos

A Apremavi realizou uma série de estudos sobre o uso do solo e os principais desafios para a restauração das áreas de atuação do projeto +Floresta executado em Abelardo Luz (SC).

Durante a execução da Meta I do Projeto +Floresta – de março de 2022 a outubro de 2023 – foram realizadas diversas pesquisas nos sete projetos de assentamentos envolvidos na iniciativa (PAs 13 de Novembro, Bela Vista, José Maria, Maria Silverston, Recanto Olho D’Água, Roseli Nunes e Volta Grande) e na Terra Indígena Toldo Imbú, em Abelardo Luz. As pesquisas foram essenciais para a elaboração dos projetos finalísticos de restauração, aprovados pela IBAMA em outubro de 2023. 

No âmbito dos aspectos socioeconômicos, a BioTeia Estudos Ambientais conduziu o estudo de uso do solo e a equipe técnica da Apremavi realizou o estudo de população e a pesquisa sobre o sistema de produção de mudas na região.

Em relação ao uso do solo, todos aqueles usos e cobertura do solo que são desenvolvidos na Reserva Legal (RL) e que impossibilitam os processos ecológicos de acontecerem naturalmente foram considerados como usos que comprometem o objetivo da Reserva Legal e do cumprimento da legislação atual, sendo estes: pastagem, agricultura, solo exposto/degradado e afloramento rochoso. Nestas áreas consideradas como comprometidas é primordial a mudança do uso do solo atual com a restauração e/ou com o adensamento de espécies da Floresta Ombrófila Mista para resguardar o papel da Reserva Legal e das Áreas de Preservação Permanente (APPs).

Outros usos do solo mesmo fora da RL que devem ser observados com atenção prioritária de acordo com os estudos são os banhados (áreas úmidas/alagadas) e nascentes desprovidas de vegetação, que a longo prazo vão deixar de existir e de abastecer os cursos d´água caso não sejam protegidos. Nesse contexto, esses elementos fazem parte da biodiversidade, que é um bem coletivo e deve ser protegida como forma de manter os serviços ecossistêmicos para o bem da coletividade.

Para a realização do diagnóstico da população, aplicou-se um questionário a todos os moradores limítrofes às reservas legais na abrangência do projeto. Já na TI Toldo Imbú, os moradores receberam a Apremavi em uma reunião comunitária com apoio do cacique em exercício para a realização de um mapa falado. Além disso, entrevistou-se os moradores do Bairro São João Maria que fazem divisa com a APP que será restaurada.

Nos assentamentos foram realizadas 153 entrevistas, identificando-se que a principal atividade realizada nos lotes é a produção de milho, seguida do cultivo de soja, hortaliças e feijão. Outras atividades que tiveram destaque foram produção de leite e pecuária. Em relação ao tipo de uso das reservas legais pelos moradores, a maioria mencionou que não faz nenhum uso. Entre os que fazem uso, os mais mencionados foram a coleta de água de nascente para consumo animal e humano, coleta de pinhão, coleta de folhas e lenha. Destaca-se a importância da coleta de água para consumo humano e animal nessas áreas, sendo citada a coleta de água para consumo humano nos sete assentamentos entrevistados e a água para consumo animal em seis.

Menos da metade dos entrevistados não observam irregularidades ocorrendo na reserva legal limítrofe ao seu lote ou propriedade. Nesse sentido, cada assentamento tem sua particularidade em relação aos problemas que ocorrem nas RLs. Alguns exemplos são: extração de madeira, extração irregular de erva-mate, uso para pastagem de animais (bovinos e equinos).

Quando questionados a respeito do interesse em utilizar de forma sustentável a reserva legal de forma coletiva, mais de 70 entrevistados indicaram que não tem interesse. Entre os demais, o principal interesse é em manejar erva-mate e coletar pinhão, além de continuar com a coleta de água. Em relação à organização social dos entrevistados, não foi observado um padrão por assentamento ou por uma instituição/grupo.

Na TI Toldo Imbú os moradores construíram o mapa falado da área citando como pontos positivos da conservação da APP a oportunidade de lazer no rio e como pontos negativos o uso da área da APP como pastagem e a poluição do rio que ocorre atualmente (especialmente com descarte de lixo, animais mortos e esgoto).

Para o diagnóstico do sistema de produção de mudas e sementes foram mapeados sete viveiros de mudas nativas na região: dois viveiros em Abelardo Luz, dois viveiros em São Domingos e três viveiros em Chapecó, além do Viveiro Jardim das Florestas, da Apremavi , localizado em Atalanta. 

Segundo Edilaine Dick, coordenadora do Projeto +Floresta, “Durante os trabalhos de campo tanto nos assentamentos quando na TI Toldo Imbú e no Bairro São João Maria, foi excelente a receptividade e colaboração dos moradores locais para a coleta de dados e participação nas entrevistas e demais atividades realizadas, a relação de confiança que está sendo construída, será fundamental para os resultados do projeto.

 

+Floresta

A iniciativa visa contribuir com a restauração da vegetação nativa na Floresta Ombrófila Mista, em Abelardo Luz (SC), com o incremento de espécies vegetais ameaçadas de extinção, como a araucária, a imbuia e o xaxim-bugio.

Será desenvolvido ao longo de oito anos (2022 a 2030) nas Reservas Legais de sete Projetos de Assentamento (PAs) da Reforma Agrária e em uma Área de Preservação Permanente da Terra Indígena.  O projeto é financiado pelo Ibama através do Acordo de Cooperação Técnica nº 34/2021 e supervisionado pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF/SC), pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Justiça Federal de Santa Catarina, na forma da ação n° 5001458-53.2017.4.04.7200/SC.

> Conheça o projeto

Autora: Marluci Pozzan com informações dos relatórios do Diagnóstico dos aspectos socioeconômicos: Uso do Solo (Bio Teia Estudos Ambientais), Diagnóstico da População e Diagnóstico do sistema de produção de mudas e sementes (Apremavi).
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto da capa: Aspecto da paisagem de Abelardo Luz (SC) ©️ Maira Ratuchinski

Brasil retoma Plano Clima com a participação da sociedade civil

Brasil retoma Plano Clima com a participação da sociedade civil

Brasil retoma Plano Clima com a participação da sociedade civil

O Plano Clima foi instituído em 2009 para dar suporte à Política Nacional de Mudança do Clima. Em 2024, ele está sendo reformulado em três áreas principais: mitigação, adaptação e estratégias transversais, e incluirá a formulação de uma nova meta climática para o Brasil.

Como parte dessa atualização, foi criado um grupo técnico de adaptação, cuja função será desenvolver a Estratégia Nacional de Adaptação e os Planos Setoriais de Adaptação. Esses documentos serão reunidos no novo Plano Nacional de Adaptação (PNA). Criado pela portaria n° 150 em 2016, o PNA ficou inativo durante o governo anterior. 

Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), sob a orientação técnico-científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e com envolvimento de 23 outros ministérios, o Plano prevê um amplo processo de participação.

> Confira os documentos do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima

 

Diálogos para construção do Plano Clima de Adaptação 

A agenda de participação da sociedade civil inclui formas distintas de participação, que vão desde  encontros presenciais a encontros virtuais e votações na plataforma digital Brasil Participativo. Um desses encontros foi o voltado para a adaptação climática, que ocorreu nos dias 17 e 24 de maio no YouTube denominado de “ENCONTRO VIRTUAL: Diálogos para construção do Plano Clima – Adaptação”

“As mudanças climáticas já estão acontecendo, a exemplo da situação dramática do Rio Grande do Sul. Nós sabemos que essa tragédia é anunciada há mais de quatro décadas infelizmente a humanidade não fez a sua parte e nós ainda agravamos o problema, agora precisamos agir em uma situação de inúmeros prejuízos, tanto da vida das pessoas, quanto econômico, social e prejuízo até da nossa esperança, que a cada evento climático extremo, sofremos”, comenta Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e das Mudança do Clima, na abertura do evento.

A Apremavi acompanhou os dois dias do evento. No primeiro dia (17/05), contribuímos nas votações em tempo real acerca das sugestões de proposta de visão, objetivos e propostas temáticas do plano. Já no segundo (24/05), opinamos sobre as ações prioritárias nos seguintes temas: natureza e sociedade; segurança hídrica, alimentar e energética.

“A atualização desse plano é um enorme desafio porque ele precisa ser construído com muita participação social, mas também rapidamente, uma vez que não temos mais muito tempo para implementar as ações que podem nos ajudar na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Restando menos de 7 anos para que as atividades que podem evitar que o aquecimento médio da Terra não passe o número de 1,5° graus, temos que agir imediatamente“, comenta Miriam Prochnow, cofundadora e diretora da Apremavi que acompanhou a agenda.

 

Plataforma Brasil Participativo

O processo de elaboração do Plano Clima foi aberto na plataforma Brasil Participativo no dia 5 de junho e conta com informações sobre as questões  ambientais e climáticas além dos desafios do Brasil, a situação atual no país, as legislações vigentes, os documentos existentes e em elaboração. Tem destaque na plataforma o espaço para apresentação e votação de propostas sobre o tema. 

As pessoas podem propor, votar e comentar as sugestões, gerando debate na plataforma Brasil Participativo. Cada participante pode registrar até três propostas e votar em até dez sugestões da população. Serão apresentados 18 temas, que vão desde a produção de alimentos e energia a povos e comunidades tradicionais. As 10 propostas mais votadas de cada eixo temático seguirão para análise, podendo ou não ser incorporadas ao Plano Clima. E serão enviadas para análise e eventual incorporação nos planos setoriais, recebendo uma resposta individualizada.

> Participe da primeira etapa até o dia 05 de agosto

 

Plano Clima 

O Plano Clima definirá ações para que o Brasil reduza as emissões de gases de efeito estufa e se adapte aos impactos da mudança do clima, que já ocorreram e irão se intensificar ano a ano. É um instrumento previsto na Política Nacional sobre Mudança do Clima, também em atualização neste momento.

Ele conta com um planejamento de médio prazo até 2035, com ajustes e revisões previstas a cada quatro anos. Entre os compromissos, está a meta absoluta de emissões líquidas de gases de efeito estufa em 2025, a meta absoluta de emissões líquidas de gases de efeito estufa em 2030, e o objetivo de longo prazo de alcançar a neutralidade climática até 2050 (emissões líquidas zero). A meta mais ambiciosa, para 2035, também está em construção e será apresentada antes da 30ª Conferência do Clima (COP-30), que ocorrerá em Belém (PA) em 2025. 

 

Resumo das estratégias transversais do Plano Clima apresentadas pelo governo no dia 17 de maio de 2024 em uma live no YouTube.<br />

Resumo das estratégias transversais do Plano Clima apresentadas pelo governo no dia 17 de maio de 2024 em uma live no YouTube.

Autora: Thamara Santos de Almeida com informações do Plano Clima do Governo Federal.
Revisão: Miriam Prochnow.

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico do meio físico

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico do meio físico

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico do meio físico

Estudos sobre a hidrografia, solo e vegetação foram realizados no último ano para embasar os projetos de restauração do projeto, que atua em Abelardo Luz (SC). 

Durante a execução da Meta I do Projeto +Floresta foram realizadas diversas pesquisas nas reservas legais dos sete projetos de assentamentos envolvidos na iniciativa (PAs 13 de Novembro, Bela Vista, José Maria, Maria Silverston, Recanto Olho D’Água, Roseli Nunes e Volta Grande) e na Área de Preservação Permanente (APP) da Terra Indígena Toldo Imbú, em Abelardo Luz. As pesquisas embasaram a classificação das áreas em diferentes cenários (A, B e C) e posteriormente os projetos finalísticos de restauração, que foram apresentados e aprovados pelo Ibama para a implementação da restauração das unidades de implantação do projeto (UIs).  

Para o diagnóstico do meio físico foram estudados a hidrografia, solos, morfologia e a vegetação. As pesquisas ocorreram nas UIs – áreas a serem restauradas e no seu entorno. O estudo de vegetação foi conduzido pela equipe técnica da Apremavi, enquanto os demais trabalhos foram realizados pela equipe da Bio Teia Estudos Ambientais (empresa contratada para o trabalho).

 

Diagnóstico de hidrografia

Em relação à hidrografia das UIs, todas elas estão inseridas na Bacia Hidrográfica do Rio Chapecó, e dividem-se nas sub-bacias dos rios Pacheco, Vermelho e Chapecó. Através dos estudos foi observado que muitas nascentes e rios nestas áreas estão desprotegidos por vegetação e/ou tendo impactos de causados pelo pisoteio de animais, justificando a restauração para a melhoria da conservação dos recursos hídricos. Os PAs e a área ocupada pela TI exercem papel importante para a manutenção dos recursos hídricos regionais.

 


Diagnóstico de solos

Os solos das áreas analisadas foram classificados como Latossolo, Latossolo Vermelho, Cambissolo e Nitossolo (Terra Estruturada). De acordo com a análise da qualidade nutricional do solo, há uma grande variabilidade dentro da mesma área, significando que o uso do solo altera suas características, pelo tipo de vegetação e manejo do solo. Além disso, foi observada a exaustão nutritiva dos solos, mesmo para aqueles usos que ainda possuem alguma cobertura de vegetação (estágio inicial, médio e avançado de restauração). Solos desprovidos de cobertura ficam expostos a ação física da água, que somado a falta de capacidade de troca catiônica (CTC) e de barreiras físicas, é lixiviado ao longo de áreas íngremes até cursos d’água, causando o  empobrecimento dos solos nas encostas e assoreamento dos rios.

Em várias unidades de implantação os solos possuem elevada acidez potencial (H+Al) e baixo pH, o que demandará a calagem (aplicação de cal) para corrigir a acidez, neutralizar o alumínio (Al) trocável e fornecer cálcio (Ca) e magnésio (Mg), e assim possibilitar o desenvolvimento da vegetação no processo de restauração. Ademais, verificou-se que as áreas para restauração que possuem vegetação não apresentam quantidade satisfatória de serrapilheira formada e, então, parte do ciclo biogeoquímico é baixo. 

Para Fabiana Dallacorte, coordenadora dos estudos da Bio Teia Estudos Ambientais “Não há como produzir alimentos sem água, sem polinização e sem microrganismos do solo, é emergente a necessidade de trilharmos caminhos mais conscientes em relação ao uso que fazemos do solo e minimamente respeitar a legislação vigente no que tange a proteção de áreas que protegem os corpos d´água. Espera-se que todos os envolvidos nestas terras entendam de forma coletiva a necessidade de olhar para o seu pequeno pedaço de terra como um grande influenciador de comportamentos que levem à conservação dos ecossistemas em que estão envolvidos.

 

Diagnóstico da vegetação

A respeito da vegetação, as áreas destinadas à restauração foram classificadas através da Resolução Conama nº 04 (1994) como: aproximadamente 64% de vegetação em estágio inicial, 14,39% em estágio médio e menos de 1% (1,71 ha) de vegetação em estágio avançado de regeneração. Ainda foram observados 0,43 hectares ocupados com plantio de exóticas (pinus e eucalipto) e outros 53,97 hectares com uso antrópico, especialmente como pastagem.

Foram encontradas no diagnóstico de vegetação 125 espécies arbóreas, divididas em 42 famílias. As principais espécies observadas no levantamento fitossociológico foram: Ocotea puberula (canela-guaicá), Matayba eleagnoides (camboatá-branco), Zanthoxylum rhoifolium (mamica-de-porca), Myrsine coriacea (capororoquinha), Araucaria angustifolia (araucária), Cupania vernalis (camboatá-vermelho), Schinus terebinthifolia (aroeira-vermelha), Sapium glandulosum (leiteiro), Ocotea porosa (imbuia) e Ateleia  glazioveana (timbó). A família botânica com maior número de espécies encontradas foi Myrtaceae, característica das frutíferas como pitanga, araçá, cereja e uvaia. Um dado relevante a ser mencionado é que 66,29% das espécies vegetais encontradas são zoocóricas, ou seja, têm suas sementes dispersas pela fauna, destacando a importância dos animais na manutenção da vegetação local.

Destaca-se que tais resultados são relativos às áreas que serão restauradas pelo Projeto +Floresta e foram destinados à restauração através do Chamamento Ibama nº 02/2018, que por sua vez não abrangem todos os blocos de Reserva Legal dos assentamentos envolvidos no projeto. O projeto é financiado pelo Ibama através do Acordo de Cooperação Técnica nº 34/2021 e supervisionado pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF/SC), pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Justiça Federal de Santa Catarina, na forma da ação n° 5001458-53.2017.4.04.7200/SC.

Os resultados das pesquisas foram apresentados na Oficina Técnica do Projeto +Floresta, realizada em março de 2023, que contou com a participação de representantes do Ibama, parceiros e comunidade envolvida no projeto. Além disso, os resultados também serão apresentados individualmente nos assentamentos e na TI, nas reuniões com a comunidade que devem anteceder o início das atividades de implementação da restauração.

Realização do diagnóstico do meio físico do projeto +Floresta. Foto: Leandro Casanova

Realização do diagnóstico da vegetação do projeto +Floresta. Foto: Leandro Casanova

Autora: Marluci Pozzan com informações dos relatórios do Diagnóstico do Meio Físico: Hidrografia, Morfologia e Solos (Bio Teia Estudos Ambientais) e Diagnóstico do Meio Físico: Vegetação (Apremavi).​
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Realização do diagnóstico do meio físico do projeto +Floresta. Foto: Marluci Pozzan.

Monitoramento de fauna em áreas restauradas no Caminho da Mata Atlântica

Monitoramento de fauna em áreas restauradas no Caminho da Mata Atlântica

Monitoramento de fauna em áreas restauradas no Caminho da Mata Atlântica

Em 1992 foi postulada a “A Síndrome da Floresta Vazia” (do inglês The Empty Forest) para descrever os fatores relacionados ao esvaziamento e empobrecimento da fauna nas florestas. Algumas florestas, principalmente as tropicais, têm sido denominadas como florestas vazias, pela ausência de diversidade de espécies de animais em seu interior causada por impactos humanos de longa data.

A presença de remanescentes florestais na paisagem não são garantia da existência de uma fauna diversa, pois impactos históricos, como a caça e o desmatamento podem ter levado a dizimação das populações viáveis nessas regiões. Quando não ocorre a dizimação, o paradigma da Floresta Vazia nos mostra que pode haver substituição e eliminação de algumas espécies de topo de cadeia, como os felinos, para um aumento de espécies de médio e pequeno porte, como os roedores. 

Dentro desse contexto, a conservação e a restauração devem andar juntas com ações em prol da redução das ameaças e promoção da conexão entre fragmentos florestais, aliado ao investimento no monitoramento. Por meio do monitoramento, é possível compreender quais espécies existem nos locais que estão sendo restaurados e como está a fauna ao longo do tempo, a fim de elucidar se, como e onde essa fauna está e se está voltando.

No contexto da Mata Atlântica, felizmente um estudo mostrou que a extinção local de predadores do topo da cadeia alimentar foi evitada pela existência de grandes áreas florestais ao longo das serras montanhosas da Serra do Mar e da Serra Geral, mas ainda é uma lacuna compreender como ações de conservação e restauração do bioma beneficiam a fauna e, consequentemente, a restauração ecossistêmica.

O Caminho da Mata Atlântica (CMA) tem se dedicado ao monitoramento da fauna em áreas restauradas. Um dos projetos mais recentes do CMA com o Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS) é o “No Caminho da Mata Atlântica: restaurando paisagens e fortalecendo cadeias produtivas locais no Mosaico Central Fluminense (CMA-MCF)” que inclui diversos objetivos, sendo um deles, o monitoramento de fauna em áreas que receberam ações de restauração. 

O projeto já tem resultados promissores para a fauna, segundo os resultados do projeto publicados no site do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS-Rio). Ao longo de 19 meses, a partir de janeiro de 2022, foram registradas 29 espécies de mamíferos nas áreas de restauração do projeto, sendo 25 espécies nativas da Mata Atlântica e quatro espécies exóticas/domesticadas. Dentre as espécies registradas, destacam-se as espécies ameaçadas de extinção como o sagui-da- serra-escuro (Callithrix aurita), gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi), gato-do-mato-do-sul (Leopardus guttulus), gato-maracajá (Leopardus wiedii) e anta (Tapirus terrestris).

A Apremavi, a fim de saber mais e se inspirar por esse trabalho, que tem consonância com a atuação da instituição, entrevistou os pesquisadores Andre Monnerat Lanna e Carlos Eduardo de Viveiros Grelle, do Laboratório de Vertebrados (LabVert) do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsáveis pela coordenação do monitoramento das áreas com ações de restauração do CMA.

 

Entrevista com pesquisadores de fauna em áreas restauradas no CMA

1) Apremavi: queremos saber mais sobre a história do projeto e o que motiva vocês no trabalho de monitoramento de fauna.

Pesquisadores: O Caminho da Mata Atlântica (CMA) é uma iniciativa fundada por um conjunto de órgãos gestores de unidades de conservação, federações de montanhismo, ONGs e diversos outros parceiros, e hoje é liderada pelo Instituto Caminho da Mata Atlântica . O CMA  surgiu com o objetivo de trabalhar com o turismo de base comunitária em trilhas de longo percurso. Entretanto, com o decorrer do projeto vimos que era necessário monitorar a biodiversidade. 

O CMA vai desde o Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul, compreendendo a Serra do Mar até a Serra Geral. A importância do CMA vai além de  uma trilha, é uma iniciativa de conservação de paisagem em grande escala, queremos abranger também a diversidade geológica e conectar a biodiversidade com esse caminho. Além disso, temos componentes sociais e econômicos, como fortalecer a cadeia produtiva do trecho. Recentemente, estamos tentando entender como a restauração influencia grandes grupos de mamíferos, principalmente na sua abundância na Serra do Mar.

O que nos motiva é trabalhar para que a fauna seja parte fundamental dos protocolos de monitoramento da restauração, por enquanto ela ainda é uma novidade nos projetos. Além disso, precisamos expandir esse monitoramento para 10-15 anos, abarcando também estudos de interações interespecíficas, ecologia da paisagem, e pensar em outros grupos, para além dos mamíferos, como aves e invertebrados.

 

2) Apremavi: desde quando vocês monitoram a fauna em áreas restauradas?

Pesquisadores: O início do monitoramento de fauna em áreas restauradas foi com o projeto “No Caminho da Mata Atlântica: restaurando paisagens e fortalecendo cadeias produtivas locais no Mosaico Central Fluminense (CMA-MCF)”, apoiado pelo Funbio, em janeiro de 2022. Ele teve a duração de dois anos, a partir daí também incluímos o monitoramento de fauna em outro projeto de restauração em parceria com a WWF.

 

3) Apremavi: qual a importância da realização do monitoramento de fauna em áreas restauradas?

Pesquisadores: A restauração ecológica precisa focar na restauração ecossistêmica, a floresta não vai funcionar adequadamente sem a fauna. O grande desafio é monitorar para além de somente a vegetação e carbono, e para isso sabemos que precisamos de políticas públicas, recursos, equipe capacitada e projetos de longo prazo. É preciso compreender que esse monitoramento da fauna não é tão fácil quanto monitorar a vegetação, leva mais tempo e custa mais, porém é primordial para observarmos os efeitos da restauração.

 

4) Apremavi: como o trabalho ocorre na prática? Quais são as principais ferramentas e métodos?

Pesquisadores: usamos armadilhas fotográficas e ficamos em cada área por períodos de amostragem.

Nosso foco são os mamíferos médios e grandes e a compreensão do retorno deles ao longo dos anos. Queremos entender como a vegetação mudou e como a fauna está mudando ou não e qual a relação da fauna com a vegetação, para isso avaliamos padrões ecológicos como a ocorrência, riqueza, composição da comunidade e a abundância. 

 

5) Apremavi: quais os principais resultados que vocês têm encontrado e quais os desafios?

Pesquisadores: temos o resultado do marco 0 da biodiversidade, ou seja, a linha de base de como a fauna está antes da restauração. A ideia é compreendermos como o incremento de vegetação vai aumentar ou mudar essa comunidade de mamíferos.

Já temos alguns dados interessantes como exemplares de cateto (Pecari tajacu) se movimentando entre dois fragmentos, o que é uma surpresa, pois normalmente ele ocorre em áreas conservadas maiores, então temos algumas ideias iniciais desse movimento da fauna na paisagem. A longo prazo, pretendemos conseguir financiamento para dar continuidade ao monitoramento.

As armadilhas fotográficas possibilitam também o registro de possíveis ameaças com o monitoramento, como cachorro doméstico, gado, caça e fatores de degradação. Além disso, elas geram muitas fotos e vídeos que podem ser utilizados em ações de comunicação e educação ambiental, mostrando o valor da floresta em pé e das áreas restauradas.

 

6) Apremavi: quais as principais indicações para a realização de monitoramentos dessa natureza?

Pesquisadores: depende da ambição e do recurso, aqui começamos com os mamíferos pelo tempo que tínhamos (2-3 anos) e dos recursos. O ideal é um monitoramento a longo prazo que aborde tanto vertebrados quanto invertebrados, como polinizadores, se puderem, a exemplo de aves e abelhas.

Além disso, é importante fazer uma linha de base comparável entre áreas, por exemplo, comparar áreas restauradas em diferentes estágios com áreas de referência (conservadas) para compreender se a diversidade está próximo do que se espera e com áreas controle (degradadas), como pasto e agricultura extensiva, por exemplo.

 

Andre Lanna - Nova Friburgo CMA-IIS

Os pesquisadores Andre Lanna e Carlos Eduardo em campo pelo projeto do Caminho da Mata Atlântica e algumas espécies registradas (cutia, cateto e puma) por meio do monitoramento de áreas restauradas. Fotos: Andre Lanna para o Caminho da Mata Atlântica.

O Caminho da Mata Atlântica

O Caminho da Mata Atlântica é uma trilha de mais de 4 mil km que percorre a Serra do Mar e um trecho da Serra Geral, abrangendo vários estados do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul. Seu limite norte é no Parque Estadual do Desengano (RJ) e se estende até os cânions do Parque Nacional dos Aparados da Serra (RS).

Inspirada na Appalachian Trail norte-americana, a trilha atravessa mais de 130 áreas protegidas, comunidades tradicionais e terras indígenas, conectando trilhas históricas como o Caminho do Itupava (PR), os Caminhos do Mar (SP), o Caminho de Mambucaba (SP/RJ) e as travessias Petrópolis-Teresópolis e Lumiar-Sana (RJ). Passa também por paisagens de ilhas como Santa Catarina (SC), Ilha do Mel (PR), Ilhabela (SP) e Ilha Grande (RJ), promovendo o montanhismo, ecoturismo, desenvolvimento local e conservação da biodiversidade em um dos biomas mais ameaçados do mundo.

Conheça os resultados do projeto CMA-MCF:

Referências:

Bogoni, J. A., Pires, J. S. R., Graipel, M. E., Peroni, N., & Peres, C. A. (2018). Wish you were here: How defaunated is the Atlantic Forest biome of its medium-to large-bodied mammal fauna?. PloS one, 13(9), e0204515.

Bogoni, J. A., Percequillo, A. R., Ferraz, K. M., & Peres, C. A. (2023). The empty forest three decades later: lessons and prospects. Biotropica, 55(1), 13-18.

Redford, K. H. (1992). The empty forest. BioScience, 42(6), 412-422.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer (Apremavi) e Andre Monnerat Lanna e Carlos Eduardo de Viveiros Grelle (Caminho da Mata Atlântica e Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Foto de capa: Puma (Puma concolor), registrado no Caminho da Mata Atlântica por Andre Lanna.

Semana do Meio Ambiente impulsiona ações da Apremavi na região Sul

Semana do Meio Ambiente impulsiona ações da Apremavi na região Sul

Semana do Meio Ambiente impulsiona ações da Apremavi na região Sul

5 de junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente. Em alusão a essa data, a Apremavi promoveu, ao longo da semana, palestras e oficinas de capacitação na temática ambiental, participou de eventos com parceiros e estimulou o plantio de árvores nativas em Santa Catarina, no Paraná e no Rio Grande do Sul.

A Semana do Meio Ambiente é uma oportunidade para promoção da conscientização e estímulo para a ação em tempos de crise climática. Por isso, a Apremavi aproveita a data comemorativa para impulsionar ações coletivas que ajudem a instigar mudanças comportamentais, essas que são tão necessárias para proteger o meio ambiente e garantir um presente sustentável para a atual e futuras gerações.

No escopo das atividades desenvolvidas, as palestras são essenciais para disseminar conhecimento e informações atualizadas sobre as mudanças climáticas, suas causas, consequências e possibilidades de mitigação e adaptação. Já os plantios simbolizam ações concretas e imediatas que ajudam a restaurar ecossistemas e sequestrar carbono, mas também envolvem a comunidade de maneira ativa, criando um senso de pertencimento e responsabilidade coletiva. 

 
Paraná:

No Paraná, o Programa Matas Sociais, executado no âmbito da parceria entre a Klabin, a Apremavi e o Sebrae, realizou ações de plantio e palestras.

A primeira atividade ocorreu no dia 03 de junho de 2024, no município de Imbaú (PR). Em parceria com a Prefeitura, Emílio André Ribas e Marcos José dos Santos, integrantes da equipe técnica da Apremavi, se reuniram com a comunidade de Faxinal de São Pedro para a restauração de uma nascente em uma propriedade rural.

Na ocasião, foram plantadas 150 mudas de árvores nativas, que foram doadas pelo Matas Sociais. A nascente restaurada está na bacia hídrográfica que abastece a cidade de Imbaú e as comunidades próximas, como Faxinal de São Pedro e Charqueadinha.

Ainda na mesma data, a Apremavi realizou uma palestra para cerca de 90 alunos do ensino fundamental e médio no Centro Educacional O Brasil Para Cristo (OBPC) em Telêmaco Borba (PR).

O tema apresentado focou na restauração ecológica, englobando os diversos estágios de sucessão ecológica, metodologias de restauração e diminuição dos fatores de degradação. Além disso, foi apresentada a importância da diversidade de espécies na restauração com a inclusão de espécies frutíferas, pioneiras, secundárias e clímax, para o sucesso da restauração ecológica. No encerramento da atividade foram doadas 120 mudas de espécies nativas para os alunos e participantes.

Um dos professores da instituição, Glauco Ernani Ferreira, comenta as suas percepções sobre a ação: “A palestra foi muito relevante, pois de uma forma clara e simples, porém técnica, nossos alunos aprenderam sobre a importância da preservação, além de agregarem aos conhecimentos já recebidos em sala de aula como ecossistemas e sucessão ecológica, parabenizamos os profissionais pela apresentação”

Palestras e plantio realizados no dia 03 de junho de 2024 pelo Programa Matas Sociais PR em Imbaú e Telêmaco Borba. Foto: Poliana Nos Ribas

Palestras e plantio realizados no dia 03 de junho de 2024 pelo Programa Matas Sociais PR em Imbaú e Telêmaco Borba. Foto: Marcos José, Emílio Ribas e Poliana Nos Ribas

Santa Catarina:

Já em Santa Catarina, uma das atividades ocorreu no dia 06 de junho em decorrência do Programa Matas Sociais, onde uma palestra foi realizada no Núcleo Municipal Antonieta Farias de Souza, em Palmeira (SC). Tatiana Arruda Correia e Ronaldo Straubel de Oliveira, colaboradores da Apremavi, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente e de Educação do município, conversaram com 90 alunos e professores do ensino fundamental. 

No dia 07 de junho, os colaboradores do Matas Sociais realizaram uma palestra na Escola de Educação Básica São Francisco, em Ponte Alta (SC).

As palestras abordaram temas como a conservação das florestas, o uso e conservação dos solos, rios e outros recursos naturais que são fundamentais para a vida no planeta. Também foi destaque o assunto sobre combustíveis fósseis e seus impactos nas mudanças do clima. 

Com apoio da Epagri e da Secretaria de Meio Ambiente de Ponte Alta, os alunos do 9º ano da escola realizaram o plantio de 25 mudas na praça central da cidade. As árvores servirão para ornamentação e paisagismo do local e cabe aos alunos agora a missão de auxiliar nos cuidados e proteção das árvores plantadas e na divulgação da ação desenvolvida.

“Agradecemos a direção da Escola São Francisco, a professora de Ciências, aos alunos participantes, a equipe da Secretaria de Meio Ambiente e a Apremavi, pois sem esse time a ação não poderia ter sido realizada”, relata Adelina Cecília Andrade Berns, extensionista rural da Epagri.

 

Plantio na Escola de Educação Básica São Francisco, do município de Ponte Alta realizado no dia 07 de junho de 2024 e palestra pelo Programa Matas Sociais SC. Fotos: Tatiana Arruda Correa

Em Atalanta (SC), entre os dias 04 e 06 de junho, a Apremavi promoveu um minicurso, um dia de campo e montou um estande no VIII Encontro Catarinense do Sistema Plantio Direto e IV Encontro Estadual do Sistema Plantio Direto de Hortaliças (SPDH).

O evento foi promovido pela Epagri em parceria com a Prefeitura do Município, a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária e a Associação dos Engenheiros Agrônomos da Região de Irati (Aeari) e teve a inscrição de mais de 500 pessoas.

As ações mobilizaram vários integrantes da equipe da Apremavi. Os colaboradores, Maíra Ratuchinski e Leandro Casanova, acompanharam o evento e receberam estudantes e agricultores no estande para discutir a importância do plantio de árvores nas áreas de preservação permanente (APPs). Já o minicurso “adequação ambiental da propriedade rural em tempos de crise climática” foi aplicado pelas diretoras da instituição, Carolina Schaffer e Miriam Prochnow. E o dia de campo foi conduzido por Wigold e Edegold Schäffer, que levaram o grupo de visitantes para conhecer a Trilha da Restauração, o Viveiro Jardim das Florestas e o Centro Ambiental da Apremavi.

“Nossa participação foi excelente, pudemos abordar a temática ambiental em ações distintas e conversar com pessoas de diferentes regiões do estado. Além disso, o encontro permitiu o estreitamento de laços com a Epagri, que é parceira de longa data da Apremavi, sobretudo por facilitar o contato com os produtores rurais, que são público-alvo dos projetos que desenvolvemos”, comenta Carolina.

 

Alunos visitam estande da Apremavi no evento da Epagri, em Atalanta (SC). Foto: Carolina Schäffer.

Alunos visitam estande da Apremavi no evento da Epagri, em Atalanta (SC). Foto: Carolina Schäffer.

A Apremavi também esteve na cidade de Monte Carlo (SC), com palestras ministradas por Edilaine Dick, diretora da instituição. As ações ocorreram nos dias 05 e 06 de junho na Escola de Educação Básica Maria do Rosário Fischer como parte de uma série de atividades desenvolvidas pela escola no mês.

No total, foram envolvidos 149 alunos do ensino fundamental, do pré I até a 3ª Série. Dentre os assuntos abordados estão as mudanças climáticas, a importância da água, a importância da coleta e separação de resíduos e aspectos da Mata Atlântica, com ênfase na Floresta com Araucárias. Para tal, foram utilizados jogos de memória e história contada.

 

Palestra na Escola de Educação Básica Maria do Rosário Fischer em Monte Carlo na Semana do Meio Ambiente de 2024. Foto: Emidia Zancan

Palestra na Escola de Educação Básica Maria do Rosário Fischer em Monte Carlo na Semana do Meio Ambiente de 2024. Foto: Emidia Zancan

Em Florianópolis, Edilaine Dick e Gabriela Goebel da Apremavi, ministraram uma palestra no dia 04 no evento “Junho Verde”, promovido pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) de SC.

A explanação abordou o histórico e trajetória da instituição, e de seus principais projetos voltados à adequação ambiental e restauração de ecossistemas. Os projetos “Implantando o Código Florestal”, que promove adequação ambiental de propriedades rurais e ações relacionadas à implantação do PRA em SC, e o “Conservador das Araucárias”, foram tema da apresentação realizada.

Ao final da palestra, surgiram diversas perguntas acerca dos projetos mencionados, principalmente em relação ao fluxograma de atividades relacionados à retificação do CAR em propriedades rurais; sobre mercado de carbono e metodologias de restauração e critérios para participação no projeto “Conservador das Araucárias”. 

Na ocasião, cerca de 60 servidores acompanharam a palestra, tanto na modalidade presencial como de forma online. Ainda, o evento contou com a doação de 300 mudas de espécies arbóreas nativas da Mata Atlântica e produzidas pela Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM). 

 

Palestra no dia 04 no evento “Junho Verde”, promovido pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) de SC na Semana do Meio Ambiente. Foto: Arquivo IMA

Palestra no dia 04 no evento “Junho Verde”, promovido pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) de SC na Semana do Meio Ambiente. Foto: Arquivo IMA

Além disso, o Programa Matas Legais, realizado pela Apremavi em parceria com a Klabin, realizou a doação de 2.616 mudas ao longo do mês de maio para instituições que realizaram ações em decorrência da data, como as Prefeituras Municipais de Santa Cecília, de Lages, de Bom Retiro, de Santa Terezinha e de Bocaína do Sul, instituições de ensino de Painel, de Trombudo Central e de Lages, e a Polícia Militar de Rio do Sul.

 

Rio Grande do Sul:

No Rio Grande do Sul, que enfrenta diversos desafios oriundos do maior evento climático extremo da sua história, o trabalho da Apremavi foi apresentado no dia 05 de junho como parte de uma palestra sobre a atuação do profissional biólogo em tempos de emergência climática na II Semana Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim.

Na ocasião, o trabalho em prol da restauração e conservação da Mata Atlântica, com foco nas ações de comunicação, acompanhamento e desenvolvimento de políticas públicas, restauração ecológica e monitoramento foi apresentado.

Além da palestra, a programação contou com um plantio simbólico de mudas de árvores nativas no Bosque da Memória da instituição. “Devido a proximidade de Erechim (RS) com Chapéco (SC) muitos alunos já conheciam o trabalho da Apremavi e ficaram entusiasmados em saber mais. A ação foi importante para mostrar na prática as possibilidades de atuação profissional nas diversas áreas da instituição. Esperamos que com essa aproximação com a universidade, a Apremavi receba visitas guiadas, novos estagiários e pesquisadores oriundos da UFFS, que tem como corpo discente pessoas muito diversas de várias regiões do Brasil, desde o Norte, até o Nordeste e Sudeste”, relata Thamara Santos de Almeida, comunicadora da Apremavi e palestrante do evento.

 

 

Bosque da Memória da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Erechim. Foto: Thamara Santos de Almeida.

Bosque da Memória da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim. Foto: Thamara Santos de Almeida.

Autores: Emílio André Ribas, Tatiana Arruda Correia, Edilaine Dick, Carolina Schäffer, Gabriela Goebel, Daiana Tânia Barth, Thamara Santos de Almeida (equipe Apremavi) e Adelina Cecília Andrade Berns (Epagri).
Revisão: Equipe de Comunicação da Apremavi e Marcos Alexandre Danieli (Klabin).
Foto de capa: Alunos visitam estande da Apremavi no evento da Epagri nos dias 04 e 06 de junho, em Atalanta (SC). Foto: Carolina Schäffer.

Turismo sustentável: um aliado do Conservador das Araucárias

Turismo sustentável: um aliado do Conservador das Araucárias

Turismo sustentável: um aliado do Conservador das Araucárias

Encontro em Urubici (SC), no dia 22 de maio, reuniu ambientalistas, empresários, representantes do governo, moradores da região e entusiastas da causa ambiental para troca de experiências e palestras sobre a importância da Floresta com Araucárias, sua conservação e seu potencial para o ecoturismo. 

A região da Serra Catarinense é uma das mais visitadas em Santa Catarina, com um avanço crescente na oferta de roteiros para o ecoturismo. Nesse cenário, é importante colocar em pauta a discussão do desenvolvimento de um turismo sustentável.

A sustentabilidade na exploração turística envolve a adoção de práticas que assegurem a conservação dos recursos naturais e também culturais, promovendo benefícios econômicos e sociais para as comunidades. Além disso, ao envolver atores locais na promoção dessas práticas, cria-se um ambiente propício para a sensibilização e a educação ambiental.

Unir o turismo com a conservação e a educação ambiental sempre foi meu sonho; essa é uma tríade que faz muito sentido”, afirma Giem Guimarães, proprietário do Parque Nacional Eco Resort, local que hospedou o encontro.

O Eco Resort fica na Fazenda Santa Bárbara, em Urubici (SC), no coração da Serra Catarinense, na área de abrangência da Floresta com Araucárias e na divisa com o Parque Nacional de São Joaquim. Até recentemente, 52% da propriedade eram cobertos por pastagens e usados para criação de gado, quando foi escolhida como área piloto do Conservador das Araucárias, projeto da parceria entre a Apremavi e a Tetra Pak.

O piloto foi conduzido em 2021 e plantou mais de 40 mil árvores nativas ajudando a restaurar 87,16 hectares com diferentes técnicas como o plantio de árvores, a semeadura direta, o enriquecimento de florestas secundárias e a condução da regeneração natural. 

Uma das atividades do encontro no dia 22 de maio foi a visita as áreas restauradas, com explicação in loco das atividades desenvolvidas para que a inspiração se sentissem inspiradas   “Como empresário do setor hoteleiro, foi gratificante reunir pessoas de diversas áreas e sentir que os colegas do ramo estão percebendo o esforço que tem sido feito em prol da floresta com araucárias”, comenta Giem.

Visitantes na área piloto do Conservador das Araucárias, na Fazenda Santa Bárbara, em Urubici (SC). Foto: Miriam Prochnow.

Visitantes na área piloto do Conservador das Araucárias, na Fazenda Santa Bárbara, em Urubici (SC). Foto: Miriam Prochnow.

A Floresta com Araucárias e sua importância foram tema da palestra do ambientalista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), João de Deus Medeiros. “Nos últimos dois séculos, a expansão de atividades econômicas e das cidades reduziu a floresta com araucária a aproximadamente 3% de sua área original, sendo que menos de 1% dessas florestas podem ser consideradas primárias”, afirma o professor que também contou que, de forma geral, quase todos os remanescentes de araucária encontram-se hoje muito fragmentados e dispersos, o que contribui para diminuir ainda mais a variabilidade genética de suas espécies, colocando-as sob efetivo risco de extinção.

A conservação da natureza está no coração do nosso negócio e é uma das causas mais valiosas para nós. Aqui, agimos para proteger essa que é uma das regiões mais lindas do mundo – a Serra Catarinense e a Floresta com Araucárias”, comenta Julia Monteiro, concierge do Eco Resort. Julia foi uma das palestrantes do encontro e em sua fala demonstrou as oportunidades para o turismo sustentável em Urubici.

A programação do evento também contou com uma palestra sobre os desafios da crise climática, apresentados por Wigold Schaffer, cofundador da Apremavi, e uma apresentação feita por Carolina Schäffer, coordenadora de projetos da Apremavi, sobre a estratégia do Conservador das Araucárias para a restauração e a conservação da Mata Atlântica, com ênfase na Floresta Ombrófila Mista.

O Conservador das Araucárias tem como estratégia adicional para a conservação da Mata Atlântica, o estímulo à criação nas áreas do projeto de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), que são antigas aliadas do turismo ecológico e sustentável.

 

Encontro em Urubici (SC), no coração da Serra Catarinense, promove debate sobre turismo sustentável e conservação da Floresta com Araucárias. Fotos: Miriam Prochnow e Carolina Schaffer.

Encontro em Urubici (SC), no coração da Serra Catarinense, promove debate sobre turismo sustentável e conservação da Floresta com Araucárias. Fotos: Miriam Prochnow e Carolina Schäffer.

O Conservador das Araucárias

O Conservador das Araucárias é um projeto que visa a restauração florestal trazendo um modelo inovador focado na recuperação de áreas degradadas por meio do plantio de espécies nativas, com benefícios para as comunidades locais, fauna e flora da Mata Atlântica e sequestro de carbono.

Desenvolvido em parceria com a Tetra Pak, o projeto tem a ambição de restaurar pelo menos 7 mil hectares da Mata Atlântica em um período de dez anos – o equivalente a 9.800 campos de futebol.

O projeto conta com o acompanhamento da Conservation International (CI), da The Nature Conservancy Brasil (TNC) e da Klabin, fornecedora de matéria prima da Tetra Pak e parceira de longa data da Apremavi nos Programas Matas Legais e Matas Sociais.

Conheça o projeto 

Autora: Carolina Schäffer.
Revisão: Miriam Prochnow e Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Visita na área do projeto piloto do Conservador das Araucárias. Foto: Miriam Prochnow.

Visão de libélula e olhar de drone: tecnologias de geoprocessamento na restauração

Visão de libélula e olhar de drone: tecnologias de geoprocessamento na restauração

Visão de libélula e olhar de drone: tecnologias de geoprocessamento na restauração

Desde sua fundação, a Apremavi tem se dedicado a aprimorar o conhecimento técnico de sua equipe e buscado incorporar novas tecnologias de geoprocessamento. Conheça essa história e como a estratégia auxilia no ganho de escala da restauração ecológica.

A Apremavi deu os primeiros passos em geoprocessamento em 2008, a partir da participação em um curso sobre utilização de ArcGIS (software, servidor e sistema de informação geográfica online)  promovido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em parceria com a prefeitura de Indaial (SC). No ano de 2009, o MMA e a Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (AMAVI), com apoio das 28 prefeituras da região, da Apremavi e da The Nature Conservancy Brasil (TNC), desenvolveram o Cargeo, sistema para identificar, mapear e averbar as Reservas Legais em propriedades rurais.

O sistema pioneiro serviu como exemplo para a implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) no Brasil. Essa iniciativa promoveu a capacitação de técnicos de prefeituras do Alto Vale do Itajaí e da Apremavi em uso de ArcGIS e AutoCAD (software topográfico para geração de mapas), servindo assim como embrião do desenvolvimento de capacidades para trabalhar com mapeamento e gerenciamento de informações.

Mesmo antes do Cargeo, a Apremavi buscou sistematizar ações de restauração ecológica com dados geográficos, relacionando essa informação a um ponto no espaço, ainda que virtual: “A primeira vez que tive contato com geoprocessamento foi em meados da década de 1990 com o mapeamento dos remanescentes de Mata Atlântica feito pela parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE). Com esse trabalho percebi que bases de dados e informações georreferenciadas eram uma ferramenta imprescindível para gerenciar as informações referentes aos projetos de restauração e conservação. Naquela época os softwares de geoprocessamento e computadores eram caros e inacessíveis para uma Organização Não Governamental (ONG) como a Apremavi, mas anos depois buscamos alternativas para investir nelas mesmo assim e isso vem fazendo a diferença até hoje”, comenta Wigold B. Schäffer, cofundador e coordenador de projetos da Apremavi. 

Com a evolução e acessibilidade da tecnologia, a Apremavi conseguiu adquirir o primeiro aparelho de Sistema de Posicionamento Global (GPS) em 2008, ferramenta que passou a permitir o registro das coordenadas geográficas das áreas conservadas e das áreas em processo de restauração ecológica. Na época, os dados coletados em campo eram registrados em planilhas, então ainda faltava uma ferramenta para processar esses pontos coletados em campo e criar polígonos para caracterizar o uso do solo da propriedade. Essa necessidade levou a equipe a adotar em 2011 o TrackMaker e o TrackMaker Pro, programas que possibilitaram criar as geometrias a partir dos dados geográficos, resultando em dados como o cálculo de área e elaboração de mapas.

Na busca por melhorar as informações geográficas e os mapas, em 2012 a Arcplan desenvolveu para a Apremavi um curso de geoprocessamento com ArcGis, em Atalanta (SC). Em meados de 2015, uma nova rodada de capacitação em ArcGIS foi realizada, esta fornecida pela área de Sistema de Informações Geográficas (SIG) da Klabin. A partir destas formações, a confecção de mapas em escala tornou-se uma realidade na Apremavi, marcando um importante avanço na produção de mapas temáticos e de uso de solo como suporte para os projetos técnicos de restauração elaborados. 

Ainda em 2015, a Apremavi firmou uma parceria com a TNC para utilizar o sistema Cargeo internamente. A ferramenta foi aprimorada ao longo dos anos e se transformou no Portal Ambiental da Apremavi, lançado em 2017. Atualmente, o Portal está recebendo atualizações significativas com a modernização da linguagem e ferramentas, visando se tornar uma plataforma de gestão dos projetos da instituição, com um compilado sistematizado de todas as informações de planejamento, gestão e etapas de execução dos projetos de restauração e monitoramento.

Além do incremento nas funcionalidades do Portal Ambiental, a Apremavi realizou mudanças para atender os dispositivos da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). As informações ficam disponíveis para parceiros e financiadores, aumentando assim a transparência nos projetos desenvolvidos, ao mesmo passo que os dados pessoais recebem limitação de acesso ao público, protegendo o direito à privacidade das pessoas.

Em 2017 a Apremavi teve acesso ao primeiro VANT – Veículo Aéreo Não Tripulado (dispositivos popularmente conhecidos como drones) e promoveu a primeira capacitação para equipe técnica para o registro de imagens aerofotogramétricas das áreas atendidas nos projetos de restauração e conservação. O acesso a essa tecnologia possibilitou inicialmente, coletar imagens de alta qualidade em uma altitude maior, permitindo uma ampliação focal da área a ser registrada.

Já em 2019, uma segunda capacitação sobre a  utilização de VANTs para registros fotográficos ocorreu. Foram aprimorados os esforços para a construção de planos de voo no software DroneDeploy e criação de ortomosaicos na ferramenta Agisoft PhotoScan. Após essa capacitação, a equipe técnica iniciou a geração de ortomosaicos em pequenas e médias propriedades para auxiliar na criação de mapas de uso de solo e dos projetos técnicos de restauração.

Para complementar os avanços nos usos de tecnologias de geoprocessamento e melhorar a avaliação dos processos de monitoramento da restauração, em 2019, a Apremavi, em parceria com a Klabin, sistematizou a primeira versão do Guia de Monitoramento de Projetos de Restauração de Áreas Degradadas e Alteradas. Criado no ArcGis Survey 123 (ferramenta de formulários dinâmico), permitindo a criação de um formulário de coleta de dados em campo. A depender das informações inseridas, o formulário calcula um conceito final do sucesso da restauração na área. Todas as informações referentes à coleta de dados ficam atreladas a uma localização geográfica.

 

Equipe da Apremavi avançando no geoprocessamento.

Equipe da Apremavi avançando no geoprocessamento. Fotos: Pedro Ferreira, Maurício Reis e Weliton Oliveira

Em 2022, outra imersão em geoprocessamento para formação continuada da equipe técnica foi realizada, abordando a coleta, tratamento e processamento de dados; geração de layout para mapas; estruturação e organização da base geral de dados; disponibilidade da base em dispositivos móveis; padronização das nomenclaturas e simbologias utilizadas nos mapas, entre outros assuntos. Essa imersão foi organizada e ministrada por técnicos da Apremavi com experiência no uso das ferramentas utilizadas, capacitados ao longo dos anos.

No início de 2024 um feito marcou o  avanço tecnológico em geoprocessamento: a equipe coletou e processou um ortomosaico de uma área única de aproximadamente 1.100 hectares. A atividade permitiu uma avaliação interna de procedimentos a serem seguidos bem como a modernização de alguns equipamentos. “Sempre buscamos mapear as áreas restauradas pela Apremavi, sejam com mapas feitos no papel, passando por ferramentas como o Trackmaker e Google Maps até chegarmos no ArcMap. Também buscamos oferecer treinamentos e trocas de experiências com a equipe para ampliar e melhorar o uso dessas ferramentas e realizar com riqueza de detalhes o planejamento das propriedades atendidas nos diferentes projetos executados pela Apremavi”, comenta Edinho Pedro Schäffer, coordenador de projetos da Apremavi.

Ainda em 2024, a Apremavi passou a integrar um Grupo de Trabalho de Inteligência Geoespacial do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, que reúne, sintetiza e disponibiliza informações de interesse comum aos integrantes da rede do Pacto. “Espacializar as informações sobre os projetos de restauração em desenvolvimento nos estados de abrangência da Mata Atlântica ajuda a termos uma dimensão mais clara sobre o alcance das ações em curso e a planejar a restauração em nível de paisagem para ganho de escala. Só temos mais 6 anos até o fatídico ano de 2030 e até lá muita coisa precisa ser feita”, comenta Carolina Schaffer, coordenadora de projetos na Apremavi e representante da instituição no Conselho Nacional do Pacto.

Além de acreditar na importância da capacitação da equipe para construção de capacidade de desenvolvimento interno, a Apremavi busca continuamente  investir no desenvolvimento e aquisição de equipamentos e tecnologias que auxiliem e melhorem a qualidade das atividades. Mauricio Reis, coordenador de projetos da Apremavi, comenta sobre a importância dessa busca constante para dar escala e objetividade à restauração: “a aplicação do geoprocessamento na restauração florestal se torna uma importante ferramenta para planejamento e desenvolvimento das ações, sejam elas em pequenas, médias ou em grandes escalas. A capacitação através da formação contínua é necessária para termos a equipe técnica sempre se aperfeiçoando e buscando tecnologia para serem implementadas nos projetos desenvolvidos pela Instituição.”

 

Evolução em geoprocessamento na Apremavi

Autores: Maurício Reis e Wigold B. Schäffer.
Revisão: Equipe de Comunicação e Informação da Apremavi.

Realidade do Rio Grande do Sul mostra a urgência de justiça climática

Realidade do Rio Grande do Sul mostra a urgência de justiça climática

Realidade do Rio Grande do Sul mostra a urgência de justiça climática

O desastre climático que tem devastado o Rio Grande do Sul evidenciou as consequências de não priorizar políticas públicas relacionadas ao clima que pautem a justiça climática.

Recentemente, ao cobrir o maior evento climático extremo do RS, talvez até do Brasil, comunicadores de diferentes plataformas – seja a grande mídia ou canais independentes – têm utilizado expressões como emergência climática, desastre climático e crise climática para descrever a situação. Não é um equívoco, no entanto, pesquisadores do Observatório das Metrópoles de Porto Alegre, argumentam que o que está ocorrendo no Rio Grande do Sul é, também, um desastre social. 

Esse desastre resulta da falta de ação eficiente do Estado diante de fenômenos que a ciência já havia previsto e que organizações não governamentais vêm alertando há décadas. Não é preciso recorrer a previsões científicas relacionadas às mudanças climáticas atuais para saber que, em determinados períodos, os rios tendem a aumentar seu volume de água e transbordar. 

Os desdobramentos dos eventos climáticos extremos em desastres sociais, como o testemunhados no RS, são o resultado do triunfo de um projeto político que desvaloriza qualquer tipo de investimento social. Segundo uma matéria produzida pelo mesmo Observatório para o site do Brasil de Fato, o evento atual, por ter sido extremo, afetou não apenas os mais pobres e vulneráveis, mas, é nítido que impactou de forma desigual, principalmente, em maior proporção a população com menor renda.

O mapa de Porto Alegre reforça os dados socioeconômicos dos afetados, estando as pessoas mais impactadas em situação de pobreza (um salário mínimo e meio por família) e pobreza extrema (R$109,00 por família). Além disso, o nível de impacto também é maior para Pessoas com Deficiência (PCDs), principalmente os deficientes físicos. Entre os grupos afetados em maior intensidade também, estão os catadores de materiais recicláveis e as populações ribeirinhas.

 

O mapa mostra em primeiro plano o valor do rendimento mensal dos domicílios particulares em Porto Alegre. Em segundo plano os lugares mais impactados por alagamentos. Desenvolvido pelo Observatório das Metrópoles.<br />

O mapa mostra em primeiro plano o valor do rendimento mensal dos domicílios particulares em Porto Alegre. Em segundo plano os lugares mais impactados por alagamentos. Desenvolvido pelo Observatório das Metrópoles.

No painel informativo produzido pela prefeitura da capital gaúcha, foram apresentados dados relativos às famílias registradas no Cadastro Único (conjunto de informações sobre as famílias brasileiras em situação de pobreza e extrema pobreza) e que tiveram algum prejuízo por conta do desastre. No total, 25.065 famílias estão registradas no Cadastro Único do governo federal, representando 64% da população afetada, que somam 157 mil pessoas impactadas diretamente pela cheia histórica do Guaíba.

 

Painel Informativo da população econômica e socialmente mais vulnerável nas áreas afetadas de Porto Alegre. Realização: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade da Prefeitura de Porto Alegre.<br />

Painel Informativo da população econômica e socialmente mais vulnerável nas áreas afetadas de Porto Alegre. Realização: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade da Prefeitura de Porto Alegre.

Dentre todas as pessoas pobres impactadas diretamente pelo desastre, muitas delas moram em Sarandi, bairro da região norte de Porto Alegre. À medida que o Guaíba subiu para o seu maior nível já registrado, o rompimento de um dique, ainda não resolvido na data desta matéria (31/05), agravou a situação no bairro. A jornalista ambiental e pesquisadora Lara Corrêa Ely, que está cobrindo o desastre para a imprensa, relatou em uma matéria que, só nesse bairro, 24 mil moradores permanecem fora das suas casas há 26 dias. Lara também cobriu a indignação e luta dos moradores que tentam acessar as suas casas de barco para buscarem pertences e avaliarem o que perderam.

Em entrevista para a Apremavi, Lara compartilha outros recortes: “Eu observei não apenas nos abrigos, mas também nos acampamentos, nas estradas e nas cooperativas de reciclagem, que as mulheres, as pessoas pretas, as pessoas que moram em lugares periféricos, pessoas com menor grau de instrução, são pessoas mais afetadas.”

Lara também conta que, devido a vulnerabilização pretérita dessas pessoas, muitas delas vão ter uma piora em suas condições em tempos de crise: “Elas vão piorando uma condição provisória, quando vem uma catástrofe, uma inundação, elas demoram mais tempo para se reerguerem. Além de todo o impacto econômico tem o impacto socioemocional em uma situação como essa.”

“Agora a questão é como, também, essas pessoas se recuperam, elas dependem mais de políticas sociais, de apoios externos e às vezes da solidariedade dos próprios parceiros de comunidade, porque se dependerem de um incentivo público somente, elas não vão conseguir se reerguer. Numa lógica de desenvolvimento sustentável, entender que soluções temos para essas pessoas e qual o empoderamento necessário para que elas consigam ter resiliência, é imprescindível”, comenta Lara sobre a importância de políticas públicas frente a desastres como esse.

 

As casas ainda permanecem, principalmente das pessoas mais pobres, por quase um mês inundadas no bairro Sarandi, em Porto Alegre (RS), registro feito no dia 30 de maio de 2024. Foto: Lara Corrêa Ely

As casas ainda permanecem, principalmente das pessoas mais pobres, por quase um mês inundadas no bairro Sarandi, em Porto Alegre (RS), registro feito no dia 30 de maio de 2024. Foto: Lara Corrêa Ely

Todos esses fatos recentes no Rio Grande do Sul, ilustram o que os ativistas climáticos clamam há algum tempo: precisamos de justiça climática.

A justiça climática, derivada da justiça ambiental, destaca os impactos desproporcionais das mudanças climáticas em grupos sociais específicos. Ela analisa os impactos climáticos como impactos ambientais sob a lógica da justiça ambiental aplicada ao clima. Propõe a responsabilização daqueles que causaram o desequilíbrio climático e que têm mais capacidade de enfrentá-lo, principalmente países e empresas do Norte Global. Esses atores não devem compartilhar a responsabilidade pelos danos climáticos com todos, especialmente com aqueles menos responsáveis historicamente, evitando a socialização dos ônus climáticos e a privatização dos bônus. As medidas contra as mudanças climáticas devem considerar as desigualdades nas capacidades de defesa contra os impactos do aquecimento global e a necessidade de novas respostas para proteger os direitos das pessoas vulnerabilizadas.

O movimento da justiça climática sublinha que mulheres e meninas, especialmente no Sul Global, são grupos fortemente impactados, enfrentando múltiplas desigualdades que devem ser analisadas através da interseccionalidade. A crise climática é vista como mais um eixo de opressão, somando-se a questões como pobreza, educação, acesso a recursos naturais e violência sexual, criando situações de profunda desigualdade. Nesse sentido, o movimento visa visibilizar essas questões e aprofundar a discussão sobre as diferenciações que tornam certos grupos mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas.

> Saiba mais sobre justiça climática e quem precisa dela no Brasil na publicação do Observatório do Clima

 

Quem precisa de justiça climática no Brasil -  Observatório do Clima

Painel Informativo da população econômica e socialmente mais vulnerável nas áreas afetadas de Porto Alegre. Realização: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade da Prefeitura de Porto Alegre.

A luta por políticas públicas em prol da justiça climática

É pela luta em prol da justiça climática que organizações do terceiro setor, como o Observatório do Clima (OC), rede que a Apremavi ajudou a fundar e faz parte, existem. Uma das organizações que também integram o OC é a EmpoderaClima, que tem como foco as questões de gênero relacionadas ao clima.

“As parcerias formadas por organizações da sociedade civil são fundamentais para o avanço da pauta da justiça climática. Só no coletivo que adquirimos força para expandir advocacy e lutar por políticas públicas. No caso da EmpoderaClima, temos foco em equidade de gênero e avançamos sempre por meio de parcerias em projetos, pesquisas e advocacy”, relata a jornalista, pesquisadora e voluntária da Empodera, Cândida Schaedler, em entrevista para a Apremavi, sobre a importância desse trabalho coletivo.

A Apremavi espera e atua diariamente, em parceria com diversas organizações, para que eventos climáticos extremos e seu desdobramentos em catástrofes socioambientais incidam no desenvolvimento de políticas públicas de clima, com ações de adaptação e mitigação, sempre com um olhar interseccional e que pautem também a justiça climática.

Autora: Thamara Santos de Almeida, com informações do Observatório das Metrópoles de Porto Alegre, Brasil de Fato, Metrópoles, Observatório do Clima e EmpoderaClima.
Revisão: Carolina Schäffer, Vitor Lauro Zanelatto (Apremavi) e Cândida Schaedler (EmpoderaClima).
Foto de capa: Registro de uma das áreas inundadas em Porto Alegre, em 05/05/2024. Foto: (CC) Gustavo Mansur/Palácio Piratini.

Enfrentar as desigualdades sociais também é combater as mudanças climáticas

Enfrentar as desigualdades sociais também é combater as mudanças climáticas

Enfrentar as desigualdades sociais também é combater as mudanças climáticas

Enquanto a Apremavi elaborava essa matéria, em meados de final de abril e começo de maio, mais um evento climático extremo assolava o Rio Grande do Sul. Um dos enfrentamentos necessários para a emergência climática é falar sobre desigualdades, pois o foco somente no lucro tem devastado não só o Planeta, mas toda a humanidade.

Segundo a Oxfam, desde 2020 os cinco homens mais ricos do mundo experimentaram um crescimento exponencial das suas riquezas, enquanto aproximadamente cinco bilhões de pessoas viram-se imersas em um cenário de empobrecimento progressivo. A carência de acesso às condições básicas para a dignidade humana tornou-se uma dura realidade para uma significativa parcela da população mundial, principalmente no Sul Global. As estimativas para o futuro são desoladoras: sob o atual ritmo de desenvolvimento, estima-se que serão necessários 230 anos para erradicar a pobreza, enquanto nos deparamos com a possibilidade de testemunhar o surgimento do primeiro trilionário em um período de apenas 10 anos.

 

Crescimento dos bilionários em apenas três anos. Gráfico: relatório Desigualdades S.A/Oxfam

Crescimento dos bilionários em apenas três anos. Gráfico: relatório Desigualdades S.A/Oxfam

O relatório “Desigualdade S.A. – Como o poder corporativo divide nosso mundo e a necessidade de uma nova era de ação pública”, publicado pela Oxfam Internacional, mostra como os bilionários criaram uma nova era de poder corporativo e monopolista que garante lucros exorbitantes e também controle sobre as economias dos países. Ele foi lançado durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, evento anual que reúne a elite do mundo corporativo em Davos, na Suíça.

 

Qual a relação com a desigualdade social provocada pelas empresas bilionárias e o agravamento da crise climática?

A desigualdade social está intimamente relacionada à principal emergência socioambiental atual: a mudança no clima. Essa relação também é abordada pelo relatório. O foco apenas no lucro das empresas bilionárias levou o mundo ao que hoje chamamos de colapso climático. Muitos proprietários e investidores bilionários se beneficiam quando o poder e a influência das empresas procuram bloquear os avanços a uma transição rápida e justa, negam e investem recursos na distorção da verdade sobre as mudanças climáticas e uma das suas principais causas: os combustíveis fósseis. 

Anualmente, os bilionários são responsáveis pela emissão de três milhões de toneladas de CO² por meio dos seus investimentos. Isso é mais de um milhão de vezes maior do que as emissões médias de uma pessoa pertencente aos 90% mais pobres da população mundial. Além disso, algumas dessas empresas que dizem avançar em compromissos “net zero”, na prática ainda apresentam falsas soluções que não passam de lavagem verde e não levam a reduções de emissões significativas.

Os deslocamentos causados pelas mudanças climáticas já forçam as pessoas a deixarem suas casas ao redor do mundo. Embora os bilionários estejam frequentemente ligados à crise climática não são eles que sofrem os seus efeitos, são os habitantes de países de baixa renda e aqueles em situação de pobreza que enfrentam os impactos mais severos. As desigualdades econômicas, aliadas às desigualdades de poder relacionadas a gênero, raça, etnia e idade, aumentam a vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas.

“Está claro que não é uma questão de falta de recursos para se fazer o que é preciso, mas sim de uma distribuição absurdamente desigual dos recursos existentes. Os nossos desafios para o enfrentamento da crise climática aumentaram enormemente, especialmente quando sabemos que a reconstrução das cidades terá que se dar em outras bases, precisamos de cidades adaptadas e resilientes. Só teremos alguma chance de um enfrentamento eficiente, se tivermos também o componente do combate às desigualdades“, comenta Miriam Prochnow, cofundadora, diretora e coordenadora de projetos da Apremavi.

 

Responsabilizando os autores: quais mudanças precisamos no setor privado rumo à implementação de soluções para a emergência climática?

Se por um lado a mudança no clima afeta as pessoas mais vulnerabilizadas, a responsabilidade pelo agravamento da crise socioambiental tem responsabilidade inversa: a ínfima parcela da população global rica, representada por grandes corporações – sobretudo do Norte global – que historicamente emitem altas concentrações de gases de efeitos estufa e promovem impactos ambientais em seus empreendimentos. Uma das soluções apontadas pelo relatório é a garantia de que não haja pagamento de dividendos ou recompras de ações antes de salários dignos e justiça climática. Restringir os pagamentos aos acionistas pode ser um estímulo eficaz para que as empresas cumpram suas responsabilidades sociais e ambientais, incentivando-as a priorizar salários dignos e investimentos em transição para uma operação de baixo carbono alinhada com as metas do Acordo de Paris. Além disso, as empresas devem ser obrigadas a realizar a devida diligência na identificação de riscos de impacto sobre o meio ambiente e aos direitos humanos em todas as suas operações e cadeias de abastecimento. 

Reinventar a forma como as empresas fazem negócios é possível e necessário. Já existem empreendimentos  competitivos que aliam a sustentabilidade financeira com o propósito social e ambiental. Para isso, os governos podem oferecer tributos e outros instrumentos econômicos para dar prioridade a modelos de negócios sustentáveis.

A responsabilização pelas causas das desigualdades e da atual crise climática em larga escala, em várias regiões do planeta, deve ser diferenciada entre os países do Norte e do Sul Global e dentro de cada país, entre os bilionários e a população de baixa renda. Essa conta não pode ser igual, principalmente na tributação do consumo, da renda e do patrimônio. O poder público deve exercer seu papel de fiscalização e punição de empresas poluidoras, assim como promover a transição energética justa e popular, incentivando e apoiando boas práticas que respeitem os direitos humanos, os direitos trabalhistas, a legislação ambiental, os povos e as comunidades tradicionais, comenta Selma Gomes, Coordenadora de Justiça Climática e Amazônia da Oxfam Brasil

 

Confira outros destaques do relatório:

・Um mundo cruel para muitos, mas maravilhoso para poucos: o início desta década foi marcado por uma profunda dificuldade para a maioria das pessoas, com 4,8 bilhões delas ficando mais pobres em relação a 2019, especialmente mulheres, populações discriminadas e grupos marginalizados, fazendo com que a desigualdade global tenha aumentado pela primeira vez em 25 anos. Enquanto isso, desde 2020, os bilionários aumentaram sua riqueza em 3,3 trilhões de dólares, concentrando-se principalmente no Norte Global, onde apenas 21% da população reside, evidenciando uma disparidade econômica crescente.

・Uma nova era de monopólio: o aumento da riqueza bilionária está intrinsecamente ligado ao crescimento do poder empresarial e dos monopólios, que exploram e ampliam as disparidades econômicas, de gênero, raça e etnia. A concentração do controle financeiro é evidente, com o 1% mais rico detendo 43% de todos os ativos financeiros globais, enquanto bilionários dominam como principais acionistas ou CEOs em 34% das 50 maiores empresas de capital aberto, buscando retornos crescentes às custas de todos os outros.

・Maneiras pelas quais o poder das grandes empresas alimenta a desigualdade: 1) Recompensando os super-ricos às custas dos trabalhadores; 2) Evitando o pagamento de impostos; 3) Privatizando serviços públicos essenciais; 4) Contribuindo para o colapso climático, perpetuando assim disparidades econômicas, de gênero, raça e étnicas.

・Cenário brasileiro: em média, a renda dos brancos está mais de 70% acima da renda da população negra; a pessoa mais rica do país possui uma fortuna equivalente à metade mais pobre do Brasil (107 milhões de pessoas); O 1% mais rico do Brasil tem 60% dos ativos financeiros do país.

 

A Oxfam também apresenta três mudanças principais para a mudança no paradigma que está levando a Terra ao colapso climático e social: 

・Revitalizar o Estado: implica em fortalecer sua capacidade para fornecer serviços públicos essenciais, investir em infraestrutura e explorar opções públicas em setores monopolistas, enquanto aprimora a transparência e a regulação para garantir que o setor privado atenda ao interesse público;

・Regular as grandes empresas: os governos devem conter o poder das grandes empresas, que inclui quebrar monopólios, empoderar trabalhadores, e aumentar os impostos sobre grandes empresas e indivíduos ricos para promover a justiça social e econômica.

・Reinventar os negócios: os governos devem utilizar seu poder para promover empresas que priorizem o bem-estar dos trabalhadores, das comunidades locais e do meio ambiente, oferecendo apoio financeiro e incentivos para modelos de negócio igualitários e sustentáveis

 

Sobre a Oxfam

A Oxfam Brasil é uma organização da sociedade civil brasileira, sem fins lucrativos e independente, criada em 2014 para a construção de um Brasil com mais justiça e menos desigualdades. Atua em quatro áreas temáticas: Justiça Rural e Desenvolvimento, Justiça Social e Econômica, Justiça Racial e de Gênero e Justiça Climática e Amazônia.

Entre as estratégias de atuação estão o trabalho em parceria e aliança com outras organizações e setores da sociedade civil brasileira, o engajamento público, a realização de campanhas e a incidência com setores público e privado. A iniciativa brasileira integra uma rede global, que tem 21 membros que atuam em 81 países pelo mundo, por meio de campanhas, programas e ajuda humanitária.

> Acesse o relatório na íntegra 

 

Autora: Thamara Santos de Almeida com informações do relatório Desigualdades S.A. da Oxfam.
Revisão: Carolina Schäffer, Miriam Prochnow, Vitor Lauro Zanelatto (Apremavi) e Selma Gomes (Oxfam Brasil)
Foto de capa: Lauro Alves SECOM RS

Organizações brasileiras se preparam para a COP16 da biodiversidade na Colômbia

Organizações brasileiras se preparam para a COP16 da biodiversidade na Colômbia

Organizações brasileiras se preparam para a COP16 da biodiversidade na Colômbia

A Conferência das Partes é o órgão supremo que toma as decisões sobre a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB). Os países signatários da CDB, dentre eles o Brasil, se reúnem desde 1994 para tomar decisões com foco na conservação da biodiversidade, buscando seu uso sustentável e a repartição justa dos benefícios da biodiversidade.

A 16ª Conferência das Partes das Nações Unidas (ONU) da Diversidade Biológica (COP16) ocorrerá em Cali, na Colômbia, entre 21 de outubro e 1° de novembro de 2024.

A COP16 da biodiversidade é a primeira desde a adoção histórica do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal (GBF, na sigla em inglês) que visa orientar políticas mundiais em prol da biodiversidade, com quatro objetivos de longo prazo até 2050 e 23 metas para 2030.

Os objetivos até 2050 em relação ao Marco são:

  1. Manter a integridade, conectividade e resiliência de todos os ecossistemas além do aumento das áreas restauradas; redução do risco de extinção e aumento da abundância das espécies; manutenção da diversidade genética;
  2. Gestão sustentável da biodiversidade, incluindo serviços ecossistêmicos;
  3. Compartilhamento dos benefícios associados a natureza de forma justa e equitativa incluindo as comunidades indígenas e tradicionais;
  4. Os meios de implementação, incluindo financiamento, capacitação, recursos técnicos e cooperação científica, bem como acesso e transferência de tecnologia, são protegidos e acessíveis equitativamente a todas as partes, especialmente países em desenvolvimento.

Dentre as 23 metas a serem alcançadas até 2030, estão 30% de conservação dos ambientes terrestres, costeiros e oceanos e 30% de áreas restauradas.

Confira o Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal 

 

Preparação brasileira para a COP16 é realizada em Brasília (DF)

Entre os dias 18 e 19 de abril, a Apremavi acompanhou, em Brasília (DF), a oficina para elaboração das contribuições da Sociedade Civil para o Novo Marco Global de Biodiversidade.

Imersos em 23 temas, distribuídos em quatro grandes objetivos, o diálogo sobre as metas brasileiras resultou num documento que será enviado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima com vistas a compor a Estratégia e Planos de Ação Nacionais de Biodiversidade (EPANB) em preparação para COP16.

 

Oficina para elaboração das contribuições da Sociedade Civil para o Novo Marco Global de Biodiversidade. Foto: Carolina Schäffer<br />

Oficina para elaboração das contribuições da Sociedade Civil para o Novo Marco Global de Biodiversidade em Brasília (DF). Foto: Carolina Schäffer

“Tivemos a oportunidade de olhar para as metas nacionais relacionadas ao GBF e recomendar sugestões de redação para o documento oficial visando a sua implementação real ao entender o papel que cada setor da sociedade tem diante dos desafios da conservação da biodiversidade, comenta Carolina Schäffer, vice-presidente e coordenadora de comunicação e projetos na Apremavi, que esteve presente no evento representando a instituição.

> Acesse o site oficial da COP16

Autoras: Thamara Santos de Almeida e Carolina Schäffer.

As Soluções Baseadas na Natureza na redução dos riscos de desastres climáticos

As Soluções Baseadas na Natureza na redução dos riscos de desastres climáticos

As Soluções Baseadas na Natureza na redução dos riscos de desastres climáticos

Nos últimos dias, frente a maior tragédia do Rio Grande do Sul, surgem dúvidas e questionamentos sobre o que pode ser feito para evitar que eventos climáticos extremos se transformem em desastres. As soluções já existem, e são baseadas na natureza.

Esses eventos climáticos extremos têm seus impactos intensificados pela ocupação territorial desordenada, em áreas consideradas de risco, como morros, encostas e nas proximidades de rios e lagos. As pessoas mais vulneráveis em tragédias como essas – que serão cada vez mais frequentes – são as que vivem em áreas consideradas de risco.

Em momentos como esse, culpar a natureza e as pessoas não resolve, serve apenas para  isentar o poder público da sua responsabilidade para o ordenamento territorial, cumprimento da legislação ambiental e utilização da ciência na tomada de decisões. Se uma área foi ocupada de forma irregular, o Estado falhou em seu dever de planejar o crescimento das cidades e em fiscalizar o cumprimento do regramento ambiental, ou ainda foi agente ativo no processo, flexibilizando a legislação ambiental ou elaborando planos diretores que beneficiam a especulação imobiliária, por exemplo.

As consequências  da ausência de iniciativas do Estado no combate à ocupação em áreas de risco foram objeto de estudo do Ministério do Meio Ambiente em 2013. Após a tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011. O relatório produzido indicava a necessidade de medidas preventivas, de controle ou de mitigação das enchentes e deslizamentos:

Constatou-se neste estudo que mais de 90% dos deslizamentos de terra estão associado a a algum tipo de intervenção antrópica, como estradas, caminhos, trilhas, terraplanagens, desmatamentos de encosta e topos de morro, degradação da vegetação nativa e áreas de pastagens degradadas. Constatou-se também que as áreas que foram mais intensamente afetadas pela tragédia são aquelas consideradas APPs (margens de cursos d’água, encostas com alta declividade e topos de morros ou montanhas). Verificou-se, por outro lado, que nas áreas com a vegetação nativa bem conservada, mesmo quando localizadas em áreas com alta declividade e topos de morros e montanhas, a quantidade de deslizamentos e rolamentos de rochas foi inferior a 10% do total desses eventos.
Áreas de Preservação Permanente e Unidades de Conservação X Áreas de Risco – MMA, 2013 (p. 85). 

A natureza é parte da solução dos problemas e precisa ser considerada como tal.  O conceito de Soluções Baseadas na Natureza (SbNs) pode ser apresentado como a busca  de soluções para a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas nos sistemas naturais para a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, por exemplo¹. Elas se referem à reintegração da natureza no planejamento urbano. Uma das suas abordagens é justamente a redução de riscos de desastres baseada na restauração de ecossistemas.

O trecho “Nature-based Solutions for disaster risk reduction” do livro Nature-based Solutions to address global societal challenges” (Soluções baseadas na natureza para enfrentar os desafios sociais globais) publicado em 2016 pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN) trás alguns estudos de caso de como as SbNs são importantes na mitigação de desastres. Um dos exemplos trazidos é o do furacão Katrina nos Estados Unidos, onde o investimento na restauração de parques e pântanos ajudou a reduzir os danos causados. O mesmo foi visto com os impactos do Grande Terremoto no Leste do Japão, que foram minimizados pela expansão das florestas.

No contexto do Rio Grande do Sul, a restauração e manutenção das áreas alagáveis são soluções possíveis. Locais como a Fazenda do Arado resistem no extremo Sul de Porto Alegre, que são alvo de disputa e tentativas de urbanização, ajudam a regular as cheias do lago Guaíba, cumprindo um papel ecossistêmico vital de garantir a segurança da população do bairro Belém Novo.

 

Soluções Baseadas na Natureza podem ser implementadas sozinhas ou integradas com outras soluções para os desafios sociais (como soluções da engenharia ou tecnológicas). Figura: IUCN, 2016 (p. 8).

Soluções Baseadas na Natureza podem ser implementadas sozinhas ou integradas com outras soluções para os desafios sociais (como soluções da engenharia ou tecnológicas). Figura: IUCN, 2016 (p. 8).

Entre outros itens a serem considerados no planejamento das cidades estão ações como a conservação dos remanescentes de floresta que existem e a restauração ecológica de Áreas de Preservação Permanente (APPs) degradadas. APPs restauradas e conservadas protegem os cursos d’água de assoreamento, atenuam os efeitos das enchentes e evitam erosão e deslizamentos em encostas, além de promover um regramento basilar sobre a ocupação do solo em áreas urbanas.

Não há mais espaço para se negar a emergência climática e a mudança do padrão climático que estamos vivenciando aumenta exponencialmente nossos desafios. A reconstrução das cidades afetadas pelos eventos extremos precisa ser feita levando em conta o que a natureza tem a nos dizer, só isso garantirá a resiliência necessária para enfrentar e amenizar a crise“, relata Miriam Prochnow, cofundadora, diretora e coordenadora de projetos da Apremavi.

Ao adotarem abordagens baseadas na natureza nos planejamentos das cidades, os governos podem não apenas fortalecer a resiliência das cidades frente aos desafios climáticos atenuando os riscos de desastres, mas também melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes e conservar os ecossistemas locais. O momento de agir é agora, e a adoção de Soluções Baseadas na Natureza representa um investimento possível e necessário para garantir um ambiente urbano mais seguro, saudável e próspero para todos.

 

Enchente em área urbana é resultado de um século de ocupação sem visão, de uma urbanização sem planejamento, do processo de discriminação que populações periferizadas ou compostas de minorias étnicas. É resultado do desmatamento das matas ciliares, do microloteamento da terra, da canalização de rios e da impermeabilização do solo. É resultado, ainda, da falta de rede de saneamento, de coleta de lixo e de um sistema de drenagem satisfatório. Figura: (CC) arvoreagua

” Enchente em área urbana é resultado de um século de ocupação sem visão, de uma urbanização sem planejamento, do processo de discriminação que populações periferizadas ou compostas de minorias étnicas. É resultado do desmatamento das matas ciliares, do microloteamento da terra, da canalização de rios e da impermeabilização do solo. É resultado, ainda, da falta de rede de saneamento, de coleta de lixo e de um sistema de drenagem satisfatório.” Figura: (CC) arvoreagua

Autora: Thamara Santos de Almeida e Vitor Lauro Zanelatto, com base em matérias da Apremavi.
Revisão: Miriam Prochnow.
Foto de capa: Fazenda Arado Velho, no bairro Belém Novo em Porto Alegre (RS) durante a enchente de setembro de 2023. Foto: Preserva Arado/Divulgação.

Em seu maior evento climático extremo, a solidariedade tem resgatado o RS

Em seu maior evento climático extremo, a solidariedade tem resgatado o RS

Em seu maior evento climático extremo, a solidariedade tem resgatado o RS

O Rio Grande do Sul está enfrentando seu maior evento climático extremo. Segundo a Defesa Civil do estado, até o dia 05 de maio cerca de 700 mil pessoas já tinham sido afetadas diretamente, com 15.192 pessoas em abrigos, 80.573 desabrigadas, 155 feridas, 100 desaparecidos e 75 vítimas. Frente a isso, inúmeras ações de solidariedade se espalham pelo RS.

O caos iniciou no dia 30 de abril na região Central do estado e indo até a região de Taquari, devastando cidades inteiras, como Muçum e Roca Sales, até chegar a região da Serra e Vale do Caí no dia 02 de maio. A bióloga Emanuelle Pasa, que mora em Caxias do Sul, ficou preocupada com o aumento das chuvas, principalmente com o risco de isolamento e de perder o contato com a sua família, como ocorreu na enchente de 2023 em Nova Roma do Sul. 

Em entrevista para a Apremavi, Emanuelle relata como transformou, junto com amigos, a dor em ação: “Esses últimos dias têm sido de muita dor. Uma mistura de dor, de estado de atordoamento e raiva pelas inúmeras situações que poderiam ter sido eliminadas ou amenizadas. Aos poucos, conversando com os amigos percebemos que os sentimentos eram muito parecidos e que aquela situação de estarrecimento frente às notícias da catástrofe estavam nos consumindo. E assim a dor foi se transformando em luta.”

Junto com amigos, Emanuelle formou um grupo com foco na doação de alimentos, roupas, itens de limpeza e água, além da produção de marmitas: “Reativamos o grupo que atuou na enchente passada e começamos a mobilizar mais pessoas, atualmente somos mais de 70 integrantes, com as doações sendo encaminhadas para as cidades do Vale do Taquari.” 

O cenário de catástrofe seguiu atingindo outras regiões do estado, como a região metropolitana e as cidades dos arredores, como o Vale dos Sinos. Daiana Schwengber, também bióloga, saiu de Porto Alegre para ver como seus pais e sua comunidade estavam e acabou abrigada com eles na casa de amigos, pois a água chegou rapidamente: inundou tanto a casa dos seus pais como a sede da empresa em que Daiana é sócia.

“Eu acabei ficando isolada em São Leopoldo, abrigada na casa de amigos, tendo os privilégios de não precisar ir para abrigo, nem meus pais. Automaticamente comecei a atuar no acolhimento das pessoas que estavam sendo resgatadas nos abrigos da forma que era possível, arrecadando alimentos, cozinhando marmitas, realizando a baldeação de recursos de um lado para o outro enquanto o número de desabrigados só aumentava”, relatou Daiana.

Ela também fala sobre os sentimentos que surgem observando a situação com as lentes de bióloga, que trabalha com questões socioambientais: “Sinto impotência, porque a gente fala e trabalha com mudanças climáticas há muito tempo, com esse olhar sobre o impacto que geramos negativamente no ambiente, e do nada estou dentro de uma catástrofe, vendo as pessoas que a gente mais gosta sofrer, meus gatos presos, não conseguindo chegar neles. Foram dias de muita angústia, de muita tristeza. A gente não sabe onde estão as pessoas.”

Relata ainda, sobre as inúmeras lacunas para lidar com momentos como esse: “Isso só nos mostra o quanto estamos despreparados para uma questão como essa emocionalmente, mas também na gestão das demandas da emergência climática, de comunicação efetiva e assertiva. Muitas pessoas estão se apropriando de informações erradas e passam adiante, e não tem noção, mas a maioria é solidária.”

Pátio da sede da Apoena Socioambiental, empresa em que Daiana é sócia, inundado, em São Leopoldo (RS). Foto: Leandro José Haubert<br />

Pátio da sede da Apoena Socioambiental, empresa em que Daiana é sócia, inundado, em São Leopoldo (RS). Foto: Leandro José Haubert

A sociedade civil protagoniza a ajuda

A situação se agravou ainda mais na sexta (03/05). Depois de já ter devastado várias regiões, a enchente chegou na região metropolitana de Porto Alegre e as cidades começaram a ser inundadas rapidamente, como Porto Alegre, Canoas, Guaíba e Eldorado do Sul; esta última segue hoje, 08/05, com 95% da sua área inundada e Canoas, com cerca de 65%. Em Porto Alegre, a enchente superou os índices da cheia histórica de 1941, quando a inundação foi 53 centímetros menor do que os 5,29 metros atingidos em 2024.

Dentro desse cenário desolador, o foco emergente tem sido resgatar e acolher vidas. A sociedade civil se organizou rapidamente em diversos grupos de voluntários para amparar os atingidos. Uma dessas iniciativas é o Grupo de Emergência Climática do Rio Grande do Sul, criado pelo Instituto Curicaca, e ativado por seus associados e colaboradores, que se organizam principalmente pelo WhatsApp. 

Alexandre Krob, coordenador técnico do Curicaca, relata as principais ações do grupo: “Estamos atuando nos locais de doação e triagem e nos abrigos, transportando materiais e alimentos e preparando logística para nossos parceiros governamentais. Outra frente é  articular cooperações dirigidas para grupos vulneráveis, trabalhar em cozinhas comunitárias, realizar comunicação essencial, arrecadar recursos financeiros para usos estratégicos, instrumentalizar grupos voluntários da sociedade civil. Tudo isso se comunica por um grupo ágil e que se socorre, fortalece e multiplica”

Além dos associados e colaboradores, Alexandre relata que tem articulado um esforço entre diversas instituições: “Contamos com a parceria de pessoas de diversas organizações, como o Ibama, ICMBio, SEMA-RS, Polícia Rodoviária Federal, Comando Ambiental da Brigada Militar, Comando Rodoviário da Brigada Militar e Delegacia Especializada de Meio Ambiente, que são acionados nas cooperações específicas, como no caso do apoio à comunidade Guarani da Ponta do Arado, na Zona Sul de Porto Alegre”.

Alexandre também comenta sobre quais ações são prioritárias: “Nossa demanda passou a ser apoio financeiro, porque estamos cientes e envolvidos com tudo o que está acontecendo e daquilo que precisa de recurso, que não está sendo suprido pela forma geral em que voluntários e doadores trabalham. Para isso, criamos um fundo de doação”.

 Doe para o fundo de Emergência Climática do Instituto Curicaca

Fundo de Emergência Climática para o Rio Grande do Sul do Instituto Curicaca

A médio prazo, Alexandre relata que reflexões precisam ser realizadas para promover ajustes no enfrentamento de crises como essa junto ao poder público: “Já podemos provocar reflexões e exigir ajustes dos órgãos públicos que deveriam estar preparados para isso, uma vez que eventos extremos dessa natureza foram previstos. Por incompetência ou omissão, o RS chegou neste momento sem as mínimas condições para reagir. Temos certeza disso, pois estamos no meio da confusão, vivenciando as dificuldades e preenchendo lacunas de responsabilidade do Estado, que não deveriam existir. Roubos e desvios de doações; inexistência de comunicação articulada imediata entre os órgãos; demora na instalação de um gabinete federal da crise na região; inexistência de ferramenta para cadastro, integração, gestão e acesso às informações são exemplos do despreparo do poder público.”

Por fim, Alexandre espera que a experiência seja útil para dar escala a ações de mitigação e adaptação que o Instituto Curicaca e outras tantas organizações realizam há décadas: “Em longo prazo, melhor utilizar essa experiência de catástrofe para alavancar ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, como na restauração de ambientes naturais; criação de áreas protegidas; fortalecimento da proteção de Unidades de Conservação; valorização, suporte e reconhecimento do modo de vida de comunidades e povos indígenas e populações tradicionais; pressão pela demarcação de terras indígenas; promoção de economias locais sustentáveis e de baixo carbono; educação ambiental e climática, criação e implantação de corredores ecológicos, dentre outros.”

Assista o vídeo da ação para envio de suprimentos aos Guaranis da Ponta do Arado, articulada pelo Grupo de Emergência Climática do Rio Grande do Sul 

 

Ainda em Porto Alegre, a arquiteta e empreendedora Aline Daudt e seu companheiro Mailson Queiroz se organizaram para receber as pessoas resgatadas que chegavam na Orla do Guaíba, com ações de acolhimento, doações e carona para casa das famílias e abrigos improvisados: “Começaram a chegar muitas notícias de que as pessoas estavam chegando e de que tinham muitas doações que precisavam ser organizadas. Tudo aconteceu de uma forma muito dinâmica, quem pudesse ajudar de alguma forma que fosse e foi assim que nos dirigimos para o gasômetro, um desses lugares de acolhida. Comecei auxiliando na separação das doações, das roupas, das cobertas e depois ajudei nas caronas e cadastro das pessoas resgatadas. Tudo estava acontecendo muito rápido, então a gente tinha que ir tentando se organizar com a coisa acontecendo.”

Aline, também relata que enquanto socorria as pessoas, a situação do apartamento em que o seu filho estava com o pai em São Leopoldo ia se agravando: “A água chegou até o centro de São Leopoldo, então de repente meu filho não estava mais seguro, ao redor do apartamento do pai dele alagou e eles ficaram ilhados. Então, ao mesmo tempo que eu estava auxiliando no socorro de outras famílias, o meu filho também passava por uma situação muito parecida e eu tentava intermediar um barco com alguém que pudesse ir lá buscar ele, que finalmente já foi resgatado.”

Por fim, ela comenta sobre a exaustão desse trabalho que ainda vai ser necessário por muitos dias: “É um trabalho bem exaustivo, porque obviamente a gente como ser humano quer atender o máximo de pessoas possível. A gente sabe que o trabalho não vai terminar agora, não vai terminar amanhã, não vai terminar no final dessa semana, nem na próxima, então vou seguir trabalhando. Da forma que eu puder contribuir da melhor forma possível.”

 

 

Produção de informações essenciais


Além do resgate e acolhimento às vítimas, a cobertura jornalística é primordial. Silvia Marcuzzo – jornalista com foco nas questões socioambientais – tem focado seus esforços em compartilhar informações seguras nas mídias sociais e em reportagens para veículos, como o Extra Classe. Uma das primeiras matérias escrita por ela, foi sobre as perguntas que os governantes precisam responder, já que a situação era prevista dentro do contexto da crise climática. 

À medida que a crise se atenuou, Sílvia escreveu sobre a importância de resgatarmos a esperança e a solidariedade em momentos como esse, relatando as diversas ações que ela acompanhou de mobilização. Ela também escreveu sobre as ações solidárias que têm auxiliado o RS e sobre a necessidade dela ser permanente.

Na tarde do dia 06 de maio, em mais uma decisão equivocada dos órgãos públicos, a casa de bombas de drenagem de água foi desligada no bairro em que a Sílvia mora, em Porto Alegre. Com isso, os bairros Menino Deus e Cidade Baixa foram tomados pela água em minutos. Sílvia ficou ilhada e precisou ser resgatada de barco no dia 07.

Em uma live a jornalista comentou sobre a experiência: “Foi uma loucura, difícil pensar e pegar o que precisamos, corremos e protegi minhas pernas achando que iria conseguir sair a pé, mas precisamos sair de barco com voluntários que estão auxiliando no resgate. A minha rua e região estão tomadas pela água, analiso que a minha adolescência foi tranquila e hoje o meu filho de 17 anos já vive essa experiência, mas estamos bem.”

No momento da publicação desta matéria, são milhares de gaúchos que ainda aguardam o resgate em diversos lugares e que seguem como refugiados climáticos em abrigos improvisados. O auxílio está  sendo proporcionado em sua maioria por voluntários da sociedade civil. A solidariedade persiste frente a este evento climático extremo, e deve ser exemplo para os que ainda, infelizmente, deverão ser enfrentados na realidade de emergência climática do nosso tempo.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Carolina Schäffer.
Foto de capa: Doações arrecadadas pela Defesa Civil para o Rio Grande do Sul. Foto: Marcos Morelli/Prefeitura de Rio Preto.

Carbono: um elemento adicional nos projetos de restauração

Carbono: um elemento adicional nos projetos de restauração

Carbono: um elemento adicional nos projetos de restauração

No auge da Década da Restauração dos Ecossistemas, o carbono tem desempenhado um papel crucial para alavancar a restauração ecológica no mundo, entretanto o caminho para a verdadeira restauração dos ecossistemas ainda é longo.

Mesmo tendo criado um sistema econômico que desencoraja a emissão excessiva de carbono e incentiva a inovação e a adoção de práticas mais sustentáveis, o mercado de carbono ainda não aborda diretamente todos os custos associados à cadeia da restauração e isso é uma lacuna que precisa ser mitigada.

Restaurar um ecossistema engloba, entre outras etapas, o trabalho de coleta de sementes, de produção de mudas, de plantio, de manutenção e monitoramento das áreas, além dos aspectos sociais de engajamento dos parceiros para as ações e formação dos atores executores. Essa cadeia tem o potencial de trazer benefícios para a biodiversidade, para os serviços ecossistêmicos e permitir a sustentabilidade no longo prazo.

O carbono é um elemento adicional, entra como um impulsionador do mercado e das ações para o combate da crise climática, entretanto é urgente que saiamos da lógica de compra de créditos de carbono e passemos a investir verdadeiramente em projetos de restauração de alta qualidade, só assim conseguiremos atingir a escala na restauração que precisamos para mitigar as crises em curso”, comenta Miriam Prochnow, cofundadora, diretora e coordenadora de projetos da Apremavi.

Uma das formas de alcançar essa mudança de paradigma, é investir na capacitação dos atores da cadeia da restauração como implementadores e executores de projetos de restauração que tenham o carbono como componente adicional. Essas formações têm o potencial de transformar o sistema e impulsionar o desenvolvimento de projetos que tenham cada vez mais qualidade e condições de ajudar no enfrentamento do desafio da década, a crise climática.

 

Capacitação em projetos de carbono do Pacto Mata Atlântica

Entre os meses de março e abril a Apremavi participou e ajudou a ministrar a “Capacitação em Projetos de Carbono” idealizada pela força-tarefa de carbono do Grupo de Trabalho Mecanismos Financeiros do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, rede que a Apremavi integra desde que foi fundada, há 15 anos, e onde atua como conselheira e Unidade Regional.

Abertura

Registros da capacitação em projetos de carbono do Pacto Mata Atlântica que ocorreu no Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica em Itu (SP). Fotos: Carolina Schäffer, Weliton Oliveira, Marília Borgo e Pacto pela Restauração da Mata Atlântica

A formação foi desenhada para as Unidades Regionais e membros do Pacto interessados em desenvolver e implementar projetos de carbono na Mata Atlântica. Ela abordou temáticas como serviços ecossistêmicos, metodologias e plataformas de verificação, precificação do carbono, certificação de projetos de carbono de alta qualidade e ainda monitoramento de projetos de carbono.

Dividido em cinco módulos, com dinâmicas virtuais e uma semana de aula presencial, no Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica em Itu (SP), os mais de 40 participantes tiveram também a oportunidade de conhecer projetos de carbono que já estão em desenvolvimento na Mata Atlântica, como o Conservador da Mantiqueira, o Projeto Agrupado de Reflorestamento da APA do Pratigi e o Conservador das Araucárias, fruto da parceria entre a Apremavi e a Tetra Pak.

Apresentar o Conservador das Araucárias para um grupo formado por especialistas em restauração de um dos biomas mais ameaçados de extinção do Brasil, além de trazer a oportunidade conexão com essa rede de multidisciplinar de atores, também nos deu a oportunidade de ouvir sugestões para superarmos os desafios enfrentados no nosso projeto”, comenta Carolina Schaffer, vice-presidente e coordenadora de projetos da Apremavi e uma das ministrantes do curso. 

O propósito do Pacto agora é que este grupo continue engajado e desenvolvendo habilidades práticas para liderar projetos no território e para impulsionar iniciativas de restauração.

Autora: Carolina Schäffer.
Foto de capa: ©️ Weliton Oliveira.

Rede de sementes de Abelardo Luz (SC) comemora um ano de formação

Rede de sementes de Abelardo Luz (SC) comemora um ano de formação

Rede de sementes de Abelardo Luz (SC) comemora um ano de formação

Em abril deste ano, a rede de sementes de Abelardo Luz (SC), apoiada pela Apremavi, comemora um ano de atividades. Para celebrar a data, foi realizada uma reunião de avaliação e planejamento de atividades. 

A reunião aconteceu no dia 10 de abril na casa dos agricultores e coletores Idania e Matheus Correa, localizada no PA José Maria – Abelardo Luz. A atividade reuniu 11 coletores e 4 técnicos da Apremavi. Durante a reunião, os coordenadores de projetos da Apremavi, Edilaine Dick, Leandro Casanova e Marluci Pozzan e o viveirista Alex Sieves fizeram uma retrospectiva da rede de sementes, além de conduzirem o planejamento para a compra de sementes no próximo ano. 

As atividades da rede de sementes iniciaram em abril de 2023, com uma reunião de mobilização dos agricultores de Abelardo Luz. Ao longo dessa trajetória foram realizadas várias ações: participação no II Encontro do Redário, visitas nas casas dos coletores para mapeamento de matrizes, oficina técnica e visita ao Viveiro Jardim das Florestas para capacitação. Ao longo do primeiro ano os agricultores fizeram a coleta e beneficiaram 282,72 kg de sementes de 20 espécies nativas.

O agricultor e coletor de sementes Gilberto Zape Albrecht, comenta sobre o primeiro ano da iniciativa: “O primeiro ano foi um ano de muita aprendizagem e conhecimento, onde conhecemos várias espécies diferentes e tivemos a oportunidade de conhecer o viveiro em Atalanta, o que foi muito gratificante de ver na prática as mudas produzidas por sementes coletadas por nós”

A rede de sementes tem apoio dos projetos Conservador das Araucárias e +Floresta, executados pela Apremavi, com o objetivo de utilização das sementes coletadas para produção de mudas nativas restauração de áreas alteradas, além de utilizá-las em áreas experimentais com a técnica de semeadura direta.

“A quantidade e diversidade de sementes coletadas nesse primeiro ano de funcionamento da rede mostra o engajamento dos coletores e coletoras envolvidos no trabalho. É gratificante ouvir os depoimentos durante a reunião e observar a preocupação dos participantes que vai além da coleta de sementes, mas também em restaurar as florestas e entendimento da sua contribuição para aumento das florestas e biodiversidade”, comenta Edilaine Dick.

Um ano da rede de sementes de Abelardo Luz (SC). Foto: Edilaine Dick

Apresentação da Edilaine Dick, coordenadora de projetos da Apremavi, durante a reunião do primeiro ano da rede de sementes de Abelardo Luz (SC).

Autora: Marluci Pozzan.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.
Foto da capa: Primeiro encontro da rede de sementes de Abelardo Luz (SC) no dia 10 de abril de 2024 ©️ Edilaine Dick.

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