Apremavi participa do Encontro Anual do Observatório do Clima

Apremavi participa do Encontro Anual do Observatório do Clima

Apremavi participa do Encontro Anual do Observatório do Clima

Nos dias 18 e 19 de fevereiro,  São Paulo sediou mais um encontro anual do Observatório do Clima (OC), reunindo um número histórico de cerca de 200 representantes de 103 organizações da sociedade civil. O evento ocorreu durante a terceira onda de calor do ano, que atingiu a capital paulista e outros estados brasileiros.

Durante o encontro, a maior rede da sociedade brasileira dedicada às mudanças climáticas debateu os desafios da agenda ambiental e a atuação do OC em 2025. Entre os principais temas discutidos estavam a preparação para a Conferência do Clima da ONU (COP 30), que será realizada em novembro, em Belém (PA), os impasses das negociações climáticas, a agenda política nacional e o engajamento da sociedade para ampliar o debate sobre a emergência climática.

A assembleia geral, instância máxima da governança do OC elegeu duas novas integrantes para o comitê de coordenação e referendou a recondução de Marcio Astrini para mais um mandato de cinco anos como secretário executivo da rede. O evento também marcou a recepção de 14 novas organizações ao Observatório do Clima, ampliando ainda mais seu alcance e representatividade.

A Apremavi é uma das organizações fundadoras do OC, e sediou a celebração dos 15 anos da rede em 2017. Atualmente a instituição participa ativamente dos Grupos de Trabalho (GTs) de Políticas Públicas e de Gênero e Justiça Climática.

“A crise climática está se fazendo presente de forma contundente e em muitos casos, avassaladora. Não podemos mais nos permitir fazer mais do mesmo. Se não tivermos a capacidade de pensar e implementar planos e políticas muito mais audaciosas, arrojadas e efetivas, vamos acabar normalizando a tragédia”, relata Miriam Prochnow, cofundadora e diretora da Apremavi, que representou a instituição no evento.  Miriam também aponta que a sociedade civil precisa cobrar do governo ações concretas e imediatas, para na COP poder mostrar resultados: “a COP não pode ser somente um espaço para lançar planos, precisamos de ações implementadas”

Outra grande preocupação é com relação à exploração de petróleo na Foz do Amazonas, é uma atividade contraditória com as medidas necessárias para  para combater os efeitos das mudanças climáticas. Suely Araújo, Coordenadora de Políticas Públicas do OC, fala sobre esse assunto em artigo publicado no Boletim do OC e critica a pressão política para essa exploração: “A prioridade é para o dinheiro que o petróleo gera, mas as perguntas são: Quem realmente ganha com isso? Quais os custos associados à expansão da produção de petróleo, considerando tanto os gigantescos subsídios governamentais envolvidos quanto, principalmente, os efeitos da queima de combustíveis fósseis para a piora do aquecimento global?”

Encontro do Observatório do Clima de 2025

Encontro Anual do Observatório do Clima durante os dias 18 e 19 de fevereiro em São Paulo (SP). Foto: Miriam Prochnow

O Observatório do Clima

É uma rede de organizações da sociedade civil brasileira dedicada à construção de um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Fundado em 2002, o OC tem como objetivo promover a transparência, a participação social e o fortalecimento das políticas ambientais, com foco na redução das emissões de gases de efeito estufa e na adaptação às mudanças climáticas.

> Saiba mais

 

Autoras: Thamara Santos de Almeida e Miriam Prochnow com informações do Observatório do Clima.
Foto de capa: Arquivo Observatório do Clima.

Estados brasileiros e sua capacidade de enfrentar as mudanças climáticas

Estados brasileiros e sua capacidade de enfrentar as mudanças climáticas

Estados brasileiros e sua capacidade de enfrentar as mudanças climáticas

Uma nova publicação analisou como as 27 unidades federativas (UF) estão preparadas para gerir os crescentes eventos extremos do meio ambiente e clima, apresentando uma visão abrangente sobre o status das políticas públicas relacionadas as mudanças climáticas em cada estado.

Embora os eventos climáticos extremos sejam cada vez mais frequentes, poucos estados estão trabalhando para estarem preparados para acolher a população, reduzir os riscos e consequências de enchentes, deslizamentos de terra, incêndios e outras catástrofes; bem como a implementação da legislação florestal. O  Centro Brasil no Clima analisou o estado da arte em todas as UFs.

Atualmente, os estados elegíveis para captar recursos de REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) o Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Roraima e Tocantins. Todos possuem Sistema de Cadastro Ambiental Rural (CAR), mas muitos ainda necessitam completar as informações e aumentar a adesão dos proprietários rurais ao Programa de Regularização Ambiental (PRA). Os estados que já chegaram à fase de monitoramento dos projetos e regularização de áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal no PRA são Acre, Pará, Rondônia, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Minas Gerais.

O estudo também avaliou os instrumentos de gestão das mudanças climáticas, incluindo informações sobre Políticas e Planos Estaduais de Mudanças Climáticas, Planos de Contingência da Defesa Civil, Inventários de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e Planos de Mitigação e Adaptação.

Das 27 unidades federativas, apenas três (Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Tocantins) estão com Políticas Estaduais de Mudanças Climáticas em revisão. Em relação aos Planos de Contingência da Defesa Civil, 17 estados possuem a iniciativa, enquanto Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima e Santa Catarina ainda desenvolvem ou não contam com a estratégia.

Quanto aos Inventários Estaduais de Emissões de GEE, 60% dos estados não possuem ou estão em processo de atualização. Já no campo da mitigação, apenas 12 estados possuem planos concluídos, enquanto os demais estão em diferentes estágios de elaboração. No quesito adaptação, apenas Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo têm planos finalizados.

Avaliação dos instrumentos de gestão de mudanças climáticas Crédito Anuário Estadual de Mudanças Climáticas

Avaliação dos instrumentos de gestão de mudanças climáticas. Crédito: Anuário Estadual de Mudanças Climáticas

Santa Catarina

Santa Catarina se destaca por possuir Inventários de Emissões Atmosféricas atualizados de 2016 a 2021 (IMA, 2024). O estado conta com um Plano de Adaptação para a bacia do rio Itajaí-Açu, incluindo ações para mitigação de riscos dentro do “Programa Proteção Levada a Sério” (Governo de SC, 2024). Além disso, participa de um projeto do BIRD com o BRDE para aumentar a resiliência local e vem mapeando as áreas sujeitas a inundação no estado.

Em junho de 2024, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina aprovou a inserção de ações de adaptação na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). O estado também conta com o Fundo Catarinense de Mudanças Climáticas, regulamentado pelo Decreto nº 3254/2010, para apoiar projetos de mitigação e adaptação.

Junto com  Rio Grande do Sul, Santa Catarina enfrenta os maiores números de desastres naturais de 1991 a 2022. O estado também enfrenta desafios na governança climática, como a necessidade de ativação do Fórum Estadual de Mudanças Climáticas e a promoção de ações de descarbonização. Uma oportunidade apresentada pela publicação é eliminar subsídios ao carvão e investir em bioenergia proveniente da suinocultura.

 

Confira a publicação na íntegra

 

Anuário Estadual de Mudanças Climáticas

Desenvolvido pelo Centro Brasil no Clima em parceria com o Instituto Clima e Sociedade – iCS, o Anuário surgiu em resposta à falta de conhecimento especializado sobre ações climáticas em nível subnacional. Seu objetivo é trazer informações e dados setoriais que ajudem a entender como as Unidades Federativas estão atuando diante das mudanças climáticas e o que pode avançar.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Florestas maduras da Mata Atlântica em perigo

Florestas maduras da Mata Atlântica em perigo

Florestas maduras da Mata Atlântica em perigo

A Mata Atlântica carrega um histórico de devastação que se confunde com a própria formação do Brasil ao longo dos séculos. Apesar dos avanços na restauração ecológica do bioma, a destruição de florestas maduras segue em ritmo acelerado.

Embora a Lei da Mata Atlântica proíba o desmatamento, permitindo sua remoção apenas em circunstâncias excepcionais, voltadas ao interesse social e a fins públicos, um estudo publicado na revista Nature Sustainability por pesquisadores brasileiros revela que a perda dessas florestas continua ocorrendo de maneira alarmante.

Entre 2010 e 2020, foram identificados 14.401 polígonos de desmatamento, resultando na perda de 186.289 hectares de florestas maduras. A maioria dessas perdas ocorreu em pequenas propriedades privadas, para a expansão agropecuária. Também foram registradas degradações menores, dentro de Unidades de Conservação e Terras Indígenas.

Embora a tendência de desmatamento tenha diminuído na região Sudeste, no Centro-Oeste, Sul e Nordeste os índices aumentaram ao longo do tempo. A maior perda anual foi registrada na Bahia (26% do total) e em Minas Gerais (34%), que juntas somam metade do desmatamento de florestas maduras. No Sul, Paraná (12%) e Santa Catarina (4%) também apresentaram aumento na remoção dessas florestas, concentrada principalmente sobre a Floresta Ombrófila Mista (94%).

Os dados indicam que 73% das áreas desmatadas estavam em propriedades privadas, enquanto apenas 8% da perda ocorreu em unidades de conservação, terras indígenas e territórios de comunidades tradicionais. Essas florestas representam cerca de 12,4% da cobertura florestal do bioma e são essenciais para a conservação da biodiversidade e do carbono armazenado na Mata Atlântica.

 

Impactos na biodiversidade e soluções possíveis

O desmatamento de florestas maduras impacta diretamente a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. A Mata Atlântica abriga altos índices de endemismo e espécies ameaçadas, sendo altamente vulnerável a processos de extinção. Quase metade (44%) de suas espécies arbóreas está sob risco, e entre as endêmicas esse percentual chega a 86%.

Apesar das altas taxas de regeneração florestal (áreas superiores a 700 mil hectares entre 2011 e 2015), as novas florestas apresentam menor biodiversidade, biomassa e estoque de carbono. Além disso, cerca de um terço dessas florestas regeneradas é novamente perdido antes de atingir oito anos de idade.

A falta de fiscalização e governança eficaz contribui para a ilegalidade do desmatamento. Para conter essa perda, os pesquisadores destacam a importância de ações integradas, como:

  • Criação e fortalecimento das Unidades de Conservação;
  • Aplicabilidade efetiva da Lei da Mata Atlântica e do Código Florestal;
  • Mecanismos financeiros, como mercado de carbono e Pagamentos por Serviços Ambientais;
  • Proteção de territórios indígenas e quilombolas, que têm se mostrado fundamentais para frear o desmatamento.

Internacionalmente reconhecida como um hotspot de restauração, a Mata Atlântica tem recebido atenção para projetos de recuperação ecológica. No entanto, os especialistas alertam que o foco na restauração não pode desviar os esforços de conservação e controle do desmatamento, uma condição essencial para garantir um futuro viável para o bioma. Conservação e restauração andam juntas.

> Confira a entrevista com os autores do estudo

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Arquivo Apremavi.

Emergência climática se agrava mais rápido do que o esperado – do Observatório do Clima

Emergência climática se agrava mais rápido do que o esperado – do Observatório do Clima

Emergência climática se agrava mais rápido do que o esperado – do Observatório do Clima

Enquanto diversas regiões do Brasil se preparam para enfrentar mais uma onda de calor intensa, os últimos dados divulgados pelo Observatório do Clima são alarmantes e reforçam a gravidade da emergência climática. O ritmo do aquecimento global tem sido subestimado, e cientistas alertam que seus impactos serão sentidos de maneira ainda mais rápida e intensa do que o previsto.

 

Aquecimento está acelerado e meta de 2ºC, “morta”, diz cientista pioneiro

Um estudo publicado no começo de fevereiro na revista “Environment: Science and Policy for Sustainable Development” sustenta que a velocidade do aquecimento global foi subestimada, e seus efeitos serão sentidos antes do previsto. O primeiro autor, James Hansen, é pesquisador aposentado da Nasa e foi pioneiro no alerta sobre o aquecimento global.

O principal achado é que a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura a 2ºC acima dos níveis pré-industriais já é inatingível. Com essa mudança, a taxa de aquecimento deve continuar crescendo, ultrapassando o limite de 2ºC já em 2045, agravando a emergência climática. Além disso, os pesquisadores alertam para o possível colapso da corrente oceânica do atlântico (AMOC) nas próximas décadas, o que poderia levar a um aumento significativo do nível do mar e impactos irreversíveis no clima global.

> Leia a matéria completa no site do Observatório do Clima

 

Janeiro de 2025 foi o mais quente já registrado

Janeiro de 2025 foi o mês mais quente já registrado, com um aumento de 1,75°C em relação ao período pré-industrial (1850-1900), segundo dados do observatório climático Copernicus. Em 18 dos últimos 19 meses a elevação foi superior a 1,5°C – limite estabelecido pelo Acordo de Paris para evitar impactos climáticos catastróficos. O recorde ocorreu apesar da influência do fenômeno La Niña, que normalmente reduz as temperaturas globais, mas chegou com menor intensidade neste ciclo.  

Um relatório da Berkeley Earth, divulgado em 10 de janeiro com base em dados do serviço meteorológico britânico, aponta que 2025 poderá se tornar o terceiro ano mais quente da história, mesmo sob a atuação do La Niña. Essa previsão reforça o agravamento da crise climática, evidenciado pelo aumento contínuo das temperaturas e pelos impactos em ecossistemas vulneráveis, como os recifes de coral, que já registram alertas de branqueamento. 

> Confira no site do Observatório do Clima 

Autoria: Resumo realizado por Thamara Santos de Almeida com informações do Observatório do Clima.
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de capa: Gustavo Mansur/Secretaria de Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul, CC BY-NC 2.0

Darwin, Evolução Biológica e a Mata Atlântica

Darwin, Evolução Biológica e a Mata Atlântica

Darwin, Evolução Biológica e a Mata Atlântica

Hoje (12/02) é o Dia de Darwin, uma data criada para homenagear o nascimento de Charles Darwin (1809-1882) e reconhecer sua imensa contribuição para a ciência. A ocasião também reforça a importância da pesquisa científica, do pensamento crítico e da curiosidade sobre o mundo natural.

O naturalista britânico teve parte de suas descobertas influenciadas por sua passagem pela Mata Atlântica, onde observou a rica biodiversidade do bioma. Em 1831, com apenas 22 anos, Darwin embarcou no navio HMS Beagle para uma expedição ao redor do mundo que durou cinco anos. Durante a viagem, coletou uma enorme quantidade de dados sobre a fauna e flora em diferentes partes do mundo, identificando variações entre as espécies que mais tarde se tornaram a base de sua teoria revolucionária.

Foi a partir das observações que ele desenvolveu a Teoria da Seleção Natural, publicada em 1859 no livro “A Origem das Espécies”. A obra marcou um divisor de águas na biologia e alterou profundamente a forma como a humanidade compreende a evolução e sua própria origem.

A seleção natural é um dos principais mecanismos da evolução, atuando ao lado de mutações (alterações que ocorre na sequência do DNA de um organismo), migração (movimento de indivíduos de uma população de um local para outro) e deriva genética (variação aleatória na frequência de alelos – variantes de um gene – em uma população ao longo do tempo). Para entender melhor esse conceito, podemos imaginar uma população de besouros com cores diferentes: alguns são verdes e outros são marrons. Se predadores, como pássaros, preferem se alimentar de besouros verdes porque eles se destacam no ambiente, os marrons terão mais chances de sobreviver e se reproduzir. Como a coloração é uma característica hereditária, os descendentes dos besouros marrons também tendem a ser marrons. Com o tempo, a população de besouros se tornará predominantemente marrom, pois essa variação foi mais vantajosa para a sobrevivência. 

O processo de seleção demonstra os três princípios fundamentais: variação (diferenças entre os indivíduos), reprodução diferencial (algumas características aumentam as chances de sobrevivência e reprodução) e hereditariedade (as características vantajosas são transmitidas para as próximas gerações). Se essas condições estiverem presentes, a evolução por seleção natural ocorre naturalmente.

O primeiro contato de Darwin com a Mata Atlântica, mas, sem poder percorrê-la de perto, por ter machucado o joelho, foi durante os 18 dias que o veleiro permaneceu ancorado em Salvador, na Bahia, em março de 1832. Assim, foi somente a partir de 5 de abril, quando chegou ao Rio de Janeiro, desembarcando em Botafogo, é que Darwin pode ter seu primeiro e mais íntimo contato com a Mata Atlântica. Como o Beagle retornou à Bahia para que fossem refeitas algumas medições cartográficas, Darwin aproveitou para permanecer, então, por três meses, na capital do Império brasileiro. Ali realizou, inicialmente, várias expedições menores, explorando a Floresta da Tijuca, o Jardim Botânico, Penha e Gávea e Corcovado, entre outros lugares.

Foi numa expedição maior, viajando pelo norte fluminense, na serra da Tiririca, em Niterói, passando por Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Barra de São João, Macaé, Conceição de Macabu, Rio Bonito e Itaboraí que Darwin sentiu verdadeiro arrebatamento com a exuberância, majestosidade e riqueza de espécies da Mata Atlântica, conforme escreveu, extasiado, em seu diário, rico em preciosas informações sobre o bioma. 

Foi o tipo de ambiente natural mais rico que ele conheceu, conforme suas anotações que encheram vários cadernos. Naquele tempo, o termo biodiversidade ainda estava muito longe de ser inventado.

A viagem foi registrada em diários com descrições detalhadas sobre a biodiversidade, trazendo informações que vão desde o encantamento com a paisagem até comparações com outros lugares. Um dos locais visitados no Brasil foi o Rio de Janeiro, onde ele passou três meses e teve uma de suas maiores vivências com a biodiversidade brasileira. Hospedado na então baía de Botafogo, Darwin se encantou com a paisagem do Rio, local que explorou em pequenas expedições pela Floresta da Tijuca, Jardim Botânico, Penha e Gávea.

Em 2008, comemorando os 200 anos do nascimento de Darwin e os 150 anos do livro “A Origem das Espécies”, foi iniciada uma pesquisa para criar um roteiro turístico da presença dele pelo Rio de Janeiro, que ficou conhecido como Caminhos de Darwin.

Placa dos Caminhos de Darwin. Crédito: Geo Parque Costões e Lagunas

Placa dos Caminhos de Darwin. Crédito: Geo Parque Costões e Lagunas.

As observações trazidas em seu diário fornecem informações valiosas sobre a Mata Atlântica, que, segundo ele, estava repleta de atrativos: “Na fertilidade de um clima como este, são tantos os atrativos que não se pode mesmo dar um passo sem lamentar a perda de uma novidade qualquer”. Em seus escritos, destacam-se a admiração pela fragrância das orquídeas e a elegância das folhas das samambaias, afirmando que “não é possível transmitir uma ideia adequada do que sejam as sensações de maravilha, surpresa e devoção que enchem e elevam a mente ao observar essas espécies”.

Ele também se encantou com a diversidade de planárias terrestres e descreveu uma nova espécie, Geoplana vaginuiloides, que pesquisas recentes mostraram existir apenas no Rio de Janeiro.

 

Espécie de planária, Geoplana vaginuloides, descrita por Darwin e que só existe no Rio de Janeiro. Local: Parque Estadual da Pedra Branca. Crédito: Planárias Terrestres Neotropicais - Uma Base de dados sobre os tricládidos.<br />

Espécie de planária, Geoplana vaginuloides, descrita por Darwin e que só existe no Rio de Janeiro. Local: Parque Estadual da Pedra Branca. Crédito: Planárias Terrestres Neotropicais – Uma Base de dados sobre os tricládidos disponível em http://planarias.each.usp.br/verespecie/147 licenciado sob CC BY-NC 3.0.

“Cada forma cada sombra ultrapassa de modo magnificente tudo o que um europeu jamais possa ter visto em sua terra nata, que este não sabe expressar suas sensações. O efeito geral com frequencia me trazia a mente o cenario vistoso das operas ou dos grandes teatros.”
Charles Darwin – “Viagem de Um Naturalista ao Redor do Mundo”

 

Fritz Müller: o Homem de Darwin no Brasil

O segundo contato de Darwin com a Mata Atlântica foi indireto, a partir de cerca de uma centena de cartas que ele trocou com o também notável naturalista Fritz Müller, alemão naturalizado brasileiro, que escolheu a Colônia Blumenau para se fixar aos 30 anos, em 1852 e ter ali sua morada definitiva, onde está sepultado.

Fritz Müller conheceu a mais famosa obra de Darwin, o livro “A origem das espécies por meio da Seleção Natural” nos quase onze anos que residiu em Desterro, capital da Província de Santa Catarina. Entusiasmado com as ideias do colega inglês, ele publicou um pequeno livro apoiando a teoria de Darwin. Este, ao tomar conhecimento dos estudos e conclusões do livro, entrou em contato por carta com Fritz Müller, afirmando que talvez aquela fora a mais importante contribuição que ele havia recebido, dentre tantas outras, uma vez que se tratava de fatos comprovados com observação na própria natureza, ou seja, o desenvolvimento de larvas de camarões, agora, sob a ótica da teoria da Evolução.

A partir daí iniciou-se a preciosa correspondência entre ambos, que só terminou com a morte de Darwin, em 1882. Voltando a residir em Blumenau por mais 30 anos até seu falecimento em 1897, foram muitas as cartas nas quais Fritz Müller relatava a Charles Darwin aspectos da Mata Atlântica da Província de Santa Catarina e, principalmente, de Blumenau e Vale do Itajaí, percorrida muitas vezes pelo nosso naturalista alemão-brasileiro, em extensas expedições a pé e descalço, sempre coletando exemplares da flora e fauna da Mata Atlântica, os quais enviava para muitos pesquisadores, entre eles, o agora amigo Darwin.

As espetaculares descrições, ideias, teorias e fatos observados na natureza, além do material que Müller coletava e enviava para Darwin, certamente, permitiram que o famoso naturalista inglês tivesse uma segunda ideia do que era a Mata Atlântica brasileira (sem esse nome, na época), depois de tudo que ele viu e se impressionou no Rio de Janeiro. mais de trinta anos antes.

Numa das correspondências a Fritz Müller, Darwin se refere à Ilha de Santa Catarina: “Ouvi dizer que a ilha é muito bonita”, escreveu. Na realidade, o Beagle apenas passou ao largo da ilha e é possível que Darwin sequer a tivesse avistado ao longe, com seu perfil confundido com o perfil da costa local. As cartas de Fritz Müller, com detalhadas descrições da floresta e de seus componentes: árvores, orquídeas, samambaias, bromélias, borboletas, besouros, formigas e inúmeros outros invertebrados terrestres e aquáticos, certamente faziam Darwin, ao lê-las, relembrar e imaginar, comparando aquilo que lia, com o que vira mais de 30 anos antes, maravilhado, no Rio de Janeiro. 

Nascido na Alemanha e radicado no Vale do Itajaí e em Desterro (atual Florianópolis), Fritz Müller foi um dos grandes nomes que contribuíram para a consolidação da Teoria da Evolução de Charles Darwin. Em 1864, após receber uma cópia de “A Origem das Espécies”, Müller reuniu seus estudos sobre crustáceos realizados em Desterro e publicou seu primeiro e único livro, “Für Darwin” (Para Darwin, em português). Essa obra não apenas o projetou no cenário científico internacional, mas também o consagrou como o primeiro pesquisador a testar e comprovar experimentalmente as ideias de Darwin sobre a evolução das espécies.

O livro de Müller chamou imediatamente a atenção de Charles Darwin. Fritz foi pioneiro ao utilizar modelos matemáticos para explicar os mecanismos da seleção natural, oferecendo evidências sólidas que fortaleceram a teoria darwiniana. A partir de 1865, os dois cientistas iniciaram uma intensa troca de correspondências, que resultou em uma amizade duradoura de 17 anos. Darwin admirava tanto o trabalho de Müller que o apelidou de “o príncipe dos observadores” e o citou 17 vezes em uma reedição de sua obra.

Assim como os Caminhos de Darwin, pesquisadores, historiadores e admiradores da obra de Fritz Müller em Santa Catarina propõem a criação dos “Caminhos de Fritz Müller” no estado, seguindo o mapa elaborado pelo ecólogo e ambientalista Lauro Eduardo Bacca.

 

Caminhos de Fritz Müller por Lauro Bacca
> Saiba mais sobre Fritz Müller

“Há uma grandeza nesta visão da vida, com seus vários poderes, tendo sido originalmente soprados em algumas formas ou em uma; e que enquanto este planeta continuou girando de acordo com a lei fixa da gravidade, de um começo tão simples, infinitas formas, as mais belas e as mais maravilhosas, foram e estão evoluindo.”
Charles Darwin – “A Origem das Espécies e a Seleção Natural”

 

Referências:

Almeida, A. L., Marques, F. P., & Carbayo, F. (2019). ‘Endless forms most beautiful’: taxonomic revision of the planarian Geoplana vaginuloides (Darwin, 1844) and discovery of numerous congeners (Platyhelminthes: Tricladida). Zoological Journal of the Linnean Society, 185(1), 1-65.

Carbayo, F. (2019). Planárias Terrestres Neotropicais–Uma Base de dados sobre os tricládidos.

Darwin, C. (1844). XXIX.—Brief descriptions of several terrestrial Planariæ, and of some remarkable marine species, with an account of their habits. Journal of Natural History, 14(91), 241-251.

Darwin, C. (2017). A origem das espécies. FV Éditions.Simões, L. C., Mansur, K. L., & Brito, M. F. (2011). O mapa dos Caminhos de Darwin no Rio de Janeiro: Implantação de um projeto de popularização da história da ciência. Scientiarum Historia, IV, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Anais, 1-7.

Simões, L. C., Mansur, K. L., & Brito, M. F. (2011). O mapa dos Caminhos de Darwin no Rio de Janeiro: Implantação de um projeto de popularização da história da ciência. Scientiarum Historia, IV, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Anais, 1-7.

Autora: Thamara Santos de Almeida e Lauro Eduardo Bacca.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.

Quanto resta da Floresta com Araucárias?

Quanto resta da Floresta com Araucárias?

Quanto resta da Floresta com Araucárias?

A Floresta com Araucárias, também definida como Floresta Ombrófila Mista, é um ecossistema da Mata Atlântica característico da região Sul do Brasil e de algumas áreas do Sudeste. Ela abriga uma variedade de espécies, muitas delas endêmicas, sendo marcante a presença Araucaria angustifolia, o pinheiro-brasileiro. A exploração dos recursos e a conversão do solo para outras atividades reduziram drasticamente sua extensão original, tornando-a um dos ecossistemas mais ameaçados do país.

Durante o século XX, o desmatamento de araucária para fins madeireiros  foi intenso, resultando na extração de cerca de 18,5 bilhões de metros cúbicos de madeira no Sul do Brasil, principalmente para exportação para a América Latina e Europa antes de 1960. Essa exploração severa causou a perda direta de habitat e a redução da biodiversidade, afetando espécies associadas à araucária, como a imbuia (Ocotea porosa), muitas delas em risco de extinção.

Uma pesquisa realizada no ano passado apontou que resta apenas 4,3% da cobertura original da Floresta com Araucárias, o equivalente a aproximadamente 1,2 milhão de hectares. Desse total, apenas 13,5% estão dentro de Unidades de Conservação (UCs), enquanto a maioria dos fragmentos existentes são pequenos, com menos de 50 hectares, representando mais de 66% da área remanescente. Os 10 maiores fragmentos têm uma média de 4.132 hectares, localizados nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Assim, a Floresta com Araucárias está mais ameaçada do que se pensava anteriormente: estudos anteriores indicavam que 12,6% da floresta original permanecia, mas essa pesquisa mais recente revelou que esse número é bem menor. A maior parte do desmatamento ocorreu antes da década de 1970, com destaque para a região sul do Paraná, onde a supressão foi mais intensa.

A pesquisa ainda aponta que apesar dos compromissos do Brasil com a meta 11 de Aichi da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), que estipula a proteção de 18% do território nacional, a Mata Atlântica continua sub-representada na rede de áreas protegidas, com apenas 7,3% de sua área dentro de Unidades de Conservação. No caso específico da Floresta com Araucárias, somente 0,6% (159 mil hectares) de sua extensão original está protegida por Unidades de Conservação ou Terras Indígenas.

A conservação desse ecossistema pode ser fortalecida por meio da ampliação e criação de novas UCs e da implementação efetiva de políticas de proteção em terras privadas, incluindo a aplicação rigorosa das regras para Reservas Legais (RL) e Áreas de Preservação Permanente (APP), conforme estabelecido no Código Florestal.

 

Oportunidades para a restauração ecológica

Diante da fragmentação extrema da Floresta com Araucárias a restauração ecológica é indicada pela pesquisa como uma oportunidade para o aumento da conectividade entre os fragmentos remanescentes. A identificação de remanescentes antigos pode servir como referência para projetos de restauração, pois esses fragmentos possuem estrutura florestal complexa.

A restauração pode ser feita por meio de metodologias ativas e passivas, aproveitando a alta capacidade de regeneração natural da araucária. Ações de plantio de mudas, enriquecimento florestal e controle de espécies invasoras podem ser essenciais para garantir o retorno desse ecossistema tão ameaçado.

Um exemplo de iniciativa para a restauração da Floresta com Araucárias é o projeto Conservador das Araucárias, desenvolvido pela Apremavi em parceria com a Tetra Pak. O projeto visa a restauração florestal com espécies nativas, atrelada à captura de carbono para mitigação das mudanças climáticas. Além disso, promove a adequação de propriedades rurais à legislação ambiental, a conservação de mananciais hídricos, do solo e da biodiversidade, bem como a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. No território do projeto estão localizadas UCs, Quilombos, Terras Indígenas e Assentamentos de Reforma Agrária, envolvendo parceiros rurais que compartilhem a visão de conservação e restauração da iniciativa.

> Conheça o projeto 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Thamara Santos de Almeida.

Encarando a mudança climática: a importância e responsabilidade da comunicação

Encarando a mudança climática: a importância e responsabilidade da comunicação

Encarando a mudança climática: a importância e responsabilidade da comunicação

Quando falamos sobre mudanças climáticas, estamos diante de uma emergência global que já afeta diversos aspectos da nossa vida, como a saúde publica, a segurança alimentar, energia e a economia. Os dados recentes confirmam a urgência: 2024 está se consolidando como o ano mais quente no Brasil desde 1961, com uma temperatura média de 25,02°C — 0,79°C acima da média histórica de 1991-2020. No cenário global, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alerta que 2024 deve superar 2023 como o ano mais quente já registrado, com temperaturas 1,54°C acima da média histórica pré-industrial.

Em novembro deste ano, a COP 30 colocará o Brasil no centro das atenções globais, quando Belém, no Pará, sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Será um momento crucial para consolidar o papel do país nas discussões climáticas internacionais e abordar temas urgentes como transição energética, justiça climática e financiamento ambiental.

Enquanto líderes e especialistas discutem soluções, a comunicação emerge como uma ferramenta central para engajar a sociedade e acelerar as mudanças necessárias. Conheça algumas publicações recentes que auxiliam na sensibilização e engajamento de cidadãos frente à emergência climática:

Jornalismos e Crise Climática: Um Estudo desde o Sul Global sobre os Vínculos do Jornalismo com a Colonialidade

A obra de Eloisa Beling Loose, jornalista, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explora o papel do jornalismo na comunicação das mudanças climáticas a partir de uma perspectiva crítica e inovadora. Baseado em estudos decoloniais, o trabalho questiona a predominância de narrativas do Norte Global, que frequentemente ignoram as especificidades e saberes do Sul Global, e analisa como essas assimetrias influenciam a forma como a crise climática é apresentada à sociedade.

A autora argumenta que o jornalismo pode ser uma ferramenta essencial para enfrentar a emergência climática, que  deve ir além da simples reprodução de discursos hegemônicos; propondo assim um jornalismo ambiental engajado, que priorize vozes marginalizadas, valorize saberes locais e conecte os desafios climáticos a contextos socioeconômicos e históricos plurais. 

O estudo revela que, embora alguns meios avancem em relação ao jornalismo tradicional, ainda reproduzem elementos do discurso dominante, como a centralidade do pensamento científico do Norte e a subvalorização de perspectivas biocêntricas. Enfatizando assim a necessidade de um jornalismo que descolonize a narrativa climática, contribuindo para um entendimento mais democrático e eficaz da crise ambiental. Por meio da obra, é possível compreender que uma comunicação ambiental bem estruturada pode não apenas informar, mas também inspirar mudanças de comportamento e pressionar por políticas públicas mais inclusivas e sustentáveis.

Jornalismos e Crise Climática Um Estudo desde o Sul Global sobre os Vínculos do Jornalismo com a Colonialidade
Manual para a Cobertura Jornalística dos Desastres Climáticos

Elaborado pelas professoras e pesquisadoras Márcia Franz Amaral, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Eloisa Beling Loose e Ilza Maria Tourinho Girardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o manual oferece uma abordagem abrangente sobre como aprimorar a cobertura jornalística de desastres relacionados à crise climática. A obra destaca a complexidade desses eventos, ressaltando suas causas multicausais, que vão além dos fenômenos naturais e incluem desigualdades sociais, degradação ambiental e falhas de governança.

A obra abrange temas como a explicação dos desastres naturais e o sistema de gestão de riscos e os desafios e perigos enfrentados pelos jornalistas na cobertura desses eventos. A obra também discute aspectos sensíveis dessa cobertura, incluindo as transmissões ao vivo, a escolha das fontes, as interseccionalidades envolvidas e a questão da desinformação. 

A publicação sugere pautas que relacionam os desastres climáticos com tópicos como o modelo de desenvolvimento, adaptação climática, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e prevenção à saúde. O manual também esclarece conceitos fundamentais, como clima, tempo e inundação, além de explorar expressões importantes, como ansiedade climática, deslocados climáticos, negacionismo climático e soluções baseadas na natureza.

“O manual pode gerar insights e abrir novas possibilidades de conexão, além de sugerir maneiras de pensarmos não apenas no desastre, mas também na prevenção, trazendo uma percepção de risco que torna as pessoas mais atentas e vigilantes. Ele nos ajuda a entender as conexões por trás dos nossos modos de vida e a questionar o modelo de desenvolvimento que está na raiz de várias crises ambientais”, afirma Eloisa Loose, uma das pesquisadoras autoras da obra, durante o lançamento no canal do OEco.

 

Manual para a Cobertura Jornalística dos Desastres Climáticos
Guia de Bolso: Comunicação Climática no Brasil

Construído pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, o guia foi criado para ser uma ferramenta prática e acessível a jornalistas, influenciadores e comunicadores que lidam com temas climáticos no Brasil. 

Ele reúne as principais informações sobre o Plano Clima, a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) do Brasil e as negociações internacionais nas Conferências do Clima da ONU. Além disso, oferece uma linha do tempo da trajetória climática no Brasil com marcos históricos da política climática brasileira e um glossário de termos das negociações climáticas e referências para aprofundamento, facilitando a compreensão das complexas questões climáticas e das negociações internacionais.

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Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

Aroeira-periquita: protagonista em SAFs e recuperação de ecossistemas

Aroeira-periquita: protagonista em SAFs e recuperação de ecossistemas

Aroeira-periquita: protagonista em SAFs e recuperação de ecossistemas

A aroeira-periquita ou aroeira-salsa (Schinus molle L.) é uma árvore nativa do sul do Brasil, Uruguai e nordeste da Argentina. No território brasileiro, sua ocorrência está associada a Mata Atlântica e Pampa, principalmente na região Sul, com destaque para sua presença em formações como a Estepe Arborizada do Planalto Sul-Rio-Grandense e a Floresta Ombrófila Mista.

A floração da aroeira-periquita varia de agosto a dezembro no Paraná, de setembro a outubro em Santa Catarina, e de setembro a novembro no Rio Grande do Sul. Seus frutos amadurecem entre novembro e abril no Rio Grande do Sul e entre dezembro e fevereiro no Paraná.

A dispersão das sementes é um processo diverso, sendo realizada principalmente por aves como sanhaços, psitacídeos e pela água. Como espécie pioneira ou secundária inicial, a aroeira-salsa desempenha um papel fundamental na regeneração de áreas alteradas. É especialmente eficaz em solos pedregosos e bem drenados, onde sua capacidade de regeneração natural é notável.

Nos Sistemas Agroflorestais (SAFs) é utilizada em sistemas silviagrícolas e silvipastoris, especialmente na Região do Chaco, onde protege culturas agrícolas como cítricos e fornece sombra ao gado. Também é indicada para quebra-ventos, resistindo a condições de ventos fortes. Além disso, suas flores são melíferas, contribuindo para a produção de mel.

É uma excelente escolha para arborização urbana, sendo frequentemente utilizada em praças e jardins. Contudo, deve-se ter cuidado com seu uso, pois a planta pode causar reações alérgicas na pele de indivíduos sensíveis.

Devido à sua resistência e capacidade de brotar após cortes ou queimadas, a aroeira-salsa é amplamente empregada na recuperação de áreas alteradas e desertificadas, como na região de Alegrete, no Rio Grande do Sul. Sua utilização em projetos restauração é indicada para estabilização de solos e arborização de cursos d’água.

No Peru, seu arilo açucarado é dissolvido em água para produzir uma bebida diurética chamada upi, que pode ser fermentada para obtenção de xaropes e vinagres. Em outros países, como Argentina e Bolívia, as sementes são utilizadas como substituto ou adulterante da pimenta-preta, sendo conhecidas pelo aroma e sabor picante. No entanto, o consumo desses frutos deve ser realizado com cautela, pois podem causar efeitos adversos, como depressão do miocárdio e queda da pressão arterial.

A semeadura é realizada em sementeiras, com repicagem para recipientes adequados, mas também pode ser feita diretamente no campo. O plantio puro, a pleno sol, é ideal para o crescimento da espécie, que é longeva e tem alto potencial de adaptação.

Aroeira periquita Schinus molle
Frutos, copa e tronco da aroeira-periquita (Schinus molle). Fotos: Cristofor Ferrandis, Rosângela Gonçalves Rolim, Cassio Rabuske da Silva e Paulo Fernando dos Santos Machado para a Flora Digital da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Aroeira-periquita

Nome científico: Schinus molle L.
Família: Anacardiaceae.
Coleta de sementes: a extração das sementes se faz por maceração dos frutos. Após isso, as sementes devem ser secas a meio-sol, em ambiente ventilado.
Fruto: Os frutos, drupas, são muito semelhantes aos da pimenta-rosa, porém são mais escuros quando maduros.
Flor: Pequenas, amarelo-esverdeadas, aparecendo nas extremidades dos ramos novos.
Crescimento da muda: O crescimento inicial em altura da aroeira-salsa é muito rápido. Na fase de viveiro, cresce normalmente entre 50 cm a 1,20 m de altura, no primeiro ano de vida.
Germinação: Início entre 20 a 120 dias após a semeadura. O poder germinativo é variável, entre 30% a 80%.
Plantio: plantio puro, a pleno sol em SAFs, recuperação de ecossistemas alterados e nas áreas de desertificação, bem como na arborização dos cursos d´água.
Status de conservação: Não listada – Portaria MMA 148/2022; LC – Menos preocupante (IUCN).

* Os dados sobre usos medicinais das espécies nativas são apenas para informação geral, onde os estudos foram feitos com propriedades isoladas em uma quantidade específica. O uso de medicamentos fitoterápicos deve ser seguido de orientações médicas

 

Fontes consultadas:

Silva-Luz, C.L.; Pirani, J.R.; Pell, S.K.; Mitchell, J.D. Anacardiaceae in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB4398>.

Carvalho, P. (2006). Aroeira-salsa: Schinus molle.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Salomé Bielsa.

PNAE e agricultura familiar: oficinas destacam práticas sustentáveis no Paraná

PNAE e agricultura familiar: oficinas destacam práticas sustentáveis no Paraná

PNAE e agricultura familiar: oficinas destacam práticas sustentáveis no Paraná

Entre os dias 29 a 31 de outubro de 2024 foram realizadas oficinas pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nos municípios de Telêmaco Borba, Tibagi, Imbaú e Reserva, no Paraná. O objetivo foi fortalecer a agricultura familiar e estimular a sustentabilidade na produção. Além da Apremavi, estiveram presentes a Klabin, Sebrae, gestores públicos e produtores rurais atendidos pelo Programa Matas Sociais.

Ao longo dos três dias, as oficinas atuaram como uma plataforma de diálogo entre agricultores, técnicos e representantes de empresas e organizações da sociedade civil.

No primeiro dia, realizado em Telêmaco Borba, foram abordadas questões sobre o papel da agricultura familiar no fornecimento de alimentos para o PNAE, enfatizando a importância de práticas sustentáveis e o uso consciente dos recursos naturais. Os participantes discutiram como a compra direta de produtos da agricultura familiar para a merenda escolar contribui para a valorização da produção local e o desenvolvimento econômico das comunidades.

No segundo dia, em Tibagi e Imbaú, os temas das palestras incluíram técnicas de manejo sustentável, conservação do solo e da água, e práticas que reduzem o impacto ambiental das atividades agrícolas. Na oportunidade, os técnicos da Apremavi apresentaram métodos para recuperar e conservar áreas degradadas, mostrando como a restauração ecológica pode beneficiar a produção agrícola a longo prazo. Já os representantes do Sebrae orientaram os produtores sobre como formalizar suas atividades e acessar mercados de maneira mais eficiente, fortalecendo assim a autonomia dos agricultores familiares.

No encerramento das oficinas, em Reserva, houve um debate entre gestores públicos, representantes das organizações e produtores rurais sobre os principais desafios para expandir e fortalecer o papel da agricultura familiar na região. Entre os pontos levantados, destacaram-se a necessidade de políticas públicas mais robustas e o acesso a incentivos financeiros para a adoção de práticas sustentáveis. Também foi abordada a importância de uma educação continuada para os agricultores e da troca de conhecimentos sobre técnicas que minimizem o uso de produtos químicos e preservem a biodiversidade local.

Oficina pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nos municípios de Telêmaco Borba, Tibagi, Imbaú e Reserva, no Paraná entre os dias 29 a 31 de outubro de 2024

Oficinas pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nos municípios de Telêmaco Borba, Tibagi, Imbaú e Reserva, no Paraná entre os dias 29 a 31 de outubro. Fotos: Arquivo Apremavi

Programa Matas Sociais

O Matas Sociais – Planejando Propriedades Sustentáveis é um projeto da parceria entre a Klabin, a Apremavi e o Sebrae que tem o objetivo de contribuir para o fortalecimento econômico, ambiental e social das pequenas e médias propriedades no Paraná e em Santa Catarina.

> Conheça o programa

 

Autores: Marcos José dos Santos e Emilio André Ribas.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Arquivo Apremavi.

Brasil atualiza Plano Nacional de Vegetação Nativa

Brasil atualiza Plano Nacional de Vegetação Nativa

Brasil atualiza Plano Nacional de Vegetação Nativa

O Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) é o principal instrumento de implementação da Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg). Uma das principais metas é recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. O Plano foi retomado em novembro de 2023 com inúmeras reuniões e seminários com o envolvimento direto de mais de 120 organizações que atuam com a agenda da restauração.

O resultado foi um novo marco para o período de 2025-2028 por meio da Resolução CONAVEG nº 4, de 25 de novembro de 2024. O Planaveg 2025-2028 combina quatro “Estratégias Transversais”, que têm como objetivo estruturar e consolidar a agenda da recuperação da vegetação nativa nas suas várias frentes: monitoramento, fomento à cadeia produtiva, financiamento e pesquisa com “Arranjos de Implementação”, que objetivam impulsionar a recuperação da vegetação nativa em escala.

Estratégias e arranjos de implementação do Planaveg 2025-2028. Fonte: Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) 2025-2028

Estratégias e arranjos de implementação do Planaveg 2025-2028. Fonte: Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) 2025-2028.

As áreas a serem recuperadas estão divididas em três grandes frentes: Áreas de Preservação Permanente (APP), Reservas Legais (RL) e Áreas de Uso Restrito (AUR), com 9 milhões de hectares; áreas públicas, como Unidades de Conservação e Terras Indígenas, com 2 milhões de hectares; e áreas rurais de baixa produtividade, com 1 milhão de hectares, incluindo práticas sustentáveis como Sistemas Agroflorestais (SAF), Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Silvicultura de Nativas. 

O Brasil enfrenta um grande desafio, com 19,1 milhões de hectares de passivos em APPs e RLs em imóveis rurais, 1,57 milhão de hectares em assentamentos da reforma agrária, 1,76 milhão de hectares em Terras Indígenas e 1,3 milhão de hectares em Unidades de Conservação. Os biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica são os mais afetados por essas áreas degradadas e alteradas, o que exige ações urgentes para restaurar esses ecossistemas vitais.

A governança do Planaveg se destaca por sua estrutura em dois eixos principais: o vetor horizontal e o vetor vertical. O vetor horizontal visa coordenar e articular as ações do plano com outros instrumentos e atores políticos em diferentes níveis, criando as condições regulatórias e econômicas necessárias para impulsionar a recuperação em grande escala e atrair investimentos. Já o vetor vertical busca integrar iniciativas locais de recuperação, conectando ações e atores em diferentes níveis para otimizar o fluxo de informações e fortalecer as cadeias de valor da recuperação da vegetação nativa, adaptadas aos contextos regionais.

“O novo Planaveg trouxe avanços significativos para expandir a escala de restauração no Brasil com a inclusão de melhorias na governança, novos instrumentos financeiros e sistemas inovadores de monitoramento que facilitam a recuperação da vegetação nativa”, relata o Observatório do Código Florestal em nota de posicionamento sobre o documento.

 

Planaveg 2025-2028

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Ações de educação ambiental do projeto Cuidando da Mata Atlântica são finalizadas

Ações de educação ambiental do projeto Cuidando da Mata Atlântica são finalizadas

Ações de educação ambiental do projeto Cuidando da Mata Atlântica são finalizadas

Ações de educação ambiental do projeto “Cuidando da Mata Atlântica” desenvolvido pela Apremavi em parceria com a The Vita Coco Company são finalizadas.

Ao longo do último ano, as escolas  E.M.E.F. Vila Gropp e a E.E.B. Dr. Frederico Rolla, localizadas em Atalanta (SC), participaram de atividades de educação ambiental realizadas pela Apremavi, como palestras, plantios, visitas guiadas no Parque Natural Municipal da Mata Atlântica (PNMMA), no Centro Ambiental e no Viveiro Jardim das Florestas da Apremavi.

As atividades buscaram sensibilizar os estudantes sobre a importância do PNMMA, destacando seu papel enquanto Unidade de Conservação e como espaço de conservação da biodiversidade. Além disso, temas como a adequação ambiental das propriedades rurais, essenciais para a recuperação de áreas degradadas e a biodiversidade foram amplamente discutidos.

No dia 27 de novembro as ações de educação ambiental finalizaram com palestras para as escolas envolvidas no projeto sobre os animais do Parque, em especial os mamíferos e as aves, que foram encontrados nos estudos para a revisão do Plano de Manejo da UC. 

A primeira palestra ocorreu com os alunos do 2° e 3° ano do Ensino Fundamental da Vila Gropp, onde 30 alunos e professores participaram de uma dinâmica interativa que destacou a fauna do Parque Mata Atlântica. A atividade utilizou vídeos captados por armadilhas fotográficas instaladas no parque para estimular a curiosidade sobre a fauna local. Os estudantes adivinharam as espécies exibidas e aprenderam sobre seus hábitos e habitats. Para finalizar, os alunos receberam máscaras do gato-maracajá, um mamífero ameaçado de extinção, reforçando a importância da conservação da biodiversidade do Parque.

Já a segunda palestra, realizada para o 2° e 3° ano no Ensino Médio, abordou a emergência climática, a crise da biodiversidade e a fauna do PNMMA. Foram abordadas iniciativas locais, como a restauração de ecossistemas, e o papel das unidades de conservação na conservação da biodiversidade. Em seguida, foram apresentados os resultados mais recentes sobre a diversidade de espécies que habitam o parque, incluindo informações sobre as espécies ameaçadas e suas necessidades específicas de conservação. A palestra também promoveu a ciência cidadã, incentivando o uso de plataformas para registrar e compartilhar observações que ajudam no conhecimento e conservação da biodiversidade local.

“Ao longo do projeto, tivemos a oportunidade de conhecer a diversidade da Mata Atlântica por meio da visita ao Viveiro e Centro Ambiental da Apremavi, além de explorar melhor o nosso Parque através das trilhas realizadas. Por fim, tivemos a chance de conhecer os animais da Unidade de Conservação (UC), e fiquei impressionada com a quantidade de espécies que nem imaginava existir. Trabalhar a beleza e a grandeza do meio ambiente e da Mata Atlântica é, sem dúvida, o legado que podemos deixar para o amanhã”, comenta Juraci Madalena, professora dos anos iniciais da EMEF Vila Gropp.

Foto com os alunos após a palestra sobre a fauna do PNMMA com a EEB Frederico Rolla no dia 27-11

Palestras realizadas com as escolas  E.M.E.F. Vila Gropp e a E.E.B. Dr. Frederico Rolla de Atalanta (SC) sobre a biodiversidade do Parque Naturam Municipal da Mata Atlântica no dia 27 de novembro de 2024. Fotos: Daiana Tânia Barth, Thamara Santos de Almeida e Arquivo Apremavi.

Cuidando da Mata Atlântica

As ações de restauração no Parque fazem parte do projeto “Cuidando da Mata Atlântica”, que está sendo executado durante o período de um ano pela Apremavi em parceria com a The Vita Coco Company. As ações incluem a revisão do Plano de Manejo do Parque, monitoramento da biodiversidade, com foco especial nos mamíferos, e o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental com as escolas da região. Além disso, o projeto prevê a elaboração de um mapa com uma proposta para a criação de um corredor ecológico em Atalanta (SC), conectando o Parque Mata Atlântica a outros fragmentos florestais do município.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de capa: Arquivo Apremavi.

Apremavi participa do encontro anual da Norad em Brasília

Apremavi participa do encontro anual da Norad em Brasília

Apremavi participa do encontro anual da Norad em Brasília

No dia 28 de novembro a Apremavi participou do encontro anual da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad), realizado na Embaixada da Noruega, em Brasília (DF). 

O evento reuniu representantes de diversas organizações e instituições, incluindo membros do governo brasileiro, do governo norueguês, da sociedade civil e de organizações internacionais.

Promovido logo após a COP29, a agenda teve como foco principal as lições aprendidas na adaptação ao ambiente político brasileiro, o papel da sociedade civil na abordagem das áreas prioritárias da Iniciativa Internacional de Clima e Floresta da Noruega (NICFI), a relevância dessas áreas estratégicas para o Brasil, as sinergias entre elas e os resultados prioritários para a COP30 e para 2026.

Com debates intensos e contribuições relevantes, o clima geral foi de grandes expectativas para a COP30, que será realizada no Brasil em 2025. A sociedade civil está se organizando para participar de forma ativa e pressionar o governo e as organizações internacionais nas agendas mais urgentes para o planeta, como a mitigação das mudanças climáticas.

Ao final do encontro, houve um momento de discussão com Marco Túlio, do Ministério das Relações Exteriores; Adriana Erthal, assessora especial do Presidente da República; e Øyvind Dahl, chefe da Seção Florestal da Norad. Durante essa conversa, focada especificamente na COP30, os participantes puderam entender melhor o andamento da organização do evento e as medidas que estão sendo planejadas para garantir a inclusão da sociedade civil no processo.

Encontro da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento na Embaixada da Noruega em Brasília no dia 28 de dezembro de 2024 Foto Gabriela Schäffer

Encontro da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (NORAD), na Embaixada da Noruega, em Brasília (DF) no dia 28 de dezembro de 2024.

Implantando o Código Florestal

A Apremavi participou do encontro devido ao projeto Políticas, Práticas, Transparência e Governança para Implementação do Código Florestal, em parceria com o Observatório do Código Florestal (OCF) e liderado pela ONG Amigos da Terra Amazônia. Um dos objetivos do projeto é reverter e reduzir a perda de florestas no Brasil através da implementação do Código Florestal.

É executado por um consórcio de organizações que integram o Observatório do Código Florestal, sob a coordenação dos Amigos da Terra Amazônia. A Apremavi é uma das organizações que compõem o consórcio. A iniciativa é apoiada pelo Governo da Noruega e pela Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad) via Iniciativa Internacional de Clima e Floresta da Noruega – NICFI. 

> Saiba mais 

 

Autora: Gabriela Schäffer.
Revisão: Thamara Santos de Almeida e Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Gabriela Schäffer.

COP29: avanços limitados e desafios à vista para o Brasil em 2025

COP29: avanços limitados e desafios à vista para o Brasil em 2025

COP29: avanços limitados e desafios à vista para o Brasil em 2025

A COP29 no Azerbaijão avançou timidamente, com o financiamento climático aquém das necessidades e predominância do lobby da indústria de combustíveis fósseis. O Brasil, que tradicionalmente ocupa papel de mediador nas negociações, agora enfrenta grandes expectativas como anfitrião da COP30, que vai acontecer em Belém no próximo ano.

Realizada em Baku, Azerbaijão, a última Conferência das Partes (COP) do Clima terminou no dia 23 de novembro e contou com avanços limitados diante das urgências climáticas globais. O relatório “Lacuna de Adaptação 2024: Faça chuva ou faça sol” do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), alerta que, sem ações drásticas, o planeta está a caminho de um aumento de temperatura entre 2,6°C e 3,1°C neste século, com impactos mais severos sobre comunidades vulneráveis.

Ele enfatiza que todas as nações devem aumentar drasticamente os esforços de adaptação climática, começando com o compromisso de chegar a um acordo global sobre financiamento climático na COP29.  Apesar disso, mais uma conferência climática ocorreu e os resultados não foram ambiciosos o suficiente.

A Conferência foi marcada pelo lobby da indústria de combustíveis fósseis, com a presença de 1.773 representantes, superando o número de delegados de países mais afetados pela crise climática. Esse cenário reforça a crescente interferência do setor nos debates, replicando preocupações observadas em edições anteriores.

O financiamento climático aprovado foi insuficiente. Foi estabelecida uma meta de US$ 300 bilhões anuais até 2035, significativamente abaixo dos US$ 1,3 trilhão necessários, segundo países em desenvolvimento. O valor é 23 vezes inferior ao subsídio global a combustíveis fósseis em 2023, que atingiu US$ 7 trilhões, evidenciando a insuficiência nos esforços climáticos.

No encerramento da COP29, o Brasil desempenhou um papel de mediador nas negociações e agora enfrenta altas expectativas como sede da COP30 em Belém.  A próxima COP terá como foco principal a revisão das metas climáticas conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Essas metas representam o compromisso de cada país em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, com o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC, conforme estabelecido no Acordo de Paris.

Avanços pontuais ocorreram no estabelecimento de princípios para o mercado de carbono. A proposta é estabelecer um mercado voluntário, coordenado pelas Nações Unidas, para a compra e venda de créditos de carbono. Esse mecanismo multimilionário busca alinhar as transações às metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa, incentivando iniciativas que promovam a descarbonização, mas questões cruciais, como os acordos bilaterais sob o Artigo 6.2 do Acordo de Paris, permanecem pendentes.

Com um saldo abaixo do esperado, a COP29 deixa o Brasil no centro das atenções para 2025. A comunidade global espera que Belém traga mais ambição e justiça climática às negociações futuras.

> Saiba mais no site do Observatório do Clima

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Miriam Prochnow.
Foto de capa: Nos bastidores da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, UNCCC COP29, Dia 1. Baku Stadion, Baku, Azerbaijão. 11 de novembro de 2024 © Dean Calma / IAEA.

Xaxim-bugio: a pteridófita emblemática e ameaçada da Mata Atlântica

Xaxim-bugio: a pteridófita emblemática e ameaçada da Mata Atlântica

Xaxim-bugio: a pteridófita emblemática e ameaçada da Mata Atlântica

O xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana Hook.) é uma samambaia arborescente amplamente distribuída pelas Américas, ocorrendo desde o sul do México, na América Central, até países da América do Sul, como Colômbia, Venezuela, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil. No território brasileiro, é encontrado principalmente nas regiões Sul e Sudeste, em áreas de altitude superior a 600 metros, como as florestas de Itatiaia (RJ), onde pode alcançar até 2.200 metros de altitude.

A espécie é uma das  mais emblemáticas da Floresta Ombrófila Mista, compondo o sub-bosque florestal. Seu nome popular é homenageado pela cidade de Xaxim, no oeste catarinense, onde a planta é parte da identidade local.

O xaxim-bugio apresenta um tronco fibroso, ereto, poroso e extremamente leve quando seco, frequentemente utilizado como substrato no cultivo de plantas. Suas folhas verdes podem atingir até dois metros de comprimento e emergem do topo do tronco, diferentemente de outras samambaias. Essa espécie prefere climas amenos, é resistente ao frio, mas cresce de forma extremamente lenta.

Classificado no grupo das pteridófitas, a espécie não produz flores, frutos ou sementes, reproduzindo-se por meio de esporos. Apresenta grande importância ecológica, não apenas pela capacidade de reter umidade e abrigar epífitas, mas também por contribuir para a adição de matéria orgânica ao solo, favorecendo a biodiversidade do ambiente em que vive.

Dicksonia sellowiana está ameaçada de extinção devido à exploração comercial excessiva de seu caule para a fabricação de vasos e substratos. A extração ilegal, combinada ao crescimento lento – que leva aproximadamente 17 anos para atingir 1m de altura –, agrava o risco de desaparecimento da espécie.

A Apremavi e o Instituto Federal Catarinense (IFC) estão conduzindo uma pesquisa pioneira para a reprodução in vitro do xaxim. A iniciativa, desenvolvida no campus Rio do Sul, busca criar mudas a partir de esporos coletados em populações naturais, utilizando técnicas de cultura de tecidos vegetais.

​> Confira a apresentação da espécie no programa “Um Pé de Quê?”

Detalhes da copa, folhas, indivíduo e tronco de xaxim-bugio . Fotos: Carolina Schäffer, Greta Aline Dettke (Flora Digital UFSC), Marcio Verdi (Flora Digital UFSC) e Rosângela Gonçalves Rolim (Flora Digital UFSC).

Xaxim-bugio

Nome científico: Dicksonia sellowiana Hook.
Família: Dicksoniaceae.
Época de coleta de sementes: sementes ausentes
Fruto: ausente.
Flor: ausente.
Crescimento da muda: lento.
Status de conservação: Criticamente em Perigo – Resolução Consema nº 51/2014 de Santa Catarina; Em Perigo – Portaria MMA 148/2022.

 

Fontes consultadas:

Chitolina, V. (2013). Por que Xaxim?: questões sobre a designação toponímica. Xaxim: Valdirene Chitolina, 5 p. Disponível em: https://www.xaxim.sc.gov.br/uploads/sites/90/2022/01/428538_POR_QUE_XAXIM.pdf. Acesso em: 21 nov. 2024.

Della, A.P, Vasques, D.T. (2024). Dicksoniaceae in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 

Fraga, L. L., Silva, L. B. D., & Schmitt, J. L. (2008). Composição e distribuição vertical de pteridófitas epifíticas sobre Dicksonia sellowiana Hook.(Dicksoniaceae), em floresta ombrófila mista no sul do Brasil. Biota neotropica, 8, 123-129.

Gasper, A. L., Sevegnani, L., Vibrans, A. C., Uhlmann, A., Lingner, D. V., Verdi, M., … & Klemz, G. (2011). Inventário de Dicksonia sellowiana Hook. em Santa Catarina. Acta Botanica Brasilica, 25(4), 776-784.

Schmitt, J. L. & Schneider, P, H. (2005). Taxas de crescimento do cáudice e estimativa de idade das plantas de Dicksonia sellowiana Hook. (Pteridophyta, Dicksoniaceae). In: 56° Congresso Nacional de botânica 2005, Curitiba, PR. Resumos do 56° Congresso Nacional de botânica.

Windisch, P. G., Nervo, M. H., & Seibert, S. (2008). Crescimento perene em Dicksonia sellowiana Hook.(Monilophyta, Dicksoniaceae). Pesq, Bot, 59, 287-298.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Carolina Schäffer.

Flora da Serra do Rio do Rastro ganha destaque em obra educativa

Flora da Serra do Rio do Rastro ganha destaque em obra educativa

Flora da Serra do Rio do Rastro ganha destaque em obra educativa

A Serra do Rio do Rastro, um dos cenários exuberantes de Santa Catarina, é conhecida por suas paisagens espetaculares e também, como descoberto recentemente, por abrigar uma diversidade única de flora. 

Esse ecossistema rupícola é o centro da pesquisa de Júlia Gava Sandrini. Com um profundo interesse em espécies ameaçadas e endêmicas, a bióloga dedicou seu mestrado a explorar e catalogar a flora da serra. Seu trabalho culminou na criação do livro educativo “A Flora na Serra do Rio do Rastro” que, além de divulgar as descobertas científicas, busca sensibilizar o público sobre a riqueza e fragilidade desse ecossistema.

Na entrevista a seguir, Júlia fala sobre as motivações que a levaram a escolher a Serra do Rio do Rastro como objeto de estudo, os desafios de proteger espécies que sofrem com a pressão das intervenções humanas e a importância de combater a impercepção botânica nas novas gerações. O livro, que será distribuído gratuitamente em escolas e centros educacionais, combina linguagem acessível e ilustrações detalhadas para conectar crianças e jovens com a flora nativa e sensibilizá-los sobre a importância da conservação ambiental.

Entrevista com Júlia Gava Sandrini

Qual é a pesquisa realizada pelo teu mestrado e como ela está relacionada com o livro?

Minha pesquisa de mestrado foca no levantamento da flora rupícola da Serra do Rio do Rastro. Realizamos a coleta de 523 plantas, das quais a maioria já foi identificada. Ainda estamos finalizando a identificação das espécies, e, paralelamente a esse trabalho, surgiu a ideia de criar um livro que desse visibilidade a essa flora, frequentemente ignorada nas intervenções de infraestrutura e nas práticas de manutenção da rodovia.

No campo, percebemos que há muitas intervenções na região, e um dos problemas críticos é o tipo de manutenção realizado nas encostas da rodovia, como a roçada, que afeta também os paredões, onde ocorrem espécies ameaçadas e endêmicas. O livro, então, veio como uma forma de trazer esses exemplos locais para a educação ambiental, com o objetivo de combater a impercepção botânica, incentivando que as plantas da serra sejam percebidas e valorizadas.

Com essa publicação, queremos criar um material de apoio para escolas da região, que também pode ser utilizado em espaços não formais de educação, sensibilizando a comunidade sobre a importância da Serra do Rio do Rastro e outras áreas da Serra Geral. Embora o foco seja a flora da serra, o que abordamos serve para todas as regiões de encosta com características similares, promovendo um olhar mais atento e respeitoso para a vegetação rupícola em geral.

 

Quantas espécies foram encontradas na região e quantas delas são ameaçadas e endêmicas?

Até o momento, encontramos 270 espécies de plantas na região da Serra do Rio do Rastro. Dessas, 16 já foram identificadas como ameaçadas. O livro foi desenvolvido em paralelo ao mestrado e teve como objetivo divulgar essas descobertas, contribuindo para a sensibilização e a valorização da flora local.

 

Como você acredita que a abordagem educativa e visual do livro pode contribuir para a sensibilização ambiental de crianças e jovens?

Ao incluir fotos e ilustrações, o livro oferece uma forma prática e envolvente de interação, permitindo que o público jovem se conecte visualmente com as plantas da região. Além disso, usamos uma linguagem acessível e adaptada, equilibrando o rigor científico com uma comunicação fácil de entender.

Essa combinação entre conteúdo visual e linguagem acessível facilita o entendimento de conceitos importantes e estimula a curiosidade. Já tivemos exemplos de crianças que interagiram com o livro, como uma que, ao ver a personagem séria ao lado de uma planta exótica invasora, perguntou por que aquela espécie era “ruim”. Essa interação visual ajuda a transmitir mensagens que vão além das palavras, despertando reflexões sobre o impacto das plantas invasoras e a importância de preservar a flora nativa, fortalecendo a sensibilização ambiental.

 

Onde ele deverá ser distribuído/utilizado?

A tiragem inicial é de 2000 exemplares, que serão distribuídos gratuitamente em escolas e iniciativas de ensino não formal na região da Serra do Rio do Rastro. O objetivo é, sobretudo, alcançar escolas e atividades comunitárias que possam usar o livro como ferramenta de sensibilização e de educação ambiental.

 

Quais ações você considera essenciais para conservar a flora da Serra do Rio do Rastro? E qual a importância da restauração ecológica?

Controle de espécies exóticas invasoras: há um problema significativo com espécies exóticas invasoras, que competem de forma agressiva com as plantas nativas. Implementar programas de controle e manejo dessas espécies é crucial para proteger a biodiversidade local e evitar que essas plantas dominem o ecossistema.

Sensibilização e capacitação das equipes de manutenção da rodovia: é importante conscientizar as equipes de manutenção sobre a flora nativa da região, promovendo práticas que evitem danos às espécies locais. Pequenas mudanças nos métodos de roçada e manutenção poderiam ajudar a proteger as plantas endêmicas e ameaçadas que crescem nos paredões.

Engajamento e educação da população local: trabalhar com a população local e com as pessoas que passam pela rodovia, promovendo educação ambiental, é essencial para reduzir os impactos humanos e estimular uma atitude de proteção e respeito pela flora local.

Monitoramento contínuo: manter um monitoramento constante da flora, adaptando as ações de conservação conforme surgem novas ameaças, como a alteração na distribuição das espécies e o surgimento de novas plantas invasoras.

A restauração ecológica é uma prática fundamental, mas que enfrenta desafios no caso dos ecossistemas rupícolas, pois esses ambientes são pouco estudados e complexos. A restauração ecológica pode ser especialmente desafiadora em áreas de encosta como a Serra do Rio do Rastro, pois exige um conhecimento profundo das espécies locais, suas interações e seu papel no ecossistema. Portanto, uma estratégia inicial pode incluir a conservação ex situ de espécies ameaçadas, preservando-as em viveiros e bancos de sementes, enquanto pesquisas mais detalhadas sobre o ecossistema rupícola são realizadas.

 

Quais são os próximos passos da sua pesquisa?

Nosso próximo passo é finalizar a identificação das espécies. Com novos editais, esperamos viabilizar outras edições do livro e ampliar o alcance desse projeto, promovendo o conhecimento e a valorização da flora única da Serra do Rio do Rastro.

> Conheça a obra

Lançamento do livro Flora na Serra do Rio do Rastro

(1) e (2) Registros do lançamento da obra “Flora na Serra do Rio do Rastro”; (3) Miriam Prochnow, cofundadora e diretora da Apremavi, que escreveu o prefácio da obra, ao lado da Júlia Gava Sandrini; (4) Begonia squamipes, uma das espécies registradas no local e (5) Serra do Rio do Rastro vista de cima. Fotos: Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz, João Paulo Durante, Bruno Marcos Pacheco e Carolina Schäffer.

“(…) Essa é uma oportunidade que a Flora na Serra do Rio do Rastro nos traz. Um mergulho em detalhes nesse ambiente único e precioso da Serra Catarinense, que precisa ser melhor conhecido para que possa ser preservado e, assim, continuar exercendo sua função de prover serviços ecossistêmicos fundamentais para a manutenção da vida. As informações sobre as espécies são apresentadas de forma criativa e didática, captando a atenção e despertando a curiosidade por mais conteúdo.”

Miriam Prochnow – cofundadora e diretora da Apremavi, no prefácio da publicação.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz.

Tamanduá-mirim: o tamanduá de colete da América Latina

Tamanduá-mirim: o tamanduá de colete da América Latina

Tamanduá-mirim: o tamanduá de colete da América Latina

O tamanduá-mirim, também chamado tamanduá-de-colete (Tamandua tetradactyla), é um mamífero amplamente distribuído pela América Latina. Pode ser encontrado desde o leste dos Andes da Venezuela, passando pela Bolívia, Paraguai, e até o norte da Argentina e Uruguai. No Brasil, ocorre em todos os biomas — Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa —, além de estar presente na ilha da Trindade.

O nome científico da espécie, Tamandua tetradactyla, combina palavras de duas origens: “Tamandua”, do tupi-guarani, que significa “comedor de formigas”, e “tetradactyla”, de origem grega, que significa “quatro dedos”, referindo-se às suas patas adaptadas para agarrar e cavar.

O tamanduá-mirim é adaptável e pode ser encontrado em diversos tipos de habitats, incluindo florestas densas, bordas de florestas, campos e até savanas. Embora compartilhe território com o tamanduá-bandeira – por serem arborícolas – prefere áreas de transição nas bordas das florestas, onde sua dieta de formigas e cupins é mais facilmente encontrada. 

Reconhecido por sua coloração singular, o tamanduá-mirim exibe uma “vestimenta” natural: um padrão de pelagem que se assemelha a um colete preto, embora existam variações, com alguns indivíduos possuindo coloração totalmente preta ou marrom.

É, em geral, solitário e tem hábitos que podem ser tanto diurnos quanto noturnos, especialmente em áreas onde sofre perturbação humana. Passa até oito horas por dia ativo, buscando alimento ou se deslocando pelos galhos das árvores, onde emite pequenos grunhidos e sons que lembram os de um macaco-prego.

Esse animal se alimenta preferencialmente de formigas e cupins, com uma preferência especial pelas castas reprodutivas das formigas. Para descanso e abrigo, costuma utilizar buracos em troncos de árvores, mas também pode se instalar em tocas de outros animais, como o tatu-peba (Euphractus sexcinctus).

A espécie é classificada como “pouco preocupante” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), graças à sua ampla distribuição. Ainda assim, a espécie enfrenta ameaças significativas, como perda de habitat causada por incêndios, conversão de terras para a agricultura, presença de espécies exóticas, desmatamento, expansão de estradas e caça.

Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) registrado em uma área conservada monitorada pela Apremavi. Crédito: Arquivo Apremavi.

Tamanduá-mirim

Nome científico: Tamandua tetradactyla.
Família: Myrmecophagidae.
Habitat: ambientes savânicos, manguezais, palmeirais, áreas pantanosas, mas principalmente florestas.
Alimentação: insetívoro.
Peso: varia entre 3,5 e 8,4 kg.
Comprimento: apresenta 47–77 cm de comprimento, cabeça e corpo, e possui uma cauda preênsil de 40–67 cm.
Hábito de vida: Pode ser noturno, diurno ou crepuscular, dependendo da disponibilidade de presas e da temperatura do ambiente.
Distribuição: América do Sul.
Ameaças: caça, perda de habitat e consequências da antropização do ambiente (causando mortes por atropelamentos, por exemplo).
Status de conservação: Não ameaçado (Pouco Preocupante) pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN).

 

Fontes consultadas:

Bertassoni, A.; Catapani, M.L.; Desbiez, A.J.L.; Silva, K.F.M.; Miranda, G.H.B.; Belentani, S.C.S.; Leite, R.J.V.; Faria-Corrêa, M.A.; Miranda, F.R. 2023. Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758). Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade – SALVE.

Miranda, F., Fallabrino, A., Arteaga, M., Tirira, D.G., Meritt, D.A. & Superina, M. 2014. Tamandua tetradactyla. The IUCN Red List of Threatened Species 2014: e.T21350A47442916. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2014-1.RLTS.T21350A47442916.en. Accessed on 08 November 2024.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Quartl/Wikimedia Commons.

COP16 ignora o chamado de urgência da biodiversidade

COP16 ignora o chamado de urgência da biodiversidade

COP16 ignora o chamado de urgência da biodiversidade

A 16ª Conferência das Partes (COP16) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) reuniu-se em Cali, Colômbia, entre os dias 21 de outubro e 1º de novembro, com a missão de avaliar o progresso e aprimorar a implementação do Marco Global da Biodiversidade, firmado na COP15 em Montreal, em 2022. 

A COP16 foi uma edição de recordes, contando com uma participação ampla e inédita de indígenas, comunidades locais e 13,2 mil inscritos, incluindo mais de 3 mil representantes de setores econômicos como petróleo e gás, energia, agrotóxicos, biotecnologia e madeira.

Apesar disso, o evento foi marcado tanto por importantes avanços quanto por significativos impasses que resultaram na suspensão das negociações devido à falta de consenso, especialmente em torno do financiamento para a conservação da biodiversidade.

Impasse para o financiamento da biodiversidade

Um dos principais entraves na COP16 foi a criação de um fundo global específico para a biodiversidade. A expectativa era que as nações reunidas em Cali avançassem na mobilização dos US$ 200 bilhões anuais necessários para cumprir as metas de conservação e restauração dos ecossistemas até 2030. No entanto, até o momento, os países desenvolvidos comprometeram-se a repassar apenas 10% desse valor, somando pouco mais de US$ 400 milhões desde o acordo de Montreal.

A complexidade e a lentidão do fundo global existente foram amplamente discutidas, com críticas ao fato de ele não oferecer a agilidade e a eficiência necessárias para responder aos desafios urgentes da perda da biodiversidade. A ausência de um consenso e quórum para a criação de um fundo exclusivo para biodiversidade fez com que a presidente da COP16, Susana Muhamad, ministra do Meio Ambiente da Colômbia, fosse obrigada a interromper a plenária final, adiando decisões essenciais e deixando em suspenso, sem previsão de nova data, o avanço das metas de conservação acordadas na COP15.

Avanços significativos: Fundo Cali e reconhecimento das comunidades tradicionais

Apesar do bloqueio em relação ao financiamento geral, a COP16 trouxe avanços importantes com a criação do Fundo Cali. Esse mecanismo multilateral receberá contribuições e destinará recursos para as populações indígenas e comunidades locais, em reconhecimento aos seus serviços de conservação e aos saberes tradicionais. 

Além disso, houve um reconhecimento inédito das contribuições dos afrodescendentes e dos povos indígenas para a conservação da biodiversidade. Atendendo a demandas levantadas por países como Colômbia e Brasil, foi criado um grupo permanente para debater e fortalecer a participação dos indígenas na agenda de conservação global.

Proteção dos oceanos e EBSAs

Outro ponto positivo da conferência foi a validação de um novo tratado para proteger as regiões oceânicas ecologicamente ou biologicamente significativas, conhecidas pela sigla EBSAs (áreas marinhas ecologicamente ou biologicamente significativas). Esse tratado visa aumentar as áreas marinhas protegidas, com uma meta ambiciosa de alcançar 30% de proteção até 2030. Atualmente, apenas 8% dos oceanos estão sob proteção legal, e as novas EBSAs focarão em áreas cruciais para a reprodução e migração de espécies marinhas, contribuindo para a resiliência dos ecossistemas oceânicos.

COP16 em Cali na Colômbia

COP 16 entre os dias 21 de outubro e 1º de novembro em Cali na Colômbia. Fotos: Carolina Schäffer.

Apremavi na COP16

A Apremavi esteve presente na primeira semana da COP16, acompanhando sobretudo as negociações e eventos paralelos sobre temas relacionados à restauração de ecossistemas, créditos de biodiversidade e mecanismos financeiros para estimular a conservação da natureza. Também acompanhamos as agendas dos parceiros da IUCN (sigla em inglês para União Internacional para Conservação da Natureza) e do Forest Stewership Council – FSC.

Carolina Schäffer, vice-presidente da Apremavi, acompanhou as pautas e relata que a conferência é um espaço de oportunidades onde “temos a chance de olhar para os desafios para a conservação da biodiversidade e de fato propor contribuições ambiciosas, agregando com propósito a experiência e urgência vividas pelo continente Sul Americano, um dos mais ricos em diversidade biológica do planeta.

Até o final da COP16, 44 estratégias e planos nacionais de conservação revisados foram entregues. Outros 119 países apresentaram metas revisadas. Os números melhoraram desde o período anterior à conferência, mas ainda estão distantes dos 196 países ligados à CDB.

 

Autoras: Carolina Schäffer e Thamara Santos de Almeida.

Parecer alerta para riscos na restrição de proteção dos Campos de Altitude em Santa Catarina

Parecer alerta para riscos na restrição de proteção dos Campos de Altitude em Santa Catarina

Parecer alerta para riscos na restrição de proteção dos Campos de Altitude em Santa Catarina

Embora os Campos de Altitude sejam reconhecidos pela legislação federal como parte do bioma Mata Atlântica, o Código Ambiental de Santa Catarina limita sua proteção, comprometendo a conservação desses ecossistemas ricos em biodiversidade.

Os Campos de Altitude, reconhecidos como parte integrante do bioma Mata Atlântica, são ambientes de alta biodiversidade e endemismo, com espécies que se adaptaram a condições de clima rigoroso e sazonalidade acentuada. Esses ecossistemas possuem vegetação herbácea e arbustiva que cresce em altitudes elevadas e, historicamente, estiveram associadas a grandes herbívoros, parte da megafauna que moldou o ecossistema antes de sua extinção.

O parecer assinado por João de Deus Medeiros, coordenador da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) e presidente do Conselho Regional de Biologia da 9ª Região (CRBio-09), realiza uma análise sobre a legislação atual e o tratamento dado aos Campos de Altitude no Estado de Santa Catarina. A legislação federal, como a Lei da Mata Atlântica (Lei Nº 11.428/2006) e a Resolução CONAMA Nº 10/1993, já reconhece os Campos de Altitude como ecossistemas associados à Mata Atlântica, estabelecendo diretrizes de proteção que incluem vegetação situada em altitudes variáveis, não necessariamente acima de 1500 metros. Essas diretrizes são reforçadas pelo Mapa da Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica, elaborado pelo IBGE, que abrange formações vegetacionais nativas e ecossistemas associados, independentemente da altitude.

Contudo, o Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina, revisado em 2022, restringe a proteção dos Campos de Altitude às áreas acima de 1500 metros. O que reduz drasticamente a área protegida, limitando a abrangência original dos Campos de Altitude a 3,8% do território que seria coberto sob os critérios do IBGE. No Mapa da Área de Aplicação da Lei 11.428 de 2006, o IBGE define Campos de Altitude da seguinte forma: “Os Campos de Altitude referidos no Art. 2º da Lei 11.428, de 22 de dezembro de 2006 correspondem à vegetação com estrutura herbácea ou herbácea/arbustiva, caracterizada por comunidades florísticas próprias, que ocorre sob clima tropical, subtropical ou temperado, geralmente nas serras de altitudes elevadas, nos planaltos e nos Refúgios Vegetacionais, bem como a outras pequenas ocorrências de vegetação campestre não representadas no mapa. Os Campos de Altitude estão situados nos ambientes montano e altomontano. O montano corresponde às faixas de altitude: de 600 a 2.000m nas latitudes entre 5° N e 16° S; de 500 a 1.500m nas latitudes entre 16° S e 24° S; e de 400 a 1.000m nas latitudes acima de 24° S. O altomontano ocorre nas altitudes acima dos limites máximos considerados para o ambiente montano”.

O parecer critica essa mudança por contrariar disposições técnicas e reduzir a proteção a esses ecossistemas únicos. Essa modificação também estabelece novos parâmetros para a análise dos estágios sucessionais dos Campos de Altitude, em desacordo com a Resolução CONAMA 423/2010, que define as diretrizes para a vegetação nativa de Campos de Altitude na Mata Atlântica. O documento alerta para os riscos dessa interpretação restritiva, que pode comprometer a preservação da vegetação campestre em Santa Catarina, independentemente da altitude. Os Campos de Altitude possuem características ecológicas e climáticas específicas, que não se limitam a um marco altitudinal rígido. A manutenção desses ecossistemas é crucial para conservar a biodiversidade e os processos ecológicos essenciais.

> Confira o parecer completo

Autor: João de Deus Medeiros.
Revisão: Thamara Santos de Almeida e Wigold Schäffer.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Um quarto das espécies de árvores estão ameaçadas de extinção

Um quarto das espécies de árvores estão ameaçadas de extinção

Um quarto das espécies de árvores estão ameaçadas de extinção

Mais de um quarto das espécies de árvores correm o risco de desaparecer da natureza. É o que revela a primeira Avaliação Global das Árvores realizada pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN).

No total, 16.425 das 47.282 espécies avaliadas estão em risco de extinção. Esse número é mais que o dobro de todas as aves, mamíferos, répteis e anfíbios ameaçados combinados. As espécies de árvores estão em risco de extinção em 192 países ao redor do mundo. Publicada no dia 28 de outubro na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas – para coincidir com a COP16 da Biodiversidade – a lista contou com a colaboração de mais de 100 especialistas.

A maior quantidade de árvores ameaçadas foi encontrada nas em ilhas, onde enfrentam riscos devido ao desmatamento para expansão urbana e agricultura, além de espécies invasoras e mudanças climáticas, especialmente nos trópicos, devido ao aumento do nível do mar e de tempestades mais fortes e frequentes. A conservação de habitats e o uso de bancos de sementes são essenciais para evitar extinções, e ações comunitárias já apresentam resultados positivos em locais como Cuba e Madagascar. 

Na América do Sul, onde se concentra a maior diversidade de árvores, 3.356 espécies das 13.668 avaliadas, estão ameaçadas, principalmente pelo desmatamento para agricultura e pecuária. 

“As árvores são essenciais para sustentar a vida na Terra através de seu papel vital nos ecossistemas, e milhões de pessoas dependem delas para sua subsistência. Enquanto a Lista Vermelha celebra 60 anos de impacto, essa avaliação destaca sua importância como barômetro da vida e, crucialmente, como uma ferramenta única para guiar ações que revertam o declínio da natureza”, comenta a Dra. Grethel Aguilar, Diretora Geral da IUCN.

A IUCN alerta que a perda de árvores representa uma séria ameaça para milhares de outras espécies de plantas, fungos e animais. Sendo parte vital de diversos ecossistemas, as árvores desempenham um papel crucial para a vida na Terra, contribuindo para os ciclos de carbono, água e nutrientes, além de serem essenciais para a formação do solo e a regulação climática.

Lista Vermelha da IUCN

Criada em 1964, a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN é uma referência global sobre o status de conservação de animais, plantas e fungos. Além de uma lista, é uma ferramenta essencial para monitorar a saúde da biodiversidade e orientar políticas de conservação, fornecendo dados sobre distribuição, população, habitat, uso, ameaças e ações de conservação que ajudam a orientar decisões necessárias para a conservação.

> Saiba mais

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Proteção de nascentes: qualidade da água e preservação da mata ciliar

Proteção de nascentes: qualidade da água e preservação da mata ciliar

Proteção de nascentes: qualidade da água e preservação da mata ciliar

Na área rural, as nascentes, ou minas d’água, são a principal fonte de abastecimento de água para consumo humano. A escolha da nascente mais adequada geralmente depende de fatores como a proximidade com a casa, o declive do terreno e a facilidade de acesso. Para melhorar a qualidade da água dessas fontes, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) desenvolveu o modelo Caxambu, uma solução de baixo custo e alta eficiência que já está sendo utilizada em diversos estados, incluindo Santa Catarina e Paraná. Esse sistema ajuda a minimizar problemas como o assoreamento, a presença de resíduos orgânicos e a contaminação por enxurradas, garantindo uma água mais limpa. 

O entorno das nascentes é classificado como Área de Preservação Permanente (APP), o que exige a conservação de vegetação nativa em um raio de 50 metros. Caso a vegetação esteja degradada, é necessário realizar a recuperação com árvores  nativas em uma área mínima de 15 metros ao redor. A proteção dessa mata ciliar é fundamental para manter a quantidade e a qualidade da água. Além disso, é essencial evitar que animais domésticos tenham acesso às nascentes, já que isso pode contaminar a água, que, mesmo sendo de fonte natural, precisa ser analisada por especialistas para garantir que é segura para o consumo.

+ Saiba como fazer a proteção de nascentes na cartilha “Planejando Propriedades e Paisagens” da Apremavi

Cartilha “Planejando Propriedades e Paisa
Matas Sociais realiza oficinas de proteção de nascentes

No dia 08 de agosto de 2024, o Programa Matas Sociais, uma iniciativa da Klabin em parceria com a Apremavi, Sebrae e prefeituras municipais das regiões de atuação, realizou uma oficina técnica de proteção de nascentes na propriedade de José Batista Maia Filho na comunidade de Espigão do Tigre em Ortigueira (PR). A oficina abordou a proteção de nascentes utilizando o modelo solo-cimento, com o objetivo de demonstrar à comunidade e aos participantes como essa técnica simples e de baixo custo pode melhorar a qualidade da água nas propriedades rurais.

A programação começou com boas-vindas e apresentação dos participantes, seguida de uma introdução de Emílio Ribas e Marcos José dos Santos colaboradores da Apremavi, que explicaram a importância do sistema solo-cimento para melhorar a qualidade da água. Eles também destacaram a necessidade de realização de análises biológicas da água para identificação da necessidade de tratamento nas caixas de reservatório que abastecem as residências. 

A oficina abordou um conjunto de técnicas para garantir a boa qualidade da água, incluindo, além da proteção das nascentes, a restauração  em áreas alteradas e o enriquecimento ecológico em áreas preservadas. Essas práticas visam aumentar a infiltração de água no solo e melhorar a vazão das nascentes. Em terrenos com declividade, foram recomendadas a construção de curvas de nível para evitar erosão e o assoreamento das nascentes. Na parte teórica, os participantes acompanharam a apresentação do modelo de proteção utilizando o sistema solo-cimento.

Marcos Danieli da Klabin ressaltou a importância do evento para o trabalho nos corredores do  Programa Básico Ambiental Indígena (PBAI), que envolve diretamente as Aldeias Indígenas Queimadas e Mococa. Ele destacou a presença de representantes dessas aldeias, responsáveis pela coleta de sementes e produção de mudas de árvores nativas para a restauração das áreas em territórios indígenas.

Após a teoria, iniciou-se a parte prática da oficina, onde os participantes construíram o sistema de proteção da nascente, divididos em equipes que realizaram a limpeza da área, preparação da mistura solo-cimento e assentamento das pedras para formar o depósito da nascente.

 

Oficina de proteção de nascente realizada na propriedade de José Batista Maia Filho na comunidade de Espigão do Tigre em Ortigueira (PR) no dia 08 de agosto de 2024

Oficina de proteção de nascente realizada na propriedade de José Batista Maia Filho na comunidade de Espigão do Tigre em Ortigueira (PR) no dia 08 de agosto de 2024. Fotos: Tatiana Gonçalves.

No dia 6 de novembro, moradores de Imbaú e alunos do Colégio Estadual Tancredo Neves receberam a oficina na localidade do Faxinal de São Pedro. A ação desenvolvida pelo programa Klabin Transforma Matas Sociais, em parceria com a Apremavi e o IDR (Instituto Rural do Paraná), buscou engajar os participantes nas técnicas e cuidados de recuperação das nascentes do Rio Saltinho.

“Aprendemos muito e foi super válido. Quando os alunos entenderam que a proteção das nascentes pode contribuir para qualidade da água que eles bebem em casa e no Colégio, ficaram encantados. Pudemos aplicar na prática todo o conhecimento visto dentro da sala de aula”, comenta Maristela Pelissaro, diretora do Colégio Tancredo Neves.

A oficina ressaltou a importância que a água de qualidade proporciona à saúde da comunidade e do meio ambiente. E para a proteção das nascentes, a oficina ensinou como utilizar o solo-cimento, uma técnica que auxilia na redução do assoreamento das fontes de água, que é quando há o acúmulo de terra, resíduo ou matéria orgânica no fundo de um rio. Os alunos e a comunidade também puderam entender um pouco mais sobre como os fatores externos podem comprometer a qualidade e a disponibilidade de água, e a importância da ação do ser humano para conter e cuidar dos rios e nascentes. Ao final do evento foram doadas 120 mudas de espécies nativas que serão utilizadas para enriquecimento de floresta já preservadas  onde foi realizada a proteção da nascente.

A oficina contou com cerca de 30 participantes. Além dos técnicos da Apremavi, da Klabin, do IDR e a direção da escola, acompanharam também a ação o vice-prefeito de Imbaú, David Antunes, a Secretária de Meio Ambiente e de Políticas Sociais, Desenvolvimento Urbano e Rural, Naigler Cavalcanti Jangada, e o Secretário de Agricultura, Jocelino Couto Ribeiro, ambos também do município. 

 

Oficina de proteção de nascentes realizadas no dia 6 de novembro em Imbaú (PR) no Colégio Estadual Tancredo Neves

Oficina de proteção de nascentes realizada no dia 6 de novembro em Imbaú (PR) no Colégio Estadual Tancredo Neves. Foto: Arquivo Apremavi.

As técnicas demonstradas durante a oficina já estão sendo replicadas nas comunidades vizinhas. Um exemplo foi a visita a uma nascente comunitária, na propriedade de Ciça Aparecida de Oliveira, também em Espigão do Tigre, onde o sistema solo-cimento foi aplicado com sucesso, beneficiando mais de cinco propriedades.

 

Proteção de nascente Caxambu realizada pela comunidade após a primeira oficina em Espigão do Tigre no município de Ortigueira (PR). Foto: Emílio Ribas.

Proteção de nascente Caxambu realizada pela comunidade após a primeira oficina em Espigão do Tigre no município de Ortigueira (PR). Foto: Emílio Ribas.

O objetivo é continuar disseminando o sistema de proteção de nascentes, levando-o a outros municípios onde o Programa Matas Sociais atua. Ainda este ano, estão previstas outras ações no município de Imbaú (PR), na comunidade de Faxinal de São Pedro, como parte do Projeto Bacia Escola, desenvolvido em parceria com a Klabin, Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e a comunidade local. Essa oficina abordará a qualidade da água que abastece a cidade de Imbaú e será realizada em outubro.

 

Programa Matas Sociais

O Matas Sociais – Planejando Propriedades Sustentáveis é um projeto da parceria entre a Klabin, a Apremavi e o Sebrae que tem o objetivo de contribuir para o fortalecimento econômico, ambiental e social das pequenas e médias propriedades no Paraná e em Santa Catarina.

> Conheça o programa

 

Autores: Emílio Ribas e Thamara Santos de Almeida, com informações da cartilha “Planejando Propriedades e Paisagens Sustentáveis” da Apremavi e comunicação da Klabin.
Foto de capa: Tatiana Gonçalves.

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