Expedição confere biodiversidade do Rio Pelotas

Uma expedição integrada por fotógrafos, jornalistas e técnicos, organizada pela ONG Mira-Serra, com a participação da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), percorreu por cinco dias no final de fevereiro, a região onde se propõe a criação do Refúgio de Vida Silvestre do Rio Pelotas e dos Campos de Cima da Serra.

A expedição foi realizada com o objetivo de chamar atenção para as riquezas naturais da região (veja também a matéria escrita por Carlos Matsubara), bem como para a situação dramática de pressão sobre os remanescentes de vegetação natural da floresta com araucárias e campos nativos da região, principalmente por desmatamentos, plantios de espécies florestais exóticas e agricultura intensiva.

Essa é ainda uma das áreas em melhor estado de conservação do Sul do Brasil e parte da área pertence à Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, patrimônio Mundial segundo a UNESCO. É apontada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como área de extrema importância biológica e, portanto, prioritária para a conservação da biodiversidade.

O grupo passou pelos municípios de Cambará do Sul, São José dos Ausentes e Bom Jesus, no Rio Grande do Sul e Praia Grande em Santa Catarina, percorrendo aproximadamente 800 Km.

O Município de Cambará do Sul, primeiro a ser visitado, está localizado na região nordeste do Rio Grande do Sul, junto à divisa com o estado  de Santa Catarina. É uma cidade que apresenta baixas temperaturas durante o inverno, com ocorrência de neve.  Além do frio, é conhecida como a cidade dos cânions, sediados dentro dos parques nacionais dos Aparados da  Serra e da Serra Geral.

A cidade de São José dos Ausentes está localizada no extremo nordeste do Rio Grande do Sul, seus cânions também servem como marco divisor dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A expedição passou por estradas fascinantes avistando os extensos campos de cima da serra até chegar ao Pico Monte Negro, ponto mais alto do estado.

Além de toda exuberância dos campos, que predominam na região, o grupo pode observar a beleza incomparável da floresta com araucárias e das turfeiras. Entre a diversidade de  espécies vegetais, destaque para as petúnias, orquídeas, cactos, bromélias e a flor símbolo do Rio Grande do Sul, o brinco-de-princesa.

A fauna não ficou atrás, podendo-se encontrar com facilidade as siriemas, pica-paus, curicacas e gralhas azuis. Além das espécies que foram observadas a região também abriga espécies ameaçadas de extinção como a jaguatirica, o puma, o urubu-rei, o gavião de penacho e o papagaio-charão.

Falando em belezas naturais e biodiversidade era impossível finalizar a expedição sem visitar Bom Jesus e observar o Rio Pelotas e um de seus afluentes, o Rio dos Touros.

Na foz do Rio dos Touros fica o Passo de Santa Vitória, passagem obrigatória dos tropeiros para o estado de Santa Catarina, onde se instalou o primeiro posto de arrecadação de impostos da região.

Na travessia do rio, a mula guia passava amarrada numa espécie de botezinho feito com couro de boi, chamado de pelota, por isso o nome do rio: Rio Pelotas. O Passo de Santa Vitória foi palco também de um evento importante da Revolução Farroupilha: o combate de Santa Vitória, em 1839, com a presença de Anita Garibaldi lutando para derrubar as forças do império.

Além de sua importância histórica e cultural, o Rio Pelotas é muito importante do ponto de vista biológico. É o principal afluente do Rio Uruguai, formando uma das maiores bacias hidrográficas do Sul do Brasil. Suas águas passam ainda pela Argentina e pelo Uruguai e mais tarde se juntam ao rio Paraná para formar o grande Rio da Prata.

É um lugar sem igual, a paisagem é surpreendente, entre montanhas e remanescentes de Mata Atlântica é um rio que tem história, que reserva um alto potencial turístico para a região, importante para o desenvolvimento sustentável e para a conservação da biodiversidade.

Toda a biodiversidade que existe nesses locais se manteve desde a chegada dos primeiros habitantes devido às barreiras geográficas que limitaram o acesso do homem a determinadas áreas, e sobretudo, pelo tradicional modo de vida, baseado na agricultura familiar e pecuária extensiva.

Esse cenário de beleza e riqueza natural, cultural e histórica encontra-se ameaçado por plantios desordenados de pinus e batata, com altos índices de aplicação de agrotóxicos e pela construção de mais uma grande hidrelétrica, a de Pai Querê, que se for construída, será a quarta grande hidrelétrica sequencial no sistema Pelotas-Uruguai, compromentendo irremediavelmente toda a biodiversidade e cultura da região e inundando o que resta do Rio Pelotas. O Rio Pelotas deixará de existir, virará uma sequência de grandes lagos.

Temendo pelo futuro comprometido das riquezas naturais que compõem a região, a proposta de criação de um Refúgio de Vida Silvestre ao longo do Rio Pelotas e seus principais afluentes, tem como objetivo garantir a manutenção da biodiversidade em harmonia com as populações que ali vivem, com grande estímulo para a verdadeira vocação da região: o agro-ecoturismo.

Fica a lembrança de uma expedição encantadora, histórica, de aventura e de conhecimento de parte da identidade cultural do Brasil.

No Ano Internacional da Biodiversidade, apoie a criação do Refúgio de Vida Silvestre do Rio Pelotas e dos Campos de Cima da Serra, acessando a Campanha SOS Pelotas. Confira também as imagens da expedição realizada em setembro de 2006, durante uma descida do rio em botes de rafting, que durou três dias.

Confira também a matéria publicada em março de 2010, no Jornal Extra Classe (anexo).

Fotos: Tatiana Arruda Correia

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A beleza dos campos de cima da serra

O último recanto de vida selvagem no Rio Grande do Sul está na região dos Campos de Cima da Serra, ainda esperando para ser descoberto pelos amantes da natureza da era moderna.

Quem primeiro desbravou este paraíso ecológico foram os tropeiros de gado no início do século 18. Por lá viviam os índios Coroados, Caigangues e Botocudos – que resistiram o quanto puderam ao avanço dos brancos.

Toda beleza natural ainda está na região: rios de águas limpas e cristalinas, dezenas de cachoeiras e canyons formados há milhões de anos.

Para chegar a cada cantinho deste tesouro natural, muitas trilhas por extensos campos verdes e montanhas rochosas tomadas por florestas com araucárias, mescladas na vegetação exuberante típica da Mata Atlântica.

Na sua época, os tropeiros percorriam a região buscando o gado solto, que levavam para vender nas metrópoles de então. Eles viajavam pelo país levando os animais – assim ajudaram a fundar muitas cidades. O corredor por onde passavam hoje é conhecido como Caminho dos Tropeiros.

Muito se descobriu sobre a vida desses homens que se aventuravam por entre montanhas e rios, mas o que talvez nunca se descubra era o que se passava em suas cabeças ao se depararem com as belezas da região.

Rasgado por mais de trinta canyons que parecem terem sido cortados pela mão do homem, os Aparados da Serra são a borda da Serra Geral, daí a origem do seu nome. Do nível do mar até 1.400 metros de altitude, um horizonte verde a se perder de vista.

Os seus pontos mais deslumbrantes são os canyons do Itaimbezinho (Parque Nacional dos Aparados da Serra), Fortaleza (Parque Nacional da Serra Geral), Monte Negro (ponto mais alto do RS), Pedra Furada (Parque Nacional de São Joaquim em SC) e o Campo dos Padres, de onde se avista boa parte do litoral catarinense.

A ativista Káthia Vasconcellos Monteiro, da ONG ambientalista Mira-Serra, de São Francisco de Paula, vê na região um grande potencial para o turismo sustentável: “Além da importância histórica, a região apresenta rica biodiversidade que deve ser preservada e nesse sentido, o turismo sustentável pode exercer um papel fundamental”.

Ela conta que a região é um tradicional reduto gaúcho onde se pode aproveitar o convívio nos bailões nos CTGs, além de rodeios, torneios de laço e cavalgadas – tudo regado a chimarrão e churrasco.

Mais perto do céu

Em São José dos Ausentes fica o Monte Negro, ponto mais alto do Rio Grande do Sul.  Mas apesar dos seus 1.400 metros de altitude, a caminhada é relativamente fácil. De carro dá para chegar a 300 metros do canyon, o resto se faz a pé ou a cavalo. Se a neblina permitir, a vista é magnífica.

Já para subir ao pico do Monte Negro é um pouco mais complicado porque não há uma trilha demarcada, sobe-se em meio aos arbustos e pequenas árvores, caminhada de 20 minutos.

Outro passeio imperdível é a Trilha das Cachoeiras, uma atrás da outra e que serviram de cenário para a mini-série da TV Globo "A Casa das Sete Mulheres".

Ausentes têm pouco mais de três mil moradores. Encanta pela beleza natural e pela simplicidade do povo. Seus habitantes, aliás, são um capítulo a parte. Se o gaúcho é conhecido pela hospitalidade, Ausentes tem boa parte de “culpa” nisso.

O pequeno município está localizado a 250 quilômetros de Porto Alegre, com acesso um bastante precário para quem vem por Cambará do Sul. Mas até mesmo essa aventura vale a pena já que o caminho é cercado por uma fechada vegetação de Mata Atlântica. 

Para o empresário da área de Turismo Paulo Hafner, que atua há quase 20 anos na região, a riqueza histórica, ambiental e cultural dos Campos de Cima da Serra merece uma visita de pelo menos uma semana. “São tantas belezas para contemplar que menos do que isso é um pecado”.

Na parte gaúcha, Paulo cita como imperdíveis o Monte Negro, o Mirante da Rocinha, o Cachoeirão dos Rodrigues, a cachoeira da cabeceira do Rio das Antas e a Cachoeira das Sete Mulheres. Tudo isso apenas em São José dos Ausentes.

Em Cambará, recomenda os dois parques (Aparados e Serra Geral), mas não esquecendo de vê-los também por baixo, percorrendo uma trilha no rio Malacara, pelo município catarinense de Praia Grande.

É uma trilha de grau médio de dificuldade, dependendo muito das condições físicas do visitante em andar sobre as pedras do leito do rio. A trilha mais curta pode ser feita em cinco quilômetros, com direito a banho nas piscinas naturais.

Outra caminhada das boas pode ser feita pelas bordas do canyon Fortaleza, localizado no Parque da Serra Geral – ele tem sete quilômetros de extensão e quase mil metros de profundidade.

Rio Pelotas

Falando em belezas naturais é impossível esquecer do Rio Pelotas e de sua importância biológica, cultural e histórica. Principal afluente do rio Uruguai, ele forma uma das maiores bacias hidrográficas do Sul do Brasil. Suas águas passam ainda pela Argentina e pelo Uruguai e mais tarde se juntam ao rio Paraná para formar o grande rio da Prata.

O Pelotas foi também lugar de passagem dos antigos tropeiros que atravessavam a mula guia amarrada numa espécie de botezinho, feito com couro de boi, ao qual davam o nome de pelota. Nessa “pelota” iam dois remadores. Daí para virar nome de rio foi um pulo. O Passo de Santa Vitória, na foz do rio dos Touros era o local de travessia dos tropeiros e foi também palco de um evento importante da revolução farroupilha, foi lá que aconteceu o combate de Santa Vitória, em 1839, com a presença de Anita Garibaldi lutando para derrubar as forças do império.  É também um verdadeiro paraíso entre montanhas e remanescentes de Mata Atlântica para ambientalistas e aventureiros.

Ameaças reais

E toda esta beleza está seriamente ameaçada. De um lado, extensos plantios de pinus, espécie exótica que já toma conta de grandes extensões dos campos nativos e de onde deveriam ressurgir as florestas de araucárias.

Mas é uma outra ameaça que perturba o sono dos ambientalistas. Trata-se da usina hidrelétrica de Pai-Querê, a quarta em seqüência no Pelotas. Já foram construídas: Itá, Machadinho e Barra Grande, esta última “afogou” seis mil hectares de florestas de araucárias.

Pai- Querê

A hidrelétrica de Pai Querê faz parte do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) do governo federal e está planejada entre os municípios de Bom Jesus (RS) e Lages (SC), em um desnível de aproximadamente 150 metros em um trecho de 80 km de rio. Terá capacidade instalada de 292 MW. Serão alagados cerca de 6.100 hectares da Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.

Em fase de licenciamento pelo IBAMA, a usina tem investimentos previstos de R$ 968,92 milhões e é um projeto controlado por um consórcio formado pelo Grupo Votorantim (80,10%), DME Energética (4,50%) e Alcoa (15,34%).

A salvação

Estando no PAC, xodó deste governo e provavelmente de qualquer outro no futuro, dificilmente a usina não será construída. A luz no fim do túnel é uma proposta do Ministério do Meio Ambiente que prevê a criação do corredor ecológico do Rio Pelotas, uma Unidade de Conservação com quase 300 mil hectares em 17 municípios, chamada de Refúgio da Vida Silvestre –  menos proibitiva para os proprietários de terra, mas que poderia barrar Pai-Querê.

O problema é que o projeto do refúgio “repousa” na mesa do presidente Lula há meses, que bem sabe da queda de braço entre os ministérios do Meio Ambiente e das Minas e Energia, este último sendo chefiado por Dilma Rousseff até pouco tempo. 

“A implantação do corredor é essencial para a preservação da região e para evitarmos a instalação de empreendimentos que possam afetar as riquezas naturais", argumenta Káthia.  A ambientalista explica que o refúgio pode ser constituído por áreas particulares, de maneira a compatibilizar os recursos naturais com a utilização da terra pelos proprietários, principalmente por meio do turismo sustentável.

Fotos: Gustavo Jardim

Campanha SOS Rio Pelotas é enviada ao Presidente da República

No dia 13 de agosto de 2008, foi enviado ao Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, um dossiê com o resultado parcial da Campanha SOS Rio Pelotas.

A campanha que é coordenada pela Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), com apoio de outras inúmeras organizações da sociedade civil, está no ar desde 2007 e já coletou milhares de assinaturas, comentários e opiniões da comunidade, que quer a criação do Refúgio de Vida Silvestre do Corredor do Pelotas e diz "não" à construção da Hidrelétrica de Pai Querê.

O dossiê da campanha já havia sido entregue ao Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, no mês de junho, quando de uma audiência com a Rede de ONGs da Mata Atlântica. Cópias do documento encaminhado ao Presidente da República foram enviadas também para o presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e para a Procuradora do Ministério Público Federal em Caxias do Sul (RS), Luciana Guarnieri.

A criação dessa Unidade de Conservação (UC) é a última possibilidade de se manter um corredor de biodiversidade na região, onde se encontram alguns dos últimos bem preservados remanescentes da floresta com araucárias e dos campos naturais, dois ecossistemas extremamente ameaçados de extinção.

Mas a criação da UC em si não é suficiente, para que o corredor ecológico seja de fato mantido, é imprescindível a não construção da Hidrelétrica de Pai Querê, a quinta a ser construída na seqüência dos Rios Pelotas/Uruguai. Essa série de hidrelétricas já causou ao meio ambiente e à qualidade de vida das pessoas da região, impactos praticamente incalculáveis, vide o escândalo de Barra Grande (Confira no Dossiê Barra Grande).

Na verdade, a construção de Pai Querê vai provocar o desaparecimento do próprio Rio Pelotas, um rio importantíssimo tanto para a manutenção da vida silvestre, como para a vida das pessoas que moram na região.

O próprio estudo de avaliação integrada da bacia do Rio Uruguai, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), por conta do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) de Barra Grande, aponta a região de influência de Pai Querê como de alta importância para a conservação da biodiversidade, mas esquece de dizer que para a conservação efetiva dessa biodiversidade, essa hidrelétrica não pode ser construída.

Um outro aspecto importante é que em dezembro de 2006 foi sancionada a Lei da Mata Atlântica e por conta disso uma série de novos aspectos precisam ser considerados para a execução de obras desse tipo, como por exemplo, as alternativas técnicas e locacionais do empreendimento. Com certeza existem inúmeras alternativas técnicas, ambientalmente mais corretas, para se produzir a energia prevista com Pai Querê.

Outro aspecto importante é que a ação civil pública da Rede de ONGs da Mata Atlântica e da FEEC, contra a hidrelétrica de Barra Grande, ainda não foi julgada e ela com certeza poderá ter uma influência direta sobre a construção de Pai Querê. 

A Opinião da comunidade

A opinião da comunidade está clara, como mostra este depoimento de Arioldo Ribeiro, deixado na campanha: “Me coloco como morador de Bom Jesus (RS), um dos locais que seria atingido caso fosse construída a barragem. Pelo conhecimento que tenho e tendo em vista experiências anteriores mal sucedidas da instalação de UHE’s na região (Machadinho, Itá, Barra Grande) todas no mesmo rio. Percebo assim como crucial a manutenção do rio pelotas, fluxo de águas, sendo fundamental para conservação natural da região, ou seja a construção de uma barragem dessas proporções (Pai Querê) estaria condenando a região a uma estagnação e consequentemente causando problemas imensuráveis a biodiversidade bem como a perda da qualidade de vida dos moradores. Pelo contrário a criação da Unidade de Conservação provavelmente garantiria a manutenção das belezas naturais evitando por exemplo mudanças climáticas radicais bem como perda de biodiversidade”.

A comunidade científica, que conhece bem a região, também tem um posicionamento muito contundente, como mostra este depoimento do Professor Paulo Brack, do Departamento de Botânica – UFRGS: “Para a futura obra, mais de 200 famílias seriam desalojadas. Seria necessário o corte de mais de 3.940 hectares de florestas com araucária, ecossistema cada vez mais raro, bem como inundaria 1.120 hectares de campos naturais, cujos ambientes, em seu conjunto, abrigariam mais de 600 espécies vegetais e centenas de espécies animais, muitas das quais constam nas listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção ou são alvo de biopirataria. Transformar-se-iam mais de 80 km do rio Pelotas, e dezenas de quilômetros de seus tributários, em um corpo de águas paradas, com liberação do gás metano pela decomposição da matéria morta. O referido gás é vinte vezes mais poderoso do que o CO2 no que se refere ao efeito estufa, como assinala o pesquisador do INPA, Philip Fearnside, o segundo especialista mais citado no mundo em relação às mudanças climáticas”.

Confira em anexo o teor da carta enviada às autoridades. Resta saber agora o que as “autoridades” levarão em conta?

Quer saber o que será inundado? Clique aqui?

A Campanha continua no ar. Se você ainda não participou, não deixe de colocar seu nome no Abaixo-assinado.

MP de SC faz recomendações à FATMA sobre empreendimentos hidrelétricos

No dia 22 de julho de 2008, o Promotor de Justiça Luís Eduardo Couto de Oliveira Souto, Coodernador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente, do Ministério Público do Estado de Santa Catarina, encaminhou para o Presidente da Fundação de Meio Ambiente (FATMA), Carlos Leomar Kreuz, a recomendação 07/2008, sobre procedimentos a serem adotados nos processos de licenciamento dos empreendimentos hidrelétricos no estado.

A recomendação diz respeito tanto aos grandes empreendimentos, quanto às Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), em especial a questão do impacto ambiental por elas provocado quando, construídas em sequência no mesmo rio.

Na recomendação, o MP solicita "que a FATMA se reuna imediatamente com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), com a ciência e participação do Ministério Público Estadual, no sentido de instituir uma parceria, com o objetivo de firmar um Termo de Referência para estabelecer ações que viabilizem os estudos sobre os empreendimentos hidrelétricos, considerando a visão sistêmica da bacia hidrográfica".

Recomenda ainda que "as novas Lincenças Prévias, de Instalação e de Operação sejam expedidas já observando a questão da bacia hidrográfica, sob pena de responsabilidade administrativa, civil e criminal de seus agentes".

As considerações apresentadas pelo Promotor, para fazer a recomendação, levantam pontos muito importantes sobre a questão, como por exemplo o fato do mapeamento feito para o Rio Uruguai já ter apontado, que a influência dos empreendimentos hidrelétricos instalados praticamente eliminou os corredores de biodiversidade entre os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Fato apontado também pela Apremavi. Vide a Campanha SOS Rio Pelotas.

O documento aponta ainda a grande preocupação com o impacto ambiental que pode ser causado com a implantação das PCHs planejadas nas bacias catarinenses. Fato também já apontado pela Apremavi, vide o caso do Rio Cubatão.

A Apremavi parabeniza a iniciativa do Ministério Público Estadual e espera que essas medidas tenham um impacto muito positivo na conservação dos recursos naturais em Santa Catarina.

Confira a íntegra da Recomendação 07/2008, no documento em anexo.

Consulta Pública realizada em Lages

Esta semana estão em andamento, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, as consultas públicas para a criação do Refúgio de Vida Corredor do Pelotas. Após a realização de detalhados estudos sobre a região, esta é uma fase importante para a concretização dessa Unidade de Conservação fundamental para a manutenção da biodiversidade e do fluxo gênico da fauna e flora e também da qualidade de vida da população que mora na divisa desses dois estados.

Os processos de consulta pública para criação de Unidades de Conservação, que antes eram feitos pela internet e que agora são feitos de forma a permitir uma ampla participação da comunidade, tem se mostrado um passo importante para o aperfeiçoamento das propostas. Entretanto, infelizmente, certos políticos e autoridades locais nem sempre têm compreendido a importância das consultas e pior, algumas vezes tem trabalhado contra a sua realização utilizando-se para isso de argumentos infundados, prejudicando a própria comunidade local, que tem o maior interesse em ser adequadamente informada, visto que será a grande beneficiária das futuras Unidades de Conservação.

Felizmente a comunidade local começa a perceber os argumentos politiqueiros e infundados de quem defende interesses não declarados. Na consulta ocorrida em Lages, no dia 30 de abril a atuação desses mesmos políticos foi duramente criticada por representantes da comunidade presentes ao evento. Segundo relato de pessoas presentes à consulta, os políticos ocuparam praticamente 2/3 do tempo com um discurso demagogo, numa atuação vergonhosa, e em certos momentos, raivosa, em especial após terem tido negado pela justiça o pedido de suspensão das consultas em Santa Catarina.

Nada disso é de se estranhar, principalmente porque é de autoria do próprio governador do estado, uma ação de inconstitucionalidade sobre a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e, além disso, inúmeras ações para impedir a criação de novas UCs em Santa Catarina. O governador também enviou uma carta à ministra Marina Silva, pedindo o cancelamento das consultas, pelo fato de ter tido, como alegou, conhecimento “não oficial” sobre os estudos e sobre as consultas. Parece que o governador não tem sido muito bem informado pelos dirigentes de seus órgãos técnicos, os quais tem participado do processo desde o início, ou seja, desde maio de 2006.

O clima raivoso que a classe política tentou impregnar à consulta teve seu auge quando o Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional de Lages, Osvaldo Uncini, pregou a desobediência civil, dizendo que se fosse o caso a UC seria impedida “à facão”, atitude que mereceu imediato reparo por parte do representante do Ministério Público, presente ao evento.

A própria tentativa de impedir que as consultas públicas acontecessem, através de uma ação popular, assinado por diversos políticos e representantes de entidades de classe, demonstra claramente o real interesse por traz dessas ações, que com certeza, não é a conservação do meio ambiente e nem a qualidade de vida da população.

A consulta pública de Lages contou com a participação de cerca de 500 pessoas, que puderam, no terço restante da reunião, não ocupado por discursos dos políticos, fazer questionamentos e receber respostas por parte dos técnicos do Ministério do Meio Ambiente, sobre a proposta em questão. Segundo João de Deus Medeiros, Diretor de Áreas Protegidas do MMA, a consulta atingiu seus objetivos: “estamos verificando através das consultas a importância do processo para esclarecer as pessoas e em contrapartida temos tido um retorno muito rico, com subsídios para aprimorar a proposta”

Já para Urbano Schmitt Jr, vice-presidente da Apremavi, que junto com seu pronunciamento fez a entrega oficial do resultado parcial da Campanha SOS Rio Pelotas, a consulta foi muito bem conduzida, com a paciência necessária, para que todos os esclarecimentos pudessem ser feitos: “o objetivo das consultas publicas é exatamente poder esclarecer a comunidade sobre dúvidas que ela tenha. Para nós, da Apremavi e da comunidade ambientalista, também foi importante porque tivemos a oportunidade de repassar para o Ministério do Meio Ambiente, toda a documentação da campanha em prol da criação da UC e que tem recebido milhares de apoios”.

Só para lembrar, os estudos para a criação de uma Unidade de Conservação na região do Rio Pelotas foram determinados pelo Termo de Ajustamento de Conduta de que viabilizou o funcionamento da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, um caso emblemático que todos devem ter na memória. A importância da criação de uma Unidade de Conservação na região está descrita num dos parágrafos do ofício da Apremavi, encaminhado à Ministra Marina Silva: “…a criação desta UC é a última oportunidade de se manter de fato um corredor ecológico que permita o fluxo gênico (flora e fauna) e a conservação dos últimos remanescentes da floresta com araucárias e dos campos nativos da divisa dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É também a última oportunidade de se conservar o que restou do próprio Rio Pelotas, que sem a criação da UC e em sendo construída a usina hidrelétrica, vai desaparecer, uma vez que a usina em questão seria a quinta construída em seqüência no Pelotas/Uruguai”.

O ofício termina dizendo: “O resultado da Campanha SOS Rio Pelotas mostra o apelo real da comunidade e de organizações da sociedade civil pela preservação dessa região e esperamos, mui sinceramente, que este apelo seja ouvido. A natureza não suporta e a sociedade não quer mais uma “Barra Grande””.

Alertamos que a Campanha SOS Rio Pelotas, continua e quem não aderiu ainda poderá fazê-lo, diretamente na página da campanha.

Araucárias majestosas que vivem às margens do Rio Pelotas

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