Já são mais do que três meses: o Ministério do Meio Ambiente (MMA) vem prometendo criar novas Unidades de Conservação (UCs) para a Floresta com Araucárias. Enquanto isso, as araucárias caem, e não apenas na região de Barra Grande…

A história da "exploração" da Floresta Ombrófila Mista remonta ao século XIX, na metade do século XX a devastação atingiu seu auge, desencadeando até uma guerra, a do Contestado, no decorrer da qual milhares de agricultores foram mortos, não em poucos casos sumariamente fuzilados pelo exército. Mas embora triste, isto é uma outra história…

Fragmentada essa floresta a menos de 3% da sua área original de distribuição, os esforços de certas parcelas do setor madeireiro e empresarial para acabar com o pouco que ainda resta das florestas com Araucárias, não cessam. Chegam a ganhar dimensões cada vez mais grotescas.

Surreal, contudo, é o discurso que se ouve em Santa Catarina e no Paraná. No estado que compartilha parte de um sinônimo da araucária (Pinheiro-do-Paraná), certos deputados reagem ao empenho de se criar áreas protegidas de forma bastante dúbia, vociferando que técnicos do MMA e de ONGs estariam querendo tirar proveito pessoal com a proteção das araucárias. Um absurdo que se junta a outros: deputados e prefeitos, até um governador de estado chegaram a esbravejar que a criação dessas UCs iria gerar desemprego e pobreza naquelas regiões.

Cursaram pela imprensa regional números estranhos: "Meus avós escutaram na rádio que se esse Parque for criado, eles e milhares de outros agricultores serão deportados pro Nordeste", conta o biólogo Ezequiel, cuja família vive na região de Passos Maia, onde se pretende criar o Parque Nacional das Araucárias.

Continuando com números, desta vez com alguns que a imprensa não lembrou de divulgar: as UCs a serem criadas no PR e SC perfazem cerca de 1200 km², representando cerca de 0,4% da soma da superfície desses dois estados; outrora, a araucária se estendia por cerca de 40% dos seus territórios.

Proteger essas araucárias irá trazer pobreza e desgraça, já que a economia dos dois estados depende desses 0,4%…?

Falando de exploração madeireira e bem-estar social: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em Ponte Serrada SC é um dos mais baixos do sul do Brasil. E mais: de acordo com o Diagnóstico da Exclusão Social em Santa Catarina de 2003, mais de 61% dos habitantes desse municípío são considerados "pobres", outros 30% de "renda insuficiente". Ou seja, o IDH é baixo, mas o "IDA" (índice de desenvolvimento de alguns)…

Nesse município e em Passos Maia, a despeito da Resolução 278 do CONAMA, que proibe o corte de espécies vegetais da Mata Atlântica ameaçadas de extinção, as Indústrias de Madeiras Tozzo S.A. vinham fazendo o que há décadas já se fez: derrubar, cortar e comercializar araucárias, como documentado no Laudo Avaliação da Exploração MAdeireira de Espécies Ameaçadas de Extinção em Santa Catarina, elaborado e entregue ao MMA ano 2003 pela Apremavi. Já antes disso, o programa Fantástico noticiara várias "irregularidades" na madeireira dessa indústria (veja a matéria "Araucárias são devastadas em Santa Catarina" de dezembro de 2002).

Não se sabe bem se esse relatório chegou às mãos da Polícia Federal ou não, que nesta data (18/08) prendeu pelo menos 16 pessoas na Operação Curupira II.

São alguns os madeireiros de SC e PR que estão aguardando julgamento atrás das grades, acusados de exploração ilegal de madeira, grilagem de terras e outros crimes do gênero.

Mesmo que esses desmatamentos ilegais que levaram o juiz Julier Sebastião da Silva, da 1a Vara de Justiça Federal em Mato Grosso a decretar a prisão de 22 pessoas sejam com outros ‘tipos’ de florestas que não as de araucárias: os crimes são diferentes?

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