Apremavi participa da V Conferência Brasileira de Restauração Ecológica
Apremavi participa da V Conferência Brasileira de Restauração Ecológica
Entre os dias 08 a 12 de julho a Apremavi esteve presente na V Conferência Brasileira de Restauração Ecológica em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). O evento é promovido a cada dois anos pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE).
Pela primeira vez em cinco anos, o evento foi realizado na Caatinga, um bioma endêmico do Brasil, tendo tido apoio do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).
Na temática “SOBRE +10: o futuro da restauração”, o evento, que celebrou os 10 anos da SOBRE à luz da Década da Restauração, destacou as experiências de restauração em ação nos diversos biomas brasileiros e projetou alternativas para ganho de escala e qualidade no futuro. Foram abordados temas contemporâneos e promovidas discussões sobre as melhores práticas para orientar políticas públicas diante dos desafios enfrentados pela humanidade, incluindo a crise climática.
A Apremavi ministrou e mediou sessões simultâneas, apresentou resumos científicos além de participar de assembléias e reuniões de redes e coletivos como o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e a Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE).
“Este ano a Conferência da SOBRE foi histórica, não só pela quantidade recorde no número de inscritos, mas também por que na Apremavi tivemos uma participação de destaque”, celebra Carolina Schäffer, vice-presidente, coordenadora de projetos e de comunicação da instituição. “Batemos recordes de resumos científicos aceitos e de participação em sessões simultâneas, o que evidencia na prática a relevância e o compromisso que a instituição mantém há 37 anos em prol da restauração e conservação da Mata Atlântica destacando a importância contínua do nosso trabalho realizado a muitas mãos em redes e coletivos.”
Sessões simultâneas
No dia 09 de julho, dia em que a Apremavi comemorou 37 anos de fundação, a instituição ministrou três sessões simultâneas em parceria com diversas instituições.
A primeira delas foi uma fala de abertura do simpósio “Inovações e lições aprendidas nos protocolos e sistemas de monitoramento da restauração em campo”, moderado pelo pesquisador Renato Garcia Rodrigues. Na oportunidade, Carolina Schäffer, coordenadora de projetos e diretora da Apremavi, apresentou como a utilização do aplicativo survey em campo ajuda no ganho de eficiência e eficácia na coleta de dados para o monitoramento em campo. O simpósio também teve a participação da Marina Vergara Fagundes, pesquisadora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que apresentou resultados do monitoramento de projetos experimentais utilizando técnicas inovadoras de restauração, além de Pedro Sena, coordenador técnico do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (CEPAN), que abordou projetos de restauração ecológica no entorno de Unidades de Conservação com propriedades privadas e seus indicadores e resultados em dois anos de coleta de dados. A apresentação dos projetos de restauração do NEMA/UNIVASF pelo coordenador da iniciativa e moderador da mesa, fechou o evento.
“A experiência das Unidades Regionais (URs) do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica no fortalecimento da cadeia da restauração” foi tema da segunda sessão simultânea que teve o envolvimento da Apremavi. Carolina foi moderadora da sessão e explanou sobre como as URs são um ponto de encontro para compartilhamento de saberes, com foco na atuação da Apremavi. Em seguida, Jamile Laquini, gerente de engajamento da MV Gestão Integrada, abordou as estratégias de engajamento de produtores rurais como parceiros ativos da restauração. Joaquim Freitas Neto, coordenador técnico do CEPAN, comentou sobre o trabalho em parceria realizado pelas URs e como elas se inspiram entre si para a implementação de técnicas inovadoras. Por fim, Ana Paula Silva, coordenadora de projetos do Mater Natura, abordou o monitoramento da restauração. O propósito do simpósio foi compartilhar as experiências das 16 URs distribuídas na Mata Atlântica – sul, sudeste e nordeste, dando ênfase nas inovações e lições aprendidas acumuladas por cada instituição, compartilhando as formas de interação via URs e Pacto, que recebeu o reconhecimento de flagship pela ONU, na Década da Restauração de Ecossistemas.
Por fim, o dia de sessões simultâneas com a participação da Apremavi encerrou com o simpósio sobre “Tecnologias que dão escala na restauração da Mata Atlântica”. A mediação e abertura do evento também ficou por conta de Carolina Schäffer, que demosntrou como as embalagens de papel utilizadas pela Apremavi na produção de mudas nativas dão escala à restauração e fornecem qualidade no produto e melhoras significativas no trabalho dos viveiristas. Felipe Paranhos, diretor da Dap Web, explicou como tecnologias como os VANTs e aplicativos digitais representam uma nova era no monitoramento da restauração. Filipe Lindo, coordenador de restauração florestal da SOS Mata Atlântica, apresentou a experiência da instituição no desenvolvimento de plataformas de gestão de projetos. O simpósio finalizou com Pedro Furtado, consultor da Arcom, instituição parceira da TNC Brasil, com a apresentação do Portal Ambiental do Conservador da Mantiqueira e como ele fornece transparência e governança para os dados dos projetos de restauração.
Sessões simultâneas em que a Apremavi ministrou em parceria com diversas instituições durante o evento. Fotos: Thamara Santos de Almeida
Café com pôster
Seis resumos científicos que sintetizam resultados de projetos executados pela Apremavi foram apresentados, como Implantando o Código Florestal em parceria com o Observatório do Código Florestal, Matas Legais em parceria com a Klabin e Cuidando da Mata Atlântica em parceria com a The Vita Coco Company.
- Aplicação de guia de monitoramento em áreas em processo de restauração no estado do Paraná
Traz resultados preliminares da aplicação do Guia de Monitoramento da Restauração, elaborado com base no protocolo do Pacto Mata Atlântica e na portaria do Instituto Água e Terra nº 170/2020.. Foram realizadas 634 visitas em diferentes fases de restauração pelo Programa Matas Legais no Paraná, com resultados variados, tendo o estudo concluído que o protocolo estabelecido é aplicável e guias de monitoramento específicos são viáveis e essenciais para projetos de restauração.
- Código na Prática: o uso do storytelling para influenciar a implementação da legislação
A série “Código Florestal na Prática”, produzida pela Apremavi em 2023, destaca as possibilidades e benefícios da implementação do Código Florestal, utilizando storytelling para comunicar casos de sucesso em áreas rurais. Baseada na publicação “Planejando Propriedades e Paisagens Sustentáveis”, a série aborda temas como restauração ecológica, conservação de recursos hídricos, Áreas de Preservação Permanente e sistemas agroflorestais. Veiculada no site e nas mídias sociais da Apremavi e do Observatório do Código Florestal, a série alcançou 896 visualizações no site e 7.248 pessoas nas redes sociais, inspirando proprietários rurais a adotarem iniciativas semelhantes, evidenciando a eficácia das estratégias de comunicação na promoção da Lei nº 12.651/2012.
- Avaliação da semeadura direta em área de restauração na Floresta Ombrófila Mista, Abelardo Luz (SC)
Este trabalho avaliou a semeadura direta em covetas em 300 m² de Floresta Ombrófila Mista na Reserva Legal do Assentamento Recanto Olho D’Água, SC, implantada em novembro de 2023. Utilizando 18 espécies nativas e 6 de adubação verde, 3,5 kg de sementes foram distribuídas em espaçamento de 2x2m. Após 4,5 meses, a emergência de plântulas foi avaliada em 10 parcelas de 1x1m, revelando 31 plântulas de sete espécies arbóreas, sem predação de sementes ou plântulas. Apesar da boa emergência de espécies pioneiras, a adubação verde foi insuficiente para inibir a rebrota de samambaias em mais de 50% da área. Conclui-se que a semeadura em covetas neste período de tempo ainda não foi suficiente para inibir a rebrota de samambaias, mas apresentou boa emergência e estabelecimento de plântulas nativas pioneiras.
- Implantando o Código Florestal: o caso do município de Salete (SC)
O projeto “Implantando o Código Florestal”, financiado pela Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento e executado pela Apremavi com diversas parcerias, visa promover a adequação ambiental em propriedades rurais através do CAR e do PRA. Escolhendo Salete (SC) como piloto, o projeto envolveu reuniões com autoridades locais e proprietários rurais, visitas técnicas, e a doação de mudas nativas. Até agora, 19 propriedades foram atendidas, todas aderiram ao CAR e ao PRA, 09 retificaram o CAR, planejou-se a restauração de 5,97 hectares e 9.370 árvores foram doadas. O projeto demonstra que a articulação institucional pode viabilizar o cumprimento do Código Florestal e a restauração ecológica.
- Resultados preliminares apontam que não há diferença entre a riqueza de mamíferos de médio e grande porte em áreas restauradas e conservadas no PNMMA em Atalanta (SC)
A fauna é essencial para a restauração ecológica, mas raramente monitorada. Este estudo da Apremavi, com apoio da The Vita Coco Company, avaliou a riqueza de mamíferos de médio e grande porte em áreas restauradas e conservadas no Parque Natural Municipal da Mata Atlântica em Atalanta, SC. Os resultados indicam que não há diferença significativa na riqueza entre áreas restauradas e conservadas, indicando que ambas são importantes para a manutenção das espécies. Mais estudos são necessários para conclusões mais abrangentes.
- Programa Matas Legais: análise das atividades promovidas a partir do planejamento de propriedades e paisagens
O Programa Matas Legais, uma parceria entre Apremavi e Klabin, promove restauração de áreas alteradas, conservação de florestas nativas, educação ambiental e fomento florestal. Em 2023, alcançou mil propriedades atendidas no Paraná. Analisando dados de 463 propriedades aderentes entre 2015 e 2023, foram realizadas intervenções em 503,01 ha através de regeneração natural, plantio de mudas e enriquecimento ecológico. Com propriedades médias de 27,14 ha e 24,25% de áreas conservadas, o programa majoritariamente envolveu pequenas propriedades (<50ha). Os resultados mostram uma contribuição significativa para o cumprimento do Código Florestal.
Apresentação do café com pôster sobre os resumos científicos elaborados pela equipe da Apremavi. Fotos: Carolina Schäffer, Edilaine Dick e Thamara Santos de Almeida
Saídas de campo promovem troca de experiências sobre a restauração ecológica na Caatinga
O evento também trouxe a oportunidade de aprendizado e trocas de experiências sobre a restauração do bioma Caatinga em campo.
Uma dessas oportunidades foi a saída de campo promovida pelo projeto RE-Habitar ararinha-azul do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Durante a visita foi visto como a restauração da Savana Estépica da Caatinga é realizada com seus inúmeros desafios e oportunidades.
Saída de campo promovida pelo projeto RE-Habitar ararinha-azul do NEMA da UNIVASF. Foto: Thamara Santos de Almeida
Uma outra saída foi para Comunidade Ouricuri onde é desenvolvido um projeto de recaatingamento e onde fica a fábrica da Cooperativa Agropecuária Familiar (Coopercuc). Na visita o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) apresentou as técnicas de reecatingamento que são realizadas com a participação de 65 famílias nas ações de plantio e manutenção das áreas de restauração.
As Comunidades de Fundo de Pasto são envolvidas no plantio de espécies perdidas e raras, na produção vegetal de espécies nativas, delimitam áreas de proteção e fazem manejo adequado dos animais de produção. O produto que eles extraem das áreas cultivadas é comercializado pela fábrica da Coopercuc no Brasil e no exterior.
Saída para Comunidade em Ouricuri de Recaatingamento e fábrica da Cooperativa Agropecuária Familiar (Coopercuc). Foto: Edilaine Dick
Pacto Mata Atlântica em ação
Além de ser uma Unidade Regional do Pacto, a Apremavi é membro e também compõe o conselho da rede e, por isso, no primeiro dia da conferência esteve presente na Reunião Anual do Conselho de Coordenação. Na oportunidade, Carolina Schäffer apresentou as ações realizadas no âmbito do GT de Comunicação, co-liderado por ela, e compartilhou ações da Força Tarefa de Carbono e da Força Tarefa de Gênero e Social, onde atua.
Registro dos integrantes do Pacto presentes na Reunião do Conselho da instituição durante a SOBRE. Foto: Acervo Pacto.
No ano em que comemora 15 anos, o Pacto teve uma atuação histórica dentro da Conferência da SOBRE incluindo a reunião do Conselho, a articulação e presença no I Encontro Indígena de Restauração Ecológica, organização e moderação de quatro sessões simultâneas com sua coordenação e suas URs e outras 25 sessões com a presença de membros, atuação em dois minicursos e participação em quatro plenárias.
Para celebrar o momento, uma festa de comemoração foi realizada no dia 09 de julho após a Conferência em uma Barca no Rio São Francisco, ocasião onde foi lançada a cartilha comemorativa dos 15 anos e o novo protocolo de monitoramento via sensoriamento remoto. Durante a celebração, a história do Pacto e o envolvimento das URs ganhou destaque nas fotos divulgadas.
Celebração de 15 anos do PACTO após a SOBRE na barca no Rio São Francisco. Foto: Acervo Pacto.
Assembleia Geral da Sociedade Brasileira de Restauração
O último dia da Conferência encerrou com a Assembleia Geral da SOBRE que conta hoje com 602 associados, entre profissionais da área e estudantes de graduação e pós-graduação, distribuídos em 23 estados brasileiros.
No encerramento da Assembleia, a palavra foi aberta aos associados, que levantaram temas como a maior participação da juventude, mulheres e negros na cadeia da restauração ecológica. A Apremavi, como instituição associada, aproveitou a oportunidade para comentar sobre a importância da fauna nos protocolos de monitoramento da restauração ecológica, bem como nos projetos de restauração e políticas públicas.
Ao final, houve a celebração do aniversário de 10 anos da SOBRE, com bolo personalizado e “Parabéns a você” em ritmo de forró.
Assembleia geral da SOBRE com registro da fala sobre a importância da fauna nos protocolos de monitoramento da restauração ecológica, bem como nos projetos de restauração e políticas públicas. Foto: Carolina Schäffer.
Uma Conferência histórica
A Conferência foi histórica e bateu todos os recordes, com 946 inscritos – a maioria mulheres – e a realização de 6 plenárias, 54 sessões simultâneas, 350 pôsteres e 60 vídeos apresentados, 5 visitas de campo e 10 minicursos. Além disso, reuniu participantes de todos os estados do Brasil e teve uma representação diversa, com 100 pessoas inscritas no primeiro Encontro Indígena de Restauração Ecológica (Eire) e representação do Movimento Sem Terra (MST). O evento também assistiu ao surgimento dos grupos Germinar – Jovens na Restauração e Nativas – Mulheres na Restauração.
“A Conferência Brasileira de Restauração Ecológica foi uma oportunidade incrível para conhecermos e nos conectarmos com diferentes realidades de outros biomas na restauração ecológica no Brasil. Essa troca de experiências enriquece nosso entendimento e reforça a busca incessante pela qualidade e excelência em nossos projetos. A diversidade de perspectivas e o compartilhamento de conhecimentos nos motivam a inovar e aprimorar nossas práticas, sempre com o objetivo de contribuir de maneira significativa para a conservação e restauração dos ecossistemas brasileiros”, relata Edilaine Dick, coordenadora de projetos e membro da diretoria da Apremavi sobre o evento.
Autoras: Thamara Santos de Almeida e Carolina Schäffer.
Foto de capa: Assembleia de encerramento V Conferência Brasileira de Restauração Ecológica em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) que ocorreu entre os dias 8 a 12 de julho de 2024. Foto: Thamara Santos de Almeida.