Sua majestade, a Araucária

Sua majestade, a Araucária

Sua majestade, a Araucária

A Araucária, também conhecida como Pinheiro-brasileiro, é a árvore predominante da Floresta Ombrófila Mista, também conhecida como Floresta com Araucárias, uma das formações florestais do bioma Mata Atlântica. Originalmente, essa floresta se espalhava por cerca de 200.000 quilômetros quadrados dos estados do Sul e Sudeste do Brasil, principalmente nos planaltos e regiões mais frias.

O Pinheiro Brasileiro, cientificamente chamado de Araucaria angustifolia, é uma árvore de tronco cilíndrico e reto, cujas copas dão um destaque especial à paisagem. Chega a viver até 700 anos, alcançando diâmetro de dois metros e altura de até 50 metros.

Durante seu crescimento passa pelas mais variadas formas. Quando pequeno o pinheirinho parece um candelabro, à medida que cresce assume a forma de um cone e já no auge de sua maturidade, assemelha-se a uma taça. É o conjunto de taças, das copas dos pinheiros adultos, que confere à floresta com araucárias toda sua beleza e imponência, em especial no inverno, quando a neve a enfeita ainda mais.

No Sul do Brasil, o pinheiro brasileiro também é muito lembrado no período de inverno e festas juninas, quando a sua semente, o pinhão, é muito apreciado, cozido ou assado na brasa. Existe inclusive a festa nacional do pinhão, em Santa Catarina. O pinhão é uma fonte de alimento muito importante para a fauna nativa. Uma lenda, passada de geração em geração, conta que quem planta a araucária é a gralha-azul, que coleta os pinhões para comer, escondendo alguns para depois e acaba se esquecendo deles. Assim nascem os novos pinheirinhos. Lenda ou não, o fato é que existe uma ligação muito profunda e delicada entre a floresta e seus habitantes, inclusive os habitantes humanos. O pinhão é, ainda hoje, uma fonte de renda para muitas famílias.

 

Diferentes aspectos da Araucária. Em destaque, o Pinhão, a semente da Araucária. Fotos: Acervo Apremavi.

Características gerais

Árvore perene, a Araucária se caracteriza por ser monopodial e seus ramos laterias formando ângulos de quase noventa graus; costuma ter entre 10 e 35 metros de altura e por volta de 50 a 120 cm de diâmetro, sendo que, na fase adulta e em condições favoráveis, alguns espécimes já demonstraram seus possíveis 50 metros de altura e 250 cm de diâmetro. Seu tronco é reto e possui copa alta, muito característica e dificilmente confundível, sua casca é grossa e escura num tom marrom por fora, enquanto por dentro apresenta coloração clara com tons róseos e é resinosa. É gimnosperma, logo não possui flores nem frutos verdadeiros e, após a fecundação, é formada a pinha que pode ser caracterizada como uma flor primitiva.

A sua estrutura reprodutiva feminina de formato mais arredondada e a masculina fina e esticada dependem quase exclusivamente do vento para dispersão de suas sementes e polinização, porém não deixa de possuir uma relação de alta importância com diversos seres vivos, tanto para nidificação de pequenas aves, quanto alimento e eventualmente dispersão de sementes. Um fato interessante, mesmo que comum, é sua associação por meio de micorrizas, sendo uma troca de nutrientes entre fungo e árvore.

A qualidade da madeira, leve e sem falhas, fez com que a araucária fosse impiedosamente explorada, principalmente a partir do início do século XX. Calcula-se que, entre 1930 e 1990, cerca de 100 milhões de pinheiros tenham sido derrubados. Nas décadas de 1950 e 1960, a madeira de araucária figurou no topo da lista das exportações brasileiras. Nem mesmo a beleza cênica, a riqueza biológica, a importância econômica de espécies como a araucária, a imbuia, o xaxim, a canela sassafrás e a erva mate, ou o alerta de cientistas e ambientalistas feitos a partir de 1930, foram suficientes para que as autoridades e a sociedade brasileira adotassem medidas efetivas de proteção da floresta com araucárias.

A araucária é uma das espécies mais antigas da flora brasileira, passou por diversos períodos geológicos, suportou drásticas mudanças climáticas, mas não está resistindo aos machados e motosserras de duas gerações humanas. Atualmente a floresta com araucárias está à beira da extinção. Restam menos de 3% de sua área original, incluindo as florestas exploradas e matas em regeneração. Menos de 1% da área original guarda as características da floresta primitiva.

Esta situação é cotidianamente agravada porque a floresta ainda sofre pela exploração ilegal da madeira e pela conversão da floresta em áreas agrícolas e reflorestamentos de espécies exóticas, aumentando ainda mais o isolamento e insularização dos remanescentes. A mesma pressão é exercida sobre os campos naturais associados à Floresta Ombrófila Mista, agravando ainda mais a situação desse ecossistema.

A araucária é um símbolo de resistência na luta pela conservação da biodiversidade. Muitas batalhas foram perdidas, como o caso escandaloso de Barra Grande.Entretanto ainda resta esperança e a manutenção dos últimos remanescentes nativos é fundamental, como pode ser constatado no trabalho feito junto ao Parque Nacional das Araucárias e à Estação Ecológica da Mata Preta.

 

 

Diferentes estágios da produção de mudas de Araucária no Viveiro Jardim das Florestas – Apremavi. Fotos: Vitor Lauro Zanelatto. 

A solução é restaurar

A restauração da floresta com araucárias também é extremamente importante e ela pode ser feita inclusive visando o uso econômico no futuro, seja da madeira da araucária plantada, seja através da colheita do pinhão (de araucárias nativas ou plantadas), seja pela exploração de sistemas agroflorestais, onde a araucária pode ser plantada com outras espécies como a erva-mate, a espinheira-santa, a bracatinga, a pitangueira, a cerejeira e etc.

O que importa é que todos se conscientizem de que as ações em prol do futuro do Planeta devem ser colocadas em prática por todos nós, imediatamente.

Visando apresentar o passo-a-passo para a produção de mudas nativas, a Apremavi realizou em 2021 O evento “Restauração e Produção de Mudas Nativas – O exemplo da araucária”. Miriam Prochnow falou sobre a Mata Atlântica e Wigold B. Schäffer usou a araucária como exemplo sobre a importância do uso dessa espécie em plantios de restauração de áreas degradadas. 

Oficina de viveiritas realizada durante live no dia 30 de junho é uma iniciativa da Apremavi e do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental com apoio da Cáritas Brasileira e da Misereor.

Araucária

Nome cientifico: Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze.
Família: Araucariaceae.
Utilização: madeira utilizada na construção civil, utensílios domésticos e cabos de ferramentas. Foi muito utilizada na indústria naval. Sementes comestíveis (pinhão) e atrativas para a fauna. Também é utilizada no paisagismo.
Coleta de sementes: diretamente da árvore ou no chão após a queda.
Época de coleta de sementes: abril a agosto.
Fruto: Não apresenta frutos, suas sementes ficam juntas “nuas”, sem nenhuma polpa as envolvendo. O conjunto de sementes é chamado de pinha.
Flor: estróbilos verdes.
Crescimento da muda: médio.
Germinação: Cada sementes é colocada diretamente nos saquinhos com substrato, com a ponta para baixo, levemente inclinada, sendo de germinação rápida.
Plantio: mata ciliar, área aberta.
Não é recomendável a produção de mudas através da repicagem. Para o plantio no campo é importante que as mudas não ultrapassem 10 cm de altura. Os pinhões também podem ser plantados diretamente.
Status na Lista Vermelha da IUCN: perigo crítico (critically endangered).

 

Fontes Consultadas:

LORENZI, HARRI. Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arboóreas Nativas do Brasil. vol.1, 3ª ed. – Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2000.

PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.

THOMAS, P. 2013. Araucaria angustifolia. The IUCN Red List of Threatened Species 2013: e.T32975A2829141. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2013-1.RLTS.T32975A2829141.en.

Autores: João Casimiro, Miriam Prochnow e Wigold B. Schaffer.

Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.

Foto de capa: Wigold B. Schaffer.

Ipê-amarelo, a cor dourada do Brasil

Ipê-amarelo, a cor dourada do Brasil

Ipê-amarelo, a cor dourada do Brasil

O ipê-amarelo é encontrado em todas as regiões do Brasil e sempre chamou a atenção de naturalistas, poetas, escritores e até de políticos. Em 1961, o então presidente Jânio Quadros declarou o ipê-amarelo, da espécie Tabebuia vellosoi, a Flor Nacional. Desde então o ipê-amarelo é a flor símbolo de nosso país.

Os ipês pertencem à família das Bignoniáceas, da qual também faz parte o jacarandá, e ao gênero Tabebuia (do tupi, pau ou madeira que flutua), embora sejam de madeira muito pesada para flutuar. Tabebuia era, na verdade, o nome usado pelos índios para denominar a caixeta (Tabebuia cassinoides), uma árvore de madeira leve da região litorânea do Brasil, muito usada hoje na fabricação de artesanatos, instrumentos musicais, lápis e vários outros objetos.

Ipê é uma palavra de origem tupi, que significa árvore cascuda, e é o nome popular usado para designar um grupo de nove ou dez espécies de árvores com características semelhantes de flores brancas, amarelas, rosas, roxas ou lilás. No Norte, Leste e Nordeste do Brasil, são mais conhecidos como pau-d’arco (os indígenas utilizavam a madeira para fazer arco e flecha); no Pantanal, como peúva (do tupi, árvore da casca); e, em algumas regiões de Minas Gerais e Goiás, como ipeúna (do tupi, una = preto). Na Argentina e Paraguai ele é conhecido como lapacho.

De forma geral os ipês ocorrem principalmente em florestas tropicais, mas também podem aparecem de forma exuberante no Cerrado e na Caatinga. A Tabebuia chrysotricha é uma das espécies nativas de ipê-amarelo que ocorre na Mata Atlântica, desde o Espírito Santo até Santa Catarina. Este nome científico (chrysotricha) é devido à presença de densos pêlos cor de ouro nos ramos novos. Tem como sinonímias botânicas: Tecoma chrysotricha e Handroantus chrysotrichus.

Conhecidos por sua beleza e pela resistência e durabilidade de sua madeira, os ipês foram muito usados na construção de telhados de igrejas dos séculos XVII e XVIII. Se não fosse pelos ipês, muitas dessas construções teriam se perdido com o tempo. Até hoje a madeira do ipê é muito valorizada, sendo bastante utilizada na construção civil e naval.

Hoje é muito difícil encontrar uma árvore de ipê-amarelo em meio à mata nativa, quando isso acontece, o espetáculo é grandioso e merece ser apreciado com calma e reverência. Podendo atingir até 30 metros de altura, o ipê em flor no meio da mata, contrasta com o verde das outras árvores.

As variedades de pequeno e médio porte (8 a 10 metros) são ideais para o paisagismo e a arborização urbana. A coloração das flores produz um belíssimo efeito tanto na copa da árvore como no chão das ruas, formando um tapete de flores contrastantes com o cinza das cidades.

Não é a toa ter inspirado tantos poetas.

Ontem floriste como por encanto,
sintetizando toda a primavera;
mas tuas flores, frágeis entretanto,
tiveram o esplendor de uma quimera. Como num sonho, ou num conto de fada,
se transformando em nívea cascata,
tuas florzinhas, em sutil balada,
caíam como se chovesse prata…”

(Sílvio Ricciardi)

Sendo uma espécie caducifólia, o período da queda das folhas coincide com a floração que se inicia no final do inverno. Quanto mais frio e seco for o inverno, maior será a intensidade da florada do ipê amarelo. As flores desta espécie atraem abelhas e pássaros, principalmente beija-flores que são importantes agentes polinizadores.

As mudas de ipê, sejam amarelos, roxos, rosas, brancos ou verdes, estão entre as mais procuradas no viveiro Jardim das Florestas. Essas espécies também são muito utilizadas pela Apremavi nos projetos de restauração florestal.

Avenida de ipês amarelos. Foto: Acervo Apremavi.

Ipê-amarelo

Nome cientifico: Tabebuia chrysotricha (Mart. Ex A.DC.)Standl.
Família: Bignoniaceae.
Utilização: madeira utilizada na construção civil, cercas, molduras, postes, tábuas, rodapés, etc. espécie muito utilizada pelo paisagismo urbano.
Coleta de sementes: diretamente da árvore quando começar a abertura espontânea dos frutos.
Época de coleta de sementes: outubro a novembro.
Fruto: legume deiscente.
Flor: amarela.
Crescimento da muda: médio.
Germinação: rápida.
Plantio: mata ciliar, área aberta.
Observação: semear logo após a coleta, pois perde rapidamente poder de germinação. A cobertura das sementes nas sementeiras deve ser uma fina camada com substrato leve.

Autora: Miriam Prochnow.
Colaboração: Geraldine Maiochi e Tatiana Arruda Correia.
Fontes Consultadas:

LORENZI, HARRI. Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arboóreas Nativas do Brasil. vol.1, 3ª ed. – Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2000.

PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.

http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=884&sid=2

http://www.oguialegal.com/ipe-amarelo.ht

Erva-mate, uma árvore de tradição

Erva-mate, uma árvore de tradição

Erva-mate, uma árvore de tradição

A erva-mate, conhecida cientificamente por ilex paraguariensis, é originária da Mata Atlântica e pode ser encontrada nas florestas dos três estados do sul do Brasil, no norte da Argentina, Paraguai e Uruguai. Sua árvore pode atingir mais de oito metros de altura. O caule é curto e cinza e as folhas são ovais e coriáceas. O fruto é pequeno e pode ser verde ou vermelho-arroxeado.

A extração e cultivo da erva-mate é uma tradição antiga. Os primeiros a utilizarem a planta, fazendo uma infusão com as folhas, foram os indígenas Guaranis e Quínchua, que habitavam a região das bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, na época da chegada dos colonizadores espanhóis.

A origem da palavra mate deriva do quíchua matty, nome dado para a cuia, o recipiente onde o chá mate era bebido por estes povos. Com o passar do tempo, o hábito de tomar chimarrão (feito com água quente) ou tererê (feito com água fria/gelada ou limonada) popularizou-se principalmente nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, sendo também consumido na Argentina, Uruguai, Paraguai e em algumas localidades do Chile e do Peru.

A erva-mate é conhecida por suas propriedades estimulantes e digestivas, sendo que o mate pode ser considerado o chá oficial do Brasil, uma vez que além do uso tradicional sob forma de chimarrão ou tererê, o mate também é consumido como chá quente ou chá mate gelado no verão, comum nas praias do litoral brasileiro.

Além das tradicionais destinações da erva-mate (chimarrão, chá, refrigerante), a sua utilização na indústria química (tintas e resinas, medicamentos, desinfetantes e outros produtos), começa a crescer, embora ainda de forma reduzida.

Por ser uma planta capaz de combater doenças, como anemia, diabetes e depressão, e possuir um grande valor nutricional, a erva mate era considerada desde a época dos indígenas como um néctar dos deuses.

O mate contém quase todos os nutrientes que o organismo humano precisa e é capaz de estimular a atividade física e mental. Estudos mostram que estão presentes na erva vitaminas como as do complexo B, C, D e E, e sais minerais, como cálcio, manganês e potássio.

A erva mate combate células cancerígenas e retarda o envelhecimento. A principal característica é que ela tem o poder de eliminar a oxidação das células de colesterol ruim. O mate evita o acúmulo de placas de ateroma que causam o entupimento das artérias.

O chá mate, além de auxiliar na digestão e na hidratação, é um estimulante oferecendo mais ânimo e disposição. Entretanto, o consumo deste produto deve ser dosado caso o usuário sofra de insônia ou irritabilidade. As pessoas agitadas, nervosas ou que têm insônia devem evitar o consumo do chá mate a noite.

A erva mate é colhida em ciclos de dois em dois anos. A poda da planta jovem estimula a brotação e facilita a colheita das folhas, a condução dos brotos em forma de taça, facilita as colheitas e a planta é mantida com cerca de três metros de altura.

O cultivo da erva-mate abrange cerca de 180 mil propriedades dos estados do Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, este último responsável por pelo menos 75% da produção nacional. Emprega, direta e indiretamente, mais de 700 mil pessoas. As propriedades em que ela é cultivada são, na maioria, pequenas e médias o que lhe assegura uma importância social expressiva. Em Santa Catarina, o município de Canoinhas é considerado a capital da erva mate.

Também tem aumentado o cultivo da erva-mate orgânica, o que traz um diferencial na produção e na qualidade do produto. A erva-mate também é uma espécie-chave na composição de Sistemas Agroflorestais no Sul do Brasil, juntamente com a araucária.

Segundo dados pesquisados no município de Turvo (PR), uma família, por exemplo, com uma propriedade de 13,8 hectares, alcança produção anual de 300 a 400 arrobas de erva-mate. Nas propriedades que possuem este produto certificado como orgânico o preço quase dobra. Em 2008 a arroba de erva-mate (saca com 15 quilos do produto verde ou beneficiado) cultivada nos modelos tradicionais alcançou entre R$ 4,50 e R$ 5,50. Já com a certificação de erva orgânica, o preço da arroba chegou a R$ 8,20. Devido à qualidade do produto, sua comercialização atingiu o mercado exterior, através do contrato com uma empresa americana, a Guayakí, que no ano de 2008 adquiriu 90 toneladas da erva-mate orgânica.

A certificação da erva-mate passa por ações de fiscalização e padronização de qualidade, visando obter um produto que esteja sendo produzido num ambiente equilibrado e numa propriedade que atenda à legislação ambiental. Pesquisadores analisaram que a melhor erva-mate é a sombreada, ou seja, aquela cujas folhas são extraídas do interior da floresta. A erva-mate sombreada apresenta melhor composição natural, não tendo suas propriedades químicas alteradas pela exposição ao sol, por exemplo.

A certificação da erva-mate, produzida no Sul do Brasil, representa um importante passo na introdução da certificação florestal no país. Foi o primeiro produto não-madeireiro a receber o selo FSC por meio da adoção de critérios específicos para produtos não-madeireiros em remanescentes da Mata Atlântica. Atestada pela certificadora Smartwood, que trabalha através do Imaflora, a certificação é a garantia da prática de um manejo florestal ambientalmente adequado, socialmente justo e economicamente viável.

A ervateira Putinguense, sediada no município de Putinga, estado do Rio Grande do Sul, foi a primeira a cumprir o rigoroso processo da certificação socioambiental. O selo, concedido em março de 2003, gerou um impacto imediato na valorização da erva-mate.

A erva-mate é uma das espécies produzidas no viveiro Jardim das Florestas da Apremavi. O fruto é colhido maduro para retirar as sementes. As sementes são enterradas na areia fina por aproximadamente seis meses, num processo chamado de escarificação (camadas alternadas de sementes e areia). Depois desse período as sementes são colocadas para germinar numa sementeira, sendo que a germinação ocorre após mais dois meses. Depois elas são passadas para “saquinhos”, onde ficam de quatro a seis meses na estufa para atingirem um padrão de 15 a 20 cm, quando podem ir para o campo.

As técnicas de plantio, apesar de não serem complexas, requerem atenção. Para que o cultivo desta planta seja realizado com sucesso é preciso saber que os melhores dias para o plantio são os dias sem sol. A plântula é muito sensível ao sol, por isso exige sombreamento até que a planta atinja alguma maturidade. As plantas nativas se reproduzem por meio de pássaros que ingerem o pequeno fruto e defecam sua semente já escarificada.

Plantio de erva-mate no sub-bosque de mata secundária. Foto: Acervo Apremavi.

Erva-mate

Nome científico: Ilex paraguarienses A. ST.-Hil.
Família: Aquifoliaceae
Utilização: usada para lenha e fabricação dos caixotes. Suas folhas são utilizadas para fazer “mate”, ou chimarrão, um dos mais conhecidos chás do país. Seus frutos são consumidos por várias espécies de aves.
Coleta de sementes: diretamente da árvore quando começar a queda espontânea dos frutos.
Época de coleta de sementes: janeiro a março.
Fruto: vermelho escuro, roxo, com pouca polpa.
Flor: branca.
Crescimento da muda: médio a lento.
Germinação: lenta – necessitando de estratificação.
Plantio: mata ciliar, área aberta, sub-bosque.

* Os dados sobre usos medicinais das espécies nativas são apenas para informação geral, onde os estudos foram feitos com propriedades isoladas em uma quantidade específica. O uso de medicamentos fitoterápicos deve ser seguido de orientações médicas.

Agricultor ao lado dos pés de erva-mate plantados por ele. Foto: Acervo Apremavi.
Autoras: Miriam Prochnow e Tatiana Arruda Correia.
Fontes Consultadas:

Análise de Compostos Fenólicos, Metilxantinas, Tanino e Atividade Antioxidante de Resíduo do Processamento da Erva-Mate: Uma Nova Fonte Potencial de Antioxidantes. Disponível em:
http://www.google.com/search?hl=pt-BR&rls=com.microsoft:pt-br:IE-SearchBox&q=erva+mate+e+saude+pdf&start=10&sa=N Data de acesso: 25 jan. 2010.

ERVA MATE. Blog Multivegetal. Disponível em: http://blog.multivegetal.com/ Data de acesso: 24.jan. 2010.

ERVA MATE . Revista rural. n° 103 – setembro 2006. Disponível em: http://www.revistarural.com.br/Edicoes/2006/Artigos/rev103_erva_mate.htm. Data de acesso: 24 jan. 2010.

HEINRICHS, R.; MALAVOLTA, E. Mineral composition of a commercial product from mate-herb (Ilex paraguariensis St. Hil.). Ciência Rural, Santa Maria, v. 31, n. 5, p. 781-785, 2001.

LORENZI, HARRI. Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arboóreas Nativas do Brasil. vol.1, 3ª ed. – Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2000.

PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.

PICONE, Claudia (coordenação). O Uso Sustentável dos Recursos Naturais na Floresta com Araucárias. The Nature Conservancy (TNC). [2009].

Caroba, uma exuberância de flores

Caroba, uma exuberância de flores

Caroba, uma exuberância de flores

Andar pelas estradas de Atalanta (SC) na primavera é um convite à admiração da natureza, as árvores se apresentam imponentes, na composição harmônica do verde das folhas e do colorido das flores. Entre tantas belezas, destacam-se as carobas, conhecida também como carobinhas ou jacarandá-branco.

A Caroba (Jacaranda puberula) é uma planta que gosta de sol, comumente encontrada em capoeiras e capoeirões situados em solos úmidos de planícies, aclives suaves e solos pedregosos, apresentando grande afinidade com a vegetação secundária. Ocorre tanto no interior da floresta primária como em formações secundárias.

A espécie apresenta potencial de uso para recomposição de áreas degradadas, pois possui rápido crescimento, adapta-se bem a solos arenosos e argilosos degradados, além de enriquecer a serapilheira com suas folhas, sendo indicada sobretudo para plantio em encostas nos estágios inicial a médio de regeneração.

É bastante ornamental, podendo ser empregada com sucesso no paisagismo principalmente na arborização de ruas estreitas e sob redes elétricas.

Algumas espécies de Jacaranda são utilizadas na medicina popular, como a espécie Jacaranda caroba. O uso no combate a infecções é realizado através do banho preparado com folhas e a infusão destas é usada internamente contra sífilis e como depurativo sanguíneo. O macerado das folhas em aguardente é aplicado externamente como cicatrizante e contra úlceras.

A madeira também pode ser empregada na construção civil em obras internas, como ripas e forros, para carpintaria, miolos de painéis e portas, rodapés, caixotaria, celulose, cepas de calçados, etc.

Muda de Caroba. Foto: Acervo Apremavi.

Caroba

Nome científico: Jacaranda puberula
Família: Bignoniaceae
Características morfológicas:
altura de 4-7 m, com tronco de 30-40 cm de diâmetro, folhas compostas bipinadas de 20-25 cm de comprimento, folíolos glabros, de 3-5 cm de comprimento.
Ocorrência: sua ocorrência é do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, na mata pluvial da encosta atlântica.
Fenologia: floresce durante os meses de agosto-setembro junto com o surgimento das novas folhas e a maturação dos frutos que ocorre de fevereiro-março.
Obtenção de sementes: os frutos devem ser colhidos diretamente da árvore quanto iniciarem sua abertura espontânea. Em seguida levá-los ao sol para completar a abertura e liberação das sementes. Devido a baixa densidade das sementes, cobrir o fruto com tela para evitar a sua perda pelo vento. Um quilograma contém aproximadamente 165.000 sementes. Não é viável armazenar as sementes por mais de três meses.
Produção de mudas: colocar as sementes para a germinação logo após a colheita em canteiros semi-sombredos contendo substrato organo-argiloso; cobrir levemente as sementes com substrato peineirado e irrigar delicadamente duas vezes ao dia. A emergência das mudas ocorre entre 8-15 dias, e a taxa de germinação é superior a 80%. O desenvolvimento das mudas, bem como das plantas no campo é médio, dificilmente não ultrapassando 3m aos dois anos.

Fontes consultadas

GLUFKE, C. Espécies florestais recomendadas para recuperação de áreas degradadas. Porto Alegre: Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, 1999. 48p.

Hiruma-Lima CA, Di Stasi LC 2002. Scrophulariales medicinais. Plantas Medicinais na Amazônia e na Mata Atlântica. São Paulo: Editora Unesp, p. 449-452.

Lorenzi H. 2000. Árvores Brasileiras. Nova Odessa: Editora Plantarum, v. 1, p. 41.

REITZ, P.R. Bignoniaceae. In: ___. Flora catarinense. Itajaí: Herbário Barbosa Rodrigues, 1974. 172p.

Autora: Tatiana Arruda Correia.

Quem não gosta de um Ingá-feijão?

Quem não gosta de um Ingá-feijão?

Quem não gosta de um Ingá-feijão?

O Ingá-feijão ocorre em quase todo o território brasileiro, sendo bem comum nas matas ciliares. É uma árvore mediana, tendo de oito a 15 m de altura, e de 20 a 30 cm de diâmetro. Seu tronco relativamente fino, de ramificação quase horizontal, forma uma copa arredondada e densa, tendo folhas compostas por dois a três pares de folíolos lanceolados de três a 15 cm de comprimento e de 1 a 4 cm de largura.

Apesar de preferir os ambientes ao longo dos rios e lagos, também ocorre em terra firme, com solo profundo e úmido. Por ser uma espécie pioneira, sua ocorrência é maior em capoeiras e capoeirões situados em solos úmidos.  Em florestas mais conservadas ocorre apenas de forma esparsa.

Produz intensa floração de outubro a fevereiro e frutificação de março a maio. As flores brancas, reunidas em espigas, são vistosas, perfumadas e melíferas. Os frutos são vagens lisas, roliças, segmentadas, tendo sementes com polpa branca adocicada. Na época de floração e frutificação é um espetáculo que chama a atenção de todos os que passam.

O Ingá-feijão é também uma árvore ornamental, podendo ser utilizada na arborização urbana e para formação de cortinas arbóreas. Suas flores são melíferas e seus frutos são comestíveis, sendo indicado o seu plantio em pomares. Os frutos também atraem pássaros e outros animais como macacos e até peixes, por isso seu uso é recomendado nos plantios de restauração florestal e de matas ciliares. Sua madeira pode ser empregada em obras externas, carpintaria e caixotaria.

Na medicina popular, a infusão da casca tem propriedades anti-sépticas. As folhas são usadas como adstringentes e no tratamento de inflamações da mucosa bucal e da garganta.

Muda de Ingá-feijão. Foto: Arquivo Apremavi.

Ingá-feijão

Nome científico: Ingá marginata Willd.
Família: Fabaceae.
Utilização: madeira utilizada para lenha, fabricação de caixas e carpintaria em geral. Seus frutos são comestíveis, servindo de alimento também para vários animais, dentre eles, o Serelepe.
Coleta de sementes: diretamente da árvore quando começar a queda espontânea dos frutos.
Época de coleta de sementes: novembro a março.
Fruto: legume verde (vagem), contendo várias sementes por fruto, possuindo aproximadamente 15 cm.
Flor: branca.
Crescimento da muda: rápido.
Germinação: rápida.
Plantio: mata ciliar, área aberta, solo degradado.

Fontes consultadas

Ingá-feijão. http://www.esteditora.com.br/correio/4991/right.htm. Acessado em:

Ingá-feijão. http://www.chaua.org.br/especie/inga-feijao. Acessado em:

PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.

Autoras: Geraldine Marques Maiochi e Miriam Prochnow.

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