Plano de Manejo: uma oportunidade de geração de conhecimento sobre a biodiversidade

Plano de Manejo: uma oportunidade de geração de conhecimento sobre a biodiversidade

Plano de Manejo: uma oportunidade de geração de conhecimento sobre a biodiversidade

Apesar do Brasil ser um dos países com maior biodiversidade no mundo, existem diversas lacunas de conhecimento e de geração de dados científicos. Dentro dessa perspectiva, é comum que os pesquisadores coletem dados em regiões que já foram amostradas anteriormente.

Um estudo publicado recentemente na revista Science of the Total Environment por 189 pesquisadores brasileiros compreender as lacunas de dados coletados ao longo de 20 anos no âmbito de programas de pesquisa sobre a biodiversidade: PPBio (Programa de Pesquisa em Biodiversidade) e PELD (Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração).

A pesquisa revelou uma distribuição desigual das pesquisas entre os biomas brasileiros, com a Caatinga e o Cerrado destacando-se como um dos mais subamostrados, embora nenhum bioma tenha sido suficientemente estudado. A maioria dos dados coletados foi sobre vertebrados, seguidos por plantas, invertebrados e fungos. Essa concentração em poucos grupos taxonômicos e áreas específicas reflete um viés geográfico e taxonômico na pesquisa, exacerbando as lacunas de conhecimento. Além disso, a baixa disponibilidade de dados para a comunidade científica limita a capacidade de tomada de decisão e a efetividade das políticas de conservação.

Uma possibilidade importante na geração de conhecimento sobre a biodiversidade brasileira é o desenvolvimento do Plano de Manejo em Unidades de Conservação. Uma das etapas da elaboração deste documento envolve o diagnóstico da biodiversidade presente naquela área protegida. Além disso, áreas sem Planos de Manejo são frequentemente negligenciadas, o que pode resultar em menor proteção para espécies ameaçadas. 

As UCs que contam com o documento podem ter até duas vezes mais espécies registradas. É o que aponta um estudo publicado por pesquisadores brasileiros na revista Biodiversity and Conservation. Essa produção de conhecimento ocorre justamente porque elas atraem mais estudos científicos e recursos financeiros, contribuindo para um conhecimento mais abrangente da biodiversidade.

A Apremavi em parceria com a The Vita Coco Company está concluindo o processo de revisão do Plano de Manejo do Parque Municipal da Mata Atlântica em Atalanta (SC). Uma das etapas foi justamente o diagnóstico da UC, onde foram conduzidos estudos sobre a biodiversidade do Parque com foco nos grupos de aves, mamíferos, plantas, anfíbios e répteis. Durante esse processo, registramos novas espécies ameaçadas para a região, além de outras espécies que ainda não tinham a ocorrência confirmada. Com a publicação do novo plano no próximo semestre, espera-se não apenas fortalecer a Unidade de Conservação, mas também oferecer contribuições para a geração de conhecimento sobre a biodiversidade brasileira, ajudando a preencher as lacunas de conhecimento que ainda persistem.

Os Planos de Manejo se destacam como uma ferramenta para superar as barreiras de conhecimento acerca da biodiversidade. Ao priorizar o desenvolvimento e a implementação deles, especialmente em regiões e biomas subamostrados, podemos contribuir significativamente para a conservação da biodiversidade e a criação de políticas públicas alinhadas à ciência.

 

Fontes consultadas:

Carrillo, A. C. (2013). Lições aprendidas sobre a etapa de planejamento em planos de manejo de UC.

Guimaraes, A. F., Querido, L. C. A., Rocha, T., Rodrigues, D. J., Viana, P. L., Bergallo, H. G., … & Dala-Corte, R. B. (2024). Disentangling the veil line for Brazilian biodiversity: An overview from two long-term research programs reveals huge gaps in ecological data reporting. Science of The Total Environment, 174880.

Santos, G. S., Moreira, D. O., Loss, A. C., & Garbin, M. L. (2024). Management plans bias the number of threatened species in protected areas: a study case with flora species in the Atlantic Forest. Biodiversity and Conservation, 33(2), 843-858.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

[Observatório do Código Florestal] Nota de Posicionamento sobre o Projeto de Lei nº 2.168/2021

[Observatório do Código Florestal] Nota de Posicionamento sobre o Projeto de Lei nº 2.168/2021

[Observatório do Código Florestal] Nota de Posicionamento sobre o Projeto de Lei nº 2.168/2021

É com grande preocupação que testemunhamos a aprovação do projeto de lei nº 2.168/2021 na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados no dia 14 de agosto de 2024.

O projeto propõe enquadrar obras de infraestrutura de irrigação e dessedentação animal como atividades de “utilidade pública”, classificação prevista pelo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) e que permite a retirada de vegetação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) nestes casos.

A medida simboliza um retrocesso significativo na proteção ambiental no Brasil ao facilitar o desmatamento em APPs e, assim, colocar sob ameaça a segurança hídrica, alimentar e a biodiversidade do País. Além disso, aumenta a vulnerabilidade do país a eventos climáticos extremos, cada ano mais comuns.

A lei de proteção da vegetação nativa, conhecida como Código Florestal, estabelece diretrizes claras para a conservação das Áreas de Preservação Permanente, áreas de importância crítica para a manutenção dos ecossistemas, controle de erosão, regulação do regime hídrico, e preservação da biodiversidade e o bem-estar das populações humanas.

Vale lembrar que as APPs são protegidas pela lei brasileira há cerca de cem anos, à época chamadas de “florestas protectoras” pelo Código Florestal de 1934.

Essa proteção garante a qualidade e a quantidade das águas que abastecem cidades e comunidades rurais, o que garante, inclusive, a sustentabilidade a médio e longo prazo da produtividade rural. Além disso, atua na mitigação, adaptação e resiliência climática dos territórios brasileiros. Tais evidências são exaustivamente comprovadas pelos estudos científicos e análises técnicas da sociedade civil organizada.

A proposta de considerar a infraestrutura de irrigação como de “utilidade pública” é absurda, pois essa categoria se refere, por exemplo, às atividades de segurança nacional, proteção sanitária e defesa civil. Além disso, prioriza interesses econômicos privados em detrimento do interesse público de um bem comum vital – a água.

Ao aprovar a medida, a comissão ignora a destruição e as vidas perdidas recentemente no Rio Grande do Sul, estado afligido por uma tragédia climática agravada também pela flexibilização da legislação ambiental estadual que inclusive contou com aprovação de uma lei estadual similar à aprovada pela Câmara dos Deputados ontem.

A comissão desconsidera também a crise hídrica na Amazônia, onde a redução do fluxo de água devido ao assoreamento dos rios tem comprometido o abastecimento de água para as populações, o que gera impactos negativos na pesca e na agricultura, além de agravar os efeitos das mudanças climáticas na região.

Rechaçamos, diante dos fatos expostos acima, a aprovação desta e de outras medidas que atacam o Código Florestal e, portanto, colocam sob risco o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento sustentável do País, urgente em tempos de crise climática.

> Confira a Nota completa

Observatório do Código Florestal

Rede de 45 entidades ligadas à questão ambiental criada com objetivo de monitorar a implementação da Lei Florestal, defender a vegetação e a produção sustentável no país na qual a Apremavi faz parte.

> Conheça o trabalho do OCF

Canela-fogo, espécie versátil para paisagismo, agroflorestas e restauração

Canela-fogo, espécie versátil para paisagismo, agroflorestas e restauração

Canela-fogo, espécie versátil para paisagismo, agroflorestas e restauração

A canela-fogo (Cryptocarya aschersoniana) é uma espécie que pode ser utilizada para fins paisagísticos, agroflorestas e na recuperação de ecossistemas degradados e alterados.

No Brasil, a espécie se distribui principalmente na Mata Atlântica, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo e Distrito Federal.

Em relação a sua ecologia, é uma espécie secundária tardia ou de clímax, tolerante à sombra. É muito encontrada no início de encostas em solos úmidos e no interior dos pinhais. É adaptada às diferentes condições edáficas das florestas primárias. As árvores maiores atingem dimensões próximas de 30m de altura.

No contexto da restauração é recomendada para plantios mistos e é considerada importante para a fauna, indicada para plantio em áreas degradadas destinadas à preservação permanente. Além disso, pode ser utilizada em Sistemas Agroflorestais (SAFs).

canela-fogo (Cryptocarya aschersoniana) Foto João Paulo de Maçaneiro

Detalhes dos frutos, folhas, sementes e árvore de canela-fogo (Cryptocarya aschersoniana). Fotos: João Paulo de Maçaneiro e Rodrigo Comunello para Flora Digital da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Canela-fogo

Nome científico: Cryptocarya aschersoniana Mez.
Família:  Lauraceae.
Utilização: Madeira utilizada para laminados, principalmente em Santa Catarina. É usada, também, em tabuados, vigamentos em geral e em mourões.
Coleta de sementes: deve ser feita quando o fruto passa da coloração verde para a amarela. Geralmente, os frutos da canela-fogo são coletados embaixo da árvore, onde são despolpados manualmente.
Fruto: núcula amarela de superfície lisa e consistência firme e endurecida.
Flor: esverdeadas.
Crescimento da muda: lacuna de dados.
Germinação: baixo.
Plantio: plantio misto em sistemas agroflorestais, em recuperação de áreas degradadas e alteradas além da restauração ambiental.
Status de conservação: Não listada – Portaria MMA 148/2022; LC – Menos preocupante (IUCN).

 

Fontes consultadas:

Carvalho, P. (2006). Canela-fogo: Cryptocarya aschersoniana.

Lauraceae in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 

 

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Flora Digital Universidade Federal de Santa Catarina.

Apremavi promove roteiro de educação ambiental no primeiro semestre escolar

Apremavi promove roteiro de educação ambiental no primeiro semestre escolar

Apremavi promove roteiro de educação ambiental no primeiro semestre escolar

Entre março e junho de 2024 uma série de atividades de educação ambiental foram conduzidas pela Apremavi através dos projetos Cuidando da Mata Atlântica e Matas Legais. 

No primeiro semestre de 2024, o Projeto Cuidando da Mata Atlântica, iniciativa da Apremavi com apoio da The Vita Coco Company, organizou 9 atividades voltadas para o público estudantil da rede municipal e estadual em Atalanta (SC), beneficiando  aproximadamente 60 alunos e professores. Para proporcionar aos estudantes o contato com o Parque Natural Municipal da Mata Atlântica (PNMMA), com olhar de pertencimento e responsabilidade pela conservação da biodiversidade do parque, foram realizadas palestras com auxílio de materiais audiovisuais e atividades lúdicas. Foram abordados temas como o que é uma Unidade de Conservação, histórico do PNMMA e as características e finalidades da área protegida para compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais. 

As atividades com turmas das segundas e terceiras séries dos anos iniciais da escola E.M.E.F. “Vila Gropp” e as segundas e terceiras séries do ensino médio da escola E.E.B. “Dr. Frederico Rolla”, contaram com o empenho dos alunos e professores parceiros durante a programação. As escolas desenvolveram em paralelo projetos complementares, somando às propostas do Projeto Cuidando da Mata Atlântica. Os estudantes também participaram de feiras municipais de matemática e ciências, expondo e compartilhando os conhecimentos.

Parcerias entre Organizações da Sociedade Civil e a comunidade escolar são estratégias essenciais na busca pela conscientização das pessoas por práticas ambientais e podem promover iniciativas inspiradoras, capazes de ajudar a construir um futuro sustentável no território. Para a professora Margaret Dalabeneta, “no projeto sobre Impactos Ambientais e Sustentabilidade que no primeiro semestre deste ano desenvolvi com os alunos da 2ª Série do Ensino Médio, todo esse trabalho educacional e ambiental que a Apremavi nos proporciona, fez com que o conhecimento se tornasse mais lúdico, prazeroso e empolgante. Nossos alunos presenciaram, visitaram e colocaram a mão na massa desenvolvendo ações que fazem a diferença no meio em que vivemos”.

Outros destaques desse ciclo de atividades foi o plantio de 200 mudas em uma área de preservação permanente com apoio das professoras Margaret Dalabeneta e Kátia Cristiani Nunes; a produção criativa de crachás com nomes de espécies florestais e a reprodução em desenho dos croquis das propriedades de cada aluno das turmas da professora Marizete Pezenti e Juraci Madalena, da escola E.M.E.F. “Vila Gropp”.

Ação de educação ambiental no primeiro trimestre do ano de 2024

Atividades de educação ambiental realizadas pela Apremavi no primeiro semestre do ano em parceria com a Klabin e The Vita Coco Company. Fotos: Daiana Barth e Leandro Casanova.

Para Filipe de Souza, aluno do terceiro ano da E.E.B. “Dr. Frederico Rolla, “a experiência de plantio de mudas é algo que muitos alunos nunca testemunharam e ajudaram, mas em um momento como aquele conseguimos ver que com o trabalho em equipe conseguimos fazer uma atividade que terá grande impacto e foi com certeza significante para todos”!

Com o Programa Matas Legais, parceria entre a Klabin e a Apremavi, foram realizadas sete palestras para estudantes de Santa Catarina. As atividades ocorreram na escola E.E.B. “Emiliano Ramos” no município de Capão Alto, na UFSC Curitibanos, com acadêmicos do curso de Engenharia Florestal, debatendo a atuação dos profissionais formados no curso em projetos de restauração florestal, além dos projetos desenvolvidos pela Apremavi. 

Em Agrolândia (SC), ações foram desenvolvidas no Centro de Educação São João e no Centro de Educação Rudolfo Theilacker. As atividades somaram 307 alunos do ensino médio e do primeiro ao quinto ano das séries iniciais. 

A professora Camila de Matos Vieira, graduada em Ciências Biológicas e docente na escola E.E.B. “Emiliano Ramos” comenta o saldo das ações: “Conheci a Daiana e Leandro em uma oficina na Klabin em 2017, e desde então mantemos uma parceria, pois acredito seja muito importante para o desenvolvimento e compreensão dos nossos educandos quando elencamos a metodologia aplicada em sala com palestra e diversidade. Gosto bastante pois a maneira que eles conversam, interagem com educandos é de maneira simples fazendo com que os alunos compreendam o assunto abordado, conscientizando o quão importante não desmatar e conservar a natureza, sempre tem doações de materiais didáticos e mudas das árvores nativas, o que frisa o tema abordado.”

Autoria: Daiana Tânia Barth.
Revisão: Vitor L. Zanelatto (Apremavi), Karoline Carneiro Barbosa (Klabin).

É preciso fazer mais para o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

É preciso fazer mais para o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

É preciso fazer mais para o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

“O tempo das palavras já passou. A declaração política dos ODS deve ser traduzida em ações. Ainda é possível criar um mundo melhor, mais sustentável e mais inclusivo para todos até 2030, mas o tempo está se esgotando, devemos agir agora e agir com ousadia.”

Li Junhua, subsecretário-geral dos Assuntos Económicos e Sociais da ONU

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma agenda global criada para promover a paz, erradicar a pobreza e proteger o meio ambiente, visando um futuro sustentável para todos. Foram estabelecidos em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU), como parte da Agenda 2030, que substituiu os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Os ODS consistem em 17 objetivos interligados, que abrangem áreas como saúde, educação, igualdade de gênero, trabalho digno e ação climática. O prazo estabelecido para o cumprimento dos ODS é o ano de 2030, quando se espera que os países-membros tenham implementado políticas e ações concretas para atingir essas metas globais.

Um relatório publicado pela ONU em junho deste ano nos mostra que o progresso de cumprimento dos ODS está insuficiente para o cumprimento da Agenda. Apenas 17% das metas dos ODS estão na direção de serem cumpridas até 2030, quase metade apresenta progresso mínimo ou moderado e mais de um terço está estagnado ou regredindo. Sem investimentos maciços e ações em escala, o cumprimento dos ODS permanecerá distante.

Progresso geral das metas entre os anos de 2015 a 2024.

Progresso geral das metas entre os anos de 2015 a 2024. Figura traduzida do relatório do relatório dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável de 2024 por Apremavi

A publicação também detalha o progresso atingido por cada um dos ODS com base nas suas metas:

 

Progresso detalhado de cada um dos ODS com base nas suas metas.

Progresso detalhado de cada um dos ODS com base nas suas metas. Figura traduzida do relatório do relatório dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável de 2024 por Apremavi

Algumas razões para o progresso insuficiente:

  • Lacunas de dados: existem lacunas críticas na disponibilidade e pontualidade dos dados, o que prejudica a avaliação e a tomada de decisões. Em 2023, cerca de um terço dos indicadores ainda não tinha dados disponíveis nos últimos três anos, dificultando a ação política informada e tempestiva.
  • Desigualdade estatística: países de baixa e média renda enfrentam desafios maiores na construção de uma base estatística robusta, com registros vitais, censos e pesquisas. A falta de uma fundação estatística forte compromete a capacidade desses países de monitorar e implementar os ODS de forma eficaz.
  • Falhas na inclusão: a participação cidadã na produção de dados é insuficiente, com grandes lacunas na disponibilidade de dados desagregados por gênero e outros fatores. Esta ausência impede a compreensão das desvantagens interseccionais enfrentadas pelos grupos mais marginalizados, limitando a formulação de políticas eficazes.
  • Governança de dados: as agências estatísticas têm papel crucial, mas enfrentam dificuldades em governança de dados, incluindo a segurança e privacidade dos dados, e em coordenar eficientemente a produção e integração de estatísticas oficiais.
  • Falta de recursos e capacitação: apenas 65% dos países tinham planos estatísticos nacionais totalmente financiados e implementados em 2023. A lacuna de financiamento é especialmente pronunciada em países de baixa renda, onde a falta de recursos e capacitação estatística impede avanços significativos nos ODS.

 

Soluções possíveis:

  • Investimento em estatística: aumentar e sustentar o investimento em capacidade estatística, especialmente em países de baixa renda, visando o fechamento de lacunas de dados e garantir a resiliência dos sistemas de monitoramento dos ODS;
  • Fortalecimento de parcerias: ampliar parcerias entre governos, sociedade civil e setor privado, promovendo uma abordagem de “toda a sociedade” que incorpore diversas perspectivas e atenda a diferentes necessidades. Isso pode melhorar a inclusão e a precisão dos dados;
    Inovação e integração de dados: incentivar a inovação na coleta e integração de dados, combinando métodos tradicionais com novas tecnologias, como sensoriamento remoto e ciência cidadã, para melhorar a qualidade e a abrangência dos dados;
  • Aumento da participação social: engajar mais ativamente os cidadãos na produção de dados, especialmente em comunidades marginalizadas, para garantir que ninguém seja deixado para trás e que as políticas sejam mais representativas e eficazes;
  • Melhoria na governança de dados: estabelecer sistemas nacionais de governança de dados que garantam a segurança, privacidade e a qualidade dos dados, além de promover a reutilização e compartilhamento entre diferentes entidades governamentais e organizações.

Apesar do progresso ainda insuficiente, o cenário atual e as metas dos ODS devem servir como um guia inspirador para a ação coletiva. Agora, mais do que nunca, é crucial que tanto as instituições quanto a sociedade civil redobrem seus esforços e se unam em prol de um mundo mais justo, equitativo e sustentável. Através do fortalecimento das parcerias, do investimento em inovações e da participação ativa de todos, podemos superar os desafios e transformar essa agenda global em uma realidade concreta. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável não são apenas um conjunto de metas; eles representam uma visão de um futuro onde ninguém é deixado para trás. 

> Confira o relatório na íntegra

capa relatório dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável de 2024

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Carlos Nobre: “Podemos já ter atingido o 1.5°C acima da temperatura pré-industrial”

Carlos Nobre: “Podemos já ter atingido o 1.5°C acima da temperatura pré-industrial”

Carlos Nobre: “Podemos já ter atingido o 1.5°C acima da temperatura pré-industrial”

Referência sobre mudanças climáticas, o pesquisador Carlos Nobre alerta para a emergência climática atual, suas consequências e o que precisamos fazer.

Na última quarta (07/08) Carlos Nobre, renomado climatologista brasileiro, reconhecido internacionalmente por seu trabalho pioneiro em mudanças climáticas e seus impactos na Amazônia, ministrou uma palestra na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nobre é membro da Academia Brasileira de Ciências e foi agraciado com diversos prêmios, incluindo o Prêmio Nobel da Paz em 2007, como integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

“Extremos Climáticos: Romper com o negacionismo, superar a crise” foi o título da palestra que ocorreu por mais de uma hora. Na oportunidade, tensão e curiosidade permeiam os sentimentos dos  presentes de forma atenta a fala no final de um dia chuvoso. Ele não apenas expôs a gravidade do cenário climático atual, mas também destacou a responsabilidade global, e particularmente brasileira, em tomar medidas urgentes e efetivas para conter o avanço do aquecimento global; enfatizou que já estamos enfrentando consequências severas, com eventos climáticos extremos se tornando mais frequentes, e que o tempo para ação é agora.

 

1,5° graus de aumento na temperatura 25 anos antes

A palestra iniciou com a explanação dos recordes globais de aumento na temperatura.  Julho de 2024 marca o 13º mês em que a temperatura global atingiu 1,5°C acima da temperatura pré-industrial. O mês ficou 1,50°C acima da média estimada de junho no período de 1850-1900, janela temporal de referência pré-industrial. Assim, o mundo já está atingindo ou superando o limite de 1,5°C firmado no Acordo de Paris.

A ciência ainda está tentando explicar se de fato já chegamos neste aumento de 1,5°C e quais os fatores responsáveis, um deles pode ser o derretimento do gelo no Oceano Antártico que foi muito rápido nos últimos anos. Esse aumento era o que não queríamos que chegasse em 2050, se ela já chegou em 1,5°C temos que torcer para que não passe de 2°C. As metas vão precisar ser muito mais ambiciosas na COP30 em Belém, por exemplo”, destacou Nobre.

 

Palestra Carlos Nobre

Apresentação sobre os dados de aumento da temperatura média no Brasil, evidenciando que 2023 foi o ano mais quente da série histórica. Foto: Thamara Santos de Almeida.

Eventos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes

Ondas de calor, enchentes – como as de maio de 2024 no Rio Grande do Sul – e a seca na Amazônia em 2023 e 2024 em um cenário de emergência climática serão cada vez mais frequentes. Carlos relata a disparidade das pessoas mais afetadas e como não estamos adaptados a ondas de calor: “Nós e nem nossos ancestrais não evoluíram com o clima que nós estamos vivendo no planeta, neste contexto bebês e idosos são os mais prejudicados”.

Estima-se que entre 2000 e 2018 mais de 48 mil pessoas morreram por ondas de calor no Brasil, na Europa só em 2022 foram 62 mil. Essas ondas de calor são ainda mais agravadas pela urbanização, uma vez que ambientes com cobertura vegetal conseguem absorver e reter mais calor, devido a maior quantidade de plantas disponíveis e a penetração do solo. Isso demonstra a importância de áreas conservadas e a necessidade de iniciativas nas áreas a serem restauradas nas cidades para enfrentarmos esses extremos.

 

Negacionismo científico: um grande desafio

O negacionismo científico, forma de escapar de uma verdade seja ela um fato histórico ou científico, representa um grande desafio rumo às soluções que precisamos no combate ao aumento da temperatura. Entre os exemplos podemos citar os movimentos terraplanistas e antivacinas, que acabam espalhando mentiras (fake news) com graves consequências. Negacionistas atrasam a execução de planos e ações e colocam vidas em risco.

Na oportunidade, o cientista argumentou contra algumas ideias negacionistas. Por exemplo, de que não há consenso sobre a causa das mudanças climáticas:  atualmente 99% dos cientistas concordam que as atividades humanas são a principal causa do aumento da temperatura da Terra. Além da existência de invernos desequilibrados e dias com recordes de frio. Ele comenta que apesar da existência de nevascas em algumas regiões do mundo os recordes de frio estão se tornando menos comuns do que dias recordes de calor.

 

O que precisa ser feito para evitar cenários ainda piores

Por fim, no âmbito brasileira ele relata que o Brasil tem a oportunidade de protagonizar alguns acordos, como o 60% de redução de emissões per capita por meio do desmatamento zero em todos os biomas, assim como a restauração de 12 milhões de hectares até 2030. Além disso, até 2040 é possível  ter emissões líquidas zero com 100% de energia limpa e renovável e após 2040 com emissões líquidas negativas, por meio da agricultura neutra em carbono, uso eficiente da terra e restauração em larga escala.

Confira algumas mensagens-chave de Nobre na conclusão da palestra:

  • O Brasil deve implementar suas ambiciosas metas de NDCs até 2030, e pode tornar-se o primeiro país de grandes emissões a atingir o net zero antes de 2040.
  • O Brasil deve tornar-se mais ambicioso, acelerar políticas públicas e práticas de adaptação e aumento da resiliência em todos os setores e manter o apoio à geração de conhecimento científico.
  • É preciso o aperfeiçoamento de sistemas de previsão e alertas de desastres causados por extremos climáticos e proteger as populações em áreas de risco e todas populações vulneráveis a ondas de calor.
  • As ações de prevenção e controle do desmatamento,  degradação florestal e incêndios nos biomas deve ser intensificada.
  • Urge o desenvolvimento de uma política pública de arborização urbana e investir no planejamento integrado de soluções baseadas na natureza, componentes  essenciais para resiliência urbana
  • O Brasil, com seus estados, cidades, sociedade civil, setor privado e financeiro, deve caminhar urgentemente na busca da sustentabilidade como nosso principal legado para as futuras gerações.
  • As novas gerações devem assumir a liderança na busca de trajetórias de sustentabilidade para o planeta, com ênfase em justiça social e climática, e principalmente via empoderamento dos jovens e mulheres

Carlos Nobre nos deixa um chamado urgente à ação, ressaltando que o tempo para evitar os piores cenários climáticos está se esgotando rapidamente. Já podemos estar vivenciando o marco de 1,5°C de aquecimento, um limite que se pensava distante, mas que agora exige de nós uma resposta imediata e transformadora. Frente à emergência climática, Nobre nos inspira a romper com o negacionismo e a lutar por um planeta habitável para todas as espécies, onde o Brasil, com sua vasta biodiversidade e potencial para conservação e restauração pode liderar essa mudança. As futuras gerações dependem de nossas escolhas hoje, e só através da coragem, motivação e solidariedade teremos chance de evitar os piores cenários.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.

Oficina de validação do Plano de Manejo do Parque Mata Atlântica de Atalanta (SC) é realizada

Oficina de validação do Plano de Manejo do Parque Mata Atlântica de Atalanta (SC) é realizada

Oficina de validação do Plano de Manejo do Parque Mata Atlântica de Atalanta (SC) é realizada

No final de 2023 a Apremavi e a The Vita Coco Company iniciaram uma parceria por meio do projeto “Cuidando da Mata Atlântica”. 

Desenvolvido no Parque Natural Municipal da Mata Atlântica (PMA), em Atalanta (SC), o projeto teve como ações a revisão do Plano de Manejo da Unidade de Conservação, o monitoramento da fauna e flora do Parque, a restauração e o enriquecimento de 7,53 hectares de áreas localizadas no Parque, ações de educação ambiental e a elaboração de uma proposta de corredor ecológico no município. Recentemente, o projeto teve avanços importantes no desenvolvimento do Plano de Manejo.

As oficinas participativas para o desenvolvimento do documento com os atores interessadas no Parque como a prefeitura, professores e moradores locais foram iniciadas em fevereiro deste ano. No início de maio, ocorreu a oficina de pesquisadores que contou com apresentação do diagnóstico do Parque, resultados dos estudos de fauna e flora, além da elaboração do propósito e significância, bem como preparação de documentos e normas gerais do plano. 

No dia 18 de julho foi realizada a oficina de validação do documento que contou com a revisão e discussão dos elementos elaborados pelos pesquisadores como o propósito, significância, recursos, valores fundamentais, zoneamento e normas gerais.

“Essa é uma das últimas etapas da revisão do Plano de Manejo, durante a oficina de validação nós reunimos diversos atores já consultados em outros momentos para validarmos o documento que foi construído com a deliberação de quais fatores vão ser relevantes para o Parque daqui para a frente, é uma consolidação de um processo que iniciou ainda em setembro de 2023“, relata Edilaine Dick, diretora da Apremavi e coordenadora de projetos.

Thamara Santos de Almeida, colaboradora da Apremavi, destaca o tom de esperança e motivação com a finalização deste ciclo do Plano de Manejo: “como parte da equipe de pesquisadoras responsáveis, que inclui também Carolina Schäffer, diretora da Apremavi, e a bióloga Emanuelle Pasa, pelo levantamento dos dados de mamíferos do Parque eu saio desta oficina de validação esperançosa e motivada que as discussões aqui realizadas vão ser o ponto de partida para um novo futuro no PMA e que o interesse de todas as partes envolvidas aliados a conservação da biodiversidade vai ser um caminho possível”.

 

Participantes da oficina de validação do plano de manejo do Parque Mata Atlantica Foto Carolina Schäffer

Registros da oficina de validação do Plano de Manejo do PMA ocorrida no dia 18 de julho de 2024. Fotos: Thamara Santos de Almeida

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de capa: Thamara Santos de Almeida.

Gato-maracajá: o rei da floresta em pé

Gato-maracajá: o rei da floresta em pé

Gato-maracajá: o rei da floresta em pé

O gato-maracajá (Leopardus wiedii) tem ampla distribuição pelas Américas, ocorrendo desde o México até a região norte da Argentina e norte do Uruguai. No Brasil ocorre em quase todos os biomas e regiões, exceto em alguns locais do Nordeste. Ele é encontrado em uma ampla variedade de habitats, mas com foco em ambientes florestais e não utilização de ambientes campestres, o que inclui as florestas da Mata Atlântica, do Cerrado e da Caatinga e áreas pantanosas no Pantanal.

Mapa de distribuição do maracajá

Mapa de distribuição do gato-maracajá. Fonte: União Internacional para a Conservação da Natureza.

O nome popular maracajá advém do tupi marakaiá. Além destes, a espécie é designada no português como gato-do-mato, gato-maracajá, gato-peludo, maracajá-peludo. No espanhol é chamada caucel, chiví, cunaguaro, gato brasileño, gato tigre grande, tigrillo, tirica malla grande, tigre gallinero, burricón, gato pintado, mbaracayá miní; no inglês margay. 

Estudos genéticos com a espécie a dividiram em três subespécies que hoje são reconhecidas pelos especialistas: L. w. wiedii do sul do Amazonas; L. w. vigens do norte do Amazonas e L. w. glauculus na América Central.  

É uma espécie solitária e possivelmente uma das mais arborícolas de todos os felinos, por isso são muito dependentes e adaptados a ambientes florestais,  como caudas longas que podem representar até 40% do seu corpo, que usam para equilíbrio, além de  tornozelos que giram até 180°. 

Essa adaptação sugere que espécies fortemente dependentes de florestas, como o maracajá, podem estar enfrentando extinção regional em curto prazo. Além da destruição do seu habitat, a caça, os atropelamentos e a transmissão de doenças por animais domésticos também ameaçam a espécie.

As populações de maracajá parecem ser capazes de persistir sob níveis moderados de modificação de habitat, destacando a importância de conservar até mesmo pequenos remanescentes florestais nativos. É categorizada como “Quase Ameaçada” globalmente pela IUCN devido a sua ampla distribuição, mas sua abundância está em declínio. Já no Brasil está ameaçado de extinção, constando na categoria “Vulnerável”, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima.

Ele se diferencia das outras nove espécies de felinos que ocorre no Brasil devido a sua coloração amarelo-escuro, com exceção da barriga que é mais pálida, olhos bem grandes e destacados, focinho saliente, patas grandes e cauda mais longa do que todo o seu corpo. 

 

Prancha de 1844 de Paul Gervais para o Atlas de Zoologia do gato-maracajá.

Prancha de 1844 de Paul Gervais para o Atlas de Zoologia do gato-maracajá. Fonte: Biodiversity Heritage Library

Um comportamento curioso da espécie é que há relatos que ele imita o som de suas presas para que elas se aproximem, como roedores e ratos, além de possuir uma grande habilidade de escalar árvores, embora passe a maior parte do tempo no chão. Usa a marcação de odores para indicar seu território, incluindo borrifar urina e deixar marcas de arranhões no solo ou nos galhos. Todas as suas vocalizações parecem ser de curto alcance, não fazendo chamados em longas distâncias

Nos últimos anos a Apremavi tem dedicado e ampliado as ações de monitoramento da fauna, sobretudo em áreas restauradas e conservadas nos projetos que desenvolve. O maracajá é uma das espécies que têm sido avaliadas, no âmbito do monitoramento dos mamíferos. Esperamos em breve conhecer mais sobre a espécie e assim colaborar para a ecologia ainda pouco conhecida do maracajá, bem como compreender como a restauração e a conservação podem influenciar ações para sua proteção.

Leopardus wiedii (gato-maracajá) registrado em uma área conservada monitorada pela Apremavi. Créditos: Arquivo Apremavi.

Gato-maracajá

Nome científico: Leopardus wiedii.

Família: Felidae.

Habitat: Vários tipos de ambientes, desde florestas tropicais a áreas pantanosas, com uma preferência para ambientes florestais.

Alimentação: Carnívoro.

Peso: De 3kg até 5kg.

Comprimento: Podem medir entre 42 e 80 cm de comprimento entre cabeça e corpo, com a cauda medindo de 30 a 51 cm. 

Hábito de vida: noturno e arborícola.

Distribuição: América, desde o norte do México até o Uruguai.

Ameaças: perda e fragmentação de habitat, atropelamento, caça, conflitos e doenças de animais doméstico e de criação.

Status de conservação: Vulnerável (VU) MMA e Não ameaçado pela IUCN.

 

Fontes consultadas:

Bianchi, R. de C., Rosa, A.F., Gatti, A. and Mendes, S.L. 2011. Diet of the margay, Leopardus wiedii, and jaguarundi, Puma yagouaroundi, (Carnivora, Felidae) in Atlantic Rainforest, Brazil. Zoologia (Curitiba) 28(1): doi: /10.1590/S1984-46702011000100018.

de Oliveira, T., Paviolo, A., Schipper, J., Bianchi, R., Payan, E. & Carvajal, S.V. 2015. Leopardus wiedii. The IUCN Red List of Threatened Species 2015: e.T11511A50654216. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2015-4.RLTS.T11511A50654216.en. Accessed on 02 August 2024.

Eizirik, E., Bonatto, S. L., Johnson, W. E., Crawshaw Jr, P. G., Vié, J. C., Brousset, D. M., … & Salzano, F. M. (1998). Phylogeographic patterns and evolution of the mitochondrial DNA control region in two Neotropical cats (Mammalia, Felidae). Journal of molecular evolution, 47, 613-624.

Kitchener, A. C., Breitenmoser-Würsten, C., Eizirik, E., Gentry, A., Werdelin, L., Wilting, A., … & Tobe, S. (2017). A revised taxonomy of the Felidae: The final report of the Cat Classification Task Force of the IUCN Cat Specialist Group. Cat News.

Horn, P. E., Pereira, M. J., Trigo, T. C., Eizirik, E., & Tirelli, F. P. (2020). Margay (Leopardus wiedii) in the southernmost Atlantic Forest: Density and activity patterns under different levels of anthropogenic disturbance. PLoS One, 15(5), e0232013.

Papavero, Nelson; Teixeira, Dante Martins (2014). Zoonímia Tupi nos Escritos Quinhentistas Europeus (PDF). São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Universidade de São Paulo (USP). p. 250.

Tortato, M.A., Oliveira, T.G., Almeida, L.B. and Beisiegel, B.M. 2013. Avaliação do risco de extinção do gato-maracajá Leopardus wiedii (Schinz, 1821) no Brasil. Biodiversidade Brasileira 5: 76-83.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de capa: Márcio Motta, CC BY-NC-ND 2.0

Apremavi participa do Seminário Regional sobre Agricultura Familiar e Mudanças Climáticas em SC

Apremavi participa do Seminário Regional sobre Agricultura Familiar e Mudanças Climáticas em SC

Apremavi participa do Seminário Regional sobre Agricultura Familiar e Mudanças Climáticas em SC

Abordar as mudanças climáticas na agricultura familiar é crucial, pois este setor, por um lado é altamente vulnerável às consequências da crise climática, mas por outro tem um grande potencial para contribuir com soluções para seu enfrentamento. A agricultura familiar, que é a base da produção de alimentos no Brasil, enfrenta desafios como a irregularidade das chuvas, o aumento da temperatura e a ocorrência de eventos extremos, como secas e inundações. Esses fatores afetam diretamente a produtividade, a renda e a segurança alimentar das famílias.

Por este motivo, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e o Observatório do Clima (OC), lançaram, em junho, a campanha “Será que Vai Chover?”. Além da elaboração de uma série de materiais como cartilhas, vídeos e podcasts, a iniciativa tem promovido uma série de seminários de capacitação com lideranças da agricultura familiar. Um desses seminários aconteceu em Florianópolis de 23 a 25 de julho, reunindo cerca de 40 participantes dos três estados da Região Sul. 

Os seminários proporcionam um espaço para o compartilhamento de conhecimentos e práticas que podem ajudar os agricultores familiares na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A troca de experiências sobre técnicas agrícolas sustentáveis, gestão de recursos hídricos e de propriedades e paisagens e a diversificação de culturas é essencial para aumentar a resiliência das comunidades rurais. Além disso, o evento facilita a construção de políticas públicas mais inclusivas e eficazes, que apoiem a transição para uma agricultura sustentável. Também são discutidos conceitos fundamentais sobre o aquecimento global, o que o provoca e suas consequências.

No primeiro dia, foram apresentados os conceitos básicos sobre ciências do clima, o contexto climático global, os impactos das mudanças climáticas na agricultura e as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) global e nacional. Já no segundo dia, o foco foi a NDC brasileira e focada na agricultura, os desafios e soluções regionais, além da abordagem de propriedades sustentáveis, estratégias de adaptação, políticas e mercados ambientais. Por fim, a formação encerrou com um plano de ação e compromissos com foco nas afirmações da Contag e na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém (PA), em novembro de 2025.

Miriam Prochnow, cofundadora e diretora da Apremavi participou da formação, enquanto uma das assessoras do OC, falando sobre a importância das Soluções Baseadas na Natureza (SBN) como uma das formas mais eficientes de se combater os efeitos da crise climática. Miriam relata a importância do evento e a participação da Apremavi: “o novo padrão climático que já estamos vivendo, exige que novas e fortes parcerias sejam feitas no sentido de dar escala às ações necessárias para o enfrentamento das consequências do aquecimento global. O setor da agricultura familiar, com o qual a Apremavi já vem trabalhando há muito tempo, tem o potencial de ser modelo para outros setores. O exemplo pode vir com a resolução de questões como a adequação ambiental das propriedades rurais, um passivo que ainda existe em algumas regiões, mas também com os muitos exemplos de conservação e restauração do ambiente natural que já comprovaram resultados positivos e devem ser replicados de forma ampla“.  

 

Registros do Seminário Regional sobre Agricultura Familiar e Mudanças Climáticas  em Florianópolis de 23 a 25 de julho. Fotos: Miriam Prochnow e Arquivo Apremavi.

Os Seminários Regionais sobre Agricultura Familiar e Mudanças Climáticas

Os Seminários Regionais são eventos realizados em todas as regiões do Brasil. É uma realização da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), com apoio metodológico do Observatório do Clima (OC). Conta também com apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e da Porticus e tem como objetivo discutir com as lideranças locais os impactos da crise climática na agricultura familiar. O público-alvo são agricultores e agricultoras familiares, lideranças e técnicos(as) do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR).

 

Autoras: Thamara Santos de Almeida e Miriam Prochnow.
Foto de capa: Miriam Prochnow.

Matas Legais ministra atividade de educação ambiental em Ortigueira (PR)

Matas Legais ministra atividade de educação ambiental em Ortigueira (PR)

Matas Legais ministra atividade de educação ambiental em Ortigueira (PR)

No dia 13 de junho, o Centro Estadual de Educação Profissional Florestal e Agrícola (CEEP) de Ortigueira recebeu uma atividade de educação ambiental realizada pela Apremavi pelo programa Matas Legais desenvolvido em parceria com a Klabin.

Na oportunidade, foram envolvidos 330 participantes, entre estudantes, professores e a direção do Colégio. O evento, realizado nos períodos matutino e vespertino, contou com palestras e atividades interativas como tema principal: “Importância das Florestas para a Conservação da Água”

A atividade foi ministrada por Mauricio Reis, coordenador de projetos da Apremavi com o apoio de Weliton Oliveira e Pedro Ferreira, técnicos ambientais da Apremavi, e Melrian Schetz, que atua na área de Responsabilidade Ambiental  Florestal da Klabin. 

A palestra foi realizada em dois horários no período matutino e um horário no período vespertino, garantindo um melhor entendimento do conteúdo. Ao todo, três turmas participaram das ações. Após as palestras, a primeira turma de estudantes do Curso de Meio Ambiente participou do jogo educativo “Fique Legal”. O jogo se desenvolve em uma lona, onde os participantes avançam ou recuam no tabuleiro com base em suas ações em relação ao meio ambiente.

Durante o evento, foram levadas mudas de espécies da Mata Atlântica para que os estudantes pudessem ter contato direto com a flora local. Houve também uma explanação sobre o processo de produção de mudas e a importância do viveiro. Para enriquecer a biblioteca do Colégio, foram fornecidos materiais didáticos, incluindo o livro “Apremavi 30 Anos 30 Causas”, a cartilha “Planejando Propriedades e Paisagens Sustentáveis” e réplicas em tamanho pequeno do jogo “Fique Legal”.

Sara Lopes de Sene, professora do CEEP, destacou a experiência do evento:  “Que alegria foi receber em nossa instituição a equipe da Apremavi juntamente com a Klabin para a realização de uma brilhante palestra. Foi um momento de grande aprendizado para todos os nossos alunos dos Cursos Técnicos em Agronegócio, Meio Ambiente, Manutenção de Máquinas Pesadas e Operações Florestais. A palestra foi realizada em três horários diferentes para atender toda nossa comunidade escolar. Agradecemos imensamente pela presença de vocês e esperamos poder contar com vocês sempre em nossa instituição.”

Melrian Schetz da Klabin agradeceu a instituição de ensino e a parceria da Apremavi: “Gostaria de expressar minha gratidão ao CEEP de Ortigueira pela calorosa recepção e pela ativa participação dos alunos na palestra sobre a importância de conservar e restaurar nossos ecossistemas florestais. Foi enriquecedor compartilhar a atuação do projeto Matas Legais na região. Agradeço também à Apremavi pela parceria com a Klabin nas atividades de educação ambiental. É encantador ver o interesse dos alunos e esperamos que isso desperte ainda mais a vontade de contribuir para a preservação ambiental.”

 

Ação de educação ambiental no dia 13 de junho em Ortigueira realizado pelo Matas Legais Foto Maurício Reis

Atividades de educação ambiental realizadas no dia 13 de junho no Centro Estadual de Educação Profissional Florestal e Agrícola (CEEP) em Ortigueira (PR) pela Apremavi em parceria com a Klabin. Fotos: Maurício Reis

O Matas Legais

É uma iniciativa da parceria entre a Apremavi e a Klabin que acontece em Santa Catarina e no Paraná. Busca desenvolver ações de conservação, educação ambiental e fomento florestal, que ajudam a preservar e recuperar os remanescentes florestais nativos, a melhorar a qualidade de vida da população e a aprimorar o desenvolvimento florestal, tendo como base o planejamento de propriedades e paisagens.

A palavra legal procura traduzir dois sentidos: o de cumprimento da legislação ambiental e o de expressão de um lugar agradável, bonito e bom para viver.

> Conheça o Matas Legais

Autores: Maurício Reis e Pedro Ferreira.
Revisão: Thamara Santos de Almeida (Apremavi) e Melrian Schetz (Klabin).
Foto de capa: Ação de Educação Ambiental no dia 13 de junho ministrada pelo Matas Legais em Ortigueira. Foto: Maurício Reis.

Apremavi participa de encontro da Década da Restauração da ONU

Apremavi participa de encontro da Década da Restauração da ONU

Apremavi participa de encontro da Década da Restauração da ONU

Nos dias 23 e 24 de julho ocorreu um encontro da Década da Restauração (2021-2030) das Nações Unidas (ONU) no Brasil. Na oportunidade foram discutidas formas de mobilização de recursos financeiros e modelos de negócios no ganho de escala na restauração no âmbito do Flagship do Pacto Trinacional da Mata Atlântica. O encontro ocorreu no Sinal do Vale no município de Duque de Caxias no Rio de Janeiro e reuniu atores da Mata Atlântica de três países: Brasil, Paraguai e Argentina.

A Apremavi, como parceira oficial da Década da Restauração, participou do evento na pessoa da Carolina Schäffer, vice-presidente, coordenadora de comunicação e projetos da Instituição. Foi um prazer poder contribuir com esse debate apresentando o Conservador das Araucárias, da parceria entre a Apremavi e a Tetra Pak, como modelo de sucesso. E também foi uma alegria rever os amigos do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e do Pacto Trinacional pela Restauração”, relata Carolina sobre a participação da instituição no evento.

 

Pacto Trinacional da Mata Atlântica

O Pacto Trinacional da Mata Atlântica compreende um esforço entre o Brasil, Paraguai e Argentina para conservar e restaurar a Mata Atlântica nos três países, partindo do pressuposto que a Mata Atlântica já cobriu uma vasta área nos três locais, mas hoje foi reduzida devido a séculos de exploração madeireira, expansão agrícola e urbanização.

As ações estão criando corredores para a biodiversidade com foco em espécies ameaçadas de extinção, como a onça-pintada e o mico-leão-dourado, garantindo o abastecimento de água para as pessoas e a natureza, combatendo e construindo resiliência às mudanças climáticas e criando milhares de empregos.

A iniciativa é coordenada pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e a Rede Trinacional pela Restauração da Mata Atlântica. Além do apoio de mais de 300 parceiros, incluindo a Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE), União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), The Nature Conservancy Brasil (TNC Brasil), World Resources Institute (WRI Brasil), World Wide Fund for Nature (WWF Brasil), WWF Paraguay, Fundación Vida Silvestre Argentina e diversos outros parceiros locais e internacionais.

> Saiba mais 

Registros do Encontro da Década da Restauração da ONU no âmbito do Pacto Trinacional da Mata Atlântica em Duque de Caxias (RJ) Foto Carolina Schäffer e Arquivos do Pacto

Registros do Encontro da Década da Restauração da ONU no âmbito do Pacto Trinacional da Mata Atlântica em Duque de Caxias (RJ). Fotos: Carolina Schäffer e Arquivos do Pacto.

Autoras: Carolina Schäffer e Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Encontro da Década da Restauração da ONU entre os dias 23 e 24 de julho em Duque de Caxias (RJ). Foto: Carolina Schaffer.

A importância dos Planos de Manejo para as Unidades de Conservação e o trabalho da Apremavi

A importância dos Planos de Manejo para as Unidades de Conservação e o trabalho da Apremavi

A importância dos Planos de Manejo para as Unidades de Conservação e o trabalho da Apremavi

O Brasil possui um dos mecanismos legais mais robustos para áreas protegidas no mundo: o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Criado pela Lei nº 9.985, o SNUC estabelece normas e procedimentos que permitem às esferas públicas e à iniciativa privada criar, implementar e gerir Unidades de Conservação (UCs) no país. Um componente crucial deste sistema é a elaboração do Plano de Manejo, documento técnico que guia todas as ações dentro de uma UC, buscando promover uma gestão eficaz e sustentável.

Um Plano de Manejo consiste em um documento técnico elaborado a partir de diversos estudos, incluindo diagnósticos do meio físico, biológico e social. É através dele que são definidos quais usos serão permitidos na área, assim como onde e de que forma estes usos irão ocorrer.

Apesar da exigência legal, a implementação de Planos de Manejo em todas as UCs está longe de ser uma meta alcançada. De acordo com uma entrevista realizada pelo Oeco em 2017 com Ana D’Amico, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), apenas 53% das unidades de conservação federais possuíam um Plano de Manejo naquela época. A falta de recursos financeiros e humanos é apontada como uma das principais barreiras para a elaboração desses planos.

A Apremavi, por meio da sua área temática de Conservação da Biodiversidade, tem avançado na criação e implementação de Planos de Manejo em diversas UCs, especialmente em Santa Catarina. Fabiana Dallacorte, bióloga e sócia da Bio Teia Estudos Ambientais, e Edilaine Dick, coordenadora de projetos e diretora da Apremavi, compartilharam suas experiências e desafios no desenvolvimento dos Planos de Manejo.

 

Apremavi: Desde quando você atua na elaboração de Planos de Manejo e como funciona esse trabalho?

Fabiana: Eu faço planejamento de áreas protegidas desde que comecei a atuar como profissional, após formada. Trabalhar com planejamento de áreas protegidas é trabalhar com Biologia da Conservação, uma área pouco valorizada por muitos acadêmicos. É uma matéria que olha para outras, tais como a Ecologia, a Genética e possui uma importância imensa para resguardar o futuro do nosso mundinho. Então, trabalhar com planejamento de áreas protegidas é formidável, pois possibilita atuar em teia com profissionais de áreas diversas e de conhecer lugares incríveis.

Apremavi: Qual a importância do desenvolvimento do Plano de Manejo para as Unidades de Conservação?

Fabiana:  A necessidade de Plano de Manejo de uma UC está no SNUC e é necessário para a gestão da área protegida, é o alicerce da gestão tanto para o dia-a-dia, quanto para a visão geral sobre a UC. O Plano de Manejo é um documento técnico, que com base no objetivo da criação da UC, dá diretrizes às atividades a serem desenvolvidas, define o zoneamento, e estabelece normas para estas zonas e normas gerais da UC.

Apremavi: Quais os principais desafios e oportunidades no desenvolvimento de um Plano de Manejo?

Fabiana Dallacorte: a carência de dados biológicos, ecológicos, taxonômicos, dos organismos naturais que vivem na UC. Pouco recursos e tempo para fazer estudos mais aprofundados sobre a biodiversidade do local, seu entorno, sobre as populações humanas que interagem com a UC.  Oportunidades: para algumas UCs, a exemplo  de uma  Área de Proteção Ambiental  que estou fazendo o planejamento no estado de Goiás, é a primeira vez que alguém conversa com a população envolvida pela UC. O Plano de Manejo  é o primeiro contato com a população explicando o que é, qual seu limite, e outras informações básicas que até então as pessoas não sabiam. 

Apremavi: Quais planos de manejo a Apremavi já coordenou?

Edilaine: A Apremavi já colaborou para os planos de manejo do Parque Nacional das Araucárias, Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Serra do Lucindo, Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) da Serra da Abelha e atualmente no Parque Natural Municipal da Mata Atlântica. Também colaboramos para a revisão do Plano de Manejo do Parque Estadual das Araucárias.

Apremavi: O que acontece depois que um plano de manejo é aprovado? Quais são as próximas etapas?

Edilaine: Os servidores da UC e conselheiros devem se apropriar do documento para que efetivamente se torne uma ferramenta de gestão. O Plano de Manejo quando bem utilizado permite verificar se os objetivos e planejamento estão sendo alcançados

Apremavi: Como uma Organização da Sociedade Civil (OSCs) , qual a importância de contribuir na elaboração e revisão dos planos de manejo de unidades de conservação?

Edilaine: As OSCs podem ser protagonistas do processo elaborando e revisando o Plano de Manejo, ou então participando dos conselhos contribuindo na disponibilização de dados, desenvolvimento de pesquisas e acompanhamento do processo de elaboração do plano. Quando atuantes em determinada região, as organizações podem fazer a diferença na UC, proporcionando a interação entre os atores internos e externos em parceria com gestores federais, estaduais ou municipais.

Os Planos de Manejo são instrumentos essenciais para a gestão eficaz das Unidades de Conservação no Brasil. Embora a implementação ainda enfrenta desafios significativos, o trabalho de instituições como a Apremavi em colaboração com diversos atores e instituições demonstra que é possível avançar na criação e aplicação desses planos, contribuindo para a conservação da biodiversidade em áreas protegidas.

 

Registros da etapa de reconhecimento da revisão do Plano de Manejo do Parque Natural Municipal da Mata Atlântica. Fotos: Fabiana Dallacorte e Heloisa Koffke (Bio Teia Estudos Ambientais)

Referências consultadas:

Carrillo, A. C. (2013). Lições aprendidas sobre a etapa de planejamento em planos de manejo de UC.

D’Amico, A. R., Coutinho, E. D. O., & Moraes, L. F. P. (2018). Roteiro metodológico para elaboração e revisão de planos de manejo das unidades de conservação federais. Brasília: Instituto Chico Mendes.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Heloisa Koffke para Bio Teia Estudos Ambientais.

Apremavi integra Comitês de Bacias Hidrográficas de SC

Apremavi integra Comitês de Bacias Hidrográficas de SC

Apremavi integra Comitês de Bacias Hidrográficas de SC

A Lei Federal n° 9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, tem como fundamentos que a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, além de que a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários da água e das comunidades (população da bacia). 

Dessa forma, os Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH) representam a principal instância de gestão, pois são os espaços em que um grupo de pessoas, com diferentes visões e atuações, se reúnem para discutir sobre o uso da água entre os diferentes setores da bacia. Em Santa Catarina são 16 comitês formalizados, entre eles o Comitê de Gerenciamento das Bacias Hidrográficas do Rio Chapecó, do Rio Irani e Bacias Contíguas (Comitê Chapecó Irani) e o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí e Bacias Contíguas (Comitê do Itajaí), comitês onde a Apremavi é organização-membro.

O Comitê Chapecó Irani é formado por 40 organizações e abrange 59 municípios. A posse das novas organizações-membro ocorreu no dia 24 de junho de 2024, no auditório da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) em Chapecó (SC) durante a 2ª Assembleia Geral Ordinária. A Apremavi se inscreveu no processo de renovação da composição do Comitê Chapecó Irani para o mandato de 2024 a 2028 e na Assembleia Setorial Pública (ASP) realizada em 09 de maio de 2024 garantiu uma vaga no segmento de população da bacia. A instituição é representada no comitê pelas coordenadoras de projetos da Apremavi: Marluci Pozzan e Edilaine Dick.

Já o Comitê do Itajaí é formado por 50 organizações e abrange 52 municípios. Neste comitê, a Apremavi é atuante desde 1998 e é representada atualmente pelo coordenador de projetos da Apremavi, Leandro da Rosa Casanova, e Daiana Tânia Barth, técnica ambiental da instituição no segmento de população da bacia. 

Para Leandro Casanova, “Integrar o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí tem sido uma experiência que traz grande satisfação, uma vez que, como membro representante da sociedade civil organizada, temos o poder de voto, para contribuir para questões que venham promover a boa política de uso na Bacia Hidrográfica. A exemplo disso, podemos citar que em um determinado momento houve uma manifestação para que acontecesse a recategorização do Parque Nacional Serra do Itajaí. Entretanto, a pauta foi levada a todos os membros do Comitê, na qual elaborou-se uma moção contrária a essa recategorização. Em uma Assembleia Geral Extraordinária, por unanimidade os membros decidiram pela não recategorização”.

A posse das novas organizações-membro do Comitê Chapecó Irani. Foto: Marluci Pozzan

Posse das novas organizações-membro doComitê Chapecó Irani no auditório da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) em Chapecó (SC) durante a 2ª Assembleia Geral Ordinária. Foto: Marluci Pozzan.

Autora: Marluci Pozzan.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Rede de Sementes +Floresta participa do III Encontrão do Redário

Rede de Sementes +Floresta participa do III Encontrão do Redário

Rede de Sementes +Floresta participa do III Encontrão do Redário

Entre os dias 04 e 07 de julho, Idania Correa coletora de sementes do +Floresta e Marluci Pozzan coordenadora de projetos da Apremavi participaram do III Encontrão do Redário – em Juazeiro (BA). Idania e Marluci representaram a Rede de Sementes +Floresta, que é apoiada pela Apremavi. 

O Redário é uma articulação entre redes e grupos de coletores de sementes para estruturação da base da cadeia de restauração em larga escala. O Encontro das Redes do Redário reúne anualmente técnicos e coletores de redes de sementes de todo o Brasil. Neste ano, o evento teve como objetivo avançar na construção dos princípios e do funcionamento do Redário. O encontro contou com representantes de 27 redes de sementes nativas dos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica.

No primeiro dia do encontro aconteceu a apresentação do Comitê Gestor e reflexões sobre a estrutura do Redário. No segundo dia os participantes se deslocaram para o Centro de Formação Dom José Rodrigues (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA) para conhecer uma área de recaatingamento e tecnologias sociais do IRPAA. Além disso foram apresentados os grupos de trabalho do Redário e finalizado o dia com uma prática de muvuca de sementes. 

Idania Aparecida dos Santos Correa, agricultora e coletora da Rede de Sementes +Floresta conta sobre a experiência de participar do encontro: “Compartilhar o conhecimento foi renovador, estar nesse espaço nos mostra a importância do comprometimento que as pessoas têm com a natureza. Aprendi que toda rede tem sua importância independente de seu tamanho ou bioma e que é importante não desistir, pois a natureza agradece nosso trabalho de coletor. Tenho a perspectiva de que as sementes plantadas agora irão gerar frutos para meus filhos no futuro.”

A Rede de Sementes +Floresta teve início em 2023 e é formada por agricultores de Abelardo Luz, que realizam a coleta e beneficiamento de sementes nativas da Floresta Ombrófila Mista.

Rede de Sementes +Floresta participa do III Encontrão do Redário Foto: Debora Alves

Idania Correa e Marluci Pozzan no III Encontrão do Redário em Juazeiro (BA). Foto: Débora Alves.

Autora: Marluci Pozzan.
Revisão: Thamara Santos de Almeida.

Como a biodiversidade pode mitigar as mudanças climáticas

Como a biodiversidade pode mitigar as mudanças climáticas

Como a biodiversidade pode mitigar as mudanças climáticas

A humanidade enfrenta uma dupla crise planetária: as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.  A biodiversidade promove inúmeros benefícios socioambientais positivos, como a qualidade da água, do ar, polinização, segurança alimentar, saúde e bem estar. Além de ameaçada pelas alterações antrópicas como a mudança no uso do solo, contaminação e exploração de recursos, as mudanças climáticas aceleram a perda de diversidade de espécies. Um ecossistema afetado tem sua capacidade de mitigar as mudanças climáticas por meio do sequestro de carbono reduzida.

A proteção, conservação e restauração da biodiversidade colaboram diretamente para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Contudo, a criação de uma abordagem integrada entre as duas problemáticas é um desafio. Pensando nisso, um artigo científico publicado em maio deste ano na revista Bioscience da Oxford listou seis pontos-chaves em que a biodiversidade contribui na mitigação das mudanças climáticas com o objetivo de interligar e relacionar ambos desafios que vivemos em prol de soluções compartilhadas. Confira abaixo:

  1. Conservação dos estoques e sumidouros de carbono

É necessário que a conservação e a expansão da proteção dos ecossistemas naturais seja prioritária e que os ecossistemas nativos não sejam substituídos por espécies exóticas como o Pinus sp. e Eucalyptus sp. Dessa forma, será promovida a manutenção dos estoques de carbono e conservação da biodiversidade. Por exemplo, nas Florestas nativas na Amazônia, na Bacia do Congo e no Sudeste Ásia; que são particularmente importantes devido à co-ocorrência de alto carbono e biodiversidade. Nessas realidades, é mais barato manter a floresta em pé e conter a perda da biodiversidade do que restaurar áreas alteradas.

Contudo, a prioridade entre conservação e restauração varia em cada região, na Mata Atlântica a restauração dos ecossistemas deve ser uma prioridade para os fundos ambientais.

  1. Restauração da biodiversidade

É necessário ir além do cumprimento de metas de restauração em milhões de hectares para analisar como essa restauração é feita. Para isso, é preciso considerar a diversidade de espécies, para que elas promovam uma conectividade ambiental e gerem benefícios ecossistêmicos. 

  1. Conservação integrada da fauna e flora local

A conservação da flora e da fauna pode sequestrar potencialmente 6,5 bilhão de toneladas por ano, ou 6,5 PgC (pentagramas de carbono) por ano. Isso ocorre devido a sua interação e complexidade alimentar, que altera regimes de incêndios e microclima; bem como a promoção da diversidade de habitats; além de serviços como a dispersão, polinização e propagação de plantas. Dessa forma, a conservação de habitats como as florestas devem estar integradas a conservação das espécies.

  1. Utilizar somente as áreas já existentes de agricultura, pastagem e silvicultura

A expansão de plantações é uma das principais causas de perda de biodiversidade, devido à degradação e perda de habitat, que acabam afetando também o clima e os recursos hídricos. Dessa forma, uma gestão mais eficiente das áreas de agricultura, pecuária e silvicultura poderia sequestrar mais de 13,7 bilhão de toneladas de carbono. Nesse sentido, é incentivada a formulação de políticas públicas que proíbam a expansão dessas áreas.

  1. Incorporação da biodiversidade nos modelos de negócios

É necessário que mais incentivos econômicos sejam concedidos às empresas em prol da conservação da biodiversidade. As empresas e as instituições financeiras precisam

definir a sustentabilidade com mais precisão em termos de conservação da biodiversidade, e devem ser fornecidos incentivos para isso. O Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) está no caminho ao alocar recursos essenciais para a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD). Da mesma forma, o setor privado pode aumentar o seu Impacto Líquido Positivo (NPI) – meta de gestão corporativa de biodiversidade.

  1. Conferências das Partes (COPs) conjuntas sobre biodiversidade e clima

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU e a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) já pontuou que a crise da biodiversidade e das mudanças climáticas deve ser enfrentada de forma conjunta.

Uma forma de fazer isso é integrar as Conferências das Partes sobre clima e biodiversidade, aumentando a sinergia entre especialistas e acordos ambientais multilaterais e instituições internacionais.

Seis pontos-chave nos quais combater a crise da biodiversidade pode contribuir para uma solução eficaz para a emergência climática (topo). Fonte: Pereira et al. 2024. 

Seis pontos-chave nos quais combater a crise da biodiversidade pode contribuir para uma solução eficaz para a emergência climática (topo). Fonte Pereira et al. 2024.<br />

Seis pontos-chave nos quais combater a crise da biodiversidade pode contribuir para uma solução eficaz para a emergência climática (topo). Fonte: Pereira et al. 2024. 

Além disso, o artigo mostra seis pontos-chaves que podem ser transformados em metas para resolver a dupla crise conjuntamente: 

  • Aumentar os estoques e o sequestro de carbono otimizando a gestão dos ecossistemas terrestres e aquáticos;
  • Restauração com uma gama diversificada de espécies nativas, garantindo a conectividade ambiental e restaurando os benefícios que os ecossistemas podem nos proporcionar;
  • Reduzir a perda de biodiversidade;
  • Garantir a manutenção dos serviços ecossistêmicos;
  • Melhorar a gestão da terra nas áreas agrícolas existentes, garantindo a subsistência e o sequestro de carbono;
  • Incorporar a biodiversidade nos modelos de negócios, compensando perturbações e danos à biodiversidade causados ​​pelas atividades humanas;
  • Integrar COPs para abordar questões ambientais em conjunto;
  • Incorporar a biodiversidade numa agenda abrangente sobre mudanças climáticas;
  • Alcançar um impacto positivo líquido (NPI) para a biodiversidade;
  • Alcançar compromissos de emissões líquidas zero de carbono até 2050;
  • Garantir um ambiente sustentável para as gerações presentes e futuras.

 

> Confira o artigo na íntegra

 

Referência consultada:
PEREIRA, Cássio Cardoso; KENEDY-SIQUEIRA, Walisson; NEGREIROS, Daniel; FERNANDES, Stephannie; BARBOSA, Milton; GOULART, Fernando Figueiredo; ATHAYDE, Simone; WOLF, Christopher; HARRISON, Ian J; BETTS, Matthew G. Scientists’ warning: six key points where biodiversity can improve climate change mitigation. Bioscience, [S.L.], v. 74, n. 5, p. 315-318, maio 2024. Oxford University Press (OUP). http://dx.doi.org/10.1093/biosci/biae035.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Caroba, indicada para arborização e restauração ecológica

Caroba, indicada para arborização e restauração ecológica

Caroba, indicada para arborização e restauração ecológica

A caroba, carobão ou jacarandá-mimoso (Jacaranda micrantha) é uma espécie muito apreciada para fins paisagísticos, ornamentais ou na recuperação de ecossistemas degradados.

A espécie ocorre no Paraguai, Nordeste da Argentina e Brasil. Na Mata Atlântica e no Pampa brasileiro ocorre no Sudeste (Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) e Sul (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) na Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila Mista.

Em relação a sua ecologia, é uma espécie pioneira a secundária inicial, sendo mais encontrada na vegetação secundária; nas capoeiras, borda de mata até mesmo em terrenos abandonados. A caroba pode ser plantada em plantio misto, associado com espécies pioneiras, ou em linhas em faixas de 2 a 4 m de largura. É recomendada na recuperação de ecossistemas degradados e próxima de cursos d’água.

Além da restauração, a espécie pode ser utilizada de forma ornamental pela beleza das suas flores,  para arborização em parques, avenidas e rodovias.  Apesar de não estar ameaçada, ela vem sendo explorada no Alto Uruguai no Rio Grande do Sul, devido a sua baixa frequência e exploração na indústria e em construções em geral, e por suas propriedades medicinais*.

Detalhes da flor, folha, sementes, árvore e tronco. Fotos: John Forlonge e João Augusto Bagatini para Flora Digital da UFSC 

Caroba

Nome científico: Jacaranda micrantha Cham.
Família: Bignoniaceae
Utilização: Madeira utilizada para marcenaria, carpintaria, instrumentos musicais, celulose e móveis. Paisagismo de grandes áreas.
Coleta de sementes:  diretamente da árvore quando começar a abertura espontânea dos frutos.
Época de coleta de sementes: Maio a setembro
Fruto: Seco deiscente.
Flor: Roxa
Crescimento da muda: Médio.
Germinação: Rápida.
Plantio: Mata ciliar, área aberta.
Status de conservação: Não listada – Portaria MMA 148/2022; LC – Menos preocupante (IUCN).

* Os dados sobre usos medicinais das espécies nativas são apenas para informação geral, onde os estudos foram feitos com propriedades isoladas em uma quantidade específica. O uso de medicamentos fitoterápicos deve ser seguido de orientações médicas

 

Fontes consultadas:

PROCHNOW, P. (org.). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: Apremavi, 2007. 188 p. Disponível em: https://apremavi.org.br/wp-content/uploads/2018/03/livro-jardim-das-florestas.pdf. Acesso em: 27 dez. 2023.

CARVALHO, P. (2003). Carobão: Jacaranda micrantha.

FARIAS-SINGER, R. Jacaranda in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB114153>. Acesso em: 01 jul. 2024

JARENKOW, J. A; BRACK, P. Flora arbórea e arborescente do Rio Grande do Sul, Brasil. RiMa, 2006.

Autora: Thamara Santos de Almeida
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto
Foto de capa: Arquivo Apremavi

Como as mudanças climáticas impactam a agricultura familiar

Como as mudanças climáticas impactam a agricultura familiar

Como as mudanças climáticas impactam a agricultura familiar

Campanha lançada no começo de junho pela CONTAG Federações e Sindicatos junto ao Observatório do Clima evidencia como as mudanças climáticas impactam a agricultura familiar. A iniciativa contou com a colaboração técnica e científica da Apremavi.

As mudanças climáticas são um dos maiores desafios do nosso século e seus impactos não estão distantes, são realidade no presente. Embora a crise climática afete a todos, ela impacta principalmente grupos que contribuíram e contribuem menos para o seu agravamento, como os agricultores familiares.

Pensando nisso, a CONTAG e o Observatório do Clima lançaram a campanha “Será que vai chover? É a tal da mudança climática?” para mostrar como as mudanças climáticas afetam diretamente a agricultura familiar, que é fundamental não apenas para a subsistência e o sustento direto dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e suas famílias, mas também é a garantia da soberania alimentar brasileira e parte da solução para a crise climática.

Miriam Prochnow, diretora e cofundadora da Apremavi, foi uma das colaboradoras técnicas e científicas nas oficinas de formação da campanha. Ela comenta sobre a importância da restauração em propriedades rurais no combate à crise climática: “nós precisamos com urgência debater a questão da adaptação climática em todos os setores, inclusive na agricultura. E nesse sentido, trabalhar o planejamento das propriedades levando em conta as soluções baseadas na natureza é imprescindível, como exemplo a restauração de ecossistemas, que é uma das soluções mais eficiente para o aquecimento global”.

A iniciativa conta com a produção de vídeos animados, seis episódios de podcast, uma cartilha, entre outras ações.

> Saiba mais

Autora: Thamara Santos de Almeida com informações da campanha “Será que vai chover?”
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Carolina Schäffer
Foto de capa: Plantio no Assentamento Filhos do Contestado em São Cristóvão do Sul (SC), 17 de abril de 2021. Foto: Miriam Prochnow

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico dos aspectos socioeconômicos

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico dos aspectos socioeconômicos

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico dos aspectos socioeconômicos

A Apremavi realizou uma série de estudos sobre o uso do solo e os principais desafios para a restauração das áreas de atuação do projeto +Floresta executado em Abelardo Luz (SC).

Durante a execução da Meta I do Projeto +Floresta – de março de 2022 a outubro de 2023 – foram realizadas diversas pesquisas nos sete projetos de assentamentos envolvidos na iniciativa (PAs 13 de Novembro, Bela Vista, José Maria, Maria Silverston, Recanto Olho D’Água, Roseli Nunes e Volta Grande) e na Terra Indígena Toldo Imbú, em Abelardo Luz. As pesquisas foram essenciais para a elaboração dos projetos finalísticos de restauração, aprovados pela IBAMA em outubro de 2023. 

No âmbito dos aspectos socioeconômicos, a BioTeia Estudos Ambientais conduziu o estudo de uso do solo e a equipe técnica da Apremavi realizou o estudo de população e a pesquisa sobre o sistema de produção de mudas na região.

Em relação ao uso do solo, todos aqueles usos e cobertura do solo que são desenvolvidos na Reserva Legal (RL) e que impossibilitam os processos ecológicos de acontecerem naturalmente foram considerados como usos que comprometem o objetivo da Reserva Legal e do cumprimento da legislação atual, sendo estes: pastagem, agricultura, solo exposto/degradado e afloramento rochoso. Nestas áreas consideradas como comprometidas é primordial a mudança do uso do solo atual com a restauração e/ou com o adensamento de espécies da Floresta Ombrófila Mista para resguardar o papel da Reserva Legal e das Áreas de Preservação Permanente (APPs).

Outros usos do solo mesmo fora da RL que devem ser observados com atenção prioritária de acordo com os estudos são os banhados (áreas úmidas/alagadas) e nascentes desprovidas de vegetação, que a longo prazo vão deixar de existir e de abastecer os cursos d´água caso não sejam protegidos. Nesse contexto, esses elementos fazem parte da biodiversidade, que é um bem coletivo e deve ser protegida como forma de manter os serviços ecossistêmicos para o bem da coletividade.

Para a realização do diagnóstico da população, aplicou-se um questionário a todos os moradores limítrofes às reservas legais na abrangência do projeto. Já na TI Toldo Imbú, os moradores receberam a Apremavi em uma reunião comunitária com apoio do cacique em exercício para a realização de um mapa falado. Além disso, entrevistou-se os moradores do Bairro São João Maria que fazem divisa com a APP que será restaurada.

Nos assentamentos foram realizadas 153 entrevistas, identificando-se que a principal atividade realizada nos lotes é a produção de milho, seguida do cultivo de soja, hortaliças e feijão. Outras atividades que tiveram destaque foram produção de leite e pecuária. Em relação ao tipo de uso das reservas legais pelos moradores, a maioria mencionou que não faz nenhum uso. Entre os que fazem uso, os mais mencionados foram a coleta de água de nascente para consumo animal e humano, coleta de pinhão, coleta de folhas e lenha. Destaca-se a importância da coleta de água para consumo humano e animal nessas áreas, sendo citada a coleta de água para consumo humano nos sete assentamentos entrevistados e a água para consumo animal em seis.

Menos da metade dos entrevistados não observam irregularidades ocorrendo na reserva legal limítrofe ao seu lote ou propriedade. Nesse sentido, cada assentamento tem sua particularidade em relação aos problemas que ocorrem nas RLs. Alguns exemplos são: extração de madeira, extração irregular de erva-mate, uso para pastagem de animais (bovinos e equinos).

Quando questionados a respeito do interesse em utilizar de forma sustentável a reserva legal de forma coletiva, mais de 70 entrevistados indicaram que não tem interesse. Entre os demais, o principal interesse é em manejar erva-mate e coletar pinhão, além de continuar com a coleta de água. Em relação à organização social dos entrevistados, não foi observado um padrão por assentamento ou por uma instituição/grupo.

Na TI Toldo Imbú os moradores construíram o mapa falado da área citando como pontos positivos da conservação da APP a oportunidade de lazer no rio e como pontos negativos o uso da área da APP como pastagem e a poluição do rio que ocorre atualmente (especialmente com descarte de lixo, animais mortos e esgoto).

Para o diagnóstico do sistema de produção de mudas e sementes foram mapeados sete viveiros de mudas nativas na região: dois viveiros em Abelardo Luz, dois viveiros em São Domingos e três viveiros em Chapecó, além do Viveiro Jardim das Florestas, da Apremavi , localizado em Atalanta. 

Segundo Edilaine Dick, coordenadora do Projeto +Floresta, “Durante os trabalhos de campo tanto nos assentamentos quando na TI Toldo Imbú e no Bairro São João Maria, foi excelente a receptividade e colaboração dos moradores locais para a coleta de dados e participação nas entrevistas e demais atividades realizadas, a relação de confiança que está sendo construída, será fundamental para os resultados do projeto.

 

+Floresta

A iniciativa visa contribuir com a restauração da vegetação nativa na Floresta Ombrófila Mista, em Abelardo Luz (SC), com o incremento de espécies vegetais ameaçadas de extinção, como a araucária, a imbuia e o xaxim-bugio.

Será desenvolvido ao longo de oito anos (2022 a 2030) nas Reservas Legais de sete Projetos de Assentamento (PAs) da Reforma Agrária e em uma Área de Preservação Permanente da Terra Indígena.  O projeto é financiado pelo Ibama através do Acordo de Cooperação Técnica nº 34/2021 e supervisionado pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF/SC), pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Justiça Federal de Santa Catarina, na forma da ação n° 5001458-53.2017.4.04.7200/SC.

> Conheça o projeto

Autora: Marluci Pozzan com informações dos relatórios do Diagnóstico dos aspectos socioeconômicos: Uso do Solo (Bio Teia Estudos Ambientais), Diagnóstico da População e Diagnóstico do sistema de produção de mudas e sementes (Apremavi).
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto da capa: Aspecto da paisagem de Abelardo Luz (SC) ©️ Maira Ratuchinski

Brasil retoma Plano Clima com a participação da sociedade civil

Brasil retoma Plano Clima com a participação da sociedade civil

Brasil retoma Plano Clima com a participação da sociedade civil

O Plano Clima foi instituído em 2009 para dar suporte à Política Nacional de Mudança do Clima. Em 2024, ele está sendo reformulado em três áreas principais: mitigação, adaptação e estratégias transversais, e incluirá a formulação de uma nova meta climática para o Brasil.

Como parte dessa atualização, foi criado um grupo técnico de adaptação, cuja função será desenvolver a Estratégia Nacional de Adaptação e os Planos Setoriais de Adaptação. Esses documentos serão reunidos no novo Plano Nacional de Adaptação (PNA). Criado pela portaria n° 150 em 2016, o PNA ficou inativo durante o governo anterior. 

Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), sob a orientação técnico-científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e com envolvimento de 23 outros ministérios, o Plano prevê um amplo processo de participação.

> Confira os documentos do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima

 

Diálogos para construção do Plano Clima de Adaptação 

A agenda de participação da sociedade civil inclui formas distintas de participação, que vão desde  encontros presenciais a encontros virtuais e votações na plataforma digital Brasil Participativo. Um desses encontros foi o voltado para a adaptação climática, que ocorreu nos dias 17 e 24 de maio no YouTube denominado de “ENCONTRO VIRTUAL: Diálogos para construção do Plano Clima – Adaptação”

“As mudanças climáticas já estão acontecendo, a exemplo da situação dramática do Rio Grande do Sul. Nós sabemos que essa tragédia é anunciada há mais de quatro décadas infelizmente a humanidade não fez a sua parte e nós ainda agravamos o problema, agora precisamos agir em uma situação de inúmeros prejuízos, tanto da vida das pessoas, quanto econômico, social e prejuízo até da nossa esperança, que a cada evento climático extremo, sofremos”, comenta Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e das Mudança do Clima, na abertura do evento.

A Apremavi acompanhou os dois dias do evento. No primeiro dia (17/05), contribuímos nas votações em tempo real acerca das sugestões de proposta de visão, objetivos e propostas temáticas do plano. Já no segundo (24/05), opinamos sobre as ações prioritárias nos seguintes temas: natureza e sociedade; segurança hídrica, alimentar e energética.

“A atualização desse plano é um enorme desafio porque ele precisa ser construído com muita participação social, mas também rapidamente, uma vez que não temos mais muito tempo para implementar as ações que podem nos ajudar na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Restando menos de 7 anos para que as atividades que podem evitar que o aquecimento médio da Terra não passe o número de 1,5° graus, temos que agir imediatamente“, comenta Miriam Prochnow, cofundadora e diretora da Apremavi que acompanhou a agenda.

 

Plataforma Brasil Participativo

O processo de elaboração do Plano Clima foi aberto na plataforma Brasil Participativo no dia 5 de junho e conta com informações sobre as questões  ambientais e climáticas além dos desafios do Brasil, a situação atual no país, as legislações vigentes, os documentos existentes e em elaboração. Tem destaque na plataforma o espaço para apresentação e votação de propostas sobre o tema. 

As pessoas podem propor, votar e comentar as sugestões, gerando debate na plataforma Brasil Participativo. Cada participante pode registrar até três propostas e votar em até dez sugestões da população. Serão apresentados 18 temas, que vão desde a produção de alimentos e energia a povos e comunidades tradicionais. As 10 propostas mais votadas de cada eixo temático seguirão para análise, podendo ou não ser incorporadas ao Plano Clima. E serão enviadas para análise e eventual incorporação nos planos setoriais, recebendo uma resposta individualizada.

> Participe da primeira etapa até o dia 05 de agosto

 

Plano Clima 

O Plano Clima definirá ações para que o Brasil reduza as emissões de gases de efeito estufa e se adapte aos impactos da mudança do clima, que já ocorreram e irão se intensificar ano a ano. É um instrumento previsto na Política Nacional sobre Mudança do Clima, também em atualização neste momento.

Ele conta com um planejamento de médio prazo até 2035, com ajustes e revisões previstas a cada quatro anos. Entre os compromissos, está a meta absoluta de emissões líquidas de gases de efeito estufa em 2025, a meta absoluta de emissões líquidas de gases de efeito estufa em 2030, e o objetivo de longo prazo de alcançar a neutralidade climática até 2050 (emissões líquidas zero). A meta mais ambiciosa, para 2035, também está em construção e será apresentada antes da 30ª Conferência do Clima (COP-30), que ocorrerá em Belém (PA) em 2025. 

 

Resumo das estratégias transversais do Plano Clima apresentadas pelo governo no dia 17 de maio de 2024 em uma live no YouTube.<br />

Resumo das estratégias transversais do Plano Clima apresentadas pelo governo no dia 17 de maio de 2024 em uma live no YouTube.

Autora: Thamara Santos de Almeida com informações do Plano Clima do Governo Federal.
Revisão: Miriam Prochnow.

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico do meio físico

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico do meio físico

Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico do meio físico

Estudos sobre a hidrografia, solo e vegetação foram realizados no último ano para embasar os projetos de restauração do projeto, que atua em Abelardo Luz (SC). 

Durante a execução da Meta I do Projeto +Floresta foram realizadas diversas pesquisas nas reservas legais dos sete projetos de assentamentos envolvidos na iniciativa (PAs 13 de Novembro, Bela Vista, José Maria, Maria Silverston, Recanto Olho D’Água, Roseli Nunes e Volta Grande) e na Área de Preservação Permanente (APP) da Terra Indígena Toldo Imbú, em Abelardo Luz. As pesquisas embasaram a classificação das áreas em diferentes cenários (A, B e C) e posteriormente os projetos finalísticos de restauração, que foram apresentados e aprovados pelo Ibama para a implementação da restauração das unidades de implantação do projeto (UIs).  

Para o diagnóstico do meio físico foram estudados a hidrografia, solos, morfologia e a vegetação. As pesquisas ocorreram nas UIs – áreas a serem restauradas e no seu entorno. O estudo de vegetação foi conduzido pela equipe técnica da Apremavi, enquanto os demais trabalhos foram realizados pela equipe da Bio Teia Estudos Ambientais (empresa contratada para o trabalho).

 

Diagnóstico de hidrografia

Em relação à hidrografia das UIs, todas elas estão inseridas na Bacia Hidrográfica do Rio Chapecó, e dividem-se nas sub-bacias dos rios Pacheco, Vermelho e Chapecó. Através dos estudos foi observado que muitas nascentes e rios nestas áreas estão desprotegidos por vegetação e/ou tendo impactos de causados pelo pisoteio de animais, justificando a restauração para a melhoria da conservação dos recursos hídricos. Os PAs e a área ocupada pela TI exercem papel importante para a manutenção dos recursos hídricos regionais.

 


Diagnóstico de solos

Os solos das áreas analisadas foram classificados como Latossolo, Latossolo Vermelho, Cambissolo e Nitossolo (Terra Estruturada). De acordo com a análise da qualidade nutricional do solo, há uma grande variabilidade dentro da mesma área, significando que o uso do solo altera suas características, pelo tipo de vegetação e manejo do solo. Além disso, foi observada a exaustão nutritiva dos solos, mesmo para aqueles usos que ainda possuem alguma cobertura de vegetação (estágio inicial, médio e avançado de restauração). Solos desprovidos de cobertura ficam expostos a ação física da água, que somado a falta de capacidade de troca catiônica (CTC) e de barreiras físicas, é lixiviado ao longo de áreas íngremes até cursos d’água, causando o  empobrecimento dos solos nas encostas e assoreamento dos rios.

Em várias unidades de implantação os solos possuem elevada acidez potencial (H+Al) e baixo pH, o que demandará a calagem (aplicação de cal) para corrigir a acidez, neutralizar o alumínio (Al) trocável e fornecer cálcio (Ca) e magnésio (Mg), e assim possibilitar o desenvolvimento da vegetação no processo de restauração. Ademais, verificou-se que as áreas para restauração que possuem vegetação não apresentam quantidade satisfatória de serrapilheira formada e, então, parte do ciclo biogeoquímico é baixo. 

Para Fabiana Dallacorte, coordenadora dos estudos da Bio Teia Estudos Ambientais “Não há como produzir alimentos sem água, sem polinização e sem microrganismos do solo, é emergente a necessidade de trilharmos caminhos mais conscientes em relação ao uso que fazemos do solo e minimamente respeitar a legislação vigente no que tange a proteção de áreas que protegem os corpos d´água. Espera-se que todos os envolvidos nestas terras entendam de forma coletiva a necessidade de olhar para o seu pequeno pedaço de terra como um grande influenciador de comportamentos que levem à conservação dos ecossistemas em que estão envolvidos.

 

Diagnóstico da vegetação

A respeito da vegetação, as áreas destinadas à restauração foram classificadas através da Resolução Conama nº 04 (1994) como: aproximadamente 64% de vegetação em estágio inicial, 14,39% em estágio médio e menos de 1% (1,71 ha) de vegetação em estágio avançado de regeneração. Ainda foram observados 0,43 hectares ocupados com plantio de exóticas (pinus e eucalipto) e outros 53,97 hectares com uso antrópico, especialmente como pastagem.

Foram encontradas no diagnóstico de vegetação 125 espécies arbóreas, divididas em 42 famílias. As principais espécies observadas no levantamento fitossociológico foram: Ocotea puberula (canela-guaicá), Matayba eleagnoides (camboatá-branco), Zanthoxylum rhoifolium (mamica-de-porca), Myrsine coriacea (capororoquinha), Araucaria angustifolia (araucária), Cupania vernalis (camboatá-vermelho), Schinus terebinthifolia (aroeira-vermelha), Sapium glandulosum (leiteiro), Ocotea porosa (imbuia) e Ateleia  glazioveana (timbó). A família botânica com maior número de espécies encontradas foi Myrtaceae, característica das frutíferas como pitanga, araçá, cereja e uvaia. Um dado relevante a ser mencionado é que 66,29% das espécies vegetais encontradas são zoocóricas, ou seja, têm suas sementes dispersas pela fauna, destacando a importância dos animais na manutenção da vegetação local.

Destaca-se que tais resultados são relativos às áreas que serão restauradas pelo Projeto +Floresta e foram destinados à restauração através do Chamamento Ibama nº 02/2018, que por sua vez não abrangem todos os blocos de Reserva Legal dos assentamentos envolvidos no projeto. O projeto é financiado pelo Ibama através do Acordo de Cooperação Técnica nº 34/2021 e supervisionado pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF/SC), pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Justiça Federal de Santa Catarina, na forma da ação n° 5001458-53.2017.4.04.7200/SC.

Os resultados das pesquisas foram apresentados na Oficina Técnica do Projeto +Floresta, realizada em março de 2023, que contou com a participação de representantes do Ibama, parceiros e comunidade envolvida no projeto. Além disso, os resultados também serão apresentados individualmente nos assentamentos e na TI, nas reuniões com a comunidade que devem anteceder o início das atividades de implementação da restauração.

Realização do diagnóstico do meio físico do projeto +Floresta. Foto: Leandro Casanova

Realização do diagnóstico da vegetação do projeto +Floresta. Foto: Leandro Casanova

Autora: Marluci Pozzan com informações dos relatórios do Diagnóstico do Meio Físico: Hidrografia, Morfologia e Solos (Bio Teia Estudos Ambientais) e Diagnóstico do Meio Físico: Vegetação (Apremavi).​
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Realização do diagnóstico do meio físico do projeto +Floresta. Foto: Marluci Pozzan.

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