Campos de Altitude sob ataque

Campos de Altitude sob ataque

Campos de Altitude sob ataque

Os Campos de Altitude têm sido alvo de tentativas de flexibilização de sua proteção, comprometendo a conservação desses ambientes e seus serviços ecossistêmicos. O Projeto de Lei (PL) 364/2019 busca retirar esses ecossistemas da proteção conferida pela Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/2006) além de todas as demais fitofisionomias não florestais, colocando em risco diversas áreas naturais de todos os biomas do país.

 

Os impactos do PL 364/2019 nos Campos de Altitude

O PL 364/2019 surgiu em resposta às fiscalizações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em municípios da região dos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul. As autuações foram aplicadas a produtores rurais que convertiam campos nativos para a agricultura sem autorização, o que motivou a proposição legislativa para excluir os Campos de Altitude do escopo de proteção da Lei da Mata Atlântica.  

Além disso, um substitutivo ao PL 364/2019, aprovado na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, vai ainda mais longe ao remover a proteção de todas as fitofisionomias não florestais nativas do Brasil. Caso essa proposta avance, cerca de 48 milhões de hectares de campos nativos perderão proteção legal, incluindo 50% do Pantanal, 32% do Pampa, 7% do Cerrado e 15 milhões de hectares na Amazônia.

A retirada dessa proteção legal também afeta diretamente as metas ambientais brasileiras, incluindo a conservação da biodiversidade, a redução das emissões de carbono e os esforços de mitigação das mudanças climáticas. Cientistas brasileiros publicaram uma carta na revista Science denunciando a proposta como um “golpe severo para a biodiversidade brasileira e global.”

Atualmente, o PL está com o status de “Aguardando Deliberação do Recurso na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA)”

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Mudanças na Legislação Estadual

Os impactos do PL 364/2019 não se limitam à esfera federal. Estados como Santa Catarina já estão modificando suas legislações ambientais. Em 2022, o Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina restringiu a proteção dos Campos de Altitude apenas às áreas acima de 1500 metros de altitude e redefiniu todos os critérios para classificação dos estágios sucessionais da vegetação campestre. Com isso, a área protegida foi reduzida para apenas 3,8% da cobertura original definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e os critérios que permitem a supressão da vegetação campestre flexibilizados, em conflito direto com os parâmetros estabelecidos pelo CONAMA.

Essa restrição da ocorrência de Campos tão somente em altitudes superiores a 1500m contraria as definições do Mapa da Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica e da Resolução CONAMA 423/2010, que estabelecem que os Campos de Altitude estão presentes em altitudes a partir de 400 metros, dependendo da latitude. A alteração também introduz novos critérios para a classificação dos estágios sucessionais, comprometendo a recuperação e manutenção desses ecossistemas.

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Uso sustentável dos Campos de Altitude

Apesar dos desafios impostos por mudanças legislativas, é possível compatibilizar a conservação dos Campos de Altitude com atividades econômicas sustentáveis. Modelos de manejo, como a pecuária extensiva tradicional e o turismo ecológico, são exemplos viáveis de uso econômico que preservam a integridade ambiental.

A Pecuária Familiar Tradicional, por exemplo, mantém uma relação simbiótica com os campos nativos, sendo um modelo de produção que respeita a dinâmica natural do ecossistema. O pastoreio extensivo tradicional é reconhecido como atividade de uso indireto, não exigindo autorização dos órgãos ambientais desde que não promova a degradação do bioma ou a introdução de espécies exóticas.

O PL 364/2019 representa uma ameaça significativa às áreas campestres do Brasil, comprometendo a proteção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos essenciais. As mudanças na legislação estadual indicam uma tendência de redução dos níveis de proteção ambiental preocupante, e contrariam diretrizes científicas assim como marcos legais previamente estabelecidos.

Para garantir a manutenção e restauração desses ecossistemas, é fundamental rejeitar propostas que enfraquecem a proteção ambiental e incentivar políticas públicas que estimulem a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. O futuro dos Campos de Altitude depende de decisões baseadas na ciência e no compromisso com a proteção e salvaguarda da biodiversidade brasileira.

 

Campanha em prol dos Campos

Essa matéria é fruto da campanha “Proteja os Campos de Altitude”, uma das iniciativas do projeto “Cuidando da Mata Atlântica: Articulação Região Sul da RMA”, executado numa articulação entre a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e Instituto Mira Serra, com o apoio financeiro da Fundação dinamarquesa Hempel por meio da Fundação SOS Mata Atlântica.

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Referências:

Coalizão Pelo Pampa. (2024). Carta aberta à sociedade brasileira: PL 364/2019, a extinção dos campos nativos, e as perdas para a sociedade brasileira.

Overbeck, G. E., Toma, T. S., da Silveira-Filho, R. R., Dechoum, M. S., Fonsêca, N. C., Grelle, C. E., … & Fernandes, G. W. (2024). Brazil’s natural grasslands under attack. Science, 384(6692), 168-169.

SOS Mata Atlântica. (2024). Nota técnica e jurídica: Impactos ambientais decorrentes da aprovação do PL 364/19 e possibilidades de solução.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer e João de Deus Medeiros.
Foto de capa: Wigold Schaffer.

Projeto +Floresta finaliza restauração no PA Maria Silverston em Abelardo Luz (SC)

Projeto +Floresta finaliza restauração no PA Maria Silverston em Abelardo Luz (SC)

Projeto +Floresta finaliza restauração no PA Maria Silverston em Abelardo Luz (SC)

O trabalho de restauração ecológica no Projeto +Floresta avançou com a conclusão da fase de implantação em mais uma área. Desta vez, as ações de restauração foram realizadas na Reserva Legal do Projeto de Assentamento Maria Silverston em Abelardo Luz (SC).

Em maio de 2024, foi promovida uma reunião com a comunidade do assentamento para apresentar os resultados dos diagnósticos do meio físico e socioeconômico, além do projeto final de restauração aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O encontro reuniu 20 participantes, incluindo moradores locais, equipe da Apremavi e representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Ibama.

A Reserva Legal do assentamento abrange 17,76 hectares e é composta por áreas de banhado, floresta e espaços de uso antrópico. A vegetação local, especialmente na área úmida, apresentava alta incidência de Pinus spp., uma espécie invasora. Como primeira etapa da restauração, foi realizada a remoção do pinus, com parte da madeira destinada à comunidade para aproveitamento, mediante aprovação do Incra. Em seguida, foi construída uma cerca de isolamento ao longo de toda a Reserva Legal.

O processo de recuperação seguiu com o plantio heterogêneo de mudas nativas nas clareiras abertas pela remoção dos pinus e nas áreas anteriormente utilizadas pelo homem. Além disso, foi feito o enriquecimento ecológico com espécies nobres nas áreas onde a floresta já estava estabelecida. Entre as espécies plantadas, destacam-se pitanga, cedro, espinheira-santa, araçá, cereja e erva-mate, além das espécies-alvo do projeto: araucária e imbuia.

Lenira Ricardo, moradora do PA Maria Silverston e vizinha da Reserva Legal, compartilha sua experiência sobre as atividades: “Foi um trabalho muito bonito e desafiador para quem esteve na execução. No futuro, trará muitos benefícios, pois agora há muitas árvores e espécies que antes não existiam ali. É algo de que nossos netos irão se beneficiar.”

Atividades de reunião com moradores, ações de restauração, placa do projeto e remoção de Pinus spp. Fotos: Edilaine Dick e Marluci Pozzan.

+Floresta

Visa contribuir com a restauração da vegetação nativa na Floresta Ombrófila Mista, no Oeste de Santa Catarina, com o incremento de espécies vegetais ameaçadas de extinção como a araucária, a imbuia e o xaxim, ambas com histórico de intensa exploração no estado.

É financiado pelo Ibama através do Acordo de Cooperação Técnica nº 34/2021 e supervisionado pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF/SC), pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Justiça Federal de Santa Catarina, na forma da ação n° 5001458-53.2017.4.04.7200/SC.

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Autora: Marluci Pozzan.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Edilaine Dick.

Campos de Altitude: biodiversidade e clima em perigo

Campos de Altitude: biodiversidade e clima em perigo

Campos de Altitude: biodiversidade e clima em perigo

Por vezes, os Campos de Altitude são vistos como monótonos e pobres em biodiversidade quando comparados às florestas. No entanto, diversos estudos demonstram que esses ecossistemas possuem uma rica biodiversidade e desempenham um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas.

 

A biodiversidade dos Campos de Altitude

A biodiversidade dos campos ainda é pouco conhecida. Pesquisas conduzidas pelo botânico João Iganci e seus orientandos na Serra Geral, no sul do Brasil, revelaram uma biodiversidade surpreendente. Foram identificadas aproximadamente 300 espécies exclusivas da região, sendo 25% delas endêmicas, uma taxa de endemismo superior à da Mata Atlântica na mesma localidade.

A vegetação campestre da Serra Geral é considerada a mais rica em angiospermas endêmicas do sul do Brasil. Cerca de 296 espécies endêmicas foram registradas, tornando essa formação vegetal uma prioridade para estudos de conservação. Dentro das áreas protegidas da região, encontram-se parques nacionais e estaduais, reservas biológicas, florestas nacionais, estações ecológicas e áreas de interesse ecológico.

Dentre os 116 táxons endêmicos registrados nos Campos de Altitude da Serra Geral, 41% foram identificados dentro de Unidades de Conservação, enquanto 59% foram encontrados apenas fora dessas áreas protegidas, reforçando a necessidade de estratégias eficazes para sua preservação. O Parque Nacional de São Joaquim se destaca como a área protegida com o maior número de espécies endêmicas (35 táxons), o que evidencia sua importância na conservação da flora campestre. Outras áreas com alta diversidade incluem a região de Urubici (SC), Curitiba (PR) e o nordeste do Rio Grande do Sul.

Embora ainda não haja um levantamento abrangente das espécies de Funga nos Campos de Altitude, apenas no Parque Nacional de São Joaquim já foram registradas 160 espécies, algumas das quais estão ameaçadas de extinção.

Hippeastrum santacatarina espécie endêmica dos Campos de Cima da Serra

Algumas das espécies endêmicas dos Campos de Cima da Serra: Hippeastrum santacatarina, Lupinus rubriflorus, Adesmia reitziana, Buddleja cestriflora e Senecio conyzifolius. Fotos: Cassio Rabuske da Silva (CC BY-NC-SA 4.0 via Flora UFSC), Martin Grings (CC BY-NC-SA 4.0 via Flora UFSC), Guilherme Peres Coelho e Wigold Schäffer.

Sumidouros naturais para a mitigação das mudanças climáticas

Além de sua rica biodiversidade, os Campos de Altitude fornecem serviços ecossistêmicos essenciais, como a estabilização do solo, a manutenção das propriedades hidrológicas e, especialmente, a estocagem de carbono. Como sumidouros naturais, esses ecossistemas absorvem grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera, contribuindo diretamente para o equilíbrio climático global.

O estoque de carbono refere-se à quantidade de carbono armazenada em diferentes reservatórios naturais da Terra, incluindo vegetação, solos, oceanos e a atmosfera. Nos Campos de Altitude, esse armazenamento ocorre predominantemente nos solos ricos em matéria orgânica, que acumulam carbono por longos períodos de tempo. 

Pesquisas conduzidas nos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul, demonstram que esses solos possuem estoques de carbono substancialmente maiores do que os estimados em inventários anteriores. Os estoques dessa região são 70% maiores do que os valores de referência globais do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e até 120% superiores às estimativas em mapas nacionais de SOC (Carbono Orgânico do Solo). Essa capacidade de retenção de carbono reforça a importância da conservação desses ecossistemas para o combate às mudanças climáticas.

As projeções futuras indicam que os Campos de Altitude estão sob grave risco de redução devido às mudanças climáticas. Estudos preveem perdas superiores a 95% das áreas climaticamente e topograficamente adequadas até 2050, comprometendo a capacidade desses ecossistemas de atuarem como sumidouros de carbono.

 

Projeto de Lei ameaça a biodiversidade e agrava a crise climática

O Projeto de Lei (PL) 364/2019 ameaça os Campos de Altitude e os demais campos nativos do Brasil. Caso aprovado, o PL pode representar um grande retrocesso na conservação desse ecossistema sensível, expõe campos nativos em todos os biomas brasileiros à conversão para expansão agrícola, especulação imobiliária e atividades que comprometem a biodiversidade local. 

Além da evidente ameaça representada pelo PL 364/2019, iniciativas na direção de acelerar a eliminação dos Campos de Altitude já foram implementadas em Estados como Santa Catarina que, a despeito da flagrante inconstitucionalidade, modificam suas legislações ambientais. Em 2022, o Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina restringiu a proteção dos Campos de Altitude apenas às áreas acima de 1500 metros de altitude, além de alterar os parâmetros para identificação de vegetação primária e secundária com seus distintos estágios sucessionais, em claro conflito com os parâmetros definidos pelo CONAMA. Com isso, a área protegida foi reduzida para apenas 3,8% da cobertura original definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, dessa porção ínfima que restou, ainda flexibilizou regras para favorecer a supressão da vegetação campestre.

A perda desses habitats pode resultar na extinção dessas espécies endêmicas ainda pouca estudadas e que dependem dessas áreas para sua sobrevivência, além de comprometer serviços ecossistêmicos fundamentais.

 

Campanha em prol dos Campos

Essa matéria é fruto da campanha “Proteja os Campos de Altitude”, uma das iniciativas do projeto “Cuidando da Mata Atlântica: Articulação Região Sul da RMA”, executado numa articulação entre a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e Instituto Mira Serra, com o apoio financeiro da Fundação dinamarquesa Hempel por meio da Fundação SOS Mata Atlântica.

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Referências:

Gorsani, R. G. (2023). ‘Campo de altitude’: climate changes in time and space.  

Iganci, J. R., Heiden, G., Miotto, S. T. S., & Pennington, R. T. (2011). Campos de Cima da Serra: the Brazilian Subtropical Highland Grasslands show an unexpected level of plant endemism. Botanical Journal of the Linnean Society, 167(4), 378-393.  

Külkamp, J., Heiden, G., & Iganci, J. R. V. (2018). Endemic plants from the southern Brazilian Highland grasslands. Rodriguésia, 69(2), 429-440.  

Pla, C., Külkamp, J., Heiden, G., Lughadha, E. N., & Iganci, J. R. (2020). The importance of the Brazilian Subtropical Highland Grasslands evidenced by a taxonomically verified endemic species list.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Margarida-melada: espécie endêmica dos Campos de Altitude

Margarida-melada: espécie endêmica dos Campos de Altitude

Margarida-melada: espécie endêmica dos Campos de Altitude

O gênero Senecio pertence à família Asteraceae e é um dos mais diversos dentro do grupo, com aproximadamente 1000 espécies distribuídas principalmente em regiões montanhosas ao redor do mundo. Na América do Sul, a diversidade do gênero é particularmente elevada, com cerca de 500 espécies, dessas cerca de 60 ocorrem no Brasil. Essas espécies se desenvolvem predominantemente em ambientes úmidos, como os Campos de Altitude das regiões Sul e Sudeste do país.

Apesar de sua riqueza e diversidade, o conhecimento sobre a diversidade de Senecio spp. no Brasil ainda é incipiente, com alguns levantamentos botânicos realizados em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

 

Senecio conyzifolius

Dentre as espécies do gênero Senecio, destaca-se Senecio conyzifolius, conhecida popularmente como arnica ou margarida-melada. Trata-se de uma erva perene que pode atingir cerca de 60 cm de altura, caracterizando-se pela presença de longos pelos roxos que secretam uma substância pegajosa ao longo do caule e das inflorescências. As flores são amarelas, e a espécie floresce entre agosto e outubro.

A distribuição da espécie ocorre principalmente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo comum nos Campos de Cima da Serra e nas regiões das Missões, Planalto Médio e Encosta Superior do Nordeste, sendo endêmica desses locais. Pode ser observada com frequência em campos abertos e ao longo das estradas.

 

Importância ecológica e medicinal

A polinização da espécie ocorre principalmente por borboletas e abelhas, destacando sua importância ecológica na manutenção das interações entre insetos polinizadores e a flora dos Campos de Altitude.

Além de seu papel ecológico, essa espécie é amplamente utilizada na medicina popular. Suas flores e folhas são empregadas na forma de alcoolatura para uso externo, sendo um remédio tradicional para tratar machucados e contusões. A planta é chamada pelas comunidades locais de “Arnica”.

Apesar de seu potencial cicatrizante, o uso interno da espécie não é recomendado, pois estudos apontam a presença de substâncias que podem ser tóxicas ao fígado (alcaloides pirrolizidínicos). Dessa forma, seu uso deve ser exclusivamente externo, evitando a aplicação em feridas abertas ou extensas*

*Os dados sobre usos medicinais das espécies nativas são apenas para informação geral, onde os estudos foram feitos com propriedades isoladas em uma quantidade específica. O uso de medicamentos fitoterápicos deve ser seguido de orientações médicas

Detalhe dos ramos de Senecio conyzifolius (margarida-melada)

Registros das flores e ramos de Senecio conyzifolius. Fotos: Carolina Schäffer, Wigold Schäffer e Maurício Mercadadante CC BY-NC-SA 2.0

Projeto de Lei ameaça a espécie 

A margarida-melada, assim como toda a biodiversidade dos Campos de Altitude está ameaçada pelo Projeto de Lei (PL) 364/2019. Caso aprovado, o PL pode representar um grande retrocesso na conservação desse ecossistema sensível, pois expõe campos nativos em todos os biomas brasileiros à conversão para expansão agrícola, especulação imobiliária e atividades que comprometem a biodiversidade local. 

O PL também incentiva o retrocesso a nível estadual em Santa Catarina. Em 2022, o Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina restringiu a proteção dos Campos de Altitude apenas às áreas acima de 1500 metros de altitude. Com isso, a área protegida foi reduzida para apenas 3,8% da cobertura original definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, dessa porção ínfima que restou, ainda flexibilizou regras para favorecer a supressão da vegetação campestre.

A perda desses habitats pode resultar na extinção dessas espécies endêmicas ainda pouco estudadas e que dependem dessas áreas para sua sobrevivência, além de comprometer serviços ecossistêmicos fundamentais.

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Referências consultadas:

Araújo, F. P., Klein, P. A., Fernandes, M., Renck, M. V. K., & Rolim, R. G. (2022). Se essa rua fosse minha eu mandava semear: plantas ornamentais nativas para manutenção de polinizadores em áreas urbanas nos campos de cima da serra, Rio Grande do Sul, Brasil. Pesquisas, Botânica, (76), 193-217.

Boldrini, I. I., Bordignon, S. A. D. L., Borges, R. A. X., Vieira, M. D. S., Overbeck, G. E., & Lange, O. (2023). Guia de plantas campestres dos Aparados da Serra. Rede Campos Sulinos.

Oliveira, C. C. D., Silva, M. J. D., & Teles, A. M. (2015). Senecio L.(Asteraceae, Senecioneae) no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Hoehnea, 42(4), 703-724.

Silva, C. D. M. D., Bolzan, A. A., & Heinzmann, B. M. (2006). Alcalóides pirrolizidínicos em espécies do gênero Senecio. Química nova, 29, 1047-1053.

Teles, A.M.; Heiden, G.; Freitas, F.S. Senecio in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 

Horto Didático de Plantas Medicinais do HU/CCS da Universidade Federal de Santa Catarina.

 

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer e Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Carolina Schäffer.

Restauração estratégica: áreas prioritárias para biodiversidade e carbono no Brasil

Restauração estratégica: áreas prioritárias para biodiversidade e carbono no Brasil

Restauração estratégica: áreas prioritárias para biodiversidade e carbono no Brasil

O Brasil tem a meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030 segundo o Plano Nacional de Vegetação Nativa (PLANAVEG). Em paralelo, o Marco Global da Biodiversidade propõe a recuperação de 30% das áreas degradadas passíveis de restauração no mesmo período.

Um estudo recente do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS) apresenta uma abordagem pioneira para planejar a restauração ecológica em todo o território nacional, utilizando critérios que maximizam ganhos em biodiversidade, conectividade funcional e estocagem de carbono. 

Pesquisadores utilizaram uma abordagem de Planejamento Sistemático da Conservação (SCP) para identificar as áreas prioritárias para restauração em todos os seis biomas brasileiros: Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal. O estudo considerou dois principais critérios: o ganho potencial de habitat para as espécies de fauna e flora e o aumento da conectividade funcional para espécies de médio e grande porte.

 

Impactos positivos da priorização
  • As áreas de alta prioridade para ganho de habitat estão localizadas, principalmente, nos limites entre os biomas;
  • As áreas prioritárias para a conectividade estão distribuídas dentro dos biomas, exceto na Amazônia, onde se concentram na sua porção sudeste;
  • Regiões críticas incluem o arco do desmatamento na Amazônia, o Cerrado central, os limites da Caatinga, Pampa e Pantanal, e as áreas costeiras da Mata Atlântica.

Se a meta de restauração de 30% for atingida, os impactos positivos incluirão:

  • Um aumento de 40% na disponibilidade de habitat para 11.048 espécies, das quais 6% são ameaçadas e 23% são endêmicas;
  • Uma melhoria de 60% na conectividade funcional das paisagens restauradas;
  • Um potencial de sequestro de carbono de até 9,8 milhões de toneladas de carbono.

Os resultados do estudo oferecem subsídios para a implementação de políticas e projetos de restauração ao identificar áreas estratégicas, contribuindo para a alocação eficiente de recursos e a criação de incentivos para a restauração ecológica, promovendo a conservação da biodiversidade e o enfrentamento da crise climática.

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As 30% principais áreas prioritárias para restauração maximizando os ganhos de habitat e conectividade por bioma. Crédito: “Addressing the urgent climate and biodiversity crisis through strategic ecosystem restoration in Brazil”

As 30% principais áreas prioritárias para restauração maximizando os ganhos de habitat e conectividade por bioma. Crédito: “Addressing the urgent climate and biodiversity crisis through strategic ecosystem restoration in Brazil”

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

A história de formação dos Campos de Altitude

A história de formação dos Campos de Altitude

A história de formação dos Campos de Altitude

Os Campos de Altitude são uma das fitofisionomias mais singulares e antigas da Mata Atlântica, ocupando regiões elevadas das cadeias montanhosas da Serra Geral, da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira. Essas paisagens naturais são testemunhas de uma história geológica e climática complexa, que moldou sua biodiversidade ao longo de milhões de anos.

 

História geológica dos Campos de Altitude

A origem dos Campos de Altitude está intimamente ligada à história geológica. A região onde eles se encontram repousa sobre um escudo cristalino Pré-cambriano, que sofreu intensos eventos orogênicos até o Ordoviciano. Durante o Jurássico, derramamentos basálticos cobriram a área, mas foi no final do Cretáceo, com o rompimento do supercontinente Gondwana e a formação do Oceano Atlântico, que as Serras do Mar e da Mantiqueira começaram a se elevar. Esse soerguimento continuou durante o Paleoceno e o Mioceno, moldando o relevo acidentado que hoje caracteriza a região.

Os Campos de Altitude, típicos dos pontos mais elevados dessas serras, são formados sobre rochas ígneas ou metamórficas expostas por processos erosivos que ocorreram ao longo das eras geológicas. Durante o Pleistoceno, ciclos de glaciação alternaram climas úmidos e semiáridos, influenciando a distribuição da vegetação. Nos períodos glaciais, o clima tornou-se mais frio e seco, com a formação de calotas de gelo e a redução do nível do mar. Nas serras do sudeste brasileiro, esses eventos levaram à expansão dos campos e à retração das florestas, que se limitaram a vales úmidos.

Com o fim da última glaciação, há cerca de 15 mil anos, o clima começou a se aquecer. No entanto, a umidade só retornou significativamente há aproximadamente 5 mil anos, permitindo a expansão das Florestas Ombrófilas Mistas. Os Campos de Altitude, no entanto, permaneceram como relictos da vegetação mais antiga que predominava durante os períodos glaciais, sobrevivendo apenas nos topos das montanhas, onde as condições climáticas ainda determinavam estações frias e secas mais prolongadas.

 

A paleobotânica e a biodiversidade conta a história dos Campos de Altitude

A reconstrução da história dos Campos de Altitude é possível graças a técnicas como a palinologia (estudo de pólens e esporos) e a análise de carvão vegetal, que permitem aos pesquisadores entender as mudanças na vegetação e no clima ao longo do tempo. Um estudo realizado em uma turfeira na Serra dos Campos Gerais, no Paraná, revelou detalhes sobre a evolução desses ecossistemas.

Durante o período glacial tardio, há cerca de 12.500 anos, predominavam campos diversificados com manchas esparsas de Florestas com Araucárias. O clima era 3 a 5°C mais frio e seco do que o atual, e os incêndios eram raros. No início e no meio do Holoceno (até 2.850 anos atrás), os campos continuaram dominantes nas áreas altas, enquanto as florestas tropicais se expandiam nos vales, favorecidas por um clima mais quente e úmido. A expansão das florestas de araucária para as áreas altas só ocorreu no final do Holoceno, há cerca de 1.500 anos, quando o clima tornou-se mais úmido e com estações secas menos intensas.

A biodiversidade dos Campos de Altitude também conta sua própria história. Uma pesquisa evolutiva demonstrou como a estabilidade dessa fitofisionomia gera uma diversidade maior. Foi mapeado a distribuição de espécies endêmicas de gêneros como Petunia, Calibrachoa e Adesmia. Essas espécies, altamente adaptadas às condições específicas dos campos, revelam padrões de diversidade que refletem a estabilidade climática das áreas mais altas. Durante o Último Máximo Glacial, o clima frio e seco permitiu que espécies campestres avançassem sobre áreas antes ocupadas por florestas, diversificando-se e originando novas linhagens.

 

Projeto de Lei ameaça o futuro do ecossistema

O Projeto de Lei (PL) 364/2019 ameaça os Campos de Altitude e todas as demais formações não florestais nativas do Brasil. Caso aprovado, o PL pode representar um grande retrocesso na conservação desse ecossistema sensível, expondo campos nativos e demais formações vegetais herbáceas e arbustivas, em todos os biomas brasileiros, à conversão para expansão agrícola, especulação imobiliária dentre outras atividades que comprometem a biodiversidade local, a estabilidade hídrica e intensificam a emergência climática que já administramos.

Além da evidente ameaça representada pelo PL 364/2019, iniciativas na direção de acelerar a eliminação dos Campos de Altitude já foram implementadas em Estados como Santa Catarina que, a despeito da flagrante inconstitucionalidade, modificam suas legislações ambientais. Em 2022, o Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina restringiu a proteção dos Campos de Altitude apenas às áreas acima de 1500 metros de altitude, além de alterar os parâmetros para identificação de vegetação primária e secundária com seus distintos estágios sucessionais, em claro conflito com os parâmetros definidos pelo CONAMA. Com isso, a área protegida foi reduzida para apenas 3,8% da cobertura original definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, dessa porção ínfima que restou, ainda flexibilizou regras para favorecer a supressão da vegetação campestre.

A perda desses habitats pode resultar na extinção de espécies endêmicas que dependem dessas áreas para sua sobrevivência, além de comprometer serviços ecossistêmicos fundamentais, como a regulação hídrica e o armazenamento de carbono.

 

Campanha em prol dos Campos

Essa matéria é fruto da campanha “Proteja os Campos de Altitude”, uma das iniciativas do projeto “Cuidando da Mata Atlântica: Articulação Região Sul da RMA”, executado numa articulação entre a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e Instituto Mira Serra, com o apoio financeiro da Fundação dinamarquesa Hempel por meio da Fundação SOS Mata Atlântica.

> Conheça 

 

Referências:

Behling, H. (1997). Late Quaternary vegetation, climate and fire history of the Araucaria forest and campos region from Serra Campos Gerais, Paraná State (South Brazil). Review of palaeobotany and palynology, 97(1-2), 109-121.

Behling, H. (1998). Late Quaternary vegetational and climatic changes in Brazil. Review of palaeobotany and palynology, 99(2), 143-156.

Barros, M. J., Silva-Arias, G. A., Fregonezi, J. N., Turchetto-Zolet, A. C., Iganci, J. R., Diniz-Filho, J. A. F., & Freitas, L. B. (2015). Environmental drivers of diversity in Subtropical Highland Grasslands. Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics, 17(5), 360-368.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: João de Deus Medeiros.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Apremavi participa do Encontro Anual do Observatório do Clima

Apremavi participa do Encontro Anual do Observatório do Clima

Apremavi participa do Encontro Anual do Observatório do Clima

Nos dias 18 e 19 de fevereiro,  São Paulo sediou mais um encontro anual do Observatório do Clima (OC), reunindo um número histórico de cerca de 200 representantes de 103 organizações da sociedade civil. O evento ocorreu durante a terceira onda de calor do ano, que atingiu a capital paulista e outros estados brasileiros.

Durante o encontro, a maior rede da sociedade brasileira dedicada às mudanças climáticas debateu os desafios da agenda ambiental e a atuação do OC em 2025. Entre os principais temas discutidos estavam a preparação para a Conferência do Clima da ONU (COP 30), que será realizada em novembro, em Belém (PA), os impasses das negociações climáticas, a agenda política nacional e o engajamento da sociedade para ampliar o debate sobre a emergência climática.

A assembleia geral, instância máxima da governança do OC elegeu duas novas integrantes para o comitê de coordenação e referendou a recondução de Marcio Astrini para mais um mandato de cinco anos como secretário executivo da rede. O evento também marcou a recepção de 14 novas organizações ao Observatório do Clima, ampliando ainda mais seu alcance e representatividade.

A Apremavi é uma das organizações fundadoras do OC, e sediou a celebração dos 15 anos da rede em 2017. Atualmente a instituição participa ativamente dos Grupos de Trabalho (GTs) de Políticas Públicas e de Gênero e Justiça Climática.

“A crise climática está se fazendo presente de forma contundente e em muitos casos, avassaladora. Não podemos mais nos permitir fazer mais do mesmo. Se não tivermos a capacidade de pensar e implementar planos e políticas muito mais audaciosas, arrojadas e efetivas, vamos acabar normalizando a tragédia”, relata Miriam Prochnow, cofundadora e diretora da Apremavi, que representou a instituição no evento.  Miriam também aponta que a sociedade civil precisa cobrar do governo ações concretas e imediatas, para na COP poder mostrar resultados: “a COP não pode ser somente um espaço para lançar planos, precisamos de ações implementadas”

Outra grande preocupação é com relação à exploração de petróleo na Foz do Amazonas, é uma atividade contraditória com as medidas necessárias para  para combater os efeitos das mudanças climáticas. Suely Araújo, Coordenadora de Políticas Públicas do OC, fala sobre esse assunto em artigo publicado no Boletim do OC e critica a pressão política para essa exploração: “A prioridade é para o dinheiro que o petróleo gera, mas as perguntas são: Quem realmente ganha com isso? Quais os custos associados à expansão da produção de petróleo, considerando tanto os gigantescos subsídios governamentais envolvidos quanto, principalmente, os efeitos da queima de combustíveis fósseis para a piora do aquecimento global?”

Encontro do Observatório do Clima de 2025

Encontro Anual do Observatório do Clima durante os dias 18 e 19 de fevereiro em São Paulo (SP). Foto: Miriam Prochnow

O Observatório do Clima

É uma rede de organizações da sociedade civil brasileira dedicada à construção de um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Fundado em 2002, o OC tem como objetivo promover a transparência, a participação social e o fortalecimento das políticas ambientais, com foco na redução das emissões de gases de efeito estufa e na adaptação às mudanças climáticas.

> Saiba mais

 

Autoras: Thamara Santos de Almeida e Miriam Prochnow com informações do Observatório do Clima.
Foto de capa: Arquivo Observatório do Clima.

Estados brasileiros e sua capacidade de enfrentar as mudanças climáticas

Estados brasileiros e sua capacidade de enfrentar as mudanças climáticas

Estados brasileiros e sua capacidade de enfrentar as mudanças climáticas

Uma nova publicação analisou como as 27 unidades federativas (UF) estão preparadas para gerir os crescentes eventos extremos do meio ambiente e clima, apresentando uma visão abrangente sobre o status das políticas públicas relacionadas as mudanças climáticas em cada estado.

Embora os eventos climáticos extremos sejam cada vez mais frequentes, poucos estados estão trabalhando para estarem preparados para acolher a população, reduzir os riscos e consequências de enchentes, deslizamentos de terra, incêndios e outras catástrofes; bem como a implementação da legislação florestal. O  Centro Brasil no Clima analisou o estado da arte em todas as UFs.

Atualmente, os estados elegíveis para captar recursos de REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) o Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Roraima e Tocantins. Todos possuem Sistema de Cadastro Ambiental Rural (CAR), mas muitos ainda necessitam completar as informações e aumentar a adesão dos proprietários rurais ao Programa de Regularização Ambiental (PRA). Os estados que já chegaram à fase de monitoramento dos projetos e regularização de áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal no PRA são Acre, Pará, Rondônia, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Minas Gerais.

O estudo também avaliou os instrumentos de gestão das mudanças climáticas, incluindo informações sobre Políticas e Planos Estaduais de Mudanças Climáticas, Planos de Contingência da Defesa Civil, Inventários de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e Planos de Mitigação e Adaptação.

Das 27 unidades federativas, apenas três (Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Tocantins) estão com Políticas Estaduais de Mudanças Climáticas em revisão. Em relação aos Planos de Contingência da Defesa Civil, 17 estados possuem a iniciativa, enquanto Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima e Santa Catarina ainda desenvolvem ou não contam com a estratégia.

Quanto aos Inventários Estaduais de Emissões de GEE, 60% dos estados não possuem ou estão em processo de atualização. Já no campo da mitigação, apenas 12 estados possuem planos concluídos, enquanto os demais estão em diferentes estágios de elaboração. No quesito adaptação, apenas Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo têm planos finalizados.

Avaliação dos instrumentos de gestão de mudanças climáticas Crédito Anuário Estadual de Mudanças Climáticas

Avaliação dos instrumentos de gestão de mudanças climáticas. Crédito: Anuário Estadual de Mudanças Climáticas

Santa Catarina

Santa Catarina se destaca por possuir Inventários de Emissões Atmosféricas atualizados de 2016 a 2021 (IMA, 2024). O estado conta com um Plano de Adaptação para a bacia do rio Itajaí-Açu, incluindo ações para mitigação de riscos dentro do “Programa Proteção Levada a Sério” (Governo de SC, 2024). Além disso, participa de um projeto do BIRD com o BRDE para aumentar a resiliência local e vem mapeando as áreas sujeitas a inundação no estado.

Em junho de 2024, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina aprovou a inserção de ações de adaptação na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). O estado também conta com o Fundo Catarinense de Mudanças Climáticas, regulamentado pelo Decreto nº 3254/2010, para apoiar projetos de mitigação e adaptação.

Junto com  Rio Grande do Sul, Santa Catarina enfrenta os maiores números de desastres naturais de 1991 a 2022. O estado também enfrenta desafios na governança climática, como a necessidade de ativação do Fórum Estadual de Mudanças Climáticas e a promoção de ações de descarbonização. Uma oportunidade apresentada pela publicação é eliminar subsídios ao carvão e investir em bioenergia proveniente da suinocultura.

 

Confira a publicação na íntegra

 

Anuário Estadual de Mudanças Climáticas

Desenvolvido pelo Centro Brasil no Clima em parceria com o Instituto Clima e Sociedade – iCS, o Anuário surgiu em resposta à falta de conhecimento especializado sobre ações climáticas em nível subnacional. Seu objetivo é trazer informações e dados setoriais que ajudem a entender como as Unidades Federativas estão atuando diante das mudanças climáticas e o que pode avançar.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Florestas maduras da Mata Atlântica em perigo

Florestas maduras da Mata Atlântica em perigo

Florestas maduras da Mata Atlântica em perigo

A Mata Atlântica carrega um histórico de devastação que se confunde com a própria formação do Brasil ao longo dos séculos. Apesar dos avanços na restauração ecológica do bioma, a destruição de florestas maduras segue em ritmo acelerado.

Embora a Lei da Mata Atlântica proíba o desmatamento, permitindo sua remoção apenas em circunstâncias excepcionais, voltadas ao interesse social e a fins públicos, um estudo publicado na revista Nature Sustainability por pesquisadores brasileiros revela que a perda dessas florestas continua ocorrendo de maneira alarmante.

Entre 2010 e 2020, foram identificados 14.401 polígonos de desmatamento, resultando na perda de 186.289 hectares de florestas maduras. A maioria dessas perdas ocorreu em pequenas propriedades privadas, para a expansão agropecuária. Também foram registradas degradações menores, dentro de Unidades de Conservação e Terras Indígenas.

Embora a tendência de desmatamento tenha diminuído na região Sudeste, no Centro-Oeste, Sul e Nordeste os índices aumentaram ao longo do tempo. A maior perda anual foi registrada na Bahia (26% do total) e em Minas Gerais (34%), que juntas somam metade do desmatamento de florestas maduras. No Sul, Paraná (12%) e Santa Catarina (4%) também apresentaram aumento na remoção dessas florestas, concentrada principalmente sobre a Floresta Ombrófila Mista (94%).

Os dados indicam que 73% das áreas desmatadas estavam em propriedades privadas, enquanto apenas 8% da perda ocorreu em unidades de conservação, terras indígenas e territórios de comunidades tradicionais. Essas florestas representam cerca de 12,4% da cobertura florestal do bioma e são essenciais para a conservação da biodiversidade e do carbono armazenado na Mata Atlântica.

 

Impactos na biodiversidade e soluções possíveis

O desmatamento de florestas maduras impacta diretamente a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. A Mata Atlântica abriga altos índices de endemismo e espécies ameaçadas, sendo altamente vulnerável a processos de extinção. Quase metade (44%) de suas espécies arbóreas está sob risco, e entre as endêmicas esse percentual chega a 86%.

Apesar das altas taxas de regeneração florestal (áreas superiores a 700 mil hectares entre 2011 e 2015), as novas florestas apresentam menor biodiversidade, biomassa e estoque de carbono. Além disso, cerca de um terço dessas florestas regeneradas é novamente perdido antes de atingir oito anos de idade.

A falta de fiscalização e governança eficaz contribui para a ilegalidade do desmatamento. Para conter essa perda, os pesquisadores destacam a importância de ações integradas, como:

  • Criação e fortalecimento das Unidades de Conservação;
  • Aplicabilidade efetiva da Lei da Mata Atlântica e do Código Florestal;
  • Mecanismos financeiros, como mercado de carbono e Pagamentos por Serviços Ambientais;
  • Proteção de territórios indígenas e quilombolas, que têm se mostrado fundamentais para frear o desmatamento.

Internacionalmente reconhecida como um hotspot de restauração, a Mata Atlântica tem recebido atenção para projetos de recuperação ecológica. No entanto, os especialistas alertam que o foco na restauração não pode desviar os esforços de conservação e controle do desmatamento, uma condição essencial para garantir um futuro viável para o bioma. Conservação e restauração andam juntas.

> Confira a entrevista com os autores do estudo

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Arquivo Apremavi.

Emergência climática se agrava mais rápido do que o esperado – do Observatório do Clima

Emergência climática se agrava mais rápido do que o esperado – do Observatório do Clima

Emergência climática se agrava mais rápido do que o esperado – do Observatório do Clima

Enquanto diversas regiões do Brasil se preparam para enfrentar mais uma onda de calor intensa, os últimos dados divulgados pelo Observatório do Clima são alarmantes e reforçam a gravidade da emergência climática. O ritmo do aquecimento global tem sido subestimado, e cientistas alertam que seus impactos serão sentidos de maneira ainda mais rápida e intensa do que o previsto.

 

Aquecimento está acelerado e meta de 2ºC, “morta”, diz cientista pioneiro

Um estudo publicado no começo de fevereiro na revista “Environment: Science and Policy for Sustainable Development” sustenta que a velocidade do aquecimento global foi subestimada, e seus efeitos serão sentidos antes do previsto. O primeiro autor, James Hansen, é pesquisador aposentado da Nasa e foi pioneiro no alerta sobre o aquecimento global.

O principal achado é que a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura a 2ºC acima dos níveis pré-industriais já é inatingível. Com essa mudança, a taxa de aquecimento deve continuar crescendo, ultrapassando o limite de 2ºC já em 2045, agravando a emergência climática. Além disso, os pesquisadores alertam para o possível colapso da corrente oceânica do atlântico (AMOC) nas próximas décadas, o que poderia levar a um aumento significativo do nível do mar e impactos irreversíveis no clima global.

> Leia a matéria completa no site do Observatório do Clima

 

Janeiro de 2025 foi o mais quente já registrado

Janeiro de 2025 foi o mês mais quente já registrado, com um aumento de 1,75°C em relação ao período pré-industrial (1850-1900), segundo dados do observatório climático Copernicus. Em 18 dos últimos 19 meses a elevação foi superior a 1,5°C – limite estabelecido pelo Acordo de Paris para evitar impactos climáticos catastróficos. O recorde ocorreu apesar da influência do fenômeno La Niña, que normalmente reduz as temperaturas globais, mas chegou com menor intensidade neste ciclo.  

Um relatório da Berkeley Earth, divulgado em 10 de janeiro com base em dados do serviço meteorológico britânico, aponta que 2025 poderá se tornar o terceiro ano mais quente da história, mesmo sob a atuação do La Niña. Essa previsão reforça o agravamento da crise climática, evidenciado pelo aumento contínuo das temperaturas e pelos impactos em ecossistemas vulneráveis, como os recifes de coral, que já registram alertas de branqueamento. 

> Confira no site do Observatório do Clima 

Autoria: Resumo realizado por Thamara Santos de Almeida com informações do Observatório do Clima.
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de capa: Gustavo Mansur/Secretaria de Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul, CC BY-NC 2.0

Darwin, Evolução Biológica e a Mata Atlântica

Darwin, Evolução Biológica e a Mata Atlântica

Darwin, Evolução Biológica e a Mata Atlântica

Hoje (12/02) é o Dia de Darwin, uma data criada para homenagear o nascimento de Charles Darwin (1809-1882) e reconhecer sua imensa contribuição para a ciência. A ocasião também reforça a importância da pesquisa científica, do pensamento crítico e da curiosidade sobre o mundo natural.

O naturalista britânico teve parte de suas descobertas influenciadas por sua passagem pela Mata Atlântica, onde observou a rica biodiversidade do bioma. Em 1831, com apenas 22 anos, Darwin embarcou no navio HMS Beagle para uma expedição ao redor do mundo que durou cinco anos. Durante a viagem, coletou uma enorme quantidade de dados sobre a fauna e flora em diferentes partes do mundo, identificando variações entre as espécies que mais tarde se tornaram a base de sua teoria revolucionária.

Foi a partir das observações que ele desenvolveu a Teoria da Seleção Natural, publicada em 1859 no livro “A Origem das Espécies”. A obra marcou um divisor de águas na biologia e alterou profundamente a forma como a humanidade compreende a evolução e sua própria origem.

A seleção natural é um dos principais mecanismos da evolução, atuando ao lado de mutações (alterações que ocorre na sequência do DNA de um organismo), migração (movimento de indivíduos de uma população de um local para outro) e deriva genética (variação aleatória na frequência de alelos – variantes de um gene – em uma população ao longo do tempo). Para entender melhor esse conceito, podemos imaginar uma população de besouros com cores diferentes: alguns são verdes e outros são marrons. Se predadores, como pássaros, preferem se alimentar de besouros verdes porque eles se destacam no ambiente, os marrons terão mais chances de sobreviver e se reproduzir. Como a coloração é uma característica hereditária, os descendentes dos besouros marrons também tendem a ser marrons. Com o tempo, a população de besouros se tornará predominantemente marrom, pois essa variação foi mais vantajosa para a sobrevivência. 

O processo de seleção demonstra os três princípios fundamentais: variação (diferenças entre os indivíduos), reprodução diferencial (algumas características aumentam as chances de sobrevivência e reprodução) e hereditariedade (as características vantajosas são transmitidas para as próximas gerações). Se essas condições estiverem presentes, a evolução por seleção natural ocorre naturalmente.

A viagem foi registrada em diários com descrições detalhadas sobre a biodiversidade, trazendo informações que vão desde o encantamento com a paisagem até comparações com outros lugares. Um dos locais visitados no Brasil foi o Rio de Janeiro, onde ele passou três meses e teve uma de suas maiores vivências com a biodiversidade brasileira. Hospedado na então baía de Botafogo, Darwin se encantou com a paisagem do Rio, local que explorou em pequenas expedições pela Floresta da Tijuca, Jardim Botânico, Penha e Gávea.

Em 2008, comemorando os 200 anos do nascimento de Darwin e os 150 anos do livro “A Origem das Espécies”, foi iniciada uma pesquisa para criar um roteiro turístico da presença dele pelo Rio de Janeiro, que ficou conhecido como Caminhos de Darwin.

Placa dos Caminhos de Darwin. Crédito: Geo Parque Costões e Lagunas
Placa dos Caminhos de Darwin. Crédito: Geo Parque Costões e Lagunas.

As observações trazidas em seu diário fornecem informações valiosas sobre a Mata Atlântica, que, segundo ele, estava repleta de atrativos: “Na fertilidade de um clima como este, são tantos os atrativos que não se pode mesmo dar um passo sem lamentar a perda de uma novidade qualquer”. Em seus escritos, destacam-se a admiração pela fragrância das orquídeas e a elegância das folhas das samambaias, afirmando que “não é possível transmitir uma ideia adequada do que sejam as sensações de maravilha, surpresa e devoção que enchem e elevam a mente ao observar essas espécies”.

Ele também se encantou com a diversidade de planárias terrestres e descreveu uma nova espécie, Geoplana vaginuiloides, que pesquisas recentes mostraram existir apenas no Rio de Janeiro.

 

Espécie de planária, Geoplana vaginuloides, descrita por Darwin e que só existe no Rio de Janeiro. Local: Parque Estadual da Pedra Branca. Crédito: Planárias Terrestres Neotropicais - Uma Base de dados sobre os tricládidos.<br />

Espécie de planária, Geoplana vaginuloides, descrita por Darwin e que só existe no Rio de Janeiro. Local: Parque Estadual da Pedra Branca. Crédito: Planárias Terrestres Neotropicais – Uma Base de dados sobre os tricládidos disponível em http://planarias.each.usp.br/verespecie/147 licenciado sob CC BY-NC 3.0.

“Cada forma cada sombra ultrapassa de modo magnificente tudo o que um europeu jamais possa ter visto em sua terra nata, que este não sabe expressar suas sensações. O efeito geral com frequencia me trazia a mente o cenario vistoso das operas ou dos grandes teatros.”
Charles Darwin – “Viagem de Um Naturalista ao Redor do Mundo”

 

Fritz Müller: o Homem de Darwin no Brasil

Nascido na Alemanha e radicado no Vale do Itajaí e em Desterro (atual Florianópolis), Fritz Müller foi um dos grandes nomes que contribuíram para a consolidação da Teoria da Evolução de Charles Darwin. Em 1864, após receber uma cópia de “A Origem das Espécies”, Müller reuniu seus estudos sobre crustáceos realizados em Desterro e publicou seu primeiro e único livro, “Für Darwin” (Para Darwin, em português). Essa obra não apenas o projetou no cenário científico internacional, mas também o consagrou como o primeiro pesquisador a testar e comprovar experimentalmente as ideias de Darwin sobre a evolução das espécies.

O livro de Müller chamou imediatamente a atenção de Charles Darwin. Fritz foi pioneiro ao utilizar modelos matemáticos para explicar os mecanismos da seleção natural, oferecendo evidências sólidas que fortaleceram a teoria darwiniana. A partir de 1865, os dois cientistas iniciaram uma intensa troca de correspondências, que resultou em uma amizade duradoura de 17 anos. Darwin admirava tanto o trabalho de Müller que o apelidou de “o príncipe dos observadores” e o citou 17 vezes em uma reedição de sua obra.

Assim como os Caminhos de Darwin, pesquisadores, historiadores e admiradores da obra de Fritz Müller em Santa Catarina propõem a criação dos “Caminhos de Fritz Müller” no estado, seguindo o mapa elaborado pelo ecólogo e ambientalista Lauro Eduardo Bacca.

 

Caminhos de Fritz Müller por Lauro Bacca
> Saiba mais sobre Fritz Müller

“Há uma grandeza nesta visão da vida, com seus vários poderes, tendo sido originalmente soprados em algumas formas ou em uma; e que enquanto este planeta continuou girando de acordo com a lei fixa da gravidade, de um começo tão simples, infinitas formas, as mais belas e as mais maravilhosas, foram e estão evoluindo.”
Charles Darwin – “A Origem das Espécies e a Seleção Natural”

 

Referências:

Almeida, A. L., Marques, F. P., & Carbayo, F. (2019). ‘Endless forms most beautiful’: taxonomic revision of the planarian Geoplana vaginuloides (Darwin, 1844) and discovery of numerous congeners (Platyhelminthes: Tricladida). Zoological Journal of the Linnean Society, 185(1), 1-65.

Carbayo, F. (2019). Planárias Terrestres Neotropicais–Uma Base de dados sobre os tricládidos.

Darwin, C. (1844). XXIX.—Brief descriptions of several terrestrial Planariæ, and of some remarkable marine species, with an account of their habits. Journal of Natural History, 14(91), 241-251.

Darwin, C. (2017). A origem das espécies. FV Éditions.Simões, L. C., Mansur, K. L., & Brito, M. F. (2011). O mapa dos Caminhos de Darwin no Rio de Janeiro: Implantação de um projeto de popularização da história da ciência. Scientiarum Historia, IV, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Anais, 1-7.

Simões, L. C., Mansur, K. L., & Brito, M. F. (2011). O mapa dos Caminhos de Darwin no Rio de Janeiro: Implantação de um projeto de popularização da história da ciência. Scientiarum Historia, IV, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Anais, 1-7.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Lauro Eduardo Bacca.

Quanto resta da Floresta com Araucárias?

Quanto resta da Floresta com Araucárias?

Quanto resta da Floresta com Araucárias?

A Floresta com Araucárias, também definida como Floresta Ombrófila Mista, é um ecossistema da Mata Atlântica característico da região Sul do Brasil e de algumas áreas do Sudeste. Ela abriga uma variedade de espécies, muitas delas endêmicas, sendo marcante a presença Araucaria angustifolia, o pinheiro-brasileiro. A exploração dos recursos e a conversão do solo para outras atividades reduziram drasticamente sua extensão original, tornando-a um dos ecossistemas mais ameaçados do país.

Durante o século XX, o desmatamento de araucária para fins madeireiros  foi intenso, resultando na extração de cerca de 18,5 bilhões de metros cúbicos de madeira no Sul do Brasil, principalmente para exportação para a América Latina e Europa antes de 1960. Essa exploração severa causou a perda direta de habitat e a redução da biodiversidade, afetando espécies associadas à araucária, como a imbuia (Ocotea porosa), muitas delas em risco de extinção.

Uma pesquisa realizada no ano passado apontou que resta apenas 4,3% da cobertura original da Floresta com Araucárias, o equivalente a aproximadamente 1,2 milhão de hectares. Desse total, apenas 13,5% estão dentro de Unidades de Conservação (UCs), enquanto a maioria dos fragmentos existentes são pequenos, com menos de 50 hectares, representando mais de 66% da área remanescente. Os 10 maiores fragmentos têm uma média de 4.132 hectares, localizados nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Assim, a Floresta com Araucárias está mais ameaçada do que se pensava anteriormente: estudos anteriores indicavam que 12,6% da floresta original permanecia, mas essa pesquisa mais recente revelou que esse número é bem menor. A maior parte do desmatamento ocorreu antes da década de 1970, com destaque para a região sul do Paraná, onde a supressão foi mais intensa.

A pesquisa ainda aponta que apesar dos compromissos do Brasil com a meta 11 de Aichi da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), que estipula a proteção de 18% do território nacional, a Mata Atlântica continua sub-representada na rede de áreas protegidas, com apenas 7,3% de sua área dentro de Unidades de Conservação. No caso específico da Floresta com Araucárias, somente 0,6% (159 mil hectares) de sua extensão original está protegida por Unidades de Conservação ou Terras Indígenas.

A conservação desse ecossistema pode ser fortalecida por meio da ampliação e criação de novas UCs e da implementação efetiva de políticas de proteção em terras privadas, incluindo a aplicação rigorosa das regras para Reservas Legais (RL) e Áreas de Preservação Permanente (APP), conforme estabelecido no Código Florestal.

 

Oportunidades para a restauração ecológica

Diante da fragmentação extrema da Floresta com Araucárias a restauração ecológica é indicada pela pesquisa como uma oportunidade para o aumento da conectividade entre os fragmentos remanescentes. A identificação de remanescentes antigos pode servir como referência para projetos de restauração, pois esses fragmentos possuem estrutura florestal complexa.

A restauração pode ser feita por meio de metodologias ativas e passivas, aproveitando a alta capacidade de regeneração natural da araucária. Ações de plantio de mudas, enriquecimento florestal e controle de espécies invasoras podem ser essenciais para garantir o retorno desse ecossistema tão ameaçado.

Um exemplo de iniciativa para a restauração da Floresta com Araucárias é o projeto Conservador das Araucárias, desenvolvido pela Apremavi em parceria com a Tetra Pak. O projeto visa a restauração florestal com espécies nativas, atrelada à captura de carbono para mitigação das mudanças climáticas. Além disso, promove a adequação de propriedades rurais à legislação ambiental, a conservação de mananciais hídricos, do solo e da biodiversidade, bem como a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. No território do projeto estão localizadas UCs, Quilombos, Terras Indígenas e Assentamentos de Reforma Agrária, envolvendo parceiros rurais que compartilhem a visão de conservação e restauração da iniciativa.

> Conheça o projeto 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Thamara Santos de Almeida.

Encarando a mudança climática: a importância e responsabilidade da comunicação

Encarando a mudança climática: a importância e responsabilidade da comunicação

Encarando a mudança climática: a importância e responsabilidade da comunicação

Quando falamos sobre mudanças climáticas, estamos diante de uma emergência global que já afeta diversos aspectos da nossa vida, como a saúde publica, a segurança alimentar, energia e a economia. Os dados recentes confirmam a urgência: 2024 está se consolidando como o ano mais quente no Brasil desde 1961, com uma temperatura média de 25,02°C — 0,79°C acima da média histórica de 1991-2020. No cenário global, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alerta que 2024 deve superar 2023 como o ano mais quente já registrado, com temperaturas 1,54°C acima da média histórica pré-industrial.

Em novembro deste ano, a COP 30 colocará o Brasil no centro das atenções globais, quando Belém, no Pará, sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Será um momento crucial para consolidar o papel do país nas discussões climáticas internacionais e abordar temas urgentes como transição energética, justiça climática e financiamento ambiental.

Enquanto líderes e especialistas discutem soluções, a comunicação emerge como uma ferramenta central para engajar a sociedade e acelerar as mudanças necessárias. Conheça algumas publicações recentes que auxiliam na sensibilização e engajamento de cidadãos frente à emergência climática:

Jornalismos e Crise Climática: Um Estudo desde o Sul Global sobre os Vínculos do Jornalismo com a Colonialidade

A obra de Eloisa Beling Loose, jornalista, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explora o papel do jornalismo na comunicação das mudanças climáticas a partir de uma perspectiva crítica e inovadora. Baseado em estudos decoloniais, o trabalho questiona a predominância de narrativas do Norte Global, que frequentemente ignoram as especificidades e saberes do Sul Global, e analisa como essas assimetrias influenciam a forma como a crise climática é apresentada à sociedade.

A autora argumenta que o jornalismo pode ser uma ferramenta essencial para enfrentar a emergência climática, que  deve ir além da simples reprodução de discursos hegemônicos; propondo assim um jornalismo ambiental engajado, que priorize vozes marginalizadas, valorize saberes locais e conecte os desafios climáticos a contextos socioeconômicos e históricos plurais. 

O estudo revela que, embora alguns meios avancem em relação ao jornalismo tradicional, ainda reproduzem elementos do discurso dominante, como a centralidade do pensamento científico do Norte e a subvalorização de perspectivas biocêntricas. Enfatizando assim a necessidade de um jornalismo que descolonize a narrativa climática, contribuindo para um entendimento mais democrático e eficaz da crise ambiental. Por meio da obra, é possível compreender que uma comunicação ambiental bem estruturada pode não apenas informar, mas também inspirar mudanças de comportamento e pressionar por políticas públicas mais inclusivas e sustentáveis.

Jornalismos e Crise Climática Um Estudo desde o Sul Global sobre os Vínculos do Jornalismo com a Colonialidade
Manual para a Cobertura Jornalística dos Desastres Climáticos

Elaborado pelas professoras e pesquisadoras Márcia Franz Amaral, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Eloisa Beling Loose e Ilza Maria Tourinho Girardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o manual oferece uma abordagem abrangente sobre como aprimorar a cobertura jornalística de desastres relacionados à crise climática. A obra destaca a complexidade desses eventos, ressaltando suas causas multicausais, que vão além dos fenômenos naturais e incluem desigualdades sociais, degradação ambiental e falhas de governança.

A obra abrange temas como a explicação dos desastres naturais e o sistema de gestão de riscos e os desafios e perigos enfrentados pelos jornalistas na cobertura desses eventos. A obra também discute aspectos sensíveis dessa cobertura, incluindo as transmissões ao vivo, a escolha das fontes, as interseccionalidades envolvidas e a questão da desinformação. 

A publicação sugere pautas que relacionam os desastres climáticos com tópicos como o modelo de desenvolvimento, adaptação climática, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e prevenção à saúde. O manual também esclarece conceitos fundamentais, como clima, tempo e inundação, além de explorar expressões importantes, como ansiedade climática, deslocados climáticos, negacionismo climático e soluções baseadas na natureza.

“O manual pode gerar insights e abrir novas possibilidades de conexão, além de sugerir maneiras de pensarmos não apenas no desastre, mas também na prevenção, trazendo uma percepção de risco que torna as pessoas mais atentas e vigilantes. Ele nos ajuda a entender as conexões por trás dos nossos modos de vida e a questionar o modelo de desenvolvimento que está na raiz de várias crises ambientais”, afirma Eloisa Loose, uma das pesquisadoras autoras da obra, durante o lançamento no canal do OEco.

 

Manual para a Cobertura Jornalística dos Desastres Climáticos
Guia de Bolso: Comunicação Climática no Brasil

Construído pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, o guia foi criado para ser uma ferramenta prática e acessível a jornalistas, influenciadores e comunicadores que lidam com temas climáticos no Brasil. 

Ele reúne as principais informações sobre o Plano Clima, a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) do Brasil e as negociações internacionais nas Conferências do Clima da ONU. Além disso, oferece uma linha do tempo da trajetória climática no Brasil com marcos históricos da política climática brasileira e um glossário de termos das negociações climáticas e referências para aprofundamento, facilitando a compreensão das complexas questões climáticas e das negociações internacionais.

> Acesse 

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

Aroeira-periquita: protagonista em SAFs e recuperação de ecossistemas

Aroeira-periquita: protagonista em SAFs e recuperação de ecossistemas

Aroeira-periquita: protagonista em SAFs e recuperação de ecossistemas

A aroeira-periquita ou aroeira-salsa (Schinus molle L.) é uma árvore nativa do sul do Brasil, Uruguai e nordeste da Argentina. No território brasileiro, sua ocorrência está associada a Mata Atlântica e Pampa, principalmente na região Sul, com destaque para sua presença em formações como a Estepe Arborizada do Planalto Sul-Rio-Grandense e a Floresta Ombrófila Mista.

A floração da aroeira-periquita varia de agosto a dezembro no Paraná, de setembro a outubro em Santa Catarina, e de setembro a novembro no Rio Grande do Sul. Seus frutos amadurecem entre novembro e abril no Rio Grande do Sul e entre dezembro e fevereiro no Paraná.

A dispersão das sementes é um processo diverso, sendo realizada principalmente por aves como sanhaços, psitacídeos e pela água. Como espécie pioneira ou secundária inicial, a aroeira-salsa desempenha um papel fundamental na regeneração de áreas alteradas. É especialmente eficaz em solos pedregosos e bem drenados, onde sua capacidade de regeneração natural é notável.

Nos Sistemas Agroflorestais (SAFs) é utilizada em sistemas silviagrícolas e silvipastoris, especialmente na Região do Chaco, onde protege culturas agrícolas como cítricos e fornece sombra ao gado. Também é indicada para quebra-ventos, resistindo a condições de ventos fortes. Além disso, suas flores são melíferas, contribuindo para a produção de mel.

É uma excelente escolha para arborização urbana, sendo frequentemente utilizada em praças e jardins. Contudo, deve-se ter cuidado com seu uso, pois a planta pode causar reações alérgicas na pele de indivíduos sensíveis.

Devido à sua resistência e capacidade de brotar após cortes ou queimadas, a aroeira-salsa é amplamente empregada na recuperação de áreas alteradas e desertificadas, como na região de Alegrete, no Rio Grande do Sul. Sua utilização em projetos restauração é indicada para estabilização de solos e arborização de cursos d’água.

No Peru, seu arilo açucarado é dissolvido em água para produzir uma bebida diurética chamada upi, que pode ser fermentada para obtenção de xaropes e vinagres. Em outros países, como Argentina e Bolívia, as sementes são utilizadas como substituto ou adulterante da pimenta-preta, sendo conhecidas pelo aroma e sabor picante. No entanto, o consumo desses frutos deve ser realizado com cautela, pois podem causar efeitos adversos, como depressão do miocárdio e queda da pressão arterial.

A semeadura é realizada em sementeiras, com repicagem para recipientes adequados, mas também pode ser feita diretamente no campo. O plantio puro, a pleno sol, é ideal para o crescimento da espécie, que é longeva e tem alto potencial de adaptação.

Aroeira periquita Schinus molle
Frutos, copa e tronco da aroeira-periquita (Schinus molle). Fotos: Cristofor Ferrandis, Rosângela Gonçalves Rolim, Cassio Rabuske da Silva e Paulo Fernando dos Santos Machado para a Flora Digital da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Aroeira-periquita

Nome científico: Schinus molle L.
Família: Anacardiaceae.
Coleta de sementes: a extração das sementes se faz por maceração dos frutos. Após isso, as sementes devem ser secas a meio-sol, em ambiente ventilado.
Fruto: Os frutos, drupas, são muito semelhantes aos da pimenta-rosa, porém são mais escuros quando maduros.
Flor: Pequenas, amarelo-esverdeadas, aparecendo nas extremidades dos ramos novos.
Crescimento da muda: O crescimento inicial em altura da aroeira-salsa é muito rápido. Na fase de viveiro, cresce normalmente entre 50 cm a 1,20 m de altura, no primeiro ano de vida.
Germinação: Início entre 20 a 120 dias após a semeadura. O poder germinativo é variável, entre 30% a 80%.
Plantio: plantio puro, a pleno sol em SAFs, recuperação de ecossistemas alterados e nas áreas de desertificação, bem como na arborização dos cursos d´água.
Status de conservação: Não listada – Portaria MMA 148/2022; LC – Menos preocupante (IUCN).

* Os dados sobre usos medicinais das espécies nativas são apenas para informação geral, onde os estudos foram feitos com propriedades isoladas em uma quantidade específica. O uso de medicamentos fitoterápicos deve ser seguido de orientações médicas

 

Fontes consultadas:

Silva-Luz, C.L.; Pirani, J.R.; Pell, S.K.; Mitchell, J.D. Anacardiaceae in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB4398>.

Carvalho, P. (2006). Aroeira-salsa: Schinus molle.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Salomé Bielsa.

PNAE e agricultura familiar: oficinas destacam práticas sustentáveis no Paraná

PNAE e agricultura familiar: oficinas destacam práticas sustentáveis no Paraná

PNAE e agricultura familiar: oficinas destacam práticas sustentáveis no Paraná

Entre os dias 29 a 31 de outubro de 2024 foram realizadas oficinas pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nos municípios de Telêmaco Borba, Tibagi, Imbaú e Reserva, no Paraná. O objetivo foi fortalecer a agricultura familiar e estimular a sustentabilidade na produção. Além da Apremavi, estiveram presentes a Klabin, Sebrae, gestores públicos e produtores rurais atendidos pelo Programa Matas Sociais.

Ao longo dos três dias, as oficinas atuaram como uma plataforma de diálogo entre agricultores, técnicos e representantes de empresas e organizações da sociedade civil.

No primeiro dia, realizado em Telêmaco Borba, foram abordadas questões sobre o papel da agricultura familiar no fornecimento de alimentos para o PNAE, enfatizando a importância de práticas sustentáveis e o uso consciente dos recursos naturais. Os participantes discutiram como a compra direta de produtos da agricultura familiar para a merenda escolar contribui para a valorização da produção local e o desenvolvimento econômico das comunidades.

No segundo dia, em Tibagi e Imbaú, os temas das palestras incluíram técnicas de manejo sustentável, conservação do solo e da água, e práticas que reduzem o impacto ambiental das atividades agrícolas. Na oportunidade, os técnicos da Apremavi apresentaram métodos para recuperar e conservar áreas degradadas, mostrando como a restauração ecológica pode beneficiar a produção agrícola a longo prazo. Já os representantes do Sebrae orientaram os produtores sobre como formalizar suas atividades e acessar mercados de maneira mais eficiente, fortalecendo assim a autonomia dos agricultores familiares.

No encerramento das oficinas, em Reserva, houve um debate entre gestores públicos, representantes das organizações e produtores rurais sobre os principais desafios para expandir e fortalecer o papel da agricultura familiar na região. Entre os pontos levantados, destacaram-se a necessidade de políticas públicas mais robustas e o acesso a incentivos financeiros para a adoção de práticas sustentáveis. Também foi abordada a importância de uma educação continuada para os agricultores e da troca de conhecimentos sobre técnicas que minimizem o uso de produtos químicos e preservem a biodiversidade local.

Oficina pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nos municípios de Telêmaco Borba, Tibagi, Imbaú e Reserva, no Paraná entre os dias 29 a 31 de outubro de 2024

Oficinas pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nos municípios de Telêmaco Borba, Tibagi, Imbaú e Reserva, no Paraná entre os dias 29 a 31 de outubro. Fotos: Arquivo Apremavi

Programa Matas Sociais

O Matas Sociais – Planejando Propriedades Sustentáveis é um projeto da parceria entre a Klabin, a Apremavi e o Sebrae que tem o objetivo de contribuir para o fortalecimento econômico, ambiental e social das pequenas e médias propriedades no Paraná e em Santa Catarina.

> Conheça o programa

 

Autores: Marcos José dos Santos e Emilio André Ribas.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Arquivo Apremavi.

Brasil atualiza Plano Nacional de Vegetação Nativa

Brasil atualiza Plano Nacional de Vegetação Nativa

Brasil atualiza Plano Nacional de Vegetação Nativa

O Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) é o principal instrumento de implementação da Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg). Uma das principais metas é recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. O Plano foi retomado em novembro de 2023 com inúmeras reuniões e seminários com o envolvimento direto de mais de 120 organizações que atuam com a agenda da restauração.

O resultado foi um novo marco para o período de 2025-2028 por meio da Resolução CONAVEG nº 4, de 25 de novembro de 2024. O Planaveg 2025-2028 combina quatro “Estratégias Transversais”, que têm como objetivo estruturar e consolidar a agenda da recuperação da vegetação nativa nas suas várias frentes: monitoramento, fomento à cadeia produtiva, financiamento e pesquisa com “Arranjos de Implementação”, que objetivam impulsionar a recuperação da vegetação nativa em escala.

Estratégias e arranjos de implementação do Planaveg 2025-2028. Fonte: Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) 2025-2028

Estratégias e arranjos de implementação do Planaveg 2025-2028. Fonte: Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) 2025-2028.

As áreas a serem recuperadas estão divididas em três grandes frentes: Áreas de Preservação Permanente (APP), Reservas Legais (RL) e Áreas de Uso Restrito (AUR), com 9 milhões de hectares; áreas públicas, como Unidades de Conservação e Terras Indígenas, com 2 milhões de hectares; e áreas rurais de baixa produtividade, com 1 milhão de hectares, incluindo práticas sustentáveis como Sistemas Agroflorestais (SAF), Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Silvicultura de Nativas. 

O Brasil enfrenta um grande desafio, com 19,1 milhões de hectares de passivos em APPs e RLs em imóveis rurais, 1,57 milhão de hectares em assentamentos da reforma agrária, 1,76 milhão de hectares em Terras Indígenas e 1,3 milhão de hectares em Unidades de Conservação. Os biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica são os mais afetados por essas áreas degradadas e alteradas, o que exige ações urgentes para restaurar esses ecossistemas vitais.

A governança do Planaveg se destaca por sua estrutura em dois eixos principais: o vetor horizontal e o vetor vertical. O vetor horizontal visa coordenar e articular as ações do plano com outros instrumentos e atores políticos em diferentes níveis, criando as condições regulatórias e econômicas necessárias para impulsionar a recuperação em grande escala e atrair investimentos. Já o vetor vertical busca integrar iniciativas locais de recuperação, conectando ações e atores em diferentes níveis para otimizar o fluxo de informações e fortalecer as cadeias de valor da recuperação da vegetação nativa, adaptadas aos contextos regionais.

“O novo Planaveg trouxe avanços significativos para expandir a escala de restauração no Brasil com a inclusão de melhorias na governança, novos instrumentos financeiros e sistemas inovadores de monitoramento que facilitam a recuperação da vegetação nativa”, relata o Observatório do Código Florestal em nota de posicionamento sobre o documento.

 

Planaveg 2025-2028

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Ações de educação ambiental do projeto Cuidando da Mata Atlântica são finalizadas

Ações de educação ambiental do projeto Cuidando da Mata Atlântica são finalizadas

Ações de educação ambiental do projeto Cuidando da Mata Atlântica são finalizadas

Ações de educação ambiental do projeto “Cuidando da Mata Atlântica” desenvolvido pela Apremavi em parceria com a The Vita Coco Company são finalizadas.

Ao longo do último ano, as escolas  E.M.E.F. Vila Gropp e a E.E.B. Dr. Frederico Rolla, localizadas em Atalanta (SC), participaram de atividades de educação ambiental realizadas pela Apremavi, como palestras, plantios, visitas guiadas no Parque Natural Municipal da Mata Atlântica (PNMMA), no Centro Ambiental e no Viveiro Jardim das Florestas da Apremavi.

As atividades buscaram sensibilizar os estudantes sobre a importância do PNMMA, destacando seu papel enquanto Unidade de Conservação e como espaço de conservação da biodiversidade. Além disso, temas como a adequação ambiental das propriedades rurais, essenciais para a recuperação de áreas degradadas e a biodiversidade foram amplamente discutidos.

No dia 27 de novembro as ações de educação ambiental finalizaram com palestras para as escolas envolvidas no projeto sobre os animais do Parque, em especial os mamíferos e as aves, que foram encontrados nos estudos para a revisão do Plano de Manejo da UC. 

A primeira palestra ocorreu com os alunos do 2° e 3° ano do Ensino Fundamental da Vila Gropp, onde 30 alunos e professores participaram de uma dinâmica interativa que destacou a fauna do Parque Mata Atlântica. A atividade utilizou vídeos captados por armadilhas fotográficas instaladas no parque para estimular a curiosidade sobre a fauna local. Os estudantes adivinharam as espécies exibidas e aprenderam sobre seus hábitos e habitats. Para finalizar, os alunos receberam máscaras do gato-maracajá, um mamífero ameaçado de extinção, reforçando a importância da conservação da biodiversidade do Parque.

Já a segunda palestra, realizada para o 2° e 3° ano no Ensino Médio, abordou a emergência climática, a crise da biodiversidade e a fauna do PNMMA. Foram abordadas iniciativas locais, como a restauração de ecossistemas, e o papel das unidades de conservação na conservação da biodiversidade. Em seguida, foram apresentados os resultados mais recentes sobre a diversidade de espécies que habitam o parque, incluindo informações sobre as espécies ameaçadas e suas necessidades específicas de conservação. A palestra também promoveu a ciência cidadã, incentivando o uso de plataformas para registrar e compartilhar observações que ajudam no conhecimento e conservação da biodiversidade local.

“Ao longo do projeto, tivemos a oportunidade de conhecer a diversidade da Mata Atlântica por meio da visita ao Viveiro e Centro Ambiental da Apremavi, além de explorar melhor o nosso Parque através das trilhas realizadas. Por fim, tivemos a chance de conhecer os animais da Unidade de Conservação (UC), e fiquei impressionada com a quantidade de espécies que nem imaginava existir. Trabalhar a beleza e a grandeza do meio ambiente e da Mata Atlântica é, sem dúvida, o legado que podemos deixar para o amanhã”, comenta Juraci Madalena, professora dos anos iniciais da EMEF Vila Gropp.

Foto com os alunos após a palestra sobre a fauna do PNMMA com a EEB Frederico Rolla no dia 27-11

Palestras realizadas com as escolas  E.M.E.F. Vila Gropp e a E.E.B. Dr. Frederico Rolla de Atalanta (SC) sobre a biodiversidade do Parque Naturam Municipal da Mata Atlântica no dia 27 de novembro de 2024. Fotos: Daiana Tânia Barth, Thamara Santos de Almeida e Arquivo Apremavi.

Cuidando da Mata Atlântica

As ações de restauração no Parque fazem parte do projeto “Cuidando da Mata Atlântica”, que está sendo executado durante o período de um ano pela Apremavi em parceria com a The Vita Coco Company. As ações incluem a revisão do Plano de Manejo do Parque, monitoramento da biodiversidade, com foco especial nos mamíferos, e o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental com as escolas da região. Além disso, o projeto prevê a elaboração de um mapa com uma proposta para a criação de um corredor ecológico em Atalanta (SC), conectando o Parque Mata Atlântica a outros fragmentos florestais do município.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de capa: Arquivo Apremavi.

Apremavi participa do encontro anual da Norad em Brasília

Apremavi participa do encontro anual da Norad em Brasília

Apremavi participa do encontro anual da Norad em Brasília

No dia 28 de novembro a Apremavi participou do encontro anual da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad), realizado na Embaixada da Noruega, em Brasília (DF). 

O evento reuniu representantes de diversas organizações e instituições, incluindo membros do governo brasileiro, do governo norueguês, da sociedade civil e de organizações internacionais.

Promovido logo após a COP29, a agenda teve como foco principal as lições aprendidas na adaptação ao ambiente político brasileiro, o papel da sociedade civil na abordagem das áreas prioritárias da Iniciativa Internacional de Clima e Floresta da Noruega (NICFI), a relevância dessas áreas estratégicas para o Brasil, as sinergias entre elas e os resultados prioritários para a COP30 e para 2026.

Com debates intensos e contribuições relevantes, o clima geral foi de grandes expectativas para a COP30, que será realizada no Brasil em 2025. A sociedade civil está se organizando para participar de forma ativa e pressionar o governo e as organizações internacionais nas agendas mais urgentes para o planeta, como a mitigação das mudanças climáticas.

Ao final do encontro, houve um momento de discussão com Marco Túlio, do Ministério das Relações Exteriores; Adriana Erthal, assessora especial do Presidente da República; e Øyvind Dahl, chefe da Seção Florestal da Norad. Durante essa conversa, focada especificamente na COP30, os participantes puderam entender melhor o andamento da organização do evento e as medidas que estão sendo planejadas para garantir a inclusão da sociedade civil no processo.

Encontro da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento na Embaixada da Noruega em Brasília no dia 28 de dezembro de 2024 Foto Gabriela Schäffer

Encontro da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (NORAD), na Embaixada da Noruega, em Brasília (DF) no dia 28 de dezembro de 2024.

Implantando o Código Florestal

A Apremavi participou do encontro devido ao projeto Políticas, Práticas, Transparência e Governança para Implementação do Código Florestal, em parceria com o Observatório do Código Florestal (OCF) e liderado pela ONG Amigos da Terra Amazônia. Um dos objetivos do projeto é reverter e reduzir a perda de florestas no Brasil através da implementação do Código Florestal.

É executado por um consórcio de organizações que integram o Observatório do Código Florestal, sob a coordenação dos Amigos da Terra Amazônia. A Apremavi é uma das organizações que compõem o consórcio. A iniciativa é apoiada pelo Governo da Noruega e pela Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad) via Iniciativa Internacional de Clima e Floresta da Noruega – NICFI. 

> Saiba mais 

 

Autora: Gabriela Schäffer.
Revisão: Thamara Santos de Almeida e Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Gabriela Schäffer.

COP29: avanços limitados e desafios à vista para o Brasil em 2025

COP29: avanços limitados e desafios à vista para o Brasil em 2025

COP29: avanços limitados e desafios à vista para o Brasil em 2025

A COP29 no Azerbaijão avançou timidamente, com o financiamento climático aquém das necessidades e predominância do lobby da indústria de combustíveis fósseis. O Brasil, que tradicionalmente ocupa papel de mediador nas negociações, agora enfrenta grandes expectativas como anfitrião da COP30, que vai acontecer em Belém no próximo ano.

Realizada em Baku, Azerbaijão, a última Conferência das Partes (COP) do Clima terminou no dia 23 de novembro e contou com avanços limitados diante das urgências climáticas globais. O relatório “Lacuna de Adaptação 2024: Faça chuva ou faça sol” do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), alerta que, sem ações drásticas, o planeta está a caminho de um aumento de temperatura entre 2,6°C e 3,1°C neste século, com impactos mais severos sobre comunidades vulneráveis.

Ele enfatiza que todas as nações devem aumentar drasticamente os esforços de adaptação climática, começando com o compromisso de chegar a um acordo global sobre financiamento climático na COP29.  Apesar disso, mais uma conferência climática ocorreu e os resultados não foram ambiciosos o suficiente.

A Conferência foi marcada pelo lobby da indústria de combustíveis fósseis, com a presença de 1.773 representantes, superando o número de delegados de países mais afetados pela crise climática. Esse cenário reforça a crescente interferência do setor nos debates, replicando preocupações observadas em edições anteriores.

O financiamento climático aprovado foi insuficiente. Foi estabelecida uma meta de US$ 300 bilhões anuais até 2035, significativamente abaixo dos US$ 1,3 trilhão necessários, segundo países em desenvolvimento. O valor é 23 vezes inferior ao subsídio global a combustíveis fósseis em 2023, que atingiu US$ 7 trilhões, evidenciando a insuficiência nos esforços climáticos.

No encerramento da COP29, o Brasil desempenhou um papel de mediador nas negociações e agora enfrenta altas expectativas como sede da COP30 em Belém.  A próxima COP terá como foco principal a revisão das metas climáticas conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Essas metas representam o compromisso de cada país em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, com o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC, conforme estabelecido no Acordo de Paris.

Avanços pontuais ocorreram no estabelecimento de princípios para o mercado de carbono. A proposta é estabelecer um mercado voluntário, coordenado pelas Nações Unidas, para a compra e venda de créditos de carbono. Esse mecanismo multimilionário busca alinhar as transações às metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa, incentivando iniciativas que promovam a descarbonização, mas questões cruciais, como os acordos bilaterais sob o Artigo 6.2 do Acordo de Paris, permanecem pendentes.

Com um saldo abaixo do esperado, a COP29 deixa o Brasil no centro das atenções para 2025. A comunidade global espera que Belém traga mais ambição e justiça climática às negociações futuras.

> Saiba mais no site do Observatório do Clima

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Miriam Prochnow.
Foto de capa: Nos bastidores da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, UNCCC COP29, Dia 1. Baku Stadion, Baku, Azerbaijão. 11 de novembro de 2024 © Dean Calma / IAEA.

Xaxim-bugio: a pteridófita emblemática e ameaçada da Mata Atlântica

Xaxim-bugio: a pteridófita emblemática e ameaçada da Mata Atlântica

Xaxim-bugio: a pteridófita emblemática e ameaçada da Mata Atlântica

O xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana Hook.) é uma samambaia arborescente amplamente distribuída pelas Américas, ocorrendo desde o sul do México, na América Central, até países da América do Sul, como Colômbia, Venezuela, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil. No território brasileiro, é encontrado principalmente nas regiões Sul e Sudeste, em áreas de altitude superior a 600 metros, como as florestas de Itatiaia (RJ), onde pode alcançar até 2.200 metros de altitude.

A espécie é uma das  mais emblemáticas da Floresta Ombrófila Mista, compondo o sub-bosque florestal. Seu nome popular é homenageado pela cidade de Xaxim, no oeste catarinense, onde a planta é parte da identidade local.

O xaxim-bugio apresenta um tronco fibroso, ereto, poroso e extremamente leve quando seco, frequentemente utilizado como substrato no cultivo de plantas. Suas folhas verdes podem atingir até dois metros de comprimento e emergem do topo do tronco, diferentemente de outras samambaias. Essa espécie prefere climas amenos, é resistente ao frio, mas cresce de forma extremamente lenta.

Classificado no grupo das pteridófitas, a espécie não produz flores, frutos ou sementes, reproduzindo-se por meio de esporos. Apresenta grande importância ecológica, não apenas pela capacidade de reter umidade e abrigar epífitas, mas também por contribuir para a adição de matéria orgânica ao solo, favorecendo a biodiversidade do ambiente em que vive.

Dicksonia sellowiana está ameaçada de extinção devido à exploração comercial excessiva de seu caule para a fabricação de vasos e substratos. A extração ilegal, combinada ao crescimento lento – que leva aproximadamente 17 anos para atingir 1m de altura –, agrava o risco de desaparecimento da espécie.

A Apremavi e o Instituto Federal Catarinense (IFC) estão conduzindo uma pesquisa pioneira para a reprodução in vitro do xaxim. A iniciativa, desenvolvida no campus Rio do Sul, busca criar mudas a partir de esporos coletados em populações naturais, utilizando técnicas de cultura de tecidos vegetais.

​> Confira a apresentação da espécie no programa “Um Pé de Quê?”

Detalhes da copa, folhas, indivíduo e tronco de xaxim-bugio . Fotos: Carolina Schäffer, Greta Aline Dettke (Flora Digital UFSC), Marcio Verdi (Flora Digital UFSC) e Rosângela Gonçalves Rolim (Flora Digital UFSC).

Xaxim-bugio

Nome científico: Dicksonia sellowiana Hook.
Família: Dicksoniaceae.
Época de coleta de sementes: sementes ausentes
Fruto: ausente.
Flor: ausente.
Crescimento da muda: lento.
Status de conservação: Criticamente em Perigo – Resolução Consema nº 51/2014 de Santa Catarina; Em Perigo – Portaria MMA 148/2022.

 

Fontes consultadas:

Chitolina, V. (2013). Por que Xaxim?: questões sobre a designação toponímica. Xaxim: Valdirene Chitolina, 5 p. Disponível em: https://www.xaxim.sc.gov.br/uploads/sites/90/2022/01/428538_POR_QUE_XAXIM.pdf. Acesso em: 21 nov. 2024.

Della, A.P, Vasques, D.T. (2024). Dicksoniaceae in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 

Fraga, L. L., Silva, L. B. D., & Schmitt, J. L. (2008). Composição e distribuição vertical de pteridófitas epifíticas sobre Dicksonia sellowiana Hook.(Dicksoniaceae), em floresta ombrófila mista no sul do Brasil. Biota neotropica, 8, 123-129.

Gasper, A. L., Sevegnani, L., Vibrans, A. C., Uhlmann, A., Lingner, D. V., Verdi, M., … & Klemz, G. (2011). Inventário de Dicksonia sellowiana Hook. em Santa Catarina. Acta Botanica Brasilica, 25(4), 776-784.

Schmitt, J. L. & Schneider, P, H. (2005). Taxas de crescimento do cáudice e estimativa de idade das plantas de Dicksonia sellowiana Hook. (Pteridophyta, Dicksoniaceae). In: 56° Congresso Nacional de botânica 2005, Curitiba, PR. Resumos do 56° Congresso Nacional de botânica.

Windisch, P. G., Nervo, M. H., & Seibert, S. (2008). Crescimento perene em Dicksonia sellowiana Hook.(Monilophyta, Dicksoniaceae). Pesq, Bot, 59, 287-298.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Carolina Schäffer.

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