Em visita à Santa Catarina, Marina Silva conversou com sociedade civil e recebeu o troféu Onda Verde

Em visita à Santa Catarina, Marina Silva conversou com sociedade civil e recebeu o troféu Onda Verde

Em visita à Santa Catarina, Marina Silva conversou com sociedade civil e recebeu o troféu Onda Verde

Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, esteve em Santa Catarina no dia 20 de abril de 2024 e conversou com representantes da sociedade civil sobre as pautas socioambientais do estado. O encontro aconteceu no hotel Castelmar, em Florianópolis.

Um dos assuntos apontados como de extrema relevância foi a retomada da criação de Unidades de Conservação (UCs) na Mata Atlântica. Wigold Schaffer, cofundador e coordenador de projetos da Apremavi, falou sobre a necessidade da retomada dos processos de criação de UCs no Bioma como a principal forma para conter a extinção de espécies: “as Unidades de Conservação são a melhor forma de garantir a proteção da biodiversidade no longo prazo, contribuem também para a proteção dos recursos hídricos e a mitigação das mudanças climáticas e ainda para a geração de emprego e renda através do turismo”, comenta Wigold. 

Vanessa Kanaan, diretora do Instituto Espaço Silvestre, abordou e o projeto de reintrodução do bugio-ruivo (Alouatta guariba) na ilha de Santa Catarina. A espécie está entre os 25 primatas mais ameaçados do mundo e aqui em Santa Catarina sofreu uma drástica redução de suas populações com os recentes surtos de febre amarela. A reintrodução de animais silvestres na natureza é uma alternativa de contribuição para a conservação da diversidade biológica.

Também foram abordados assuntos relativos à crise climática no estado, problemas com a especulação imobiliária e outros impactos ambientais que preocupam a comunidade ambientalista. 

 

Prêmio Expressão de Ecologia para Marina Silva

Na oportunidade foi entregue à Ministra, o troféu Onda Verde, como Personalidade Ambiental do Prêmio Expressão de Ecologia. A cerimônia de premiação, feita pela passagem dos 30 anos do prêmio, havia sido realizada em 2023, época em que a Ministra não pôde comparecer por conta de uma agenda emergencial na Amazônia.

Coube a Miriam Prochnow, cofundadora e diretora da Apremavi, acompanhada do organizador e coordenador do prêmio, Antônio Odilon Macedo, fazer a entrega do troféu. Em sua fala, Miriam lembrou que o Prêmio Expressão é uma das premiações mais longevas do país e que em sua existência recebeu aproximadamente 4 mil cases inscritos, tendo premiado quase 500 iniciativas da sociedade civil, setor público e privado da Região Sul do Brasil. Mais recentemente o prêmio incorporou a participação do estado de São Paulo. Miriam ressaltou que foi uma imensa alegria poder entregar o troféu à Marina e contar com ela na galeria das personalidades ambientais, da qual ela também faz parte, junto com personalidades como José Lutzenberger, Magda Renner, Mario Mantovani e Lauro Bacca.

Não por acaso, a edição da Revista Expressão que traz a premiação dos 30 anos, faz alusão à crise climática, como o grande desafio da humanidade, trazendo uma entrevista com o renomado cientista Carlos Nobre.

Marina, comentando com alegria o recebimento do prêmio, destacou que de fato estamos precisando de uma onda verde de ações e soluções para o enfrentamento dos problemas socioambientais atuais. Destacou a importância dos projetos de restauração, como uma forma efetiva desse enfrentamento e que precisa de uma ampliação de escala, inclusive por ser uma possibilidade concreta de mobilização de recursos, com a implantação de toda sua cadeia, desde a coleta de sementes, a produção de mudas, o plantio e o monitoramento. Lembrou da meta brasileira de restaurar 12 milhões de hectares até 2030 e que para isso será necessária a contribuição e o esforço de todos os setores da sociedade.

Marina Silva recebe prêmio Onda Verde. Foto: Julia Caroba

Registros da visita de Marina Silva em Santa Catarina no dia 20 de abril. Fotos: Jessica Michels, Miriam Prochnow e Júlia Caroba

Autora: Miriam Prochnow.
Revisão: Wigold Schäffer, Thamara Santos de Almeida e Carolina Schäffer.

Apremavi e The Vita Coco Company restauram áreas do Parque Mata Atlântica

Apremavi e The Vita Coco Company restauram áreas do Parque Mata Atlântica

Apremavi e The Vita Coco Company restauram áreas do Parque Mata Atlântica

No final de fevereiro e início de março de 2024 foram realizadas novas ações de restauração ecológica no Parque Natural Municipal da Mata Atlântica (PNMMA), em Atalanta (SC), no âmbito do projeto “Cuidando da Mata Atlântica”, fruto da parceria entre a Apremavi e a The Vita Coco Company.

Criado em 2000 com o apoio da Apremavi, o Parque Mata Atlântica é a primeira Unidade de Conservação pública da cidade de Atalanta (SC). Em 2023, visando apoiar a conservação do Parque, a Apremavi tem executado uma série de ações em parceria com a The Vita Coco Company. A restauração de áreas alteradas é uma dessas ações, com o objetivo de contribuir com a restauração e conservação de ecossistemas prioritários da Mata Atlântica, bem como a conservação da biodiversidade.

João Paulo Coelho, Analista de Sustentabilidade da The Vita Coco Company, comenta sobre o desenvolvimento da parceria e a importância de poder acompanhar os resultados presencialmente: “Desde o início nós tínhamos a preocupação de encontrar um parceiro na qual pudéssemos confiar e que nos ajudasse a acompanhar as atividades do projeto dos Estados Unidos, onde fica a sede da empresa. Tem dado tudo certo até aqui e agora, após o estabelecimento da parceria, foi muito importante poder ver de perto as ações”.

 

Mutirão de plantio de árvores

Para realização do plantio de restauração no parque, a primeira primeira etapa consistiu no preparo da área com a retirada de espécies exóticas arbóreas e arbustivas, como uva-do-japão, pinus e eucalipto, e o preparo do solo. As ações foram realizadas entre os dias 19 e 22 de fevereiro.

 

Antes e depois da área preparada para o plantio. Na primeira foto, é possível observar a área antes da remoção das espécies exóticas e sem a preparação do solo. Já na segunda, temos a área pronta para o plantio. Fotos: Edegold Schäffer

Antes e depois da área preparada para o plantio. Na primeira foto, é possível observar a área antes da remoção das espécies exóticas e sem a preparação do solo. Já na segunda, temos a área pronta para o plantio. Fotos: Edegold Schäffer

Com a área preparada, entre os dias 04 e 05 de março, foi realizado um mutirão de plantio de árvores nativas da Mata Atlântica com a participação da equipe da Apremavi e da The Vita Coco Company. No total, 4.835 mudas foram plantadas para restaurar uma área de cerca de 4 hectares. Este já é o segundo plantio realizado no âmbito do projeto, que contou com um plantio inaugural realizado em outubro de 2023.

“A parceria com Apremavi é emocionante, no ano passado apoiamos o primeiro plantio da área, hoje estamos aqui plantando mais mudas com o time da Apremavi e vamos plantar ainda mais no futuro, assim como proteger a biodiversidade e os recursos hídricos”, relata Emma Stein,  gerente de ESG, sustentabilidade e impacto social da The Vita Coco Company, no mutirão de plantio de mudas. Confira no vídeo como foi o mutirão:

 

Mutirão de plantio de árvores no Parque Mata Atlântica com a equipe da Apremavi e The Vita Coco Company. Fotos: Carolina Schäffer e Thamara Santos de Almeida

Visita da Vita Coco

Além do plantio, a presença dos representantes da The Vita Coco Company na Apremavi, contou com uma visita guiada no Viveiro Jardim das Florestas, na Trilha da Restauração, no Centro Ambiental, na RPPN Serra Pitoco e no Parque Natural Municipal da Mata Atlântica.

“A The Vita Coco Company e a Apremavi tem a mesma missão em relação à sustentabilidade, à proteção das florestas, ao plantio de árvores e à questão social, todos aqui são apaixonados. Nós amamos o Brasil e também apoiar projetos como esse”, comenta Zack Stone, coordenador de logística da empresa.

Visita da The Vita Coco Company na Apremavi. Foto: Arquivo Apremavi

Visita da The Vita Coco Company na Apremavi. Fotos: Wigold Schäffer e Carolina Schäffer

Próximos passos das atividades de restauração do PNMMA

As áreas em restauração contam agora com atividades de manutenção e limpeza, sobretudo com o coroamento ao redor das mudas, para garantir a sobrevivência das mudas plantadas.

Nos próximos anos, em todas as áreas restauradas com o projeto, pretende-se aplicar o  protocolo de monitoramento para avaliar o progresso da restauração. O protocolo foi desenvolvido pela Apremavi com base no guia de monitoramento do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e na Portaria n° 170/2020 do Instituto Água e Terra (IAT).

Além de continuarmos com a manutenção das áreas e aplicarmos o protocolo de monitoramento para acompanhamento da restauração, o projeto também irá realizar ações de monitoramento da fauna do parque; essa etapa nos trará dados complementares para continuarmos entendendo a dinâmica do processo de restauração e sua importância para a manutenção dos ecossistemas e sua biodiversidade”, afirma Carolina Schäffer, vice-presidente da Apremavi.

 

Cuidando da Mata Atlântica

As ações de restauração no Parque fazem parte do projeto “Cuidando da Mata Atlântica”, que está sendo executado durante o período de um ano pela Apremavi em parceria com a The Vita Coco Company.

O projeto prevê as seguintes ações:

  • Revisão o Plano de Manejo do Parque;
  • Monitoramento da biodiversidade, em especial, mamíferos;
  • Desenvolvimento de ações de Educação Ambiental com escolas da região;
  • Elaboração de um mapa com proposta de criação de corredor ecológico em Atalanta conectando o Parque Mata Atlântica com outros fragmentos florestais no município.

 

Essa ação está relacionada com os ODS:

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer e The Vita Coco Company.
Foto da capa: ©️ Arquivo Apremavi.

Encontro do Fundo Casa traz esperança para a pauta socioambiental

Encontro do Fundo Casa traz esperança para a pauta socioambiental

Encontro do Fundo Casa traz esperança para a pauta socioambiental

Fundo Casa Socioambiental reuniu parceiros de diversas instituições em Itapecerica da Serra (SP) no final de março, dentre elas a Apremavi, para avaliar a trajetória e planejar os próximos passos.

A um ano de completar 20 anos de existência, o Fundo Casa Socioambiental reuniu fundadores, conselheiros, equipe, representantes de organizações apoiadas, parceiros financiadores e convidados para compartilhar os resultados obtidos até o momento, fazer uma avaliação das atividades e planejar a caminhada daqui para frente. O encontro ocorreu entre os dias  24 a 27 de março de 2024, em Itapecerica da Serra (SP). 

Participante do evento, Miriam Prochnow, diretora e co-fundadora da Apremavi e uma das fundadoras do Casa, manifestou sua alegria em participar desse momento importante: “é incrível ver como o fundo cresceu e já conseguiu apoiar mais de 3.500 projetos, em locais onde outros fundos não chegam. Quando gestamos a iniciativa, em 2005, sabíamos que ela teria um papel fundamental no desenvolvimento das potencialidades locais, não só com apoio financeiro, mas também com capacitação e apoio do desenvolvimento institucional. Inclusive a primeira capacitação do fundo aconteceu na Apremavi, em 2007”, comenta Miriam.

Os números do Casa impressionam e mostram o potencial de crescimento. De 2005 a 2023 o Casa apoiou 3.593 projetos, com o investimento de quase 118 milhões de reais. Os projetos apoiados são oriundos de grupos que normalmente não estão inclusos nos públicos beneficiários de outros fundos, como associações de moradores e cidadãos ativistas, quilombolas, indígenas, extrativistas, agricultores familiares, pescadores artesanais, ribeirinhos e caiçaras.

O Fundo Casa Socioambiental trabalha com os seguintes eixos estratégicos: defensores socioambientais; construção de capacidades; proteção dos territórios, direitos humanos e da natureza; resiliência em mudanças climáticas; ações propositivas para soluções sustentáveis; e monitoramento e participação em políticas públicas.

Diante dos grandes desafios da humanidade, principalmente os efeitos da crise climática, fundos como o Casa se tornam cada vez mais fundamentais. Para Cristina Orpheo, atual diretora executiva do Casa, o Fundo se consolida como uma peça importante no quebra-cabeça global do combate às mudanças climáticas, onde o protagonismo das comunidades locais já é amplamente reconhecido: “seu papel vai muito além do financiamento convencional de projetos socioambientais. Ao direcionar seus recursos para iniciativas lideradas por comunidades locais e povos indígenas, o Fundo Casa atua na linha de frente da justiça climática, fortalecendo os mais vulneráveis e garantindo que suas vozes sejam ouvidas no debate sobre o futuro do planeta. Além disso, ao apoiar projetos inovadores, o Fundo Casa não apenas impulsiona soluções práticas e escaláveis, mas também fomenta um ambiente de aprendizado e colaboração, essencial para enfrentar os desafios complexos das mudanças climáticas”, complementa Cristina.

Maria Amália Souza, fundadora e atual coordenadora do desenvolvimento estratégico da instituição, desenhar estratégias sistêmicas para assegurar que recursos filantrópicos cheguem aos grupos de base comunitária mais excluídos e vulneráveis, é imprescindível se quisermos um mundo sustentável e com equidade.

Encontro do Fundo Casa Socioambiental. Foto: Fundo Casa

Registros do encontro de 20 anos de existência do Fundo Casa Socioambiental. Fotos: Fundo Casa Socioambiental e Miriam Prochnow

O Fundo Casa Socioambiental

O Casa é um fundo local ativista, que acolhe desafios e apoia soluções, buscando promover a conservação e a sustentabilidade ambiental, a democracia, o respeito aos direitos socioambientais e a justiça social por meio do apoio financeiro e fortalecimento de capacidades de iniciativas da sociedade civil na América do Sul.

O Fundo Casa se destaca como um catalisador de mudanças transformadoras em direção a um futuro mais sustentável e resiliente. Ao mobilizar recursos e engajar a sociedade civil em seus esforços, demonstra que o enfrentamento da crise climática requer uma abordagem inclusiva e holística, que valorize tanto a expertise técnica quanto a sabedoria ancestral. O trabalho não só contribui para a mitigação dos impactos das mudanças climáticas, mas também inspira esperança e confiança em um amanhã melhor para as gerações presentes e futuras.

> Saiba mais sobre o Fundo Casa

 

Autora: Miriam Prochnow.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: ©️ Fundo Casa Socioambiental.

Desafios e caminhos possíveis em prol da diversidade na restauração ecológica

Desafios e caminhos possíveis em prol da diversidade na restauração ecológica

Desafios e caminhos possíveis em prol da diversidade na restauração ecológica

Em fevereiro, pesquisadores brasileiros publicaram uma carta na Science chamando atenção para a necessidade de heterogeneidade de espécies na restauração. Em entrevista com alguns desses pesquisadores, a Apremavi ouviu sobre os desafios e caminhos possíveis colocados por eles em prol dessa diversidade de espécies que corroboram a atenção permanente que a instituição têm ao executar, já a mais de três décadas, os seus projetos de restauração.

Enquanto vivemos um duplo desafio ambiental: a crise da biodiversidade e a emergência climática, a restauração ecológica se apresenta como uma das soluções possíveis. Ao passo, que restaurar ambientes beneficia a biodiversidade ao recriar e promover a conexão entre habitats de espécies no mundo todo, essa ação também mitiga os efeitos da crise climática.

Pensando nisso, em 2021 as Nações Unidas (ONU) construíram um movimento global amplo para acelerar a restauração e colocar o mundo no caminho de um futuro sustentável com a articulação de um impulso político para a restauração: a Década da ONU da Restauração de Ecossistemas (2021-2030). A Apremavi é parceira oficial dessa iniciativa.

No âmbito brasileiro, em 2023 foram lançados dois tratados com foco na restauração ecológica: o Programa Arco de Restauração na Amazônia, que tem o compromisso de restaurar 6 milhões de hectares até 2030; e o Tratado da Mata Atlântica que visa restaurar 54 mil hectares até 2026. 

Dentro dessa perspectiva, pesquisadores brasileiros demonstraram uma preocupação relacionada à restauração em grande escala: a consideração adequada da diversidade de espécies nos projetos de restauração. Esse desafio culminou no desenvolvimento da carta “Aim for heterogeneous biodiversity restoration” (em português: “mirar a restauração heterogênea da biodiversidade”), publicada no dia 25 de janeiro e divulgada no site da Apremavi na ocasião.

Entrevista com Thiago Shizen, Helena Streit e Gehard Overbeck sobre a diversidade na restauração
Registro da entrevista realizada on-line pela equipe da Apremavi com os pesquisadores da UFRGS e UFMG.
Entrevista com pesquisadores

Apremavi: Como surgiu a ideia da carta?

Thiago Shizen: A ideia surgiu após a experiência que ele teve em seu pós-doutorado na França, onde pôde observar o detalhamento dos ecossistemas e a classificação europeia dos hábitats. No Brasil, essa abordagem não é comum, ainda conhecemos pouco da nossa biodiversidade. A ideia de escrever a carta surgiu após o envio, por parte do pesquisador Hernani Oliveira, co-autor da carta, de uma reportagem sobre o Tratado da Mata Atlântica que pretende restaurar 54 mil hectares até 2026 e de uma provocação do professor Geraldo Fernandes, último autor da publicação. A partir daí começamos a conversar, com mais alguns pesquisadores, sobre os desafios da restauração em grande escala que podem não considerar adequadamente a diversidade de espécies nos projetos, que culminou no desenvolvimento da carta.

Apremavi: Quais são os principais desafios na busca por heterogeneidade de espécies na restauração?

Pesquisadores: A lacuna no conhecimento técnico sobre quais seriam as melhores espécies e sobre os ecossistemas de referência, a falta de disponibilidade de sementes e mudas das espécies no mercado desses ecossistemas de referência e a utilização de espécies que não são daquela região/estado são os principais desafios que temos, principalmente, nos ecossistemas campestres, que seguem negligenciados no debate da restauração.

Além disso, há uma necessidade no desenvolvimento de políticas públicas que cobrem essa diversidade. Atualmente, a única exigência da legislação é que as espécies sejam do mesmo bioma, hoje, por exemplo, não há problema, do ponto de vista da legislação, se as espécies do Estado de São Paulo são utilizadas na restauração de áreas em Santa Catarina.

Apremavi: Pensando nas particularidades dos biomas brasileiros, quais os principais desafios da diversidade de espécies no âmbito da Mata Atlântica?

Pesquisadores: No âmbito da Mata Atlântica, é observado que apenas 8% da diversidade da flora do bioma é usada em projetos de restauração. O que gera a problemática de homogeneização do bioma que não respeita o conjunto de espécies que anteriormente existia no local restaurado. A Mata Atlântica é conhecida como um hotspot de diversidade justamente devido a sua grande diversidade, o alto grau de espécies endêmicas, e a alta taxa de degradação. 

A Mata Atlântica não é toda igual, existem fitofisionomias distintas, e ainda com variação interna grande ao longo de gradientes ambientais – precisamos considerar isso na restauração. Outro desafio, é a inexistência, muitas vezes, de um ecossistema de referência: em alguns casos, o que restou são remanescentes de florestas secundárias, que se diferenciam bastante das florestas originais.

Apremavi: O que cada setor (privado, terceiro setor e setor governamental) pode fazer em prol da diversidade na restauração?

Pesquisadores: É preciso criar uma demanda de fazer a restauração acontecer de uma forma mais crítica, precisamos questionar e cobrar para criar essa demanda por diversidade. É fundamental desenvolver políticas públicas, pois a partir dessa cobrança vai ser criada a exigência que a restauração seja mais diversa e baseada no conhecimento científico. A partir disso, o setor privado e o terceiro setor vão reagir para suprir essa demanda. No âmbito da ciência, ela deve guiar esse desenvolvimento de políticas e apontar o caminho necessário para ajustes na legislação, por exemplo, a partir da sugestão de espécies prioritárias para uso na restauração ou da definição de regiões com demandas diferenciadas.

Foi apontado sobre os desafios de alterações nas legislações federais, estaduais e tratados, o que leva tempo. Enquanto isso, mesmo que individualizado em cada organização, precisamos exigir mais dos projetos de restauração, por exemplo, em termos da diversidade de espécies utilizadas. O terceiro setor pode fazer a ponte entre os cientistas e os proprietários, para ir além do que está na lei até essa adaptação.

Além disso, os pesquisadores reforçaram a necessidade dos consórcios e tratados da restauração, como o Tratado da Mata Atlântica, considerassem a diversidade de maneira adequada, levando em conta a área de ocorrência natural das espécies. 

Apremavi: Pensando no âmbito dos projetos de restauração, quais ações são primordiais para a obtenção da diversidade na restauração?

O incentivo à produção de sementes e mudas do ecossistema de referência são importantes, além de um conhecimento científico sólido para nortear a produção de sementes e de mudas.

Além disso, é destacada a importância de estabelecer protocolos de restauração para diferentes contextos, levando em conta o tipo e o nível de degradação, e o uso de diferentes técnicas de restauração, desde a preparação da área a ser restaurada, até a introdução de espécies, considerando, por exemplo, diferentes grupos como as espécies pioneiras que colonizam o local com facilidade e as espécies de clímax.

O apoio para a coleta de sementes é super importante e precisamos de opções adaptadas às realidades dos biomas e suas diversas comunidades, como por exemplo criar cadeias econômicas fornecendo benefícios econômicos e sociais para a comunidade.

Estamos falando sobre diversidade e biodiversidade, mas a sociedade em geral desconhece esses termos, a importância da biodiversidade e a crise dela e das mudanças climáticas, é necessário falar sobre isso. Além disso, é pontuada a confusão entre termos como restauração e reflorestamento, que também precisa ser abordada.

Os pesquisadores

Professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realiza pesquisa e atividades de extensão em ecologia, conservação e restauração, com foco no desenvolvimento de técnicas de restauração de ecossistemas campestres no Laboratório de Estudos em Vegetação Campestre (LEVCamp) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e no Centro de Conhecimento em Biodiversidade.

Gerhard Overbeck

Pesquisadora de pós-doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vinculada ao Programa de Pesquisa em Biodiversidade (Rede PPBio), realiza pesquisa nas regiões campestres na região Sudeste da América do Sul com foco nas espécies exóticas invasoras no LEVCamp da UFRGS e no Centro de Conhecimento em Biodiversidade.

Helena Streit

Pesquisador de pós-doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais, realiza pesquisas em ecologia aplicada envolvendo projetos de recuperação/restauração ecológica com foco na definição de ecossistemas de referência no Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade (LEEB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e no Centro de Conhecimento em Biodiversidade.

Tiago Shizen

Autora: Thamara Santos de Almeida
Revisão: Carolina Schäffer
Foto de capa: ©️ Thamara Santos de Almeida

Termômetro do Código Florestal mostra que a sua implementação ainda é um desafio

Termômetro do Código Florestal mostra que a sua implementação ainda é um desafio

Termômetro do Código Florestal mostra que a sua implementação ainda é um desafio

Organizações lançam nova versão do Termômetro do Código Florestal, plataforma com dados e análises sobre a implementação do Código Florestal (Lei nº 12.651, de 2012) em todos os territórios brasileiros.

O Código Florestal é a legislação que estipula as diretrizes para o uso da terra, especialmente em propriedades rurais no Brasil. Seu propósito primordial é assegurar que, em terras de domínio privado, haja a preservação de uma parcela da vegetação. Em maio de 2012, foi sancionada a Lei 12.651, a mais recente versão do diploma legal revogando a legislação de 1965.

Atualmente, as principais exigências incluem a manutenção de Áreas de Preservação Permanente (APP) e da Reserva Legal (RL), bem como a inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Para os imóveis que necessitam se adequar à nova regulamentação, foi instituído o Programa de Regularização Ambiental (PRA), que oferece uma série de incentivos para a recuperação de áreas desmatadas.

Com o intuito de prover dados para que a sociedade acompanhe a Implementação do Código, foi lançada no dia 21 de fevereiro foi lançada uma nova versão da plataforma Termômetro do Código Florestal. Por meio de mapas e gráficos atualizados, ela concede acesso à informação de maneira livre e simplificada acerca da transparência sobre os dados de implementação em todos os biomas brasileiros. Nela, é possível acessar mapas que permitem entender a condição de Áreas de Preservação Permanente (APPs), Remanescente de Vegetação Nativa (RVN) e Reserva Legal (RL) com a utilização de recortes territoriais a nível federal, de bioma, estadual ou municipal.

“Com a nova versão do Termômetro temos os dados de implementação do Código Florestal em campo. Atualmente, essa ferramenta, somada ao Panorama são os dados mais precisos sobre a implementação do Código Florestal, sobre excedente e déficit de Reserva Legal e APP e onde isso está concentrado” relata Roberta Del Giudice, secretária-executiva do Observatório do Código Florestal, no evento de lançamento da plataforma.

O Termômetro do Código Florestal é uma iniciativa do OCF que foi desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) em colaboração com o Comitê Técnico e Científico de instituições-membros do OCF. São elas: Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Instituto Socioambiental (ISA), Centro de Sensoriamento remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (CSR/UFMG), Amigos da Terra – Amazônia Brasileira (AdT) e Instituto BVRio.

> Conheça a Plataforma 

 

A plataforma permite a visualização dos dados através de mapas e relatórios síntese. Figura: Reprodução/Termômetro do Código Florestal.
A plataforma permite a visualização dos dados através de mapas e relatórios síntese. Figura: Reprodução/Termômetro do Código Florestal.
Panorama geral

Do total de 111 milhões de hectares cadastrados como Reserva Legal em imóveis rurais no Brasil, 11% (16,3 milhões de hectares) foi elencado como passivo pelo Termômetro, isto é, área de vegetação nativa, que, pela legislação, deveria estar conservada. A maioria deste passivo (57%) concentra-se na Amazônia.

Nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, onde ocorre a Mata Atlântica, assim como no Pampa e no Cerrado não amazônico, a Reserva Legal deve corresponder a 20% da área de cada imóvel rural. Na Amazônia a Reserva Legal é de 80% nas áreas de floresta e de 35% nas áreas do Cerrado.

O Brasil possui 8 milhões de hectares cadastrados como Áreas de Preservação Permanente, áreas próximas de matas ciliares, encostas e topos de morro que não devem ser desmatadas. Desse total, quase 37% (3 milhões de hectares) também estão como passivo ambiental. Sendo que, as maiores áreas estão localizadas no bioma Mata Atlântica, totalizando 912 mil hectares.

Além dos dados divulgados, a nova versão do Termômetro chama atenção para a falta de transparência governamental sobre a disponibilização dos dados: “Um dos dados trazidos por essa nova edição se refere à transparência de informações ambientais pelos órgãos estaduais de meio ambiente, como as secretarias de estado. A disponibilização de dados sobre regularização ambiental pelos órgãos contabiliza a média de 21%, índice considerado baixo”, destacou o Observatório do Código Florestal.

 

Panorama geral do Brasil em relação ao passivo de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente. Figura: Reprodução/Termômetro do Código Florestal.
Panorama geral do Brasil em relação aos passivos de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente. Figura: Reprodução/Termômetro do Código Florestal. 
Implementação do Código em Santa Catarina e no Paraná

Em Santa Catarina, um dos estados onde a Apremavi atua, os dados são animadores em comparação com o cenário brasileiro no âmbito da Reserva Legal. Do total de 1,2 milhões de hectares de Reserva Legal, apenas 2% (33 mil ha) são de passivo. Já no âmbito das Áreas de Preservação Permanente, dos 168 mil hectares cadastrados, (31%) 53 mil ha são de passivo ambiental.

Já no Paraná, outra região em que a Apremavi tem como foco de atuação, dos 2 milhões de hectares de Reserva Legal, 22% (455 mil ha) são de passivo. Em relação às APPs, dos 347 mil hectares cadastrados, cerca de 45% (155 mil ha) são de passivo ambiental.

 

Panorama de Santa Catarina e do Paraná em relação aos passivos de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente. Figura: Reprodução/Termômetro do Código Florestal.
Panorama de Santa Catarina e do Paraná em relação aos passivos de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente. Figura: Reprodução/Termômetro do Código Florestal.
O Observatório do Código Florestal (OCF)

O Observatório do Código Florestal é uma rede criada em 2013 visando monitorar a implementação bem-sucedida do Código Florestal, fortalecendo o papel da sociedade civil na defesa da vegetação nativa brasileira. Com isso, visa a proteção dos biomas e dos valores culturais, a produção sustentável e a recuperação de ambientes naturais. Organizado em rede, o OCF ampliou o seu potencial de capilaridade e força e hoje soma mais de 40 entidades de todo o Brasil, dentre elas a Apremavi, que unidas defendem a vegetação nativa brasileira e a produção sustentável.

> Saiba mais sobre o trabalho do OCF

 

Autora: Thamara Santos de Almeida, com informações do Observatório do Código Florestal e do Termômetro do Código Florestal.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Maíra Ratuchinski.

Comissão da Câmara aprova PL que altera Código Florestal e ameaçada biomas brasileiros

Comissão da Câmara aprova PL que altera Código Florestal e ameaçada biomas brasileiros

Comissão da Câmara aprova PL que altera Código Florestal e ameaçada biomas brasileiros

Por Observatório do Código Florestal | 48 milhões de hectares poderão ser impactos caso a medida seja aprovada também no Senado.

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (20) o Projeto de Lei 364/2019 com 38 votos a favor. A matéria coloca sob risco 48 milhões de hectares de vegetações não florestais no Brasil com alteração do previsto pelo Código Florestal (Lei 12.651/2012). Caso o projeto não vá para plenária da Câmara dos Deputados, deve seguir para aprovação do Senado Federal.

De acordo com o texto aprovado, formas de vegetação nativa ‘predominantemente não florestais’, como campos gerais, campos de altitude e campos nativos, serão consideradas áreas rurais consolidadas, uma categoria prevista pelo Código Florestal que permite exploração da área mediante comprovação de uso antrópico anterior a 22 de julho de 2008.

“Para tanto, basta que o proprietário alegue que a área de campo foi, em algum momento do passado, utilizada para pastoreio. Como a imensa maioria das áreas de campo do país foram usadas para pastoreio extensivo em algum momento, todas elas serão consideradas consolidadas”, pontua uma nota técnica elaborada pela SOS Mata Atlântica, fundação membro do Observatório do Código Florestal.

Além disso, mesmo as que não tenham sido pastejadas também perdem a proteção pela falta de possibilidade de comprovação de que nunca foram usadas para a atividade.

De acordo com análise da SOS Mata Atlântica, a medida aprovada na comissão impacta 50% do Pantanal (7,4 milhões de hectares), 32% dos Pampas (6,3 milhões de hectares) e 7% do Cerrado (13,9 milhões de hectares), além de quase 15 milhões de hectares na Amazônia.

A nova proposta também anula a aplicação da Lei da Mata Atlântica e de qualquer lei especial de proteção ambiental em todo território nacional, ao dispersar “disposições conflitantes contidas em legislações esparsas, como aquelas que se referem apenas a parcelas do território nacional”, caso da legislação.

A medida, assim, renega a importância dos campos nativos, áreas estratégicas para manutenção da biodiversidade e da segurança hídrica e climática.

MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS NO TEXTO

O projeto aprovado se distanciou do projeto original, que retirava os mecanismos de proteção da Lei da Mata Atlântica dos Campos de Altitude, ecossistema típico do Sul que cobre menos de 5% do bioma, mas que mantinha a proteção e regras previstas pelo Código Florestal.

Um substitutivo aprovado na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável pelo deputado José Mário Schreiner (MDB/GO), entretanto, muda o texto e passa a considerar todas as áreas de campos nativos no país como áreas de uso rural consolidado e, portanto, não passíveis de licenciamento ambiental para conversão para uso agrícola.

“O projeto de lei, ao atacar a Lei da Mata Atlântica e também colocar sob risco todas as vegetações não florestais no país, representa uma grave tentativa de enfraquecimento da proteção ambiental de todos os biomas do País. Caminha, assim, no sentido contrário à urgente necessidade de implementação do Código Florestal, legislação que preza pela conciliação entre conservação ambiental e produção agrícola”, afirma Roberta del Giudice, secretária executiva do Observatório do Código Florestal.

Autora: Júlia Beatriz de Freitas do Observatório do Código Florestal.
Foto de capa: Campo dos Padres, imenso planalto na Serra Geral no estado de Santa Catarina. Foto: Arquivo Apremavi

A Reserva Legal nos assentamentos da reforma agrária ・Código Florestal na Prática

A Reserva Legal nos assentamentos da reforma agrária ・Código Florestal na Prática

A Reserva Legal nos assentamentos da reforma agrária ・Código Florestal na Prática

O Código Florestal determina que além das Áreas de Preservação Permanente, todas as propriedades devem ter uma área protegida conhecida como Reserva Legal. Neste capítulo, a Apremavi mostra a RL de um lote no assentamento Juruá, em Abelardo Luz (SC), no Oeste Catarinense.

Segundo o art. 3°, inciso II do Código Florestal (Lei n° 12.651/2012) a Reserva Legal é uma área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural; auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade; bem como o abrigo e a proteção da fauna silvestre e da flora nativa.

Assim como as Áreas de Preservação Permanente e as áreas de uso limitado, a Reserva Legal deverá ser registrada no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Essa área deve corresponder a 20% da área de cada imóvel rural nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, onde ocorre a Mata Atlântica, assim como no Pampa e no Cerrado não amazônico. 

Nos assentamentos da reforma agrária a Reserva Legal pode ser registrada de maneira coletiva, em uma única área do assentamento. Na Reserva Legal não é permitido o desmatamento (corte raso), mas a área pode ser utilizada de outras formas:

1 – Exploração e utilização de produtos não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e

sementes, devendo-se observar o período de coleta considerando a época de maturação de frutos e sementes, e utilizando-se técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência das espécies coletadas;

2 – Extração de material lenhoso limitada a 2 m³por hectare, sem comprometer mais de 15% da biomassa da Reserva Legal total e sem ultrapassar a quantidade de 15 m³ de lenha para uso doméstico e uso energético, por propriedade ou posse rural, por ano;

3 – Exploração eventual sem propósito comercial direto ou indireto de algumas árvores nativas, até o limite máximo de 20 m3 a cada três anos, desde que elas não constem da lista oficial de espécies ameaçadas de extinção (art. 2º, § 1º, inciso II – Decreto no 6.660/2008).

 

Exemplo de localização adequada das APPs e RL dentro das propriedades rurais. Créditos: cartilha Planejando Propriedades e Paisagens
#Na prática: O Código Florestal e a Reserva Legal em áreas de assentamento

O exemplo da aplicação do Código no âmbito da Reserva Legal vem do município de Abelardo Luz (SC), no Oeste Catarinense. Os agricultores João Borman e Tereza de Oliveira Borman, há cerca de 20 anos, iniciaram uma história de luta pela terra e pela qualidade de vida na região. Moradores do  do Assentamento Juruá, hoje eles são assentados regulares e aguardam a titulação do seu lote.

A restauração e conservação da natureza está entrelaçada com essa luta pela terra. Quando o casal se instalou na região realizou o plantio de diversas mudas de espécies nativas, como a canela-amarela (Nectandra megapotamica), o cedro (Cedrela fissilis), ingá (Inga virescens), guabiroba (Campomanesia xanthocarpa). Após duas décadas da restauração, a propriedade deles foi elegível para um projeto de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) executado pela Apremavi em parceria com o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA). 

O Projeto Corredores Ecológicos, do qual o casal fez parte em 2016, foi implementado pelo IMA, em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS), dentro do programa SC Rural. O papel da Apremavi na parceria foi auxiliar a identificar e mapear propriedades e lotes aptos a receber o benefício previsto pelo programa. No lote dos agricultores João e Tereza, foram mapeados aproximadamente 03 hectares de floresta conservada para o PSA, especialmente pela proteção dos recursos hídricos que passam pelo lote e pela ocorrência de espécies ameaçadas de extinção, como a araucária (Araucaria angustifolia) e xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana). Além disso, fez parte do programa a análise dos aspectos qualitativos e quantitativos do lote, ou seja, observada a qualidade do serviço ambiental, conservação da área natural e uso agropecuário, bem como a gestão da propriedade.

Hoje, o casal se orgulha de continuar conservando a propriedade: “Nessa área da Reserva só realizamos a coleta de sementes, até porque se desmatarmos não teremos mais água, mais tarde esse local ficará para as futuras gerações”.

 

Edilaine Dick e Marluci Pozzan da Apremavi com os agricultores João Borman e Tereza de Oliveira Borman na Reserva Legal da propriedade. Foto: Thamara Santos de Almeida
Registros da equipe da Apremavi com o casal, aspecto da Reserva Legal, viveiro da propriedade e ação de coleta de sementes. Fotos: Thamara Santos de Almeida

A propriedade de João e Tereza é vizinha de outra Reserva Legal, a do Projeto de Assentamento Recanto Olho D’Água, que faz parte da área de abrangência do projeto +Floresta, executado pela Apremavi com o financiamento do Ibama. Neste assentamento, conforme prevê as possibilidades do Código Florestal, a Reserva Legal é coletiva.

 

Implantando o Código Florestal

É um projeto que tem como objetivo geral reverter e reduzir a perda de florestas no Brasil. É executado por um consórcio de organizações que integram o Observatório do Código Florestal, sob a coordenação dos Amigos da Terra Amazônia. A Apremavi é uma das organizações que compõem o consórcio, e está atuando para através da produção de conhecimentos, realização de articulação com governos locais e com agentes públicos para a implementação plena do Código Florestal.

> Conheça o projeto Implantando o Código Florestal

Autoras: Thamara Santos de Almeida, com informações da cartilha “Planejando Propriedades e Paisagens”, publicada pela Apremavi e Marluci Pozzan.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Agricultores João Borman e Tereza de Oliveira Borman na Reserva Legal da propriedade. Foto: ©️ Thamara Santos de Almeida

Organizações buscam paridade de gênero e raça na participação da COP no Brasil

Organizações buscam paridade de gênero e raça na participação da COP no Brasil

Organizações buscam paridade de gênero e raça na participação da COP no Brasil

Por Observatório do Clima | Documento lançado no Dia Internacional da Mulher elenca seis condições a serem respeitadas nas negociações da Conferência do Clima brasileira agendada para 2025

Mais de 50 organizações da sociedade civil, dentre elas a Apremavi, divulgaram no dia 8 de março um manifesto demandando paridade de gênero, raça, etnia, classe social, geração, identidade de gênero e orientação sexual nos preparativos e nas negociações da COP30, a conferência do clima da ONU que vai acontecer no Brasil em novembro de 2025. O comitê organizador do evento que acontece neste ano na capital do Azerbaijão recebeu críticas em janeiro por ser composto exclusivamente por homens; apenas sob pressão incluiu mulheres.

O manifesto das organizações brasileiras vai além da composição das equipes e elenca seis condições essenciais: equidade e representatividade nas delegações; promoção da igualdade de oportunidades; inclusão de perspectivas de gênero em políticas climáticas; investimentos em formação; combate à violência de gênero relacionada ao clima; e transparência. “Acreditamos que a inclusão plena e a igualdade de participação de mulheres, homens e outras identidades de gênero é essencial para a construção de um futuro resiliente e sustentável para o nosso planeta”, afirma o documento. 

A mobilização nasceu dentro do Grupo de Trabalho de Gênero e Justiça Climática do Observatório do Clima, que conta com 180 integrantes da rede do OC e de não membros. O grupo também produziu uma campanha com as “Mulheres que dão as cartas pelo clima”. Trata-se de um baralho, com a imagem de líderes que se destacam na luta contra a crise climática e as consequências do aquecimento global. As catorze primeiras já começaram a circular com figuras como a ministra do STF Cármen Lúcia; a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; a ministra do Povos Indígenas, Sonia Guajajara; a secretária nacional de Mudança do Clima, Ana Toni; a líder indígena wapixana Sinéia do Vale; a líder comunitária de Caranguejo Tabaiares (PE) Sarah Marques; a jornalista Elaíze Farias; além de artistas como a cantora Maria Gadú e a atriz Laila Zaid.

Declarações:

“Como anfitriã, é responsabilidade da delegação brasileira garantir diversidade e representatividade nas discussões sobre clima. É preciso cuidar de quem cuida e amplificar as vozes de quem luta por justiça climática, para não perpetuarmos o racismo climático”, Jessica Siviero, especialista em Justiça Climática na ActionAid.

“Em ambientes dominados por homens, como o Congresso Nacional e o setor energético, a capacidade das mulheres influenciarem políticas climáticas e participarem da transição para a economia de baixo carbono são severamente limitadas. Promover a igualdade de gênero é não apenas uma questão de justiça social, mas também a estratégia mais eficaz para enfrentar os desafios ambientais”, Nicole Figueiredo, diretora executiva do Instituto Internacional Arayara.

“Depois de três COPs sediadas por países em que ser mulher já é algo desafiador – Egito, Emirados Árabes e Azerbaijão, o governo brasileiro terá a oportunidade de construir história de maneira genuinamente democrática. Começando pela delegação do Brasil e se estendendo para as negociações, cada vez mais urgentes em respostas abrangentes e efetivas”, Isvilaine Silva, assessora de mobilização e engajamento do Observatório do Clima.

Sobre o Observatório do Clima – Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com 107 integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática (oc.eco.br). Desde 2013 o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil (seeg.eco.br). 

Informações para imprensa 

Solange A. Barreira – Observatório do Clima
solange@pbcomunica.com.br
+ 55 11 9 8108-7272 

Claudio Angelo – Observatório do Clima
claudio@oc.eco.br
+55 61 9 9825-4783

Revisão do Plano de Manejo do Parque Mata Atlântica é iniciada

Revisão do Plano de Manejo do Parque Mata Atlântica é iniciada

Revisão do Plano de Manejo do Parque Mata Atlântica é iniciada

Nos dias 05 e 07 de fevereiro foram realizadas oficinas para atualização do Plano de Manejo do Parque Natural Municipal da Mata Atlântica, em Atalanta (SC), através do projeto “Cuidando da Mata Atlântica”, uma parceria entre a Apremavi e a Vita Coco.

Localizado na comunidade de Vila Gropp em Atalanta (SC), o Parque Mata Atlântica é a primeira Unidade de Conservação pública do município. Criado em 2000, no contexto do estabelecimento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), com o apoio da Apremavi, o parque exerce papel relevante no desenvolvimento turístico e científico da região, conservando um fragmento considerável de Mata Atlântica que, ao todo, ocupa mais de 54 hectares de floresta nativa.

Para que atividades como turismo, pesquisa, ensino e lazer possam ser desenvolvidas na UC, é necessário a elaboração e a revisão do seu Plano de Manejo. A primeira versão do documento foi elaborada em 2001. O documento elaborado há mais de vinte anos passa agora por revisão, com apoio do projeto “Cuidando da Mata Atlântica”, uma parceria da Apremavi com a Vita Coco. As atividades estão sendo coordenadas pela Apremavi e pela Bio Teia – Estudos Ambientais, com oficinas que visam resgatar o processo de criação da UC e fatos históricos, informar a população sobre o processo de revisão do plano de manejo, reunir informações iniciais sobre as diferentes formas de uso do solo, bem como propiciar o envolvimento dos participantes com o parque.

As oficinas de diagnóstico participativo contaram com o envolvimento de aproximadamente 80 pessoas, dentre elas moradores do entorno e visitantes do parque, professores da rede municipal, representantes da Prefeitura Municipal de Atalanta, representantes da Apremavi e professores da rede estadual de ensino.

Com os professores a trilha principal do Parque foi percorrida com enfoque na educação ambiental, para colher subsídios para as próximas oficinas de interpretação ambiental, que serão realizadas em julho de 2024. Edilaine Dick, coordenadora de projetos da Apremavi, comenta sobre a importância da atualização do plano de manejo: “A elaboração do Plano de Manejo do Parque Mata Atlântica traz vida para o parque, ao desenvolver diversas atividades, diagnósticos e envolvendo diferentes atores para pensar, a médio e curto prazo, a Unidade de Conservação”.

 

Cuidando da Mata Atlântica

Ao longo de um ano, além da atualização do Plano de Manejo, o projeto executado em parceria com a Vita Coco prevê:

  • O monitoramento da biodiversidade;
  • A restauração e o enriquecimento de áreas localizadas no Parque Mata Atlântica;
  • O desenvolvimento de ações de Educação Ambiental com escolas da região;
  • A elaboração de um mapa com proposta de criação de corredor ecológico em Atalanta conectando o Parque Mata Atlântica com outros fragmentos florestais no município.

Autores: Marcelo Silva Irmão e Edilaine Dick​.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto, Thamara Santos de Almeida, Carolina Schäffer e Emma Stein.
Foto de capa: Oficina de diagnóstico com professores de Atalanta (SC). Foto: ©️ Marcelo Silva Irmão

+Floresta ministra formação em Educação Ambiental

+Floresta ministra formação em Educação Ambiental

+Floresta ministra formação em Educação Ambiental

No final de fevereiro, em Abelardo Luz (SC), ocorreu a primeira formação de professores do Geração +Floresta, programa de Educação Ambiental continuada do projeto +Floresta da Apremavi.

Em 2022, a Apremavi retomou a sua atuação no Oeste Catarinense com o projeto +Floresta. Um dos objetivos do projeto é promover ações de Educação Ambiental. Para isso, foi criado o Programa “Geração + Floresta”, que prevê a capacitação anual de alunos de ensino fundamental e médio/técnico de instituições de ensino em temáticas relacionadas à restauração e conservação.

No dia 29 de fevereiro, ocorreu a primeira formação de professores do programa, no Assentamento  Juruá, em Abelardo Luz (SC). O evento contou com a presença de 11 professores de seis instituições de ensino localizadas no território de ação do projeto: Escola Básica Municipal (EBM) 25 de Maio, EBM José Maria, Escola Indígena de Ensino Fundamental (EIEF) Cacique Karenh, Escola de Ensino Médio (EEM) Paulo Freire, EEM Semente da Conquista e Instituto Federal Catarinense (IFC) Campus Avançado de Abelardo Luz.

No turno da manhã, as atividades começaram com uma apresentação de todos, situando em um mapa de Abelardo Luz (SC) a localização de cada um dos presentes. Após, Thamara Santos de Almeida, comunicadora da Apremavi, ministrou uma palestra introdutória sobre mudanças climáticas e a perda da biodiversidade, com foco na promoção de soluções por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e na Década da Restauração da ONU. Em seguida, Edilaine Dick, coordenadora de projetos da instituição, apresentou a história de atuação da Apremavi no Oeste Catarinense, o projeto +Floresta, seus objetivos e ações desenvolvidas e planejadas para os próximos anos. Por fim, Marluci Pozzan, coordenadora de projetos da Apremavi, apresentou o Geração +Floresta, seus objetivos e planejamento das atividades. 

Marluci relata a importância da formação: “Foi uma etapa importante do Geração +Floresta, pois integramos os professores no contexto da emergência climática e destacamos o papel da restauração florestal e do projeto nesse contexto, tornando-os multiplicadores dos temas. Além disso, durante essa etapa, foi possível discutir de forma mais aprofundada como cada tema abordado pelo programa nas atividades em sala de aula se relaciona com o projeto, com a comunidade e com as metas ambientais globais”.

Já pela tarde, foi realizada uma atividade de discussão e apresentação em grupo sobre as oportunidades e desafios do programa na escola e na comunidade e sobre como os assuntos abordados na formação convergem com os conteúdos da escola. Por fim, Marluci e Thamara apresentaram oportunidades de engajar as escolas em iniciativas de sustentabilidade, como a visitação em Unidades de Conservação, a inscrição em prêmios, editais e cursos na área ambiental, bem como, o Programa de Estágios Acadêmicos e Serviço Voluntário e o Programa de Visitas da Apremavi.

“Na formação aprendi sobre como implementar novas ideias de preservação e restauração dentro da sala de aula. No âmbito da escola, o programa vai auxiliar na implementação da disciplina pesquisa de campo e intervenção local, onde os alunos já refletiram sobre alguns problemas ambientais na comunidade que têm relação com o projeto +Floresta”, relata Raquel da Costa, professora de história nas escolas de Ensino Médio EEM Paulo Freire e EEM Semente da Conquista, sobre como foi o dia de formação e como ele vai colaborar para as atividades em sala de aula.

 

Apresentação da Marluci Pozzan e Edilaine Dick sobre o projeto +Floresta e o programa de Educação Ambiental continuada do projeto. Foto: Thamara Santos de Almeida

Primeira formação de professores do Geração +Floresta em Abelardo Luz (SC) no dia 29 de fevereiro na comunidade de Juruá. Fotos: Thamara Santos de Almeida

+Floresta

A iniciativa visa contribuir com a restauração da vegetação nativa na Floresta Ombrófila Mista, em Abelardo Luz (SC), com o incremento de espécies vegetais ameaçadas de extinção, como a araucária, a imbuia e o xaxim-bugio.

Será desenvolvido ao longo de oito anos (2022 a 2030) nas Reservas Legais de sete Projetos de Assentamento (PAs) da Reforma Agrária e em uma Área de Preservação Permanente da Terra Indígena.  O projeto é financiado pelo Ibama através do Acordo de Cooperação Técnica nº 34/2021 e supervisionado pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF/SC), pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Justiça Federal de Santa Catarina, na forma da ação n° 5001458-53.2017.4.04.7200/SC.

> Conheça o projeto

 

Essa ação está relacionada com os ODS:

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Edilaine Dick, Marluci Pozzan e Carolina Schäffer.
Foto da capa: Formação de professores do Geração +Floresta ©️ Thamara Santos de Almeida

MMA retoma agenda de criação de Unidades de Conservação

MMA retoma agenda de criação de Unidades de Conservação

MMA retoma agenda de criação de Unidades de Conservação

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), promoveram uma oficina de trabalho no final de janeiro para discutir e definir prioridades de criação de Unidades de Conservação (UCs) no Brasil.

Com aproximadamente 150 participantes governamentais e representantes da sociedade civil de todos os biomas, o evento ocorreu em Brasília (DF) no período de 29 de janeiro a 02 de fevereiro. O encontro marcou a retomada da atribuição do Estado brasileiro constante no art. 225 da Constituição Federal, que determina que o Poder Público deve definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Atribuição essa que ficou paralisada pela “passagem da boiada” promovida pelo governo Bolsonaro.

As propostas de criação de novas Unidades de Conservação foram priorizadas com base no Mapa de Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade, instrumento de política pública que visa subsidiar a tomada de decisão, de forma objetiva e participativa, sobre planejamento e implementação de medidas adequadas à conservação, à recuperação e ao uso sustentável de ecossistemas. Também foram considerados os compromissos do Plano de Ação para Prevenção e Controle ao Desmatamento na Amazônia (PPCDAm) e do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Bioma Cerrado (PPCerrado). Além dos compromissos internacionais, notadamente o Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal, de 2022. Ele determina que os países signatários devem proteger pelo menos 30% de suas áreas terrestres, seus ambientes aquáticos continentais e da sua zona costeira-marinha até 2030, considerando critérios tais como representatividade ecológica, conectividade, efetividade e governança. 

Atualmente o Brasil conta 28,41% do bioma Amazônico protegido por Unidades de Conservação, seguido pela Mata Atlântica com 10,38%, a Caatinga com 9,16% e o Cerrado com 8,62%. O Pantanal e o Pampa são os biomas menos protegidos, com 4,68% e 2,95% respectivamente. Com isso, a área continental do Brasil está 18,50% protegida e a Zona Econômica Exclusiva Marinha Brasileira, 26,31%.

Os participantes da oficina analisaram 215 processos administrativos que tramitam no ICMBio e que têm por objeto a proposição de criação e/ou ampliação das UCs a serem instituídas pela União. Desse total, mais de 100 áreas foram elencadas como prioridade máxima e imediata para finalizar os processos e criar ou ampliar UCs.

A Oficina teve os seguintes objetivos:  
  1. Qualificar as propostas de criação e/ou ampliação de UCs em trâmite no ICMBio, considerando critérios reconhecidamente importantes, tais como a representatividade e a conectividade ecológica, a vulnerabilidade às atividades humanas, mitigação e adaptação à mudança climática, a proteção de serviços ecossistêmicos, participação social e governança; 
  2. Qualificar as propostas de criação e/ou ampliação das UCs do ponto de vista da garantia do direito territorial de populações tradicionais extrativistas e de suas demandas de uso sustentável dos recursos naturais; 
  3. Identificar oportunidades sociopolíticas para a criação e/ou ampliação das UCs em regiões de alta diversidade ambiental e cultural; 
  4. Identificar unidades de paisagens e áreas com potencial para o estabelecimento de corredores ecológicos e mosaicos de áreas protegidas e conservadas.

Wigold Schaffer, co-fundador da Apremavi e participante do evento, destacou: “A oficina permitiu a rearticulação da sociedade civil e isso vai ser importante para aumentar a pressão sobre o poder público. Outro destaque é a retomada de processos de criação de novas UCs na Mata Atlântica do Paraná e Santa Catarina e também no bioma Pampa no Rio Grande do Sul, que se encontravam paralisados.”

Os trabalhos da Oficina foram divididos em grupos por bioma (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal) e zona costeira e marinha (ZCM), retomando um processo de colaboração entre o ICMBio e MMA com as organizações da sociedade civil e representantes da academia. Segundo Wigold, essa participação vai permitir a qualificação das propostas de ampliação ou criação de novas UCs, bem como a agilização dos processos, através da descentralização da execução das atividades, com base nas atribuições específicas e tarefas combinadas no grupo. 

Como resultado das discussões foi proposta a criação de Grupos de Trabalho específicos para cada bioma e também para a zona costeira e marinha, buscando  agilizar os procedimentos para qualificar e finalizar as propostas. João Paulo Capobianco,  Secretário Executivo do MMA,  destacou a importância da oficina e disse que está otimista em relação aos resultados. Capobianco indicou que o Brasil terá uma grande oportunidade de avançar com a agenda da conservação em todos os biomas, visto que o governo do presidente Lula tem a agenda ambiental como prioridade e também em razão da realização da COP 30 em Belém do Pará no próximo ano.  O presidente do ICMBio, Mauro Pires, destacou a importância da participação da sociedade na definição das prioridades de conservação.

Registros da Oficina de trabalho “Critérios e priorização para a criação de Unidades de Conservação Federais.” Foto: Wigold Schäffer

Registros da Oficina de trabalho “Critérios e priorização para a criação de Unidades de Conservação Federais.” Fotos: Wigold Schäffer

Autor: Wigold Schäffer
Revisão: Thamara Santos de Almeida e Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: ©️ Wigold Schäffer

A importância da diversidade de espécies na restauração

A importância da diversidade de espécies na restauração

A importância da diversidade de espécies na restauração

Carta publicada por pesquisadores brasileiros na Science chama atenção para a necessidade de heterogeneidade de espécies na restauração, que deve ser próxima ao ambiente nativo.

Intitulada “Aim for heterogeneous biodiversity restoration” (em português: “mirar a restauração heterogênea da biodiversidade”) a carta publicada no dia 25 de janeiro por 17 pesquisadores brasileiros da área da biodiversidade, chama a atenção para a heterogeneidade de espécies do ecossistema de referência que deve guiar a seleção de espécies na restauração.

A preocupação trazida tem como foco dois tratados de restauração na região tropical: o programa Arco de Restauração na Amazônia, lançado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) em 2023, que lançou o compromisso de restaurar 6 milhões de hectares até 2030; e o Tratado da Mata Atlântica, lançado em outubro de 2023, que promete restaurar 54 mil hectares até 2026. 

Apesar dos tratados serem ambiciosos, os autores chamam a atenção para o desafio de ter heterogeneidade nesses ecossistemas tropicais, e que comunidades e habitats homogêneos não cumprem o propósito da restauração. Os grandes programas exigem cadeias de abastecimento de sementes e sólido conhecimento científico sobre as espécies: “Para ter sucesso, a restauração em grande escala requer o desenvolvimento de políticas nacionais e regionais que promovam o fornecimento de conjuntos consideráveis de espécies responsáveis pela diversidade local e regional”, comentam os autores no artigo.

Além da diversidade, é chamada a atenção para a conservação, além da restauração: “É essencial proteger os remanescentes naturais que servem como fontes de propágulos e referências para a restauração. Os ecossistemas remanescentes também contribuem para a conectividade ecológica, permitindo e acelerando a colonização natural.”

 

Apremavi em busca da diversidade 

A Apremavi promove a restauração de ecossistemas há mais de 35 anos. O Viveiro Jardim das Florestas, é um dos maiores viveiro de mudas nativas da região sul do Brasil. Em 2023, foram produzidas mais de 630 mil mudas de 115 espécies e coletadas sementes de 172 espécies.

Além da diversidade de espécies que é buscada na produção do Viveiro, a Apremavi está apoiando o estabelecimento de uma rede de sementes na região Sul do Brasil. Desde junho de 2023 estão ocorrendo mobilizações e capacitações de agricultores familiares de Abelardo Luz (SC) para a coleta e beneficiamento de sementes florestais nativas. Além de propiciar o desenvolvimento de mudas para a restauração levando em conta os ecossistemas de referência, a iniciativa propicia a variabilidade genética das espécies locais e valoriza o conhecimento da comunidade sobre as espécies nativas. A rede também permitirá a remuneração pelas sementes coletadas como forma de complemento na renda dos coletores.

 

Centro de Conhecimento em Biodiversidade

A publicação é fruto do Centro de Conhecimento em Biodiversidade, que reúne núcleos de pesquisa dedicados aos seis biomas brasileiros com o que há de mais moderno em pesquisa sobre sustentabilidade e ecologia para apresentar ao Brasil e ao mundo.

A produção científica se transforma em estratégia para orientar empresas, gestores públicos e iniciativas em soluções ambientais.

> Saiba mais 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: sementes diversas sendo preparadas no Viveiro Jardim das Florestas da Apremavi. ©️ Vitor Lauro Zanelatto

Apremavi encerra 2023 com encontro de equipe em Atalanta (SC)

Apremavi encerra 2023 com encontro de equipe em Atalanta (SC)

Apremavi encerra 2023 com encontro de equipe em Atalanta (SC)

Entre os dias 13 a 15 de dezembro a equipe da Apremavi esteve reunida no Centro Ambiental em Atalanta (SC) para o encontro de encerramento do ano

O objetivo foi compartilhar os destaques, indicadores, desafios e avanços dos projetos e áreas temáticas da instituição e também usufruir de momentos de interação e descontração. O ano foi intenso, marcado pela dedicação e comprometimento de cada membro em prol da restauração e conservação da Mata Atlântica.

No primeiro dia, as equipes técnicas dos projetos e do Viveiro Jardim das Florestas se reuniram para discutir os principais desafios, formas de superá-los, bem como avaliar convergências entre projetos e prospectar ações inovadoras para o próximo ano.

Abertura do encontro de encerramento de 2023. Foto: Thamara Santos de Almeida

Início do encontro de encerramento e discussões sobre os projetos desenvolvidos pela Apremavi. Fotos: Thamara Santos de Almeida

Também houveram discussões sobre o monitoramento da restauração desenvolvido nos projetos. Elas foram estimuladas pela explanação da Esther Maciel, Engenheira Florestal e estagiária da Klabin, que apresentou os resultados parciais da pesquisa, fruto do seu estágio. Esther testou em campo as diferenças entre o “Protocolo de Monitoramento para Programas e Projetos de Restauração Florestal” do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e a Portaria do Instituto Água e Terra (IAT) n°170/2020, que “estabelece os procedimentos para elaboração, análise, aprovação e acompanhamento da execução de projetos de recuperação de áreas degradadas ou alteradas (PRADA)”.

Além disso, foi apresentada a nova versão do Portal Ambiental da Apremavi, uma plataforma online de dados geográficos desenvolvida com uso de sensoriamento remoto, imagens de satélite e drones, entre outros meios, para mensurar os avanços e a efetividade da restauração nas paisagens e os resultados dos projetos executados.

O Portal Ambiental permite que os parceiros, apoiadores e equipe da Apremavi acessem dados como: nome do projeto, metodologia de restauração escolhida, informações sobre quantidades e espécies de mudas utilizadas nos plantios, dados geográficos e limite das áreas, mapas e esboços das propriedades e fotos das diferentes etapas da execução dos projetos. Atualmente, o Portal está passando por um processo de atualização e está com previsão de disponibilidade para o público em geral no ano que vem.

 

Apresentação do Portal Ambiental da Apremavi realizada por Edinho Schäffer, presidente da instituição. Foto: Wigold Schäffer

Apresentação do Portal Ambiental da Apremavi realizada por Edinho Schäffer, presidente da instituição. Foto: Wigold Schäffer

Já no segundo dia, todos os projetos e áreas temáticas da Apremavi apresentaram o organograma do projeto, os indicadores de 2023 e os principais destaques do ano relacionando-os aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Também foi realizada uma conversa sobre a conjuntura política relacionada ao meio ambiente no contexto brasileiro e mundial.

 

Apresentação dos indicadores e ações realizadas pelos projetos e áreas temáticas. Foto: Wigold Schäffer

Apresentação dos indicadores e ações realizadas pelos projetos e áreas temáticas e conversa sobre conjuntura política. Fotos: Thamara Santos de Almeida e Wigold Schäffer

O encontro finalizou com um dia de interação da equipe em uma Unidade de Conservação. Para isso, foi realizada uma visita ao Centro de Visitantes e Trilha Ecológica do Parque Estadual do Rio Canoas, localizado em Campos Novos (SC).

Equipe reunida no Parque Estadual do Rio Canoas, localizado em Campos Novos (SC).<br />

Equipe reunida no Parque Estadual do Rio Canoas, localizado em Campos Novos (SC). Foto: Carolina Schäffer.

Rumo a 2024

Que esta temporada seja repleta de alegria, amor, descanso, harmonia e a consciência de que cada esforço contribui para um mundo mais sustentável. Que o novo ano nos traga energias renovadas e muitas conquistas em nossa missão comum.

Boas festas! Seguimos juntos protegendo a vida em 2024.

 

Autores: Thamara Santos de Almeida, Vitor Lauro Zanelatto e Carolina Schäffer.
Foto de capa: equipe da Apremavi de 2023 reunida no Centro Ambiental em Atalanta (SC)

COP28 inicia a abordagem da principal causa das mudanças climáticas, porém com medidas insuficientes

COP28 inicia a abordagem da principal causa das mudanças climáticas, porém com medidas insuficientes

COP28 inicia a abordagem da principal causa das mudanças climáticas, porém com medidas insuficientes

Em tempos de crise climática, mais uma Conferência das Partes foi finalizada, com avanços na eliminação da principal causa das mudanças climáticas, mas ainda insuficientes. A Apremavi entrevistou uma das brasileiras que participou do evento para saber mais, confira.

A COP28 finalizou com a problemática dos combustíveis fósseis sendo encarada pela primeira vez desde 1994, quando a Convenção do Clima da ONU entrou em vigor. Os países participantes concordaram em realizar uma transição energética com uma redução gradual no uso de combustíveis fósseis. Também foram aprovados o Fundo de Perdas e Danos e o Objetivo Global de Adaptação, para tratar dos impactos da mudança do clima.

Contudo, os países optaram por não assumir um compromisso total com a eliminação completa desses combustíveis. A mensagem transmitida pela cúpula é encorajadora, representando a primeira vez que um acordo global aborda, mesmo que de forma superficial, a questão dos combustíveis fósseis. Esse movimento estabelece as bases para o desenvolvimento de ações setoriais ao longo do tempo. No entanto, de acordo com a comunidade científica, essa iniciativa não atende plenamente às exigências para limitar o aquecimento global a 1,5ºC, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris.

“Os países agora precisam decidir que verdade irá prevalecer: a do texto da COP ou a dos seus planos de explorar cada vez mais petróleo, carvão e gás”, comenta Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima

Para saber um pouco mais sobre os bastidores e sobre como foi essa COP a equipe da Apremavi entrevistou Cândida Schaedler, jovem brasileira, jornalista e voluntária da EmpoderaClima, que participou do evento, confira:

Cândida Schaedler na COP28.

Cândida Schaedler, jornalista e voluntária da EmpoderaClima, na COP28.

Como foi participar da tua primeira COP?

Foi uma experiência gigantesca, em muitos níveis. A COP tem uma dimensão enorme, porque decisões super importantes são tomadas a toda hora. Então, é uma mistura de sensações – que vai desde a gente se sentir muito pequeno e insignificante diante daquilo tudo, quanto a gente entender que faz, sim, diferença estar lá, sobretudo representando a sociedade civil brasileira. Nunca tinha estado num local em que o networking atingiu aquele nível. Participei de uma reunião da sociedade civil com a Marina Silva (Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima), conheci pessoalmente colegas com quem trabalho online há quase dois anos e do nada via passar do meu lado pessoas com atuação de alto nível, tipo Sonia Guajajara e Vanessa Nakate. Foi surreal. Boa parte da delegação da EmpoderaClima, da qual faço parte, também estava com a credencial do governo brasileiro, chamada de Party Overflow, então pude acompanhar até algumas negociações entre países – o que é incrível, porque apesar de ser uma discussão muito técnica em relação a metas, responsabilidades e nomenclaturas, é um aprendizado imensurável ver algo histórico se desenrolar à tua frente. Enfim, ir à COP é uma experiência transformadora, que confirmou a minha percepção de que o tema das mudanças climáticas virou, para o bem e para o mal, mainstream. Também reforçou a certeza de que somente com ações coletivas, em rede, integradas e sistêmicas que a gente vai conseguir endereçar esse desafio.

 

Na sua opinião, qual a importância dessas conferências?

A COP é fundamental no estabelecimento de uma governança global que olhe para a questão das mudanças climáticas como algo que tem responsabilidades e danos que não são compartilhados de maneira equitativa pelos países do Norte e do Sul Global. É muito potente ver os países signatários do sistema ONU sentados em volta de uma mesa de negociação discutindo como vão fazer para endereçar esse problema a partir do que foi firmado no Acordo de Paris, em 2015. A diplomacia é fundamental nessa construção, porque é dali que surgem compromissos compartilhados pelas nações. Se a mudança climática é global, a gente precisa de uma governança global para lidar com ela – não tem como fugir disso. No momento em que um país, que pode estar do outro lado do mundo, continua emitindo gases de efeito estufa, todos os outros países também sofrem as consequências. Estamos interconectados – e é preciso resolver as coisas assim. Portanto, vejo que a COP é esse espaço de discussão, advocacy, negociação, mas também de protesto, formação de redes e de parcerias em nível global. É claro que a ação que faz a diferença na ponta é, depois, levada às esferas nacional, estadual e local – mas uma coisa não exclui a outra.

 

Quais os principais avanços e lacunas dessa COP?

Essa COP foi histórica em muitos sentidos, mas não teve resultados unânimes. O Balanço Global (documento final que é divulgado com os resultados das negociações) firmou, pela primeira vez, uma transição para fora dos combustíveis fósseis (transition out), com prazo até 2050. Embora isso seja histórico – pela primeira vez os países falaram de parar de explorar combustíveis que enriqueceram e ainda enriquecem nações -, o resultado foi insuficiente por conta do prazo. Isso porque até 2050 não vai dar tempo de manter a meta de aquecimento médio global em 1,5 °C, como proposto no Acordo de Paris. 

Os ativistas estavam pedindo por “phase out”, ou seja, pela interrupção total e imediata da produção e exploração desses combustíveis, nos quais se incluem petróleo, carvão mineral e gás natural, grandes emissores de gases de efeito estufa. Ainda assim, também não se estabeleceu de que forma essa transição vai ocorrer, quais serão os mecanismos de financiamento, as responsabilidades compartilhadas (é o Norte Global que tem que puxar a frente, a própria Marina Silva falou isso)… Enfim, ficaram lacunas que serão discutidas novamente só em 2024, nas reuniões do SBs (Subsidiary Bodies), em Bonn, na Alemanha, e depois na COP29, que vai ser realizada no Azerbaijão (outro país petroleiro). A questão é que a janela para frear o aquecimento em 1,5 °C está se fechando, e as medidas apresentadas ainda não são suficientes para atingir essa meta.

Outro marco da COP28 foi o lançamento do fundo global de Perdas e Danos, algo muito esperado desde a COP anterior, no Egito. Esse fundo recebeu doações voluntárias de países como Japão, Emirados Árabes Unidos e Alemanha, somando US$ 420 milhões. Ele ficará hospedado no Banco Mundial e servirá para compensar as nações mais vulneráveis pelas perdas sofridas por conta das mudanças climáticas. Então é fundamental ficar atento a isso, porque no contexto do que vivemos no Brasil, com secas e enxurradas cada vez mais comuns, é uma fonte de financiamento possível para implementação de medidas de adaptação às comunidades afetadas.

Além disso, também acompanhei as questões de discussões relativas a sistemas alimentares e a gênero, pela EmpoderaClima – ambos os temas com poucos avanços substanciais.

 

Quais são os próximos passos?

Continuar cobrando ações, em todas as esferas – nacional, estadual e municipal. O que é decidido na COP fala de uma governança global que deve ser adotada em outros níveis, iniciando pela implementação de ações nacionais. Nesse sentido, é preciso continuar atuando em rede para que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas, para acessar o financiamento para adaptação, para implementar as medidas de mitigação e para que isso tudo seja feito de forma justa, com justiça climática – ou seja, entendendo que precisamos sempre pensar nas pessoas mais vulneráveis. Justiça climática é justiça social, então é sempre com isso em mente que a gente se movimenta. Na EmpoderaClima, por exemplo, nosso advocacy vai na linha de falar sobre equidade de gênero, pois meninas e jovens mulheres precisam ter acesso à educação e a oportunidades para liderar transformações na criação de um mundo sustentável e justo para todas as pessoas.

 

O que as pessoas podem fazer para contribuir no enfrentamento da emergência climática?

Essa é a pergunta de milhões, a mais importante que cada pessoa pode se fazer neste momento. Sou defensora de ações coletivas e políticas, porque é em rede e em comunidade que a gente ganha força. Claro que as ações individuais não podem nem devem ser menosprezadas – a regeneração começa no nível individual, com mudança de hábitos, autoconhecimento e reconexão com a natureza. No entanto, se engajar em coletivos, ONGs, movimentos, redes, coalizões, qualquer coisa nesse sentido tem uma força gigante. Diria para cada um ver o que move a si mesmo, o tema que tem como causa, e se engajar em torno dele com outras pessoas. Hoje, já vejo que não há mais tema que não seja perpassado pelas mudanças climáticas. Ele é, por si mesmo, transversal – tange gênero, alimentação, mobilidade, segurança pública, saneamento, moradia, cultura, educação etc. Tudo é clima, a gente precisa ter isso em mente e trabalhar com o que nos move.

 

Conte um pouco sobre você, seu trabalho e a organização que você representou na COP:

Sou jornalista, mestra em Comunicação, especialista em Relações Internacionais e defensora da reconexão das pessoas à natureza como a maior solução para a crise do clima. Fui à COP como parte da EmpoderaClima, organização na qual atuo como voluntária há quase dois anos. Na Empodera, sou atualmente assessora de imprensa e liderei a estratégia da organização como co-anfitriã jovem do Pavilhão de Sistemas Alimentares da COP28, onde pudemos trazer a discussão da equidade de gênero para dentro desse debate, pensando na educação de meninas e na representatividade feminina na agricultura, por exemplo. No Pavilhão, fomos selecionados ao lado de 12 organizações do mundo todo – e a única iniciativa brasileira. Nesta COP – que foi a quarta em que a Empodera participou -, estivemos com sete delegadas presentes.

A EmpoderaClima foi fundada em 2019, é liderada por jovens e tem o objetivo de trazer mais consciência sobre a desproporcionalidade dos efeitos das mudanças do clima sobre mulheres. Por isso, a organização atua para proporcionar acesso à educação climática a meninas e jovens mulheres por meio de uma base de dados multilíngue e por meio de projetos de educação climática com foco no Sul Global, intervenções de alto nível em eventos e advocacy em parceria com diversas instituições do mundo todo. Temos parcerias com instituições como UNGEI (Iniciativa da ONU para Educação de Meninas), Fundo Malala, Plan International, Global Landscapes Forum e Instituto Marielle Franco, por exemplo. 

 

Autora: Thamara Santos de Almeida com informações do Observatório do Clima.
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de capa: Protesto de diversas ONGs durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas COP28 na Expo City Dubai em 11 de dezembro de 2023, em Dubai, Emirados Árabes Unidos ©️ COP28/Stuart Wilson

Conservador das Araucárias avança no monitoramento da área piloto

Conservador das Araucárias avança no monitoramento da área piloto

Conservador das Araucárias avança no monitoramento da área piloto

A primeira propriedade atendida e escolhida como área piloto pelo projeto Conservador das Araucárias é a Fazenda Santa Bárbara, localizada em Urubici na divisa com o Parque Nacional de São Joaquim, área de abrangência da Floresta com Araucárias. Ao todo, a propriedade possui 155 hectares, dos quais 52% eram cobertos por pastagens e usadas pelo gado até recentemente, segundo o proprietário.

As atividades de restauração foram iniciadas em fevereiro de 2022 e finalizadas em agosto de 2022. No total, foram restaurados 87,16 hectares usando diferentes metodologias, como o plantio de mudas em área total (28,49 hectares), o enriquecimento ecológico de florestas secundárias (9,23 hectares) e a condução da regeneração natural (49,44 hectares).

As primeiras vistorias na área piloto foram realizadas entre agosto e dezembro de 2022, ainda durante o período de implantação das atividades. Em 2023, três novas vistorias foram realizadas nos meses de janeiro, agosto e outubro para avaliar o status de crescimento das mudas, a ocorrência de perturbações, como formigas e matocompetição, a necessidade de cuidados específicos, como hidratação, e avaliação sobre manutenção da área do plantio, com roçadas e eventuais replantios de mudas mortas.

Vistoria do estágio de crescimento das árvores plantadas pelo projeto Conservador das Araucárias realizada no dia 27 de janeiro de 2023. Foto: Carolina Schäffer.

Vistoria do estágio de crescimento das árvores plantadas realizada no dia 27 de janeiro de 2023. Fotos: Carolina Schäffer.

Monitoramento da restauração

O monitoramento é uma fase crucial na restauração ecológica pois possibilita a avaliação da eficácia da abordagem empregada e a verificação se a área em processo de restauração está progredindo conforme a trajetória ecológica desejada. Por meio dele, é possível identificar a necessidade de intervenções corretivas, prevenindo a alocação desnecessária de recursos e tempo. 

Entre os dias 06 e 08 de novembro foi conduzida a primeira etapa do processo de monitoramento da restauração da área piloto com base no Protocolo de Monitoramento da Apremavi. A área analisada está na fase I da restauração, considerada como de implantação, e o monitoramento foi feito nas áreas restauradas com diferentes metodologias: plantio de mudas, enriquecimento ecológico e condução da regeneração natural.

Nessa fase, o monitoramento compreende a verificação de indicadores como a presença de cerca, ocorrência de perturbações, mortalidade das mudas plantadas, ataque de formigas e outros herbívoros, presença de espécies arbustivas e arbóreas invasoras, matocompetição por gramíneas e herbáceas invasoras e presença de fauna. Esses indicadores, são observados a partir de caminhamento na área e, a depender da metodologia utilizada, da instalação de parcelas para cálculo de mortalidade.

A partir da avaliação dos indicadores, as áreas restauradas podem ser classificadas como “em adequação”, “satisfatória” ou “adequada”. Nesta fase do monitoramento, todas as áreas analisadas apresentaram o conceito “satisfatório” como resultado.

Mudas sobreviventes registradas durante a aplicação do protocolo de monitoramento da restauração na área de 28,49 hectares onde foi realizado o plantio de mudas. Foto: Weliton Oliveira

1 e 2: Mudas sobreviventes registradas durante a aplicação do protocolo de monitoramento da restauração na área de 28,49 hectares onde foi realizado o plantio de mudas em 3 e 4: na área de 9,23 hectares de enriquecimento ecológico; 5: Aspecto geral da área em regeneração natural registrada durante a aplicação do protocolo de monitoramento da restauração. Fotos: Weliton Oliveira e Vitor Lauro Zanelatto

Mensuração da linha de base do carbono

No mesmo período do monitoramento, foi conduzida a primeira verificação da linha de base do carbono. A estimativa de linha de base de carbono (do inglês baseline) em um projeto de restauração refere-se à análise inicial do estoque de carbono na área do projeto antes do início das ações de restauração. A importância da linha de base de carbono reside na sua capacidade de fornecer uma referência sólida para avaliar o impacto real das atividades do projeto, contribuindo para avaliação da sua eficácia na redução das emissões de dióxido de carbono da atmosfera.

Através da instalação de 32 parcelas aleatórias de 10×30, foram quantificadas e identificadas as espécies vegetais e mensurados parâmetros de altura e diâmetro à altura do peito (DAP). Os dados estão sendo analisados pela equipe técnica a fim de verificar a suficiência amostral e planejar os próximos passos.

“O objetivo dessa mensuração é ter uma base para poder comparar ao longo dos anos qual é o incremento de carbono nas áreas a partir das atividades do projeto, pois além de restaurar áreas degradadas e conservar a biodiversidade e os recursos hídricos, esperamos que, ao longo do tempo, essas áreas tenham grande potencial para capturar carbono”, comenta Gabriela Goebel, Técnica Ambiental da Apremavi que faz parte da equipe do projeto.

Levantamento da linha de base de carbono realizado pela equipe técnica da Apremavi. Foto: Vitor Lauro Zanelatto

Levantamento da linha de base de carbono realizado pela equipe técnica da Apremavi: definição das parcelas, mensuração da altura e do DAP das árvores, busca pelas áreas e estabelecimento de parcelas. Fotos: Carolina Schäffer, Vitor Lauro Zanelatto, Thamara Santos de Almeida e Gabriela Goebel

O Conservador das Araucárias

O Conservador das Araucárias é um projeto que visa a restauração florestal trazendo um modelo inovador focado na recuperação de áreas degradadas por meio do plantio de espécies nativas, com benefícios para as comunidades locais, fauna e flora da Mata Atlântica e sequestro de carbono.

Desenvolvido em parceria com a Tetra Pak, o projeto tem a ambição de restaurar pelo menos 7 mil hectares da Mata Atlântica em um período de dez anos – o equivalente a 9.800 campos de futebol.

O projeto conta com o acompanhamento da Conservation International (CI), da The Nature Conservancy Brasil (TNC) e da Klabin, fornecedora de matéria prima da Tetra Pak e parceira de longa data da Apremavi nos Programas Matas Legais e Matas Sociais.

 

Referências:

Nova metodologia da Verra (VM 00047) para projetos atividades de projetos de restauração, reflorestamento e revegetação

Protocolo de Monitoramento Para Programas e Projetos de Restauração Florestal do Pacto Pela Restauração da Mata Atlântica

 

Autoras: Carolina Schäffer e Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: equipe em busca das parcelas na Fazenda Santa Bárbara em Urubici (SC) para o levantamento da linha de base do carbono. ©️  Thamara Santos de Almeida

Desmatamento cai na Mata Atlântica nos primeiros meses de 2023

Desmatamento cai na Mata Atlântica nos primeiros meses de 2023

Desmatamento cai na Mata Atlântica nos primeiros meses de 2023

O boletim publicado recentemente pelo Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica demonstrou uma redução no desmatamento nos oito primeiros meses de 2023 em comparação com o mesmo período de 2022.

Entre janeiro e agosto de 2022 foram desmatados 22.240 hectares, já no mesmo período em 2023 foram desmatados 9.216 hectares, totalizando uma redução de 59% de áreas desmatadas. O número de eventos também reduziu, no ano passado foram 5.347, já neste ano foram 2.827, significando uma redução de 47%. Assim como, o tamanho das áreas desmatadas, que em 2022 era, em média,  4,2 ha, já em 2023 foi de 3,3 ha.

Total de eventos, área desmatada e área média dos desmatamentos para o mesmo período do ano de 2022 e 2023 para a Mata Atlântica. Fonte: Dados do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica.

Total de eventos, área desmatada e área média dos desmatamentos para o mesmo período do ano de 2022 e 2023 para a Mata Atlântica. Fonte: Dados do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica.

Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica é importante pontuar que os dados levam em conta apenas os limites do bioma Mata Atlântica estabelecidos pelo IBGE em 2019. Na área de aplicação da Lei da Mata Atlântica, que inclui encraves na Caatinga e no Cerrado – e há somente dados parciais do sistema de alertas – a diminuição foi de 26%.

Santa Catarina foi um dos estados que teve a maior redução de desmatamento. Em 2023 foram registradas 600 ha desmatados, contra 1.828 ha em 2022. Também houve redução no número de eventos, 621 em 2022 e 367 em 2023, a área média dos desmatamentos também reduziu: 2,9 ha em 2022 e 1,6 ha em 2023. 

 

Área desmatada por Estado em 2022 e 2022. Fonte: Dados do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica
Total de eventos, área desmatada e área média dos desmatamentos para o mesmo período do ano de 2022 e 2023 para a Mata Atlântica. Abaixo, dados do estado de Santa Catarina. Fonte: Dados do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica.

Total de eventos, área desmatada e área média dos desmatamentos para o mesmo período do ano de 2022 e 2023 para a Mata Atlântica. Abaixo, dados do estado de Santa Catarina. Fonte: Dados do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica.

O que é o SAD

O Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica foi lançado em 2022 e é uma ferramenta capaz de identificar perdas de vegetação nativa a partir de 0,3 hectare. Ele usa imagens de satélite de alta resolução, e as informações são cruzadas com dados públicos e reunidas numa plataforma aberta e transparente. O principal objetivo é intensificar o monitoramento da cobertura florestal e contribuir para o fim do desmatamento na Mata Atlântica.

O SAD é resultado de uma parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica, a Arcplan e o MapBiomas, com apoio do Bradesco e da Fundação Hempel.

> Confira o relatório completo

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Urubici (SC), ©️ Carolina Schäffer.

Novos relatórios sobre lacunas climáticas são lançados pela ONU

Novos relatórios sobre lacunas climáticas são lançados pela ONU

Novos relatórios sobre lacunas climáticas são lançados pela ONU

Em sintonia com as negociações da COP28, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), lançou três relatórios sobre as lacunas climáticas a fim de gerar conhecimentos que orientem o enfrentamento da emergência climática.

Uma das etapas primordiais do combate à crise climática é o acesso a relatórios atualizados sobre o assunto. Os documentos lançados no mês passado fornecem uma visão abrangente, cientificamente embasada e internacionalmente consensual da crise climática, ajudando a orientar esforços globais sobre o tema.

Por essa razão, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) elabora regularmente duas avaliações cruciais no contexto climático: Lacuna de Adaptação e Lacuna de Emissões. Além disso, o PNUMA colabora com outros grupos na produção do terceiro relatório, conhecido como Lacuna de Produção.

Essas avaliações examinam o panorama climático, oferecendo aos responsáveis pela formulação de políticas um guia de ação. Eles costumam ser referenciados por líderes de nações e negociadores durante a Conferência das Partes da ONU. Este ano, ganham destaque na COP28, que ocorre em Dubai.

 

Lacuna de Adaptação

Lançado no dia 2/11, o relatório “Lacuna de Adaptação 2023: Subfinanciado. Mal preparado – Investimento e planejamento inadequados em adaptação climática deixam o mundo exposto” avalia o andamento da preparação mundial para os impactos das mudanças climáticas. A edição de 2023 constata que o progresso na adaptação climática é insuficiente e está diminuindo quando deveria estar aumentando para acompanhar os crescentes impactos das mudanças climáticas. 

A adaptação diz respeito às diversas modificações necessárias para o enfrentamento das mudanças climáticas e seus efeitos, como mudanças na infraestrutura, estilo de vida, mecanismos sociais e sistemas naturais. Assim, somente cortar emissões de gases de efeito estufa não basta, é preciso adaptar. A medida é de extrema importância, especialmente para os países e comunidades vulneráveis que já sofrem os efeitos de um clima em mudança. Consequentemente, os países necessitam de recursos financeiros para preparar suas sociedades para lidar com as consequências advindas do aumento das temperaturas e eventos climáticos mais extremos.

Para isso, o relatório comenta que as necessidades financeiras de adaptação dos países em desenvolvimento são de 10 a 18 vezes maiores do que os fluxos financeiros públicos internacionais. Como resultado da lentidão da mitigação e da adaptação, as perdas e os danos relacionados ao clima estão aumentando. Estima-se que nesta década os custos atualizados da adaptação para os países em desenvolvimento estejam em uma faixa de US$ 215 bilhões a US$ 387 bilhões por ano.

O investimento na adaptação climática leva a diminuição dos custos relacionados às consequências das mudanças climáticas. Estudos indicam que 1 bilhão investido em adaptação contra inundações costeiras leva a uma redução de US$ 14 bilhões em danos econômicos. “Estamos em uma emergência de adaptação. Devemos agir como tal. E tomar medidas para fechar essa lacuna, agora”, parte da Declaração do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, sobre o relatório.

 

Relatório Lacuna de Adaptação PNUMA 2023
Lacuna de Produção

O relatório sobre a Lacuna de Produção intitulado “Redução ou aumento gradual? Os principais produtores de combustíveis fósseis planejam ainda mais extração, apesar das promessas climáticas” avalia a disparidade entre a projeção de produção de combustíveis fósseis estabelecida pelos governos e os níveis de produção global que seriam condizentes com a restrição do aquecimento a 1,5°C ou 2°C relacionados ao Acordo de Paris.

A principal conclusão é que os 20 maiores produtores de combustíveis fósseis, como o Brasil, Alemanha, China, Índia, Estados Unidos, Emirados Árabes e Federação Russa planejam produzir cerca de 110% mais combustíveis fósseis em 2030 do que seria compatível com a limitação do aquecimento a 1,5°C, e 69% mais do que seria compatível com 2°C.

O relatório também chama a atenção para a necessidade de transparência desses governos e de eliminação ainda mais rápida de todos os combustíveis fósseis, onde cada país tem capacidade e responsabilidade diferenciada. Assim, governos com maior capacidade de transição devem ter reduções mais ambiciosas e ajudar a financiar os processos de transição justa em países de menor capacidade.

Como bem traz o glossário no início do relatório, transição justa se refere a uma mudança para uma economia de baixo carbono que garanta que as perturbações sejam minimizadas — e os benefícios maximizados — para os trabalhadores, comunidades, consumidores e outras partes interessadas que possam ser desproporcionalmente afetadas.

“Até a metade do século, precisamos ter relegado o carvão aos livros de história e reduzido a produção de petróleo e gás em pelo menos três quartos – bem no caminho para uma eliminação total dos fósseis. No entanto, apesar de suas promessas climáticas, os governos planejam investir ainda mais dinheiro em um setor sujo e moribundo, enquanto as oportunidades são abundantes em um setor de energia limpa em expansão.”, comenta Neil Grant, Analista de Clima e Energia do Climate Analytics, uma das organizações que elaborou o relatório.

 

Relatório Lacuna de Produção PNUMA 2023
Lacuna de Emissões

O último relatório da série, intitulado “Recorde Quebrado – Temperatura atinge novos máximos, mas o mundo não consegue reduzir as emissões (novamente)” avalia a lacuna entre o rumo que as emissões globais estão tomando com os compromissos atuais dos países e onde elas deveriam estar para limitar o aquecimento a 1,5°C.

O relatório conclui que as promessas do Acordo de Paris não foram suficientemente ambiciosas, já que o rumo atual das emissões está caminhando para um aumento de temperatura de 2,5 a 2,9°C. As emissões precisam ser reduzidas em 42% até 2030 para atingir a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.

É trazida à emergência mundial de aceleração de ações de baixo carbono. Assim como evidenciando o relatório da Lacuna de Produção, os países com maior capacidade e responsabilidade pelas emissões precisarão tomar medidas mais ambiciosas e apoiar as nações em desenvolvimento na busca pelo crescimento com baixas emissões.

(…) devemos deixar ambição e ação insuficientes, e começar a estabelecer outros recordes: no corte de emissões, em transições verdes e justas e no financiamento climático”, comenta Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA, na reportagem de lançamento do relatório.

Relatório Lacuna de Emissões PNUMA 2023
Sobre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) da ONU

É uma autoridade global que promove a agenda internacional do Meio Ambiente, buscando a implementação coerente da dimensão ambiental do desenvolvimento sustentável no Sistema das Nações Unidas e serve como defensor do meio ambiente no mundo. Foi criado em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, que ocorreu em Estocolmo, Suécia. 

Durante mais de 50 anos, tem trabalhado com governos, a sociedade civil, o setor privado e entidades da ONU para enfrentar os desafios ambientais da humanidade. Sua missão é prover liderança e encorajar parcerias na proteção do meio ambiente inspirando, informando e permitindo que países e pessoas melhorem sua qualidade de vida sem comprometer as futuras gerações.

> Saiba mais sobre o trabalho da organização

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Miriam Prochnow.

SEEG destaca retrocesso climático, mas aponta oportunidade de desmatamento zero até 2030

SEEG destaca retrocesso climático, mas aponta oportunidade de desmatamento zero até 2030

SEEG destaca retrocesso climático, mas aponta oportunidade de desmatamento zero até 2030

Os últimos quatro anos no Brasil deixaram um legado climático de retrocesso. Apenas se o Brasil realizar sua promessa de zerar o desmatamento até 2030 será possível cumprir as metas do país no Acordo de Paris.

No dia 23 de novembro foi lançada a nova coleção do SEEG, o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima. A 11ª edição do relatório evidencia que em 2022 o Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa, o que representa uma queda de 8% nas emissões brutas em relação a 2021, quando a emissão bruta foi de 2,5 bilhões de toneladas.

Apesar disso, essa quantidade foi a terceira maior desde 2005, ficando atrás dos demais anos (2019 e 2021) do governo Bolsonaro. O relatório mediu nesta edição o legado climático catastrófico e de retrocesso deste governo, onde o país emitiu 9,4 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa no período, retornando ao patamar de emissões de governos como o segundo de FHC, entre 1998 e 2002 (9,8 bilhões), anulando as conquistas da segunda passagem de Lula pelo Planalto, entre 2007 e 2010 (7,6 bilhões) e a primeira gestão de Dilma entre 2011 e 2014 (7,7 bilhões).

Emissões brutas por mandato presidencial entre os anos de 1991 a 2022. Créditos: SEEG do Observatório do Clima

Emissões brutas por mandato presidencial entre os anos de 1991 a 2022. Créditos: SEEG do Observatório do Clima

O SEEG estima emissões nos cinco setores que são fontes de gases de efeito estufa no Brasil – Agropecuária, Energia, Mudanças de Uso da Terra, Processos Industriais e Resíduos. A destruição dos biomas novamente é a responsável por esse grande número de emissões, principalmente o desmatamento na Amazônia, que sozinho responde por 36% das emissões brutas do país. Não fosse pelas mudanças de uso da terra, as emissões per capita brasileiras seriam de 5,9 toneladas, dentro da média mundial.

O relatório destaca que o Brasil precisa ampliar seus esforços para diminuir esse aumento das emissões ao longo dos últimos anos, cumprindo sua meta de redução de gases de efeito estufa no Acordo de Paris em 2025 (NDC). Para isso, será preciso reduzir o desmatamento em 49% na Amazônia entre 2022 e 2025, o equivalente à média dos anos de devastação mais baixa do país (2009 a 2012).

Confira a live de lançamento do relatório:

Em 2022, durante a COP27, Lula prometeu “não medir esforços para zerar o desmatamento e a degradação de nossos biomas até 2030”. Caso essa promessa seja cumprida, o país cumpriria com muita folga o acordo, o que mostra que ainda há muito espaço para aumento da ambição climática do país nos sete anos críticos para o atingimento do objetivo de estabilizar o aquecimento global em 1,5ºC. Para isso, é primordial que o governo continue e intensifique as ações de prevenção e controle do desmatamento enquanto implementa as medidas imediatas nos demais setores e elabora o planejamento e as ações preparatórias para mudanças estruturais neles, essenciais para colocar o país numa trajetória de emissões líquidas negativas em 2045.

O que os dados do SEEG mostram é que há muito espaço para aumento da ambição climática do Brasil. E, se o governo estiver falando sério sobre ser o grande defensor da meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5ºC acima da média pré-industrial, terá de aumentar a ambição da NDC atual já para 2030, como todos os grandes emissores precisam fazer”, disse David Tsai, coordenador do SEEG.

A plataforma ainda deverá disponibilizar nos próximos dias dados detalhados dos gases de efeito estufa no Brasil por setores, estados e municípios e por atividade econômica, bem como recursos como infográficos, soluções de mitigação por município e tabela de dados.

> Confira o relatório na íntegra 

11 edição do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa) do Observatório do Clima
O SEEG

O Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) é uma iniciativa do Observatório do Clima que realiza estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, disponibilizando esses dados em forma de documentos analíticos sobre a evolução das emissões e uma plataforma digital que abriga os dados do sistema e sua metodologia.

> Conheça a plataforma

Autora: Thamara Santos de Almeida com informações do Observatório do Clima.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Carolina Schäffer.
Foto de capa: Carolina Schäffer.

COP28: serão os acordos suficientes para salvar um planeta em ebulição?

COP28: serão os acordos suficientes para salvar um planeta em ebulição?

COP28: serão os acordos suficientes para salvar um planeta em ebulição?

Para salvar os ecossistemas terrestres e com eles a humanidade, a Conferência de Clima iniciada hoje precisa entregar resultados ambiciosos que cumpram a meta de impedir o aumento da temperatura global.

Começou hoje (30/11), em Dubai nos Emirados Árabes, a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28. COP significa “Conferência das Partes”, onde as “partes” são os países que assinaram o acordo climático original proposto pela Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) em 1992. 

COP são reuniões anuais de alto nível, nas quais os representantes dos países signatários avaliam o progresso dos compromissos firmados por cada país para o enfrentamento da crise climática e tomam decisões coletivas sobre medidas adicionais a serem tomadas para combater esse desafio global. Dentre os participantes estão delegações de países, organizações não governamentais, representantes da indústria, cientistas, ativistas climáticos, jornalistas e outros interessados.

A conferência mais conhecida é a COP21, realizada em Paris em 2015, onde foi adotado o Acordo de Paris. Este acordo estabelece metas e compromissos para limitar o aumento da temperatura global e lidar com os impactos das mudanças climáticas. Um dos principais objetivos do Acordo é impedir o aumento da temperatura global acima de 1.5°C ou mantê-lo bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais.

O Observatório do Clima e a La Clima elaboraram uma publicação que decifra as COPs e o Acordo de Paris.

> Confira a publicação

Acordo de Paris, publicação do Observatório do Clima
A COP 28

A COP28 acontece em um momento de ebulição global, onde o mundo todo já sente os efeitos da crise climática, através de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, chuvas intensas e enxurradas frequentes. Um dos principais objetivos do evento este ano é finalizar o Balanço Global do Acordo de Paris. 

Além disso, o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil elenca alguns outros pontos de discussão:

O Brasil, que volta este ano para a mesa de negociações oficiais, pretende apresentar bons resultados no combate ao desmatamento, a criação de um plano de transformação ecológica para o Brasil, a correção da meta climática do país e uma proposta de criação de um fundo global para proteção de florestas.

A publicação “Rumo à COP”, produzida pela La Clima, aborda os principais temas de negociação, fazendo também uma mini retrospectiva do que aconteceu na COP 27 e nas últimas rodadas de negociação. É um documento fundamental para entender o que vai ser discutido na conferência.

> Confira a publicação

Rumo à COP, publicação do La Clima
O que esperamos da COP

Todos os olhos estarão sobre o Brasil durante a COP28. É a primeira COP de Lula e o presidente chega a Dubai com uma série de trunfos: a queda de 22% no desmatamento na Amazônia, a correção da “pedalada” da NDC, a presidência do G20 e a sede da COP30.

Junto com o Observatório do Clima, a Apremavi espera que o Brasil aproveite esse capital político para exercer um papel de liderança em Dubai, sendo criativo e olhando para a frente. Com grandes emissores do mundo desenvolvido enfrentando dificuldades geopolíticas ou sem apetite para avançar, Lula e a diplomacia brasileira têm a oportunidade de fazer avançar acordos difíceis, como fizeram em momentos chave do processo, nas COPs de Durban, Lima e Paris, por exemplo.

Estes acordos difíceis, porém necessários, são a única alternativa para salvar os ecossistemas terrestres e com eles a humanidade; por isso a Conferência de Clima iniciada hoje precisa entregar resultados ambiciosos que sejam suficientes para além de cumprir metas, de fato impedir o aumento da temperatura global e frear os efeitos extremos que já são vividos em todo o Brasil, sobretudo pelas comunidades vulneráveis.

Veja o documento completo aqui.

 

Otimismo no primeiro dia do evento

No primeiro dia do evento foi registrado um progresso significativo em relação ao Fundo de Perdas e Danos, após entraves que perduraram ao longo de anos de negociações marcadas por resistência por parte dos países mais ricos. Apesar do apelo dos países em desenvolvimento para estabelecer um valor mínimo anual de US$100 bilhões para o fundo, essa cifra não foi explicitamente incorporada à decisão. As contribuições continuam a ser voluntárias, mas há uma convocação para que os países desenvolvidos ofereçam o suporte necessário ao fundo, enquanto os demais são incentivados a realizar contribuições.

Saiba mais no site do Observatório do Clima

 

Autora: Thamara Santos de Almeida e Carolina Schäffer.
Foto de capa: registro dos efeitos de mais uma enxurrada em Santa Catarina no dia 18 de novembro de 2023, por Carolina Schäffer.

Apremavi ministra ações de educação ambiental no Paraná

Apremavi ministra ações de educação ambiental no Paraná

Apremavi ministra ações de educação ambiental no Paraná

Nos dias 06 e 10 de outubro estudantes de três escolas dos municípios de Ventania e São Jerônimo da Serra (PR) receberam a visita do Programa Matas Legais, uma parceria da Klabin e da Apremavi, para ações de educação ambiental.

No total, cerca de 300 participantes estiveram presentes, entre eles alunos e professores do Centro de Municipal de Educação Infantil Raio de Sol, da Escola Rural Municipal Zacarias de Goes e Vasconcelos e do Colégio Estadual do Campo São Jorge. As atividades foram realizadas em sala de aula pela equipe técnica da Apremavi por meio de palestras. Durante a apresentação foram discutidos temas relacionados à necessidade da preservação e restauração da natureza para a obtenção de um meio ambiente equilibrado, bem como, resultados obtidos por meio da execução do Matas Legais nos municípios envolvidos.

Professores e alunos agradeceram a presença da equipe e comentaram que os assuntos abordados na palestra foram desenvolvidos durante a semana em que se comemora o dia da árvore, reforçando a importância de discussão de temas tão pertinentes. Ao final das atividades foram disponibilizadas mudas de espécies nativas da Mata Atlântica aos interessados.

“A Educação Ambiental é uma atividade essencial para formação de pessoas conscientizadas com a causa ambiental, através dela somos instigados a repensar nossas atitudes diante de tantas consequências climáticas que temos presenciado. Nossos agradecimentos aos docentes que nos deram a oportunidade de realizar estas atividades“, comenta Pedro Aurélio Ferreira, Técnico Ambiental da Apremavi, que ministrou a atividade nas escolas, sobre a importância das ações.

Ação de Educação Ambiental na Escola Rural Municipal Zacarias de Goes e Vasconcelos em Ventania (PR). Foto: Lucas Costa

Palestra realizada pela Apremavi na Escola Rural Municipal Zacarias de Goes em Ventania. Foto: Lucas Costa

O Programa Matas Legais

É uma iniciativa fruto da parceria entre a Klabin e a Apremavi que ocorre em Santa Catarina e no Paraná. O projeto desenvolve ações para o planejamento de propriedades e paisagens, estratégias de conservação e sustentabilidade para o fomento florestal, que ajudam a preservar e recuperar os remanescentes florestais nativos, e a melhorar a qualidade de vida da população.

A palavra legal procura traduzir dois sentidos: o de cumprimento da legislação ambiental e o de expressão de um lugar agradável, bonito e bom para viver.

> Conheça o Matas Legais

Essa ação está relacionada com os ODS:

 

Autor:  Pedro Aurélio Ferreira
Revisão: Thamara Santos de Almeida.
Foto da capa: Ação de educação ambiental ministrada na Escola Rural Municipal Zacarias de Goes em Ventania (PR). Foto: Lucas Costa.

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